1. 3
SEMINÁRIO TEOLÓGICO DA MISSÃO JUVEP
Dafiana do Socorro Soares Vicente
ESCOLA BÍBLICA: o esforço de desenvolver uma ação educativa em
que o evangelho seja vivido na realidade atual da sociedade.
JOÃO PESSOA/PB
2010
Dafiana do Socorro Soares Vicente
2. 4
ESCOLA BÍBLICA: o esforço de desenvolver uma ação educativa em
que o evangelho seja vivido na realidade atual da sociedade.
Monografia apresentada à diretoria do Seminário Teológico
da Missão JUVEP, referente ao Curso Teologia, como
requisito parcial para a obtenção do certificado de Bacharel
em Teologia, sob a orientação do Pastor Rubemar de Sousa
de Andrade.
JOÃO PESSOA/PB
2010
3. 5
DEDICATÓRIA
Primeiramente, dedico a Deus, pelo seu imenso amor, pela
sua graça inefável, pela salvação em Cristo Jesus, pelo
sustento nos momentos de dificuldades, pelas alegrias e
vitórias conquistadas;
A minha amiga Rosângela Batista de Morais, por sua
valiosa amizade, que contribuiu para meu crescimento
espiritual e pessoal;
Aos meus familiares, que aceitaram e apoiaram minha
vocação;
Aos meus mantenedores, pelo investimento no chamado,
para o qual fui escolhida, e ao Pr. Rodolpho de Almeida
Eloy, amigo verdadeiro em todos os momentos. Obrigada
pelas suas orações e incentivo.
4. 6
AGRADECIMENTOS
Ao meu mestre e orientador maior, Jesus Cristo, por me fortalecer nos momentos de dificuldades;
Aos meus pais, pelo amor, cuidado e incentivo na minha caminhada cristã, fazendo-me perseverar
nos meus objetivos;
Aos meus familiares, que sempre acreditaram nos meus objetivos, incentivando-me e contribuindo
para que tivesse um melhor aproveitamento;
Ao Grupo Miora, pelas intercessões feitas em meu favor para a realização deste sonho;
À JUVEP, pelo apoio e encorajamento contínuo durante a elaboração da pesquisa;
Aos Mestres desta casa de profeta, pelos conhecimentos transmitidos;
À Diretoria, pelo apoio institucional e pelas facilidades oferecidas;
Ao Pastor Rodolpho Eloy, pela sua determinação em me fazer avançar. Obrigada por acreditar em
meu potencial.
5. 7
A tarefa do professor é despertar a mente do aluno, é
estimular idéias através do exemplo, da simpatia pessoal e
de todos os meios que puder utilizar para isso. Isto é,
fornecendo-lhe lições objetivas para os sentidos e fatos para
a inteligência. Jesus, o maior dos mestres, disse: A semente
é a Palavra. O verdadeiro professor é o que revolve a terra e
planta a semente.
(John Milton Gregory)
6. 8
RESUMO
Este trabalho tem o objetivo de refletir sobre as ações da Escola Bíblica
Dominical nas instituições evangélicas, mediante a necessidade de enfrentarmos as
problemáticas nesse lócus, devido às diversas mudanças ocorridas no campo
educacional brasileiro. No Brasil, o ensino religioso sempre esteve presente, desde a
vinda dos jesuítas, que tinham o papel de alfabetizar e catequizar os ―selvagens‖.
Com a expulsão dos jesuítas no período pombalino, a educação passou a ser vista
como responsabilidade e dever do Estado em ofertá-la a todos os cidadãos. Apesar
dessa ruptura embrionária, o ensino religioso sempre se manteve restrito aos templos
―sagrados‖. Com o avanço do Cristianismo, na contemporaneidade, as igrejas e os
seminários, seja protestantes ou católicos, têm investido na formação teológica de
seus membros, visando maior aprofundamento e dedicação à fé cristã. Diante dessa
realidade, o texto em tela tem a intenção de dialogar com diferentes teóricos,
protestantes e pedagogos, visando fornecer subsídios para se pensar e fazer uma
Escola Bíblica relevante na sociedade hodierna.
PALAVRAS-CHAVES: Educação Cristã. Escola Bíblica. Ser padrão.
7. 9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 08
CAPITULO I
OS CAMINHOS DA EDUCAÇÃO CRISTÃ..................................................................................... 09
CAPITULO II
EDUCAÇÃO CRISTÃ: objetivos, fundamentos e princípios educacionais e bíblicos numa
perspectiva cristã, para a construção de uma escola bíblica
eficiente................................................................................................ .......................... 11
2.1. Fundamentos teológicos para uma educação cristã relevante...................................... 14
2.2. Jesus, o exemplo de mestre perfeito para o exercício do magistério eclesiástico....................... 20
CAPÍTULO III
O EDUCADOR DE ESCOLA BÍBLICA COMO AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO:
COMUNICAÇÃO, PLANEJAMENTO E CAPACITAÇÃO DOCENTE......................................... 28
3.1. O papel da comunicação do educador no processo de aprendizagem......................... 28
3.2. A relevância do planejamento educacional para a Escola Bíblica............................. 32
3.3. A importância da capacitação do educador da Escola Bíblica................................... 40
3.4. A construção do currículo na Escola Bíblica Dominical....... .................................... 43
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 48
REFERÊNCIAS ................................................................................... ............................ 50
ANEXOS........................................................................................................................ 52
INTRODUÇÃO
8. 10
A educação, na contemporaneidade, tem sido problematizada nos diversos contextos, tanto em
escolas seculares, quanto em organizações não governamentais, no plenário brasileiro, nas
comunidades e nas igrejas. Essa temática tem atraído os olhares dos diversos atores sociais, pelo fato
de a Educação ser um direito público subjetivo a todo cidadão brasileiro. Ou seja, todos têm direito a
uma educação de qualidade e igualitária.
É nesse cenário que a igreja está inserida, e como a educação tem passado por constantes
mutações, ela deve estar atenta a esta realidade concreta. Nesse sentido, várias inquietações devem
permear as igrejas evangélicas na sociedade hodierna, entre elas, podemos refletir sobre algumas: Que
tipo de educação cristã as igrejas têm ofertado aos seus membros? Como se tem planejado o ensino
nessas instituições? Como a formação dos educadores tem acontecido nas escolas bíblicas? Esses
educadores têm seguido o exemplo de Cristo ao ensinar seus alunos? Como se dá a relação entre
educador e alunos em sala de aula? Qual o nível de seriedade com que as escolas bíblicas são tratadas
nas igrejas? Tais inquietações se configuraram em constantes reflexões, que ocasionaram na
construção deste trabalho de conclusão de curso de Teologia, por entendermos que muitas das igrejas
não têm dado o devido valor e importância ao ensino eclesiástico, assim como Cristo o fez, a ponto
de, demasiadamente, ser chamado pelos seus discípulos de MESTRE.
Portanto, o presente trabalho está dividido em quatro momentos: o primeiro traz uma breve
discussão sobre os caminhos que a educação cristã deve percorrer; o segundo faz uma abordagem
sobre a definição e os objetivos da educação nas igrejas, retratando os fundamentos teológicos da
educação cristã, fundamentada na visão cristocêntrica, por ser esta um fundamento na prática do
magistério do educador nas comunidades eclesiásticas; no terceiro momento, procede-se a uma
discussão sobre o papel do educador como agente de transformação, o que implica a
comunicabilidade com os alunos, o planejamento e sua capacitação para o exercício do
ministério/magistério nas igrejas.
9. 11
Este preâmbulo visa descrever sinteticamente a intencionalidade do presente trabalho. Portanto,
fica o desejo de que este material traga contribuições substanciais para as escolas bíblicas, acarretando
em crescimento saudável, tanto nos aspectos quantitativos (com maior quantidade de membros
assíduos nas escolas bíblicas) quanto nos aspectos qualitativos (membros maduros na comunidade,
que saibam responder quanto à razão da vossa fé, desejosos em servir e amar uns aos outros). A
educação cristã deve ser pensada considerando-se todas as implicações que decorrem dela, para que
os alunos pratiquem o conteúdo ensinado na Escola Bíblica. Nisso, os educadores devem ser
capacitados para desenvolver suas funções com competência pedagógica, dentro ou fora da igreja.
1. OS CAMINHOS DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
Uma das tarefas mais nobres é o ensino. Contudo, é comum entendermos o
processo de aprendizagem numa igreja através dos princípios e padrões do sistema escolar
tradicional de educação que, geralmente, é orientado pelo conteúdo e pelo saber, tendo o
intelecto como um fim em si mesmo. Assim, o ensino na igreja passa, muitas vezes, a se
resumir na transmissão de conhecimentos abstratos e conceituais sem imediata aplicação
para a vida cotidiana. Mas, a educação cristã, por essa sua característica, não se preocupa
apenas com o saber, mas também com o ser, o sentir, o conviver, o fazer e o ter. Preocupa -
se, enfim, com a integridade da pessoa.
Na educação secular tradicional, temos as técnicas para a transmissão do
conhecimento, enquanto que a preocupação da educação cristã não e stá apenas na
informação precisa de conteúdos, mas também na formação do caráter e na transformação do
que precisa ser redimido. Ao escolher doze pessoas para estarem com Ele - ―Então designou
8
doze para estarem com Ele e para enviá-los a pregar‖ - Jesus deixou-nos o ponto de
partida, pois, enquanto a educação secular leva o aluno a SABER o que o educador sabe, a
educação cristã procura levar as pessoas a SABEREM e SEREM o que o seu Mestre é.
8
Marcos 3:14
10. 12
Nas muitas experiências da vida real do relacionamento interpessoal entre mestre
e aluno, há um processo de aprendizagem mais profundo e compromissado , que leva o
educando a ser como o Supremo mestre, Cristo. O apóstolo Paulo, ao escrever aos gálatas,
fala, com precisão, quanto ao objetivo do ensino cristão: ―Meus filhos, por quem de novo
9.
sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós‖ Para que isso se potencialize, é
preciso haver transmissão de vida entre educador e educando, em que é necessário que o
educador reparta o seu modo de viver, que deve ser semelhante ao de Cristo , para que o
aluno, tendo-o como modelo concreto, alcance o concreto modelo de Cristo, em dou trina,
atitudes, valores éticos, emocionais etc. Isso requer um modelo, um exemplo, um padrão,
uma referência a seguir. Em uma das bibliografias sobre o ministério e a pessoa de Cristo, o
autor João, ao escrever o quarto Evangelho, expôs, com clareza, as afirmações do próprio
Mestre, sobre ele ser o modelo e exemplo perfeito a ser seguido. ―Ora, se eu, sendo o Senhor
e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei
10
o exemplo para que, como eu fiz, façais vós também‖ .
Esse é o motivo pelo qual Cristo pode dizer aos seus alunos: ―Siga-me‖ 11. As
atitudes, o conhecimento e os valores do Mestre hão de se encarnar na personalidade de seus
alunos. Portanto, temos uma educação vivencial entre o Mestre e os educandos. Não tem
como negar a importância de tendências ou técnicas adotadas para o ensino na Escola
Bíblica, mas não são suficientes para o ensino na igreja, já que, na igreja, o processo
educacional na educação cristã é mais laborioso e demorado, pois o que está em jogo é mais
do que um conjunto de informações, mas transformações de vidas. Sendo assim, não existem
soluções mágicas e em curto prazo para os dilemas da educação nas igrejas. Não é difícil
programar uma estrutura de ensino, posto que a educação moderna tem muitos instrumentos
para isso, o difícil é entender que a vontade da s pessoas não é programável, uma vez que a
9
Gálatas 4:19
10
João 13:14-15
11
Mateus 9:9
11. 13
educação cristã tem como preocupação a estruturação da vontade e do caráter da pessoa à
semelhança de Cristo.
2. SOBRE A EDUCAÇÃO CRISTÃ: objetivos, fundamentos e princípios educacionais
e bíblicos numa perspectiva cristã, para a construção de uma escola bíblica eficiente .
A educação cristã é um ingrediente essencial em toda a vivência eclesiástica, pois o
conceito que a igreja tem quanto a sua natureza vai determinar o que realiza. Por isso, o
ensino na Igreja visa não apenas oferecer conhecimentos literários, doutrinários e teológicos
aos crentes, mas também instrumentalizá-los ao serviço e a uma vivência piedosa e ética
compatível com os princípios cristãos delineados nas Sagradas Escrituras. Mas, acima de
tudo, todo processo de ensino deve objetivar o desenvolvimento total do ser humano,
prosseguindo para o alvo, Jesus Cristo. Ele é o model o ideal de personalidade. Dormas
(1999, p.35), ao definir o significado da educação cristã, demonstra forte preocupação em
preservar Cristo como o objetivo Maior, para se obter uma educação relevante para a igreja
hodierna.
A educação religiosa tem por objetivo a formação de uma consciência que orienta a conduta do
cristão à luz da Palavra de Deus e desenvolver o seu caráter de modo a reproduzir nele o Caráter de
Cristo na adoração, no comportamento ético em todos os aspectos de seu viver e na submissão ao
propósito redutivo do amor de Deus 12.
A educação cristã não deve ser instrumento de dominação ideológica ou
mesmo da formação de uma mentalidade amorfa e sem identidade. É uma educação que deve
levar o aluno a desenvolver uma leitura crítica de uma realidade através da construção do
seu ser, sentir, fazer e conviver, à luz da razão de ser de todos nós, isto é, vivendo para a
glória de Deus 13.
12 DORMAS. L. A nova EBD, a EBD de sempre. JUERP, 1999.
13
Isaías 43:7 e I Co. 10:31
12. 14
Por isso a participação de cada um na construção do conh ecimento, a
compreensão e a vivência a respeito do reino de Deus é requerida, a fim de que sejamos não
meros instrumentos da realidade cotidiana, mas participantes de sua construção.
Como a Igreja está inserida em uma sociedade e é influenciada por ela, a educação cristã,
muitas vezes, passa a caminhar de acordo com os padrões educacionais que prevalecem nas escolas
seculares. No Século XVII, época em que viveu Comênio, e nos séculos seguintes, o que prevalecia
na educação eram as práticas escolares da Idade Média, sendo um ensino intelectualista, verbalista e
dogmático, memorização e repetição mecânica dos ensinamentos do educador. Nessas escolas, não
havia espaço para ideias próprias dos alunos, porquanto o ensino era separado da vida, mesmo porque
ainda era grande o poder da religião católica na vida social. Tal ideia formou as bases da Pedagogia
Tradicional, que ainda exerce forte influência no processo de ensino nas escolas seculares e é prática
na educação cristã nas igrejas.
Portanto, como a educação cristã visa à mudança do indivíduo em sua totalidade e não
apenas transmitir conhecimento mecânico, precisamos rever as práticas pedagógicas adotadas em sala
de aula. Nesse sentido, o ensino não deve estar desassociado da vida do aluno, porque, na perspectiva
cristã, atinge outros níveis, posto que deve também formar o caráter do aluno. Isso denota que o nosso
caráter precisa passar por processos de reengenharia total e precisamos ser reconstruídos para ser
chamados de novas criaturas. ―E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura, as coisas velhas já
passaram, eis que tudo se fizeram novas‖14.
Vale salientar que as nossas decisões são produtos de todo o processo elaborado
internamente pela nossa estrutura mental, emocional e intuitiva, e diversas influências externas são
responsáveis pela configuração dessas estruturas, tais como a cultura, o grupo em que vivemos e uma
ideologia hegemônica.
14
II Co. 5:17
13. 15
Esses conteúdos internos, que fazem parte das nossas decisões, precisam ser
reconstruídos ou reformulados, conforme nos ensina o apóstolo Paulo, em sua carta aos
Romanos, quando fala da renovação da mente.
E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa
mente, para que possais experimentar qual seja a boa, a agradável e perfeita vontade
de Deus (12:02 - Bíblia de estudo Genebra, versão revista e atualizada).
Assim, a educação cristã tem uma natureza formativa, isto é, uma reforma interna
na personalidade do indivíduo, a ponto de refletir sobre a vontade de Deus, através de
nossas decisões e escolhas diárias de nosso cotidiano, sejam pessoais, familiares,
profissionais, sentimentais ou sociais. Entretanto, podemo s definir os verbos que expressam
o processo educacional cristão como ser, sentir e pensar.
Mas a formação proporcionada pela educação cristã também visa preparar
operacionalmente o crente para o exercício de seus dons no desempenho de seu ministério
na obra de Deus e se preocupa em transformar o aluno. Esse processo ocorre na
demonstração vivencial, através dos atos concretos transformados, que são frutos de um
caráter reconstruído. Enquanto a formação do caráter é interior, a força motriz, a
transformação é o produto externo desse interior mudado. É a religião a prática da qual
Tiago (1:21-22) fala em sua carta.
...Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolheu
com mansidão a Palavra em vós plantada, a qual é poderosa para salvar as
vossas almas. Tornai-vos pois praticantes da Palavra, e não somente
ouvintes, enganando-vos a vós mesmos.
Esse complexo processo de informação, formação e transformação não ocorre por
acaso, automaticamente ou como num passe de mágica. É produto de muita dedicação. E a
operacionalidade desse processo todo requer planejamento e estratégia séria e bem
cuidadosa, implementação técnica, capacitação e treinamento especializado. É um processo
que deve prever o futuro e prover os recursos necessários para informar e formar o aluno na
busca de uma contínua transformação concreta de sua vida.
14. 16
A educação cristã envolve ―gente‖ atendendo ―gente‖, é um processo demorado e
paciente, mas que poderá não se realizar, se houver uma busca pelo ativismo, que apenas
preencherá um calendário, e manter ocupados os participantes do processo educacional,
comprometendo o verdadeiro objetivo da educação cristã.
2.1. Fundamentos teológicos para uma educação cristã relevante
Teologia e educação são duas palavras que se casam, pois toda boa educação vem de Deus, e
toda Teologia é educação. Há um grande interesse de Deus em despertar vidas, que se dediquem ao
estudo sistemático de sua palavra e que sejam teólogos-educadores. Esse interesse divino é acentuado
em várias passagens bíblicas, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento.
No Antigo Testamento, a educação cristã é vista nas Escrituras hebraicas. A principal palavra
que significa ensinar ou educar é "Torah‖. É interessante observar que essa palavra também significa
"lei. Deriva-se de um verbo que significa "apontar, mostrar e orientar". Um novo verbo, mais recente,
significa "disciplinar, corrigir, admoestar". Outros termos atribuídos à educação, no Antigo
Testamento, expressam ideias de discernimento, sabedoria, conhecimento, iluminação, visão e
inspiração15.
Quando falamos em educação, normalmente nos vem à memória a intelectualidade dos
mestres. No entanto, constatamos que há uma grande diferença entre esse conceito e os ensinos do
Antigo Testamento, pois cada vez que se ensina alguma coisa, destaca-se a prioridade da vida, que é o
ponto de partida para toda forma de educação. O ensino do Antigo Testamento não é aplicado apenas
para o desenvolvimento do intelecto, mas para comunicar e ensinar o indivíduo a viver de acordo com
suas crenças e necessidades. ―Além da palavra "Torah", citada anteriormente, temos mais três
palavras hebraicas que expressam a ideia de ensino no Antigo Testamento. São elas: “YADAH , com
15
Sobre maior conhecimento no campo da língua hebraica, ver. VINE W. E.; UNGER, Merril F.; WHITER, William Jr.
Dicionário Vine: O significado exegético e expositivo das palavras do Antigo Testamento e do Novo Testamento. Trad.
Luís Aron de Macedo. Rio de Janeiro. Editora CPAD, 2002.
15. 17
significado semelhante a "vir a conhecer". Inclui a ideia de que a experiência ensina (Ver Jó, 32.7);
YARAH, que significa "mostrar, dirigir, ensinar". Essa palavra tem uma importância prática bem
definida (Sl 86.11;25.8; 119.102); e LAMAD, talvez a única palavra que parece enfocar o objeto da
compreensão, porém expressa também, com muita nitidez, o desenvolvimento de técnicas de guerra
(Dt 4.5,18;Ed 7.10;Jr 32.33;2 Sm 22.344; Sl 18.3,4)16‖.
Portanto, o incentivo à educação teológica é uma constante no Antigo Testamento. Podemos
ainda tomar como exemplo o Salmo 78.3-7, em que o povo de Deus promete que vai ensinar
fielmente a cada geração vindoura "os feitos gloriosos do Senhor" (v. 4). Encontramos várias citações
indicando que o próprio Deus é o verdadeiro educador, como por exemplo, em Is 30.20, onde seu
povo é incitado a buscar instrução Nele (Deus) e em sua Palavra (Sl 78.1;119.27; Is 8.19,10;54.13; Jr
31.33-34). No entanto, põe-se ênfase no fato de que Deus utiliza os homens, por meio dos quais
comunica sua mensagem (Dt 5.1-5). Repetidamente, diz-se que Deus ordenou aos homens e os
inspirou para ensinar.
Já o Novo Testamento reúne os acontecimentos do Antigo Testamento e gera novos
acontecimentos objetivando a educação. Toda teologia do Novo Testamento é direcionada para a
educação. Essa é a constante meta de Deus. Em um sentido bem real, a educação do Antigo
Testamento preparou o caminho para o programa didático do Novo Testamento. Jesus é o destaque, o
Mestre por excelência. Tanto através de exemplos quanto por mandamentos, Jesus enfatiza a
importância do magistério em seu ministério. Ele próprio era fundamentalmente um Mestre, vindo de
Deus (Jo 3.2). Durante sua missão terrena, era chamado de "Mestre" com mais frequência que
qualquer outra designação. Nos quatro evangelhos, é mencionado como Mestre oitenta e nove vezes;
como pregador, apenas doze vezes. Naturalmente, sua doutrina e pregação se fundiam, mas sua obra
didática era fundamental em tudo o que fazia. A maior escola que já existiu consistia em ter Jesus
como educador, e os doze apóstolos, como alunos. Ele também ensinava as multidões. Os seus
principais métodos constituem o ideal em direção ao qual os educadores devem empenhar-se.
16
Sobre maior conhecimento no campo da língua hebraica, ver. VINE W. E.; UNGER, Merril F.; WHITER, William Jr.
Dicionário Vine: O significado exegético e expositivo das palavras do Antigo Testamento e do Novo Testamento. Trad.
Luís Aron de Macedo. Rio de Janeiro. Editora CPAD, 2002.
16. 18
Os métodos utilizados pelo Mestre Jesus são explicitados na sua prática pedagógica na sua
vivência com os discípulos e com a multidão que o seguia. Segundo Price (1980, p.74), o Mestre, por
excelência, fez uso de objetos e coisas; da dramatização e das histórias e parábolas.
Sobre o uso de objetos e coisas, Jesus ensinou mediante lições objetivas 17. Ele buscou fazer da
verdade uma coisa concreta e viva. Esse método, naturalmente, deu resultado. Um exemplo disso
podemos destacar quando Jesus tomou um menino e o pôs no meio dos discípulos, para ensinar qual
atitude que devemos tomar para com o Reino de Deus (Mat. 18:1-4). Os discípulos pensavam que o
Reino era algo com escalas e ordens hierárquicas, e, portanto, com promoções e distinções especiais.
Assim, ambições e egoísmos ocupavam seus corações e já discutiam qual deles seria o maior. Daí
Cristo perguntou: "Quem é, porventura, o maior no reino dos céus?" (v. 1). Ao que parece, sem
qualquer outra palavra de explicação ou de discussão, chamou uma criança e a pôs no meio deles.
Vendo eles a modéstia, o desinteresse e a humildade exemplificados na criança, Jesus lhes disse que
deviam tomar a atitude da criança para poderem entrar no Reino. E acrescentou: "Quem, pois, se
tornar humilde como este menino, esse será o maior no reino dos céus" (v. 4). Era a maior lição sobre
a modéstia e contra o mal do orgulho que a humanidade recebia naquela hora.
Já ao método da dramatização18, das muitas atividades do Mestre em que Ele usou esse
método, podemos destacar o momento em que Jesus expulsou os mercadores do Templo (Mat. 21:12-
16). Ele notara que os judeus estavam abusando do privilégio de vender animais e aves para os
sacrifícios àqueles que não os tinham e estavam fazendo aquilo mais para se locupletar (enriquecer)
17
Quando se fala em lições objetivas, pensamos logo no uso de coisas que simbolizam ou sugerem a verdade a ser
ensinada. Isso inclui modelos, quadros, desenhos, mapas e outros materiais semelhantes. Um modelo da arca de Noé, ou
do tabernáculo, ou do conjunto duma missão estrangeira é valiosa ajuda para aclarar e avivar a cena a ser discutida.
Também o uso de bons quadros ou de desenhos no quadro-negro ajuda bastante a apresentação de cenas bíblicas ou
missionárias, como de outras verdades. Note-se, porém, que objetos simbólicos, como um bocado de pão para representar
que Cristo é o Pão da Vida, cu clarear um copo de água escura ou turva por meio de elementos químicos para mostrar
como a regeneração limpa o coração do pecador, são métodos não muito recomendáveis porque as crianças podem tomar
o figurado pelo real.
18
A dramatização traz consigo a ideia da reconstituição de uma cena. Ela é a reprodução de um acontecimento histórico
ou a representação de uma atividade ou fato de nossos dias. Noutras palavras, é o esforço que se faz para representar, de
maneira mais precisa, em um ambiente apropriado, em uma situação histórica ou a vida de nossos dias. A dramatização,
portanto, é, primeiramente, uma atividade de imitação ou de reprodução. Contudo, o termo é empregado com significação
mais larga, chegando a abranger tanto a apresentação de verdades como a reprodução de fatos. Assim, podemos concebê-
la com a representação duma verdade ou lição, sem se levar em conta se o fato tem ou não base definida. As atividades
dramáticas podem incluir incidentes bíblicos, feitos de missionários, lições de temperança e outros mais eventos a serem
apresentados, bem como lições a serem ensinadas. Um elemento de dramatização pode entrar em qualquer lição.
17. 19
do que para servir ao povo. Assim, tomou um chicote de cordéis e expulsou os mercadores,
espalhando as aves e os animais, derrubando as moedas no chão, e dizendo: "Minha casa será
chamada casa de oração; mas vós fizestes dela um covil de ladrões" (v. 13). Dessa forma, Jesus
proclamou dramaticamente a santidade do Templo e do culto a Deus. "A purificação do templo não
foi tanto por causa do próprio edifício, e, sim, mais para ensinar ao povo a grande lição da
reverência."
Por último, o método mais lembrado e mais usado por Jesus é o da historicidade 19 e das
parábolas20. É o método que toma o primeiro lugar em seus ensinos. Jesus o usou tanto que julgamos
ser isso o que mais o caracterizou como Mestre; e as histórias que ele contou são sempre mais
lembradas que outros ensinos dele. Inquestionavelmente, Jesus foi o maior contador de histórias que o
mundo já teve.
Cerca de um quarto das palavras de Jesus, registradas por Marcos, e cerca de metade das
registradas por Lucas têm a forma de parábolas. O vocábulo parábola aparece cinquenta vezes no
Novo Testamento.
Um exemplo de ter Ele iniciado uma lição com uma história ou parábola é aquele em que nos
fala de quatro qualidades de terra e da resposta que a terra semeada deu ao lavrador (Mat. 13:1-9). O
Mestre, posteriormente, esclareceu a lição baseada na parábola. A terra à beira da estrada representa o
ouvinte preocupado ou desatento, do qual a verdade saltita como saraiva no telhado. A terra cheia de
pedras representa a pessoa superficial e emotiva, que responde prontamente, mas sem convicções
firmes, e que, por isso, abandona a verdade, quando esta o leva para caminhos difíceis. A terra de
espinhos representa o indivíduo preocupado, que deixa que o serviço e as diversões o empolguem por
completo, deixando-o sem frutos espirituais. A terra boa representa aqueles que ouvem a verdade,
recebem-na de todo o coração e a praticam sempre. Ninguém, por certo, esquecerá essa história, nem
o seu profundo significado.
19
O método de histórias é de grande valor no ensino. É coisa concreta, apela à imaginação, tem estilo fácil e livre, assaz
eficiente e interessante.
20
O termo parábola significa, literalmente, projetado ao lado de alguma coisa. É uma. história ou ilustração tirada de
algum caso conhecido ou comum da vida, para lançar luz sobre outro caso não muita conhecido.
18. 20
Diante do explicitado, podemos afirmar que Jesus foi Mestre consumado no uso de lições
objetivas, bem como no emprego do método de dramatizações, de histórias e de parábolas. Usando-as,
a par de sua maravilhosa personalidade, conseguiu atrair as multidões para si, fazendo com que essas
verdades fossem lembradas e repetidas através dos séculos. Bem faremos nós estudando os modos e
os meios de empregar figuras, comparações e parábolas em nossas lições. Auxílios visuais,
dramáticos e ilustrativos devem secundar o nosso ensino.
Esses princípios de Educação religiosa continuam em todo o Novo Testamento. Há uma
convocação do próprio Cristo na chamada "grande comissão" em Mt 28.19,20. Em Atos 2.42, vemos
que a Igreja primitiva cumpria sua missão de ensinar. O ensino era tão profundo que, "em cada alma,
havia temor."
O Apóstolo Paulo, depois de sua experiência com Cristo, segue o mesmo método didático,
gerando discípulos e incitando-os ao estudo e à educação. Escrevendo ao seu filho Timóteo, ele diz:
"Persiste em ler, ensinar e exortar, até que eu vá" ( I Tm 4.13). Com essas palavras, o apóstolo mostra
um caminho pedagógico para o jovem pastor no exercício da educação religiosa, através destas quatro
palavras-chaves do verso citado: na primeira, "persiste" (do grego: Prósekhe), o tempo presente do
verbo pede uma ação contínua, traduzido como "persiste, aplica-te"; a segunda, "ler" (do grego:
Anagnósei ,"leitura", usada como verbo, implica uma sábia escolha de passagens a serem lidas; leitura
audível, o poder de expor corretamente"; a terceira palavra, "exortar" (do grego: Paraklései,
exortação, encorajamento, tem a mesma raiz de consolador), e a quarta palavra, "ensinar" (do grego:
Didaskalia, significa ensino, doutrina)21.
O Apóstolo Paulo, com essa instrução a Timóteo, criou um vocabulário para a
responsabilidade educacional. Primeiramente, sinaliza o dever da aprendizagem através da leitura ou
do estudo e, depois, a missão de educar, ensinando o que se aprendeu. Esse pensamento está em
concordância com os princípios ensinados por Jesus, pois, primeiramente, ele chamou: "vinde a
21
Sobre maior conhecimento no campo da língua grega, ver. VINE W. E.; UNGER, Merril F.; WHITER, William Jr.
Dicionário Vine: O significado exegético e expositivo das palavras do Antigo Testamento e do Novo Testamento. Trad.
Luís Aron de Macedo. Rio de Janeiro. Editora CPAD, 2002.
19. 21
mim..." ( Mt 11.28 a) ; "vinde após mim..." (Mt 4.19 a); "ficai, porém, na cidade de Jerusalém..." ( Lc
24.49 b), etc. Depois os envia conforme vemos em (Mc 16.l5 ): "Ide por todo mundo..."; e (Mt 28.19):
"Ide e ensinai todas as nações..."
A experiência da educação religiosa, na atualidade, ocorre num tipo especial de contexto,
inicialmente, educativo, mas, basicamente, teológico. Esse contexto é a comunidade cristã na
qualidade de Igreja organizada, uma koinonia ou irmandade, que exerce a sua finalidade em Jesus
Cristo e no sacerdócio individual do crente, que goza de um relacionamento íntimo com o criador e
redentor. No âmago da educação religiosa, existe uma mensagem, uma missão e um mandamento a
comunicar. Essa comunicação funciona melhor quando proferida dentro da comunidade cristã com
amor. É, por certo, educativa, mas fundamentada em fortes bases teológicas.
A forte dimensão teológica da experiência da educação religiosa não pode ser menosprezada,
pois é a dimensão que se encontra no âmago do processo de equipagem e amadurecimento. Quanto
mais a comunidade de aprendizes puder se aproximar da verdadeira natureza da Igreja, mais eficiente
se torna o seu ministério de equipagem e amadurecimento. A interpretação inicial do evangelho
comunicado é a fé individual dos crentes, fundamentada nesse evangelho, com o privilégio e o poder
de se encontrarem com o criador num nível de sacerdócio e serviço pessoal. Esse serviço se expressa
em termos de atividades próprias da comunidade cristã. É realmente a vivência de uma teologia de fé,
que se demonstra no evangelismo, nos ministérios sociais, nas missões, no serviço cristão, na
educação e no culto. O ministério da educação na igreja procura implementar os ministérios no
mundo e para ele.
Nesse sentido teológico, o crente é afetado e se torna eficiente, por meio do envolvimento
pessoal com Deus. Ele se torna o centro do processo de comunicação. O empenho em se comunicar
emana de um desejo de fidelidade a um mandamento de desafio e a uma posição de responsabilidade.
Centraliza-se no impulso básico do ímpeto educativo e no imperativo teológico de alcançar e ensinar.
O cristão está no ápice do serviço quando sua vida demonstra a realização do imperativo de Cristo.
Quando o testemunho, a educação e a equipagem se tornam os imperativos dinâmicos da
igreja, o cristão começa a imaginar os resultados significativos de sua própria experiência rumo ao
20. 22
discipulado cristão, bem como a responsabilidade de levar outras pessoas a se tornarem parte do
processo redentor do evangelho. A pessoa se torna capacitada a trabalhar e a testemunhar com os
significados e valores do evangelho como base para os relacionamentos totais. Em concordância com
esse fato, conhecer a ação de Cristo como Mestre é fundamental para o educador cristão, já que Cristo
é o exemplo de mestre perfeito. Para tal conhecimento, o próximo capítulo visa mergulhar o leitor na
vida ministerial do Homem mais extraordinário que viveu entre nós, o Verbo de Deus - Cristo
2.2. Jesus, o exemplo de mestre perfeito para o exercício do magistério eclesiástico.
Quando a educação se torna instrumento de análise, não há como fugir do passado.
Grandes homens que surgiram na história da humanidade influenciaram a e ducação secular de
sua época. Aristóteles (384-322 a. C.) criou a pedagogia da virtude, segundo a qual o propósito
da vida humana é obter felicidade e ser útil à comunidade. A virtude seria a forma mais plena de
excelência moral. Para Sócrates (469-399 a.C.), a educação tinha a responsabilidade de conduzir
as pessoas, por meio do autoconhecimento, a sabedoria e a prática do bem, e tinha o diálogo
como método relevante para a aprendizagem. Na história das ideias ou idealismo platônico,
Platão (427-347 a. C.) entendia a educação como um caminho pelo qual é formado o homem
moral e político. Já Martinho Lutero (1483-1546), precursor da Reforma Protestante, defendia o
progresso da educação para todos, pois, segundo ele, quando a escola progride, tudo progride.
Ao longo da história, muitos outros, como Tomás de Aquino, Santo Agostinho, Kant, Descartes,
Galileu, Rousseu, Shakespeare, Hegel, Marx, Freud, Piaget, Vygotsky, Einstein, Pestalo zzi,
Decroly, Dewey, Maria Montessori, Fernando Azevedo, Anísio Teixeira, Paulo Freire, entre
outros, brilhavam em suas inteligências, o que influenciou e contribuiu com o processo de
educação, mas nenhum deles, apesar de suas grandes descobertas terem beneficiado a educação,
causando mudança na sociedade, conseguiram causar um impacto de transformação na vida das
pessoas, como fez o Mestre dos mestres. Portanto, esse Mestre , que viveu há muitos séculos,
não apenas surpreendeu em sua inteligência, mas teve uma personalidade fascinante. Ele
21. 23
conquistou uma fama indescritível, porquanto destilava uma sabedoria que atraía multidões.
Esse Homem é Jesus Cristo.
Jesus Cristo foi o homem que nasceu em uma manjedoura , em vez de nascer em um
berço de ouro; que andou em um jumento, em vez de andar em uma ostensiva carruagem real;
foi conhecido como Aquele que andava com os pecadores, em vez de andar com os ―mestres‖ da
Lei, com os ―sábios‖ da época; foi o Mestre que ensinava as classes desfavorecidas, em vez de
ensinar a elite aristocrática. Jesus viu no ensino a gloriosa oportunidade de formar os ideais, as
atitudes e a conduta do povo em geral. Ele não se distinguiu , primeiramente, como orador, como
reformador nem como chefe, mas como mestre. Vemos perfeitamente que ele não pertenceu à
classe dos escribas e rabinos que interpretavam minuciosamente a Lei. Ele ensinou. De forma
alguma foi visto como "agitador da massa popular". Não comprometeu sua Causa com apelos
em reuniões populares, com práticas ritualistas ou com manobras políticas. Ele confiou sua
Causa aos prolongados e pacientes processos de ensino e de treinamento. Jesus lançou mão do
método educativo, e não, do método de força política, ou de propaganda, ou do poder. A
principal ocupação de Jesus foi o ensino. Algumas vezes, agiu como curador, outras vezes,
operou milagres, pregou frequentemente, mas foi sempre o Mestre. Ele não se pôs a ensinar
porque não tivesse outra coisa a fazer, mas, quando não estava ensinando, estava fazendo
qualquer outra coisa. Sim, Ele fez do ensino o agente principal da redenção. A ênfase que Jesus
deu ao ensino ressalta o fato de, em geral, ser Ele reconhecido como Mestre. "À luz dos
Evangelhos, vemos que seus discípulos e contemporâneos o tornavam como mestre. ‖ Ele foi
mesmo chamado Mestre, Educador ou Rabi. E tudo isso traz, em seu bojo, a mesma ideia geral
expressa por Nicodemos, quando disse:: "Rabi, sabemos que és mestre vindo da parte de Deus"
(João 3:2).
Nos Evangelhos, Jesus é chamado mestre nada menos de quarenta e cinco vezes. Fala-
se em Jesus ensinando, quarenta e cinco vezes; e onze apenas pregand o, e, assim mesmo,
pregando e ensinando, como vemos em Mateus 4:23 — "ensinando em suas sinagogas e
22. 24
pregando o evangelho do reino". Chamavam -no mestre não apenas os doze discípulos, mas
também outros mais discípulos seus.
Vale salientar que Jesus a si mesmo se chamava Mestre, dizendo: "Vós me chamais
Mestre e Senhor; e dizeis bem, porque eu o sou" (João 13:13). Também dizia ser "a luz",
vocábulo que traz a ideia de instrução. Nessa linha de pensamento, interessante é notar que João
Batista sempre foi mais chamado pregador que mestre. Outra indicação dessa ênfase sobre o
ensino é a terminologia empregada para descrever os seguidores e a mensagem de Jesus. Não
são eles chamados súditos, servidores ou camaradas. ―A palavra discípulo, que significa aluno
ou aprendiz, empregada 243 vezes, refere-se aos seguidores de Jesus, seus alunos queridos. A
mensagem de Jesus diz-se ser ensino (39 vezes) e sabedoria (seis vezes), sem denotar a ideia de
preleção ou sermão. A expressão Sermão do Monte não é usada pelos escritores do Novo
Testamento. Mateus apenas diz — ―E ele se pôs a ensiná-los, dizendo..." (Mat. 5:2). Tal peça
deve ser intitulada — O Ensino do Monte, e não, O Sermão do Monte‖ 22.
Todos os caminhos que o Mestre percorria marcava a vidas das pessoas e atraía
multidões. Todos ansiavam por ouvir seus ensinamentos, pois Ele ensinava com a vida, e não,
com conteúdos desvinculados de sua prática e da realidade. Enquanto isso, os outros mestres
ficavam estarrecidos com o impacto que os ensinamentos do Mestre operavam na sociedade e se
sentiam ameaçados. Jesus era um pedagogo que transformava a hi stória em um espetáculo da
vida e que, diferentemente da maioria dos mestres de seu tempo, que ensinavam as Escrituras
desvinculada da vida das pessoas, com conhecimentos prontos, fechados e fragmentados, que ao
invés de libertar vidas, tornava-as escravas, Ele ensinava com autoridade e com verdade,
conforme relata Cury (2001, p. 134):
...Cristo era um mestre fascinante. Muitos corriam para ouvi -lo, para serem
ensinados por Ele. Era diferente da grande maioria dos demais mestres, mesmo
os da atualidade, que transmite o conhecimento sem prazer e desafio, transmite
o conhecimento pronto, acabado e despersonalizado, ou seja sem comentar as
dores, frustrações e aventuras que os pensado res viveram enquanto produziram:
22
Sobre esse assunto, ler: PRICE, J. M. A Pedagogia de Jesus: o Mestre por excelência .Trad. Ver. Waldemar W. Wey, 3ª
edição. Rio de Janeiro – RJ. JUERP: 1980, p.10-11.
23. 25
Mas, o que torna Cristo diferente dos outros mestres? O que Ele tinha, a ponto de atrair
multidões? O que contribuiu para que Ele fosse aceito pela sociedade? Como seus discípulos,
será que podemos ser iguais ao nosso Mestre? Como podemos ensinar na Escola Bíblica como
Jesus ensinou? Eis as inquietações que não se calam e que, humildemente, iremos abordar, para
que tenhamos uma compreensão plausível e transformadora na vida daqueles que são chamados
para o ensino da palavra, ou seja, todos nós.
Na época de Cristo, o povo de Israel vivia sob o domínio do Império Romano.
Sobreviver era difícil. A fome e a miséria faziam parte daquele contexto. A produção de
alimentos era pouca e, ainda assim, as pessoas tinham de pagar pesados impostos, pois havia
coletores (publicanos) espalhados por todo o território de Israel. Diante dessa historicidade, se
olharmos a miséria do povo de Israel, constataremos que Cristo não veio na melhor época para
expor seus ensinamentos e um audacioso projeto para transformar o indivíduo, em sua
totalidade. O povo vivia à margem da sociedade, a exclusão era uma realidade contundente na
vida social, mas o Mestre não desanimou e teve um brilhante plano: escolher ajudadores,
auxiliadores para efetuarem o seu plano. Ele teve uma estratégia, pois, diante da demanda, tinha
consciência de que precisava formar pessoas para darem continuidade a sua missão, quando
fosse o tempo de ―ausentar-se‖. Jesus, então, passou a selecionar os discípulos. Se fôssemos
nós, indubitavelmente, escolheríamos os mais brilhantes, os mais inteligentes, os mais
capacitados, os mais carismáticos, os mais persuasivos, os mais influentes, os que tivessem
maior poder aquisitivo, os mais fortes ou os mais bonitos. Porém, o Mestre, mais uma vez,
contrariou a ideologia da sociedade excludente em vigor e formou uma equipe totalmente
desclassificada, o que caracteriza Sua postura de valorizar a inclusão, porquanto não tinha
preconceito, conforme Cury (2001, p. 127;143;144) comenta:
Cristo não tinha preconceito. Ele falava em qualquer ambiente com as pessoas.
Não perdia uma oportunidade para conduzir o ser humano a se interiorizar. Por
onde passava, atuava como Mestre e iniciava sua escola. [..] Estranhamente,
Cristo não escolheu paras ser seus discípulos e, conseqüentemente, para revelar
seu propósito e executar seu projeto um grupo de intelectuais da época,
representados pelos escribas e fariseus. Esses tinham a grande vantagem de
24. 26
possuírem uma cultura milenar e uma refinada capacidade de racioci nar. Porém
pesava contra eles o orgulho, a auto -suficiência, o que impedia que se abrissem
para outras possibilidade de pensar. [...] Cristo tomou uma atitude arriscada ,
corajosa e desafiadora. Ele teve uma escolha incomum para levar a cabo se
complexo desejo. Escolheu um grupo de homens iletrados e sem grandes virtudes
intelectuais para transformá-los em engenheiros da inteligência e torná -los
propagadores de um plano que abalaria o mundo, atravessaria os séculos e
conquistaria centenas de milhões de pessoas de todos os níveis culturais e
econômicos.
Para sermos bons educadores na Escola Bíblica, devemos assumir uma postura com
caráter de inclusão, valorizando cada aluno, respeitando sua subjetividade, ou seja, suas
limitações, suas particularidades, suas singularidades, e sermos altruístas como o nosso
Mestre.
Depois que o Mestre escolheu seus seguidores, passou a ensinar-lhes. Os discípulos
vivenciaram um extenso treinamento de três anos (um mestrado teológico) com o maior Mestre
da história da humanidade, Aquele que detém toda sabedoria. O diálogo era bastante utilizado
por Cristo, mas isso não significava que Ele dava as respostas prontas, pelo contrário, o
discurso visava despertar a curiosidade, a dúvida e a reflexão, fazendo com que seus alunos
obtivessem autonomia no pensar e criticidade, instigando-lhes a inteligência. As parábolas
tinham essa intencionalidade. É importante frisar que o diálogo não castra a autoridade do
educador, mas é uma ferramenta educacional relevante, principal mente diante da sociedade na
qual estamos inseridos, onde as relações familiares e interpessoais estão cada vez mais
comprometidas e fragilizadas. Jesus entendia que essa ferramenta era fundamental e que o fato
de utilizá-la não impedia nem ameaçava a sua autoridade de Mestre, pois a mesma era regada
de afetividade, de amor, de compaixão. ―O diálogo é uma ferramenta educacional
insubstituível. Deve haver autoridade entre a relação de educador e aluno, mas a verdadeira
autoridade é conquistada com inteligência e amor‖ ( Ibid. 2003, p. 90).
O silêncio era outra estratégia utilizada com essa configuração, que conduzia os alunos
a encontrarem respostas as suas indagações, ou seja, quando o Mestre não lhes dava respo stas
reflexivas, o silêncio Dele também tinha esse oficio pedagógico. Mas tanto o diálogo quanto o
25. 27
silêncio do grande Pedagogo não eram algo banal, pelo contrário, era cheio de calor humano,
de amor, de solidariedade, de altruísmo, de compaixão, de graça, de autoridade e de verdade.
Cristo instigava a inteligência daqueles que convivia com ele. Ele os inspirava na
formação de engenheiros do pensamento marcando a história de seus íntimos, mas
também os gestos e os momentos de silêncio foram tão eloqüentes que modificaram a
trajetória da vida deles. Ele andava pelas cidades, vilas e lugarejos e proclamava o
reino dos céus e o seu projeto de transformação interior. Suas biografias indicam que
falava de maneira arrebatadora. O seu falar despertava algo nas pessoas, uma sede
interior. Embora fosse o carpinteiro de Nazaré e se vestisse de modo simples, seus
ouvintes ficavam impressionados com a dimensão de sua eloqüência. Com o decorrer
dos meses, Cristo não precisava procurar as pessoas para falar-lhes. O seu falar era
tão cativante que ele passou a ser procurado pelas multidões (Ibid: 134).
Diferentemente dos escribas e fariseus, Cristo, apesar de ser o grande Mestre e ter uma
sabedoria inigualável, não demonstrava uma postura arrogante , prepotente ou orgulhosa. Ele não
permitiu que os seus conhecimentos afasta ssem as pessoas de sua companhia, de sua presença,
porquanto sua inteligência era uma ponte, era a mediação entre Ele e as pessoas, que motivava,
que valorizava o ser humano, que impulsionava as pessoas a terem esp eranças, mesmo diante da
realidade caótica vigente.
Cristo não tolhia a criatividade de seus seguidores, não manipulava suas mentes nem
controlava as suas vidas, como se fossem marionetes, subjugando -as, como se faz naquela
brincadeira do ―mestre mandar‖, em que o mestre manda, e os súditos obedecem, e caso não
sejam obedientes, serão penalizados. Jesus não despertava medo nas pessoas, não as oprimia,
não alienava as suas mentes. Havia uma interação entre o docente e os discentes. ―Que vos
parece?‖ Era uma das expressões preferidas de Jesus. Os quatro evangelhos registram mais de
cem perguntas que Ele fez. Por que Jesus fazia tantas perguntas? Porque Ele sabia que uma boa
pergunta prenderia a atenção e desafiaria o raciocínio. Para Cury, o mestre deve instigar a
inteligência dos alunos, ao invés de bloqueá-la; o mestre deve estimular a arte de pensar, em vez
de transmitir conhecimentos prontos e acabados que alienam; o mestre deve atrair seus alunos,
para que eles tenham prazer de desfrutar de sua companhia, em vez de afastá -los; o mestre não
deve ser lembrado pelos seus educandos apenas no passado, mas também no presente e no
futuro.
26. 28
Um bom mestre possui eloqüência, mas um excelente mestre possui mais do
que isso; possui a capacidade de surpreender seus alunos, instigar -lhes a
inteligência. O bom mestre transmite o conhecimento com dedicação, enquanto
um excelente mestre estimula a arte de pensar. Um bom mestre procura os seus
alunos porque quer educá-los, mas um excelente mestre lhes inspira tanto a
inteligência que é procurado e apreciado por ele s. Um bom mestre é valorizado
e lembrado durante o tempo de escola, enquanto um excelente mestre jamais é
esquecido, marcando para sempre a história dos seus alunos (Ibid - 2001: 134).
Jesus não queria que Seus seguidores fossem meros refletores das opini ões alheias.
Desejava que tivessem pensamentos próprios. Os educadores devem induzir os alunos a pensar e
a entender claramente a verdade por si mesmos. Não basta ao mestre explicar, ou ao aluno crer;
cumpre suscitar o espírito de investigação, e o aluno ser atraído e enunciar a verdade em sua
própria linguagem. Esse princípio está em harmonia com o que há de melhor nas atuais teorias
sobre o ensino. Muitos alunos encontram dificuldades para ordenar seu pensamento, a menos
que tenham a possibilidade de expressar oralmente sua confusão e declarar seus conceitos. As
perguntas abrem caminho para a discussão e levam o estudante a participar. Elas o ajudam a
pensar e a lidar com as grandes ideias.
No tempo de Cristo, as escolas não tinham acesso à variedade de ma teriais pedagógicos
de que dispomos atualmente, mas, nem por isso, o Mestre foi medíocre em exercer seu oficio.
Ele aproveitou todas as oportunidades para ensinar as boas novas do Evangelho, e o método que
mais utilizava, alem do discurso, da oratória, era o proximal, ou seja, a aproximidade com as
pessoas, o relacionamento. Ele fazia questão de estar perto de seus alunos, de ouvi -los, de
alimentá-los, de tocá-los, de ajudá-los a superar seus medos, frustrações e dificuldades. Não
havia quadro branco, retroprojetor, cadeiras, data-show, computadores e livros. Mas havia o
Mestre, sua presença graciosa, sua afetividade e generosidade pelos aluno. No entanto,
atualmente, apesar de termos uma avalanche tecnológica, faltam-nos mestres que, realmente,
tenham a sensibilidade de amar seus alunos a ponto de ouvi-los, de respeitar suas
subjetividades, de valorizar seus conhecimentos, de ajudá -los a superar seus limites, de ensiná -
los com a própria vida. Este trabalho não tem a pretensão de ser contra a tecnologia na
27. 29
atualidade, nem desconsidera o devido valor dos vários materiais facilitadores de aprendizagem,
mas postula que os mesmos não substituem a pessoa do educador, como facilitador e como
ajudador, e, principalmente, como afetivo.
Vidas precisam de vidas; pessoas precisam de pessoas; e conhecimento precisa ser
compartilhado, mas, para que tal processo se efetive, precisamos de gente, e não apenas de
materiais pedagógicos, que não substituem o educador. Os métodos educativos são
importantes, mas o caráter e a atitude do mestre são vitais. Portanto, que relevância tem um
educador eloquente, que transmite conhecimentos através dos mais avançados instrumentos
tecnológicos, se não conhece seus alunos, não senta com eles no momento do lanche, não
demonstra interesse com suas vidas? Convém enfatizar que, apesar de Cristo ter uma
inteligência incomparável e de não ter acesso aos mais avançados instrumentos pedagógicos, as
pessoas se sentiam atraídas por Ele, não apenas pelo seu lindo sermão expositivo, mas pelo
amor demonstrado em seu olhar, em suas palavras, em suas atitudes, em suas ações, em sua
vida. Cristo fazia e fez parte da vida daqueles que seguem seus ensinamentos, Ele é um
educador pessoal, o Deus pessoal e presente, que desceu de sua glória para viver como homem,
entre homens, fazendo questão de se relacionar com pecadores, ainda que estes não sejam tão
sábios, tão estudiosos, tão inteligentes, tão ricos, tão obedientes. Porém, se há em nós o anseio
de ensinar como o Mestre devemos imitá-lo, abrindo mão de nosso orgulho, despindo-nos da
arrogância teológico-intelectual, passando a viver o que ensinamos, e não, ensinando o que não
vivemos.
Tendo e vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, pois ele,
subsistindo em forma de Deus, não julgou com usurpação o s er igual a Deus,
antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo , tornando -se em
semelhança de homem; e reconhecido em figura humana, a si mesmo se
humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz (Fl. 2:5-8)
A prática pedagógica de Cristo fazia com que as pessoas se sentissem íntimas Dele,
posto que era um aprendizado prazeroso, e todos ficavam atentos as suas palavras, não queriam
perder nada; nem uma palavra, nem um gesto, nem um olhar seu, a ponto de subirem em árvores
para avistá-lo de longe. Todos desejavam desfrutar de sua graciosa presença, confirmando sua
28. 30
autoridade de Mestre por excelência, por entender que o educador não apenas procura os alunos,
mas é procurado por eles, e isso era demonstrado em sua prática pedagógica. Contrariando a
pedagogia de Jesus, em muitas Escolas Bíblicas Dominicais, os alunos, os educadores e o
conhecimento que transmitem estão em mundos divergentes, há uma disparidade . Um não entra
no mundo do outro. Os alunos não entram na história dos /as educadores/as, os/as educadores/as
não entram no mundo dos alunos, e ambos não entram na história do conhecimento, ou seja, nas
dificuldades, nos problemas, mas criam barreiras para um aprendizado teológico relevante na
vida das pessoas. Porém, Jesus era Mestre em duas importantes áreas da educação: o assunto (a
palavra) e o discípulo (as pessoas). Se existe a intencionalidade de seguirmos os métodos do
Mestre por excelência, não temos que dominar apenas a matéria, mas também conhecer nosso
aluno. O apóstolo João disse de Jesus: ―E não precisava de que alguém Lhe desse testemunho a
respeito do homem, porque Ele mesmo sabia o que era a natureza humana‖ (João 2:25). Jesus
era eficiente como educador porque Seu amor se expressava no olhar, nas palavras e em Seus
atos. Ele conhecia em profundidade a natureza dos seus alunos, dos discípulos. Portanto, se
quisermos ensinar como Jesus ensinou, devemos ter Seu amor , sua sensibilidade em nossos
corações e em nossa prática pedagógica .
3. O EDUCADOR DE ESCOLA BÍBLICA COMO AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO:
COMUNICAÇÃO, PLANEJAMENTO E CAPACITAÇÃO DOCENTE
3.1 O papel da comunicação do educador no processo de aprendizagem
A história revela que não há neutralidade em educação, porque ela implica paradigmas que
orientam a vida dos indivíduos, da sociedade, pois existe uma proposta de valores que a perpassa. A
educação supõe processo de humanização e personalização, aquisição de meios para atuação no
contexto social. Indubitavelmente, neste cenário, o educador cristão é imprescindível na
potencialização dos conteúdos teológicos na constituição do sujeito, mas a ausência da articulação
entre conteúdo teológico e vida de mestre, entre o saber e o ser, entre aluno e educador, é um caminho
29. 31
que conduz o cristão a viver na superficialidade e trivialidade. Um dos fatores, demasiadamente
usado por Cristo, mas utilizado inadequadamente por muitos educadores de Escola Bíblica, é a
comunicação. Apesar de vivermos inseridos numa cultura grafocêntrica23, imagética e iconográfica
que, constantemente, rege a comunicação nas relações sociais, muitos não sabem usá-la de modo
relevante. Comunicar não implica falar e ouvir, mas se fazer entender pelo outro de modo que instigue
uma reflexão sobre sua realidade cristã, ou seja, sua vida.
Há educadores que, por falta de conhecimento ou sensibilidade docente, não percebem que são
maus comunicadores. A impressão que temos é de que se preocupam com a medíocre exposição de
sua matéria em detrimento da educação propriamente dita. O educador acha que sua função consiste
em transmitir conhecimentos e que é obrigação do aluno ouvir, compreender e registrá-los em sua
memória. Quando as ideias do educador estão desorganizadas, sua mensagem é confusa e insegura.
Eles preferem o monólogo, isto é, a criticada ―salivação‖. Outros costumam ensinar partindo da
seguinte premissa: ―Se os alunos mais inteligentes dos primeiros assentos entendem o que eu falo,
todos os demais também entenderão‖. Ora, isso é simplesmente uma falácia!
Em relação à linguagem, muitos são os que costumam utilizar conceitos ou termos que ainda
não existem na experiência dos estudantes. Ao contrário desses, há os que assumem uma postura bem
mais nociva: não se preocupam em enriquecer o seu vocabulário e o dos alunos.
A maneira de expor a matéria é outro problema que dificulta a boa comunicação entre
educadores/as e alunos. Na Escola Bíblica, muitos mestres colocam tantas ideias em cada exposição
que somente algumas delas são compreendidas e retidas na mente dos membros. Falar rápido demais,
articular mal as palavras, usar voz baixa e em tom monótono são comportamentos igualmente
perniciosos.
Se existem educadores que não utilizam meios visuais para expor conceitos ou relações que
exigem apresentação gráfica, há também os que fazem uso recursos visuais de forma inadequada. Um
exemplo disso é quando empregam o quadro-negro sem planejar, escrevendo e desenhando ora aqui,
ora ali, com muita confusão e desordem. Aqui está um resumo dos principais problemas que
23
A cultura grafocêntrica é pautada na valorização da escrita.
30. 32
atrapalham a comunicação entre docentes e discentes em qualquer nível do processo ensino-
aprendizagem. É importante ressaltar que a eficiência da comunicação resulta, fundamentalmente, de
clareza, precisão, simplicidade, criatividade e objetividade da mensagem.
Outro fator necessário para uma boa comunicação em sala de aula é a arte de ouvir. O
educador deve ouvir com interesse e atenção as colocações dos alunos na sala de aula. A audição
inteligente é facilitada ainda mais quando atentamos para a fisionomia e para a gesticulação de quem
fala. Um dos maiores problemas de comunicação, tanto a de massa quanto a interpessoal, é como o
receptor capta uma mensagem. Raríssimas são as pessoas que procuram ouvir atentamente o que a
outra está dizendo. Ouvir depende de concentração, é perceber através do sentido da audição. Escutar
significa dirigir a atenção para ouvir.
Enquanto uma pessoa normal fala, em média 120 a 150 palavras por minuto, nosso
pensamento funciona três ou quatro vezes mais depressa. Consequentemente, surge um mau hábito na
audição. Muitas pessoas estão de tal forma ansiosas em provar sua rapidez de apreensão que
antecipam os pensamentos antes de ouvi-los dos lábios do interlocutor. Isso ocorre quando ouvimos a
precipitada exclamação: “Já sei o que você vai dizer!” Ouvir, portanto, é muito raro. É necessário
limpar a mente de todos os ruídos e interferências do próprio pensamento durante a fala alheia. Ouvir
implica dirigir atenção irrestrita ao outro. Daí a dificuldade de as pessoas com raciocínio rápido
efetivamente ouvirem. Sua inteligência em funcionamento e o seu hábito de pensar, avaliar, julgar e
analisar tudo interferem como um ruído, na plena recepção daquilo que lhe está sendo falado.
Às vezes, imaginamos ter tanta coisa ―interessante‖ para dizer, nossas ideias são tão originais
e atrativas que é um castigo ouvir. Queremos falar, porque falando, aparecemos. Ouvindo, ficamos
omissos. Só ouvir, acreditamos, dá aos outros uma impressão desfavorável de nossa inteligência. Por
isso falamos, mesmo que nada tenha a dizer. Porém não é esse o conselho da Bíblia. É melhor ouvir
que falar, ―...mas todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar...‖ (Tg 1.19).
É através dos sentidos que a alma humana se comunica com o mundo. No ato de ouvir,
percebemos e identificamos os sons pelo sentido da audição. Ouvindo atentamente, interpretamos e
assimilamos o sentido do que percebemos. Não é de hoje a dificuldade que as pessoas têm de ouvir
31. 33
atentamente o que os outros falam. Jesus discorreu sobre o tema quando explicava a seus discípulos a
razão de falar-lhes por parábolas. Naquela ocasião, o Mestre usou a seguinte expressão: ―Quem tem
ouvidos para ouvir, ouça...‖ (Mt 13.9). Segundo Champlim, (1966) um dos maiores comentaristas do
Novo Testamento, essa expressão, inclusive usada por Jesus outras vezes, sob diferentes
circunstâncias (Mt 11.15; Mc 4.9,23; Ap 2.7,11,17,29; e 3.6,13,22), era um ditado comum entre os
judeus, empregado especialmente pelos rabinos.
O adágio era usado para chamar a atenção sobre a importância do ensino apresentado,
o sentido oculto do ensino e a total compreensão do que fica subentendido no ensino.
Jesus queria dizer que seus ensinos deveriam ser ouvidos com atenção e diligência, e
que por ausência disso, muitos não poderiam compreendê-lo.
Naturalmente que os ouvidos foram feitos para ouvir. Jesus usou o pleonasmo para realçar
seus verdadeiros propósitos. Não era suficiente apenas ouvir no sentido de identificar os sons das
palavras, era necessário interpretar o sentido delas para praticá-las. Significa ter ouvidos com
capacidade para ouvir e entender os mistérios de Deus. Jesus estava dizendo que, falando por
parábolas, nem todos teriam capacidade de ouvir e compreender o pleno sentido de suas palavras.
―Ouvindo, não ouvem, nem compreendem‖ (Mt 13.13). Ouviram com os seus ouvidos os seus
ensinamentos, mas permaneceram surdos para as suas implicações. Isso porque a eficiência do
aprendizado, através da audição, depende da predisposição da pessoa. Ou seja, a atitude mental de
quem ouve é imprescindível.
Toda a argumentação anterior objetiva afirmar que a emissão, a transmissão e a recepção do
conteúdo didático-teológico são componentes da rede de comunicação entre educadores e alunos. É
necessário enfatizar que da excelente comunicação dependem não só a aprendizagem, mas também a
admiração mútua, a cooperação e a criatividade em sala de aula. O educador, que também pretende
ser bom comunicador, precisa desenvolver empatia, colocar-se no lugar do aluno e, com ele, procurar
as melhores respostas para que, ao mesmo tempo em que aprende novos conteúdos, desenvolva sua
habilidade de pensar, refletir e vivenciar o aprendido. Essa é a tese principal da educação cristã.
32. 34
3.2. A relevância do planejamento educacional para a Escola Bíblica
―Planejar‖ significa fazer planos, projetar ou traçar. Alguns pastores ou líderes têm certa
resistência em utilizar esse termo, por considerá-lo empresarial. Mas, atualmente, a expressão
planejamento encontra-se em todos os setores da atividade humana e nos faz assumir uma atitude
séria e curiosa diante dos problemas que possam surgir, pois, diante de um problema, é necessário que
se reflita para decidir quais são as melhores alternativas de ação possíveis para alcançar determinados
objetivos, posto que planejar não se limita a sistematizar conteúdos, é estudar, ―assumir uma atitude
séria e curiosa diante de um problema‖ (FREIRE, 1979, p. 68-69). Portanto, planejar é uma
necessidade em todos os campos da atividade humana, principalmente na educação, já que educar é
uma atitude intencional, sistemática e deliberada.
O fato de a educação religiosa ocorrer, quase sempre, na Igreja, muitos não valorizam o
planejamento, como se essa prática fosse tolher a ação do Espírito Santo. Todavia, sistematizar o
conteúdo que será ministrado na Escola Bíblica promoverá uma compreensão teológica mais apurada,
quanto à vontade de Deus para e na vida dos cristãos, tornando-os mais maduros e capacitados para
responder quanto à razão de sua fé. Isso denota que a ação do Espírito Santo não deixa de agir, seja na
vida do cristão ou da Igreja, quando se utilizar o planejamento como uma ferramenta pedagógica.
O educador cristão dever tem em mente que o planejamento é um processo de racionalização,
organização e coordenação da ação docente, que deve articular a atividade em sala de aula, sem
desconsiderar a ação do Espírito Santo na elaboração do planejamento na educação cristã, ou seja, a
ação de planejar não se reduz ao simples preenchimento de formulários para controle administrativo;
é, antes, uma atividade consciente de previsão das ações docentes, fundamentadas tanto em opções
político-pedagógicas (educação formal) quanto teológicas (educação religiosa), e tendo como
referência permanente as situações didáticas concretas, ou seja, o contexto sócio-historico-cultural em
que estão inseridos os alunos, os educadores e a instituição de ensino, neste caso, a igreja.
33. 35
Quando se pretende elaborar um planejamento, é preciso responder às seguintes perguntas: O
que pretendo alcançar? Em quanto tempo pretendo alcançar? Como posso alcançar isso que pretendo?
O que fazer e como fazer? Quais os recursos necessários? O que e como analisar a situação a fim de
verificar se o que pretendo foi alcançado? Portanto, se uma liderança não se preocupa em levantar
esses questionamentos, o processo educativo na igreja passa a ser fragilizado, desorganizado.
Na educação, o planejamento se restringe a três etapas: planejamento educacional,
planejamento curricular e planejamento de ensino. No que se refere à educação cristã, o planejamento
educacional consiste na tomada de decisões sobre que tipo de formação teológica (teologia reformada,
teologia pentecostal, teologia da prosperidade etc) se pretende alcançar. Por meio do planejamento de
currículo se formulam os objetivos educacionais24, a partir daqueles expressos nos guias curriculares
estabelecidos pela instituição de ensino religioso, e, por ultimo, o planejamento de ensino, que é a
especificação do planejamento de currículo e que consiste em traduzir, em termos mais concretos e
operacionais, o que o educador fará na sala de aula, para conduzir os alunos a alcançarem os objetivos
educacionais propostos. Um planejamento de ensino, segundo Piletti, deverá conter:
Objetivos específicos (ou instrucionais) estabelecidos a partir dos objetivos
educacionais; Conhecimentos a serem adquiridos pelos alunos no sentido
determinado pelos objetivos; Procedimentos e recursos de ensino que estimulam as
atividades de aprendizagem; Procedimentos de avaliação que possibilitem verificar,
de alguma forma, até que ponto os objetivos foram alcançados. (2006, p. 62)
As etapas do planejamento de ensino, em qualquer processo educativo, deve considerar: o
conhecimento da realidade; elaboração do plano; execução do plano; avaliação e aperfeiçoamento do
plano. Essas etapas podem ser visualizadas através do gráfico em anexo.
Para poder planejar adequadamente a tarefa de ensino na Escola Bíblica e atender às
necessidades do aluno, é preciso, primeiro, saber para quem vai se planejar. Por isso, conhecer o
aluno e seu ambiente é a primeira etapa do processo de planejamento. É preciso saber quais as
aspirações, frustrações, necessidades e possibilidades dos alunos. Agindo assim, estaremos fazendo
uma sondagem, ou seja, buscando dados importantes não apenas para elaborar o planejamento, mas
também para entender as relações que serão estabelecidas durante o processo educativo.
24
Objetivos Educacionais ou gerais são as metas e os valores mais amplos que a instituição de ensino pretende atingir.
(2006, p. 65).
34. 36
Os alunos da Escola Bíblica precisam ser conhecidos não apenas na Escola Bíblica, mas fora
da instituição eclesiástica, para entender sua realidade diariamente, já que a maioria das escolas
bíblicas ocorre um dia na semana. Todavia, quanto maior for o conhecimento da realidade do aluno,
maior será a facilidade em contextualizar os conteúdos bíblicos à sua vida prática, já que o ensino
bíblico objetiva alcançar a mudança na vida do indivíduo, em sua vivência prática, no seu contexto,
seja, no lar, no trabalho, na escola, formando, desse modo, um discípulo.
Assim, uma vez realizada tal sondagem, devem-se estudar cuidadosamente os dados coletados.
A conclusão a que chegamos, após o estudo dos dados coletados, denomina-se diagnóstico. Sem a
sondagem e o diagnóstico, corre-se o risco de propor o que é impossível alcançar ou o que não
interessa ou, ainda, o que já foi alcançado. Portanto, esse procedimento é que definirá e delimitara os
objetivos instrucionais25.
A partir dos dados fornecidos pela sondagem e interpretados pelo diagnóstico, temos
condições de estabelecer que é possível alcançar os objetivos 26, como fazer para alcançar o que
julgamos possível e como avaliar os resultados. Por isso, passamos a elaborar o Plano através dos
seguintes passos: ―determinação dos objetivos; seleção e organização dos conteúdos, seleção e
organização dos procedimentos de ensino; seleção dos recursos; seleção de procedimentos de
avaliação e estruturação do Plano de ensino‖ (ibid, p.64).
Ao elaborar o Plano de Ensino, antecipamos, de forma organizada, todas as etapas do trabalho
que será realizado na Escola Bíblica Dominical. Na execução do plano, que consiste no
desenvolvimento das atividades previstas, sempre haverá o elemento não plenamente previsto. Às
vezes, a reação dos alunos ou as circunstâncias geradas em sala de aula pelo conteúdo ministrado
(predestinação X arminianismo; escatologia etc.) poderão exigir adaptações e alterações no
planejamento, que é sujeito a mudanças, devido à dinâmica no processo ensino-aprendizagem. Isso é
uma normalidade, pois uma das características de um bom planejamento deve ser sua flexibilidade.
25
Os objetivos instrucionais são proposições mais específicas referentes às mudanças comportamentais esperadas para
um determinado grupo-classe. (2006, p.65)
26
Objetivos e descrição clara do que se pretende alcançar como resultado de nossa atividade. Os objetivos nascem da
própria situação: da comunidade, da escola, da família, da disciplina do educador e, principalmente, do aluno. Os
objetivos, portanto, são sempre do aluno e para o aluno. (2006, p.65)
35. 37
Ao término da execução do que foi planejado, passamos a avaliar o próprio plano, visando ao
replanejamento. Nessa etapa, a avaliação adquire um sentido diferente da avaliação do ensino-
aprendizagem e um significado mais amplo. Isso porque, além de avaliar os resultados do processo de
ensino e aprendizagem, procuramos avaliar a qualidade do nosso plano e de nossa prática de ensino,
ou seja, o educador se autoavaliando, a sua eficiência como educador e a eficiência da Escola Bíblica
na Igreja em que ensina. Ao avaliar o ensino na Escola Bíblica, o educador estará avaliando a
totalidade do ensino em toda a Igreja, identificando sua eficácia, falácia e fragilidade, visando à
melhoria no ensino e, consequentemente, a formação do caráter cristão em cada membro.
Foi destacado anteriormente que, na Escola Bíblica, uma abordagem educacional
eficiente é aquela que pode ser orientada por objetivos educacionais. Isso significa dizer que
toda a Estrutura Educacional é desenhada à luz dos objetivos a serem alcançados. Antes de
se elaborar qualquer currículo, conteúdo, estrutura de ensino, processo de avaliação, e
demais procedimentos relacionados ao processo educacional, busca m-se traçar os objetivos
que nortearão e governarão todos esses detalhes de modo a se esperar que tudo venha a
convergir para o alcance desses objetivos. Neste caso, a Didática, disciplina técnica e que
tem como objetivo a técnica de ensino, utiliza dois tipos de objetivos: o objetivo geral e os
objetivos específicos.
O objetivo geral abrange o aspecto geral para a formação da pessoa no processo
educacional, a saber: depois de concluído, determina a etapa do processo, e o que esperamos
que o educando tenha conquistado, em termos de SER, TER, CONVIVER, SENTIR E
SABER, dependerá do tipo de conteúdo ministrado na Escola Bíblica.
Já os objetivos específicos contemplam as necessidades específicas dos educandos,
tendo em vista o âmbito em que vivem e atuam, as suas características e necessidades ,
considerando-se os detalhes de seu perfil específico. Esse tipo de objetivo educacional
contextualiza a educação, uma vez que o âmbito de atuação do educando e seu perfil é
considerado. Assim, o desenho da grade curricular e o desenvolvimento do conteúdo na
36. 38
busca de estratégias didáticas devem estar em harmonia com o contexto em que ocorrerá o
processo educativo.
No caso da educação cristã, os objetivos gerais correspondem às aspirações que a
Bíblia expressa a respeito da pessoa que se converte ao Evangelho, isto é, qual o perfil que
Deus espera de uma pessoa cristã? Além de outros aspectos gerais que incluem o preparo da
pessoa para agir como cristã na sociedade ou comunidade em que vive. Os objetivos
específicos detalham a contextualização do próprio processo educacional. Assim, estudando
a Bíblia, descobrimos que Deus deseja que todos os cristãos sejam mordomos de sua vid a.
Esse é o objeto geral bíblico. Ao estuda r o perfil do educando, descobre-se como
desenvolver o conteúdo e buscar estratégias didáticas ligadas a esse perfil.
Anteriormente, tratamos dos objetivos educacionais. Ao orientar a educação por meio
de objetivos, estaremos não apenas contextualizando-a, mas germinando uma série de
mecanismos que viabilizarão a coesão e a não redundância de conteúdos e práticas
educacionais. Ao planejar a educação e construir toda a sua estrutura, conseguiremos
determinar com mais precisão cada etapa do processo educacional, que agora está ligado aos
objetivos almejados e, na mesma direção, realizar a sua supervisão e avaliar os seus
resultados. Essa deve visar à prática educativa do educador, do aluno e da Escola Bíblica em
geral. Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais (1996, p. 61) , ―Os resultados da
avaliação devem ser concebidos como indicadores para a prática educacional e nunca como
um meio de estigmatizar os alunos‖. Andrade (1979, p.91) afirma que ―a inexistência de
objetivos promoveria a instalação da instabilidade, do desnorteamento, da improvisão,
enfim, da inexistência de administração educacional‖ . Desde o estudo das mais complexas
variáveis do planejamento educacional, até o trabalho do educador em sala de aula, tudo
deve girar em torno dos objetivos educacionais estabelecidos. Assim , a seleção dos
conteúdos, dos procedimentos e dos recursos didáticos será governada ou orientada pelos
objetivos.
37. 39
O estabelecimento de objetivos educacionais é um procedimento que antevê e projeta
os resultados esperados na vida dos alunos que participarem do processo educativo. Segundo
Turra (1995, p. 65), esses objetivos servem como grande benefício para a aprendizagem.
Deixa claro o desempenho planejado para que o aluno conquiste; guiam a
seleção e a organização curricular e dos conteúdos; orientam a seleção e a
organização dos procedimentos necessários em todo o processo educacional;
orienta na seleção e busca dos recursos necessários; capacitam o educador a
planejar as etapas que serão necessárias em todo o processo pelo qual o
aluno deverá passar para conquistar o desempenho almejado; permite maior
precisão na avaliação sobre o que se espera dele; possibilitará que a grade
curricular e os conteúdos sejam coerentes, simétricos, não-redundantes; e
possibilita um enfoque comum aos educadores .
Depois do estabelecimento dos objetivos educacionais almejados, é que se poderá
cuidar de todo o conjunto que envolve a educação, t ais como a estrutura dos cursos, grade
curricular, conteúdos, recursos e estratégias didáticas mais comuns, sistemas de avaliação
docente e discente, formação e capacitação do docente, ambiente físico e equipamento
adequado, etc. Os procedimentos educacionais também precisam ser previstos e
estabelecidos. Turra define os procedimentos como ―meios para que o aluno atinja os
objetivos‖ (Ibid, p. 66). Os procedimentos deverão ser elaborados levando -se em
consideração princípios pedagógicos (como o aluno apre nde), da psicologia educacional, da
psicologia do desenvolvimento, da ciência da comunicação e de toda ciência ou ramo do
conhecimento humano que viabilize a obtenção dos resultados compatíveis c om os objetivos
esperados. Turra (Ibid, p. 63) acrescenta que a transformação dos objetivos em realidades
concretas no trabalho educacional entre aluno e mestre deverá levar em consideração as
seguintes variáveis:
Maturidade: trata-se de detectar as capacidades e necessidades relacionadas
com o que o aluno pode aprender; Aprendizagem atual dos alunos: onde se
comprova o nível do aluno em relação aos objetivos que o educador pretende
alcançar; Motivação: fenômeno da aprendizagem; Tempo disponível: tanto
do aluno, com do sistema educacional, em relação à quantidade de objetivos;
Recursos disponíveis: educadores capacitados, meios concretos a disposição
do educador para a ministração de suas aulas; Espaço e ambiente físico.
Uma vez estabelecidos os objetivos, criados a estrutura educacional necessária, o
currículo, elaborados os conteúdos, enfim, iniciado o processo educacional na interação
38. 40
aluno, mestre e conteúdo, gera-se a necessidade de se estabelecer um processo de avaliação,
seja no discente, seja no docente.
É certo que há toda uma fundamentação filosófico-pedagógica que norteia esse
processo de avaliação. Lamentavelmente, no sistema educacional aplicado às igrejas, esse
processo avaliativo das ações didático-pedagógicas do educador e do ensino-aprendizagem
dos educandos praticamente não existe. O educador vai à sala de aula, ministra o conteúdo -
quando utiliza um recurso didático, em geral, é o quadro branco - o aluno ouve
passivamente, alguém dá o sinal, e a aula termina. No próximo domingo, todo esse processo
se repete, no próximo mês, também, no próximo semestre, dá continuidade à mesma lógica,
e assim por diante. Vale destacar que, sem um processo de avaliação, não será possível
aferir se os objetivos educacionais almejados estão sendo conquistados nem saber se os
alunos estão sendo formados e conquistando também esses objetivos. Também não será
possível saber se o trabalho do educador está sendo adequado. Enfim, sem a avaliação, é
como navegar num navio sem uma carta de navegação e sem considerar o rumo que se está
tomando. É ministrar aula por ministrar. É ter uma Escola Bíblica apenas para se dizer que
tem. É ter um programa educacional doméstico só por ter.
Iniciado o processo de avaliação, cria-se outro processo chamado de feedback, ou
realimentação, que nos fornece dados importantes para a reformulação de objetivos e a
prática de ensino. Essa reformulação de objetivos e de práticas de ensino contempla a
política da qualidade que todas as igrejas devem estabelecer e passa por uma dinâmica que
sempre premia a qualidade, afinal, a obra de Deus merece isso. Portanto, pode -se ver mais
claramente no desenho abaixo.
39. 41
OBJETIVOS
O que se espera?
REFORMULAÇÃO
CRITÉRIOS
Objetivos e prática
Normas e princípios
estruturais
AVALIAÇÃO TRABALHO
DOCENTE E
O que foi feito e o DISCENTE
que falta?
Na educação não religiosa, em geral, existem três fontes dos objetivos educacionais:
primeiro, o aluno, considerando-se suas necessidades e seus interesses ―...e como todo ensino
deve ser um processo intencional, sistemático e deliberado, é preciso conhecer as
características de que aprende para conseguir o seu envolvimento‖ (1995:59); segundo, a
sociedade, pois ―as complexidades da via atual refletem o processo de mutação em que a
sociedade determina fins e objetivos que visem tipos de aptidões que a pessoa precisa
desenvolver para melhor realizar-se‖ (Id, 1b.); e terceiro, os conteúdos, que informarão como
irá contribuir a consecução da educação. Consultando essas três fontes, obteremos os objetivos
educacionais provisórios, que depois serão filtrados por uma filosofia e psicologia da
educação, para que se estabeleçam os objetivos pre cisos do ensino, uma vez que essas duas
40. 42
ciências detêm dados sobre a aprendizagem e estabelecem a cosmovisão necessária aos
educadores, norteando-os com pressupostos seguros e coerentes.
Como em nosso modelo educacional partimos do conceito de que Deus é a fonte da verdade e
que, através de sua Palavra, deseja restaurar e formar o ser humano, capacitando-o para toda boa obra (II
Tm. 3:16,17), a fonte primeira da educação cristã passa a ser ele mesmo e sua palavra. Sem dúvida, isso
passa a ser considerado a partir de uma educação cristã preocupada com a formação humana, em sua
inteireza, a formação do indivíduo em sua totalidade, forjando a subjetividade humana, adotando como
parâmetro o Jesus histórico.
Portanto, um bom planejamento de ensino é aquele que contém as seguintes características: ser
elaborado em função das necessidades e das realidades apresentadas pelos alunos; ser flexível, isto é,
deve dar margem a possíveis alterações e reajustes sem quebrar sua unidade e continuidade. O plano
pode ser alterado quando se fizer necessário; ser claro e preciso, isto é, os enunciados devem
apresentar indicações bem exatas e sugestões bem concretas para o trabalho a ser realizado; ser
elaborado em íntima correlação com os objetivos, tendo em vista as condições reais e imediatas de
local, tempo e recursos disponíveis.
O educador da Escola Bíblica deve entender que o planejamento é importante porque evita a
rotina e a improvisação; contribui com a realização dos objetivos propostos; promove a eficiência do
ensino bíblico; garante maior segurança na direção do ensino na Escola Bíblica e economia de tempo
e energia, promovendo mais prazer para quem apreende e para quem ensina, o que torna o magistério
eclesiástico mais qualitativo.
3.3. A importância da capacitação do educador da Escola Bíblica
O ministério de mestre, daquele que educa, daquele que ensina, irá determinar o rumo daquele
que aprende e, por isso, afirmamos que, na Escola Bíblica, o ensino é de grande relevância. O filósofo
Espinosa afirmava que a melhor forma para se dominar o homem é mantê-lo na ignorância. Com isso,
ele queria dizer: "É conveniente ao governo manter o seu povo sem instrução, porque um povo
41. 43
ignorante é facilmente manipulado, dominado. "Se esse princípio é válido na política do terceiro
mundo, ele não pode ser adotada na Igreja de Cristo. A Igreja Cristã não pode aceitar essa filosofia
educacional. Cabe a ela dar prioridade à educação religiosa. O ensino da Palavra de Deus tem que ser
relevante no meio do Seu povo.
O Século XX foi marcado pela tecnologia: muita produção, muita rapidez no serviço. O
homem moderno perdeu a visão, o ideal, a paixão, a esperança. Ele vive para gerar recursos de
sobrevivência. Na educação secular, desapareceu o educador educacional, idealista, para dar lugar ao
educador profissional, ativista. Infelizmente, esse perfil profissional adentrou as igrejas, e o educador
da Escola Bíblica tornou-se um ativista em suas funções, uma pessoa sem tempo, sem ideal, sem
esperança.
Como minimizar esse mal que atingiu as nossas igrejas? Como trazer de volta aquele educador
da Escola Bíblica preocupado com seu aluno global: físico e espírito, corpo e alma? Como trazer de
volta o educador que visitava seu aluno doente, seu aluno faltoso, seu aluno aniversariante? Que tinha
tempo suficiente para orar com ele e por ele?
O texto áureo da educação cristã: "o que ensina esmere-se em fazê-lo", sugere duas verdades:
primeiro, o educador dever ser vocacionado por Deus para o exercício do magistério; segundo, o
ensino na Escola Bíblica deve ser relevante, e um ensino relevante tem três características: procede de
Deus; é feito com esmero, ou seja, gasta-se tempo no ministério, aplicando-se na formação do caráter
do educando; e, por ultimo, é aquele que gera vida. O educador da Escola Bíblica precisa estar
comprometido com a edificação de seu aluno: vida nova, de caráter espiritual, para aqueles que estão
mortos em seus delitos e pecados. Conforme Efésios, ―Ele vos deu vida, estando vós mortos nos
vossos pecados e delitos‖ (2:1). Vida plena e abundante para aqueles que já nasceram de novo. De
acordo com João 10:10, ―o ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham
vida e a tenham em abundância‖. No entanto, o educador da Escola Bíblica deve estar preparado para
o exercício de uma das mais nobres virtudes do ser humano em todo o tempo, que é o de ensinar. Em
todo o mundo, milhões e milhões de dólares são gastos todos os anos com o ensino e com a formação
de novos educadores. Na Igreja de Cristo, não devia ser diferente, contudo não vemos a mesma ênfase
42. 44
que o mundo dá aos seus mestres, dentro de nossas igrejas. Para desempenhar bem seu papel, o
educador da Escola Bíblica Dominical precisa estar preparado para ensinar, pronto para discipular e
para exercer a liderança no grupo. O educador da Escola Bíblica deve exercer seu ministério com
excelência. A palavra excelência significa qualidade do que é excelente, muito bom. A palavra de
Deus nos adverte quanto ao fato de exercermos o ministério relaxadamente, pois ―Maldito aquele que
fizer a obra do Senhor relaxadamente‖ (Jr 48:10). Serviço relaxado é o que é feito de qualquer
maneira. O mundo atual se prima pela eficácia, pela capacitação, pela excelência. A Igreja de Cristo
não pode ficar para trás. O ensino, na Escola Bíblica, não pode ser arcaico, desatualizado. A vocação
não exclui a necessidade de se atualizar.
Ensinar é uma das missões da igreja. Muitas igrejas se acham anêmicas espiritualmente porque
não têm dado ênfase ao estudo da Palavra de Deus. Por falta de Profeta, o povo se corrompe. O crente
que não conhece a Bíblia está propenso a deixar-se levar por qualquer vento de doutrina que passa. O
apóstolo Paulo tinha grande preocupação em relação à questão do ensino. Em Romanos, ele chamou a
atenção sobre isso, escrevendo: ―Se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao
ensino‖(12:7).
O ministério da educação cristã está associado ao ensino da Palavra de Deus no seio da igreja.
Então, ela precisa ter obreiros devidamente preparados e treinados para o exercício desse ministério.
Muitas igrejas não têm dado o devido apoio àqueles que vêm se dedicando à Educação Cristã, o que
se configura como uma falta muito grande, que é estar omissa em relação às necessidades espirituais
de seus membros.
A Escola Bíblica tem como meta o ensino da Palavra de Deus. Todavia, ultimamente, temos
constatado muito descaso nessa área por parte de algumas denominações. Preocupados com o
esvaziamento da Escola Bíblica, muitos grupos têm conclamado congressos e simpósios para tratar do
assunto, com vistas a buscar meios que promovam uma sensível melhora nessa área. Sabemos que os
problemas na área da Escola Bíblica são muitos e envolvem muitas questões. A frequência à Escola
Bíblica dominical tem caído muito nos últimos anos; a qualidade do ensino tem caído quase na
mesma proporção. Nesse sentido, é preciso motivar as pessoas para que realmente sintam