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Os desafios estruturais da
economia portuguesa
Ricardo Paes Mamede
ISCTE-IUL
Quatro narrativas sobre as origens crise
1. “Andámos a viver acima das nossas possibilidades”
2. “Não nos preparámos devidamente para viver sob o euro”
3. “Portugal foi a n-ésima vítima da liberalização financeira”
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O endividamento externo não parou de
aumentar desde a década de 1990
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Quatro narrativas sobre as origens crise
1. “Andámos a viver acima das nossas possibilidades”
2. “Não nos preparámos devidamente para viver sob o euro”
3. “Portugal foi a n-ésima vítima da liberalização financeira”
4. “A estrutura da economia portuguesa revelou-se demasiado
frágil para viver com as regras da UEM”
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• Com a participação na UE e na UEM, Portugal perdeu o controlo sobre
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• O mercado de trabalho em Portugal tem revelado grande
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• A reforma da segurança social de 2006 foi considerada das mais
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• Portugal foi dos países da UE onde o número de funcionários
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1. “Andámos a viver acima das nossas possibilidades”
2. “Não nos preparámos devidamente para viver sob o euro”
3. “Portugal foi a n-ésima vítima da liberalização financeira”
4. “A estrutura da economia portuguesa revelou-se demasiado
frágil para viver com as regras da UEM”
3. “Portugal foi a n-ésima vítima da
liberalização financeira”
Fonte: Carmen M. Reinhart & Kenneth S. Rogoff (2009). This Time Is Different: Eight Centuries of Financial Folly.
O círculo vicioso da liberalização financeira
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• O círculo vicioso da liberalização financeira dura mais tempo
quando o compromisso dos Estados com a estabilidade cambial é
mais credível.
Em regime de câmbios flexíveis: (i) o risco de desvalorização cambial
atenua o afluxo de capitais e (ii) o endividamento externo conduz à
desvalorização e à melhoria da competitividade.
• Quando o círculo é rompido, deixa atrás de si um lastro de
endividamento - que é assumido, em larga medida, pelo Estado.
O círculo vicioso, a participação no euro, a
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No entanto, nem todos os países da UE
foram igualmente afectados pela
liberalização financeira.
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1. “Andámos a viver acima das nossas possibilidades”
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4. “A estrutura da economia portuguesa revelou-se demasiado
frágil para viver com as regras da UEM”
Os países mais afetados pela crise são os que têm, desde
há muito, estruturas produtivas mais frágeis.
Fonte: CE (2011), The Economic Adjustment Programme for Portugal
Vantagens comparativas reveladas, por grupos de intensidade de
crescimento das exportações mundiais de bens, 2005-2009
São economias com fracas perspectivas de
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O que está relacionado com os baixos níveis de
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Fonte: AMECO
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Os desafios estruturais da economia portuguesa

  • 1. Os desafios estruturais da economia portuguesa Ricardo Paes Mamede ISCTE-IUL
  • 2. Quatro narrativas sobre as origens crise 1. “Andámos a viver acima das nossas possibilidades” 2. “Não nos preparámos devidamente para viver sob o euro” 3. “Portugal foi a n-ésima vítima da liberalização financeira” 4. “A estrutura da economia portuguesa revelou-se demasiado frágil para viver com as regras da UEM”
  • 3. 1. “Andámos a viver acima das nossas possibilidades” Fonte: AMECO
  • 5. A dívida pública portuguesa até à crise era próxima da média da UE Fonte: AMECO Dívida pública (em % do PIB)
  • 6. A procura interna em Portugal foi das que menos cresceu na UE nos anos que precederam a crise Fonte: AMECO Taxa de crescimento médio anual da procura interna: 2000-2008
  • 7. • Em 2010, cerca de 63% das famílias não tinha qualquer dívida aos bancos ou a outras instituições financeiras.
  • 8. A taxa de incumprimento no pagamento de empréstimos manteve-se baixa até 2008 Fonte: Banco Mundial Crédito malparado em percentagem dos empréstimos a empresas e famílias
  • 9. Ou seja, os comportamentos dos portugueses não parecem assim tão excêntricos. Ainda assim…
  • 10. O endividamento externo não parou de aumentar desde a década de 1990 Fonte: AMECO Passivo externo líquido (em % do PIB)
  • 12. Quatro narrativas sobre as origens crise 1. “Andámos a viver acima das nossas possibilidades” 2. “Não nos preparámos devidamente para viver sob o euro” 3. “Portugal foi a n-ésima vítima da liberalização financeira” 4. “A estrutura da economia portuguesa revelou-se demasiado frágil para viver com as regras da UEM”
  • 13. 2. “Não nos preparámos devidamente para viver sob o euro” • Com a participação na UE e na UEM, Portugal perdeu o controlo sobre importantes instrumentos de política económica (taxa de juro, taxa de câmbio, política comercial) e viu limitado o controlo sobre outros (regulação financeira, política orçamental, auxílios de Estado). • Neste contexto, o ajustamento económico tem de ser feito por via da ‘flexibilidade’ de: – salários – preços – impostos
  • 14. Domínios de ‘reformas estruturais’ para uma economia ‘mais flexível’ • Leis laborais • Mercado de arrendamento • Fiscalidade • Concorrência e regulação • Sistema de justiça • Administração e serviços públicos • Processo orçamental • Sistema de pensões • Privatizações • …
  • 15. • O mercado de trabalho em Portugal tem revelado grande capacidade de se ajustar aos ciclos económicos (mesmo antes das sucessivas revisões das leis laborais). • A reforma da segurança social de 2006 foi considerada das mais ambiciosas da OCDE. • Portugal foi dos países da UE onde o número de funcionários públicos e a massa salarial no Estado mais diminuíram na década de 2000 (principalmente a partir de 2005). E no entanto…
  • 16. Ou seja, Portugal não parece ter uma economia particularmente ‘inflexível’ ou ser particularmente avesso a ‘reformas’.
  • 17. Quatro narrativas sobre as origens crise 1. “Andámos a viver acima das nossas possibilidades” 2. “Não nos preparámos devidamente para viver sob o euro” 3. “Portugal foi a n-ésima vítima da liberalização financeira” 4. “A estrutura da economia portuguesa revelou-se demasiado frágil para viver com as regras da UEM”
  • 18. 3. “Portugal foi a n-ésima vítima da liberalização financeira” Fonte: Carmen M. Reinhart & Kenneth S. Rogoff (2009). This Time Is Different: Eight Centuries of Financial Folly.
  • 19. O círculo vicioso da liberalização financeira Afluxo de capitais Expansão do crédito ↑ mercado interno Inflação de produtos e activos Perda de competiti -vidade Endivida- mento Liberalização financeira • Privatização do setor financeiro • Desregulamentação • Movimento de capitais
  • 20. • O círculo vicioso da liberalização financeira dura mais tempo quando o compromisso dos Estados com a estabilidade cambial é mais credível. Em regime de câmbios flexíveis: (i) o risco de desvalorização cambial atenua o afluxo de capitais e (ii) o endividamento externo conduz à desvalorização e à melhoria da competitividade. • Quando o círculo é rompido, deixa atrás de si um lastro de endividamento - que é assumido, em larga medida, pelo Estado. O círculo vicioso, a participação no euro, a crise internacional e a dívida pública
  • 21. No entanto, nem todos os países da UE foram igualmente afectados pela liberalização financeira. Porquê?
  • 22. Quatro narrativas sobre as origens crise 1. “Andámos a viver acima das nossas possibilidades” 2. “Não nos preparámos devidamente para viver sob o euro” 3. “Portugal foi a n-ésima vítima da liberalização financeira” 4. “A estrutura da economia portuguesa revelou-se demasiado frágil para viver com as regras da UEM”
  • 23. Os países mais afetados pela crise são os que têm, desde há muito, estruturas produtivas mais frágeis.
  • 24. Fonte: CE (2011), The Economic Adjustment Programme for Portugal Vantagens comparativas reveladas, por grupos de intensidade de crescimento das exportações mundiais de bens, 2005-2009 São economias com fracas perspectivas de crescimento e muito expostas à globalização
  • 25. O que está relacionado com os baixos níveis de educação dos países em causa Fonte: Eurostat
  • 26. Fonte: AMECO Variação anual do peso da indústria transformadora entre 2000 e 2007 Em Portugal isto conduziu a uma quebra muito acentuada do peso da indústria transformadora…
  • 27. Fonte: Mamede (2014) Variação do número de trabalhadores entre 2000 e 2006 (milhares) … determinada pelo recuo dos sectores tradicionais, não compensado por outros.
  • 28. As quatro narrativas sobre a crise e a resolução dos problemas da economia portuguesa “Andámos a viver acima das nossas possibilidade s” Nacional Austeridade “Não nos preparámos devidamente para o euro” Nacional Reformas estruturais “Portugal foi vítima da liberalização financeira” Partilhada ‘Repressão financeira’ “Economia demasiado frágil para as regras da UEM” Partilhada Reforma da UEM ou saída do euro Narrativa Responsabilidade Resposta
  • 29. As quatro narrativas sobre a crise e o papel de uma eventual reestruturação da dívida pública “Andámos a viver acima das nossas possibilidade s” Nacional Austeridade “Não nos preparámos devidamente para o euro” Nacional Reformas estruturais “Portugal foi vítima da liberalização financeira” Partilhada ‘Repressão financeira’ “Economia demasiado frágil para as regras da UEM” Partilhada Reforma da UEM ou saída do euro Narrativa RespostaPapel da reestruturação da dívida Reestruturação desnecessária e/ou contraproducente: constitui um incentivo a ‘comportamentos errados’ e ao adiamento das ‘reformas estruturais’ Reestruturação necessária e suficiente (com maior regulação financeira) Reestruturação necessária e urgente, mas insuficiente
  • 30. Os desafios estruturais da economia portuguesa Ricardo Paes Mamede ISCTE-IUL