O documento discute quatro narrativas sobre as origens da crise econômica portuguesa: 1) viver acima das possibilidades, 2) falta de preparo para a moeda única, 3) vítima da liberalização financeira, 4) estrutura econômica frágil. Apesar de reformas, a economia portuguesa permanece vulnerável devido à sua dependência de setores tradicionais em declínio e baixos níveis de educação.
2. Quatro narrativas sobre as origens crise
1. “Andámos a viver acima das nossas possibilidades”
2. “Não nos preparámos devidamente para viver sob o euro”
3. “Portugal foi a n-ésima vítima da liberalização financeira”
4. “A estrutura da economia portuguesa revelou-se demasiado
frágil para viver com as regras da UEM”
3. 1. “Andámos a viver acima das nossas
possibilidades”
Fonte: AMECO
5. A dívida pública portuguesa até à crise era
próxima da média da UE
Fonte: AMECO
Dívida pública (em % do PIB)
6. A procura interna em Portugal foi das que menos
cresceu na UE nos anos que precederam a crise
Fonte: AMECO
Taxa de crescimento médio anual da procura interna: 2000-2008
7. • Em 2010, cerca de 63% das famílias não tinha
qualquer dívida aos bancos ou a outras
instituições financeiras.
8. A taxa de incumprimento no pagamento de
empréstimos manteve-se baixa até 2008
Fonte: Banco Mundial
Crédito malparado em percentagem dos empréstimos a empresas e famílias
9. Ou seja, os comportamentos
dos portugueses não parecem
assim tão excêntricos.
Ainda assim…
10. O endividamento externo não parou de
aumentar desde a década de 1990
Fonte: AMECO
Passivo externo líquido (em % do PIB)
12. Quatro narrativas sobre as origens crise
1. “Andámos a viver acima das nossas possibilidades”
2. “Não nos preparámos devidamente para viver sob o euro”
3. “Portugal foi a n-ésima vítima da liberalização financeira”
4. “A estrutura da economia portuguesa revelou-se demasiado
frágil para viver com as regras da UEM”
13. 2. “Não nos preparámos devidamente para
viver sob o euro”
• Com a participação na UE e na UEM, Portugal perdeu o controlo sobre
importantes instrumentos de política económica (taxa de juro, taxa de
câmbio, política comercial) e viu limitado o controlo sobre outros
(regulação financeira, política orçamental, auxílios de Estado).
• Neste contexto, o ajustamento económico tem de ser feito por via da
‘flexibilidade’ de:
– salários
– preços
– impostos
14. Domínios de ‘reformas estruturais’ para uma
economia ‘mais flexível’
• Leis laborais
• Mercado de arrendamento
• Fiscalidade
• Concorrência e regulação
• Sistema de justiça
• Administração e serviços públicos
• Processo orçamental
• Sistema de pensões
• Privatizações
• …
15. • O mercado de trabalho em Portugal tem revelado grande
capacidade de se ajustar aos ciclos económicos (mesmo antes das
sucessivas revisões das leis laborais).
• A reforma da segurança social de 2006 foi considerada das mais
ambiciosas da OCDE.
• Portugal foi dos países da UE onde o número de funcionários
públicos e a massa salarial no Estado mais diminuíram na década
de 2000 (principalmente a partir de 2005).
E no entanto…
16. Ou seja, Portugal não parece ter
uma economia particularmente
‘inflexível’ ou ser particularmente
avesso a ‘reformas’.
17. Quatro narrativas sobre as origens crise
1. “Andámos a viver acima das nossas possibilidades”
2. “Não nos preparámos devidamente para viver sob o euro”
3. “Portugal foi a n-ésima vítima da liberalização financeira”
4. “A estrutura da economia portuguesa revelou-se demasiado
frágil para viver com as regras da UEM”
18. 3. “Portugal foi a n-ésima vítima da
liberalização financeira”
Fonte: Carmen M. Reinhart & Kenneth S. Rogoff (2009). This Time Is Different: Eight Centuries of Financial Folly.
19. O círculo vicioso da liberalização financeira
Afluxo de
capitais
Expansão
do crédito
↑
mercado
interno
Inflação
de
produtos
e activos
Perda de
competiti
-vidade
Endivida-
mento
Liberalização
financeira
• Privatização do setor
financeiro
• Desregulamentação
• Movimento de
capitais
20. • O círculo vicioso da liberalização financeira dura mais tempo
quando o compromisso dos Estados com a estabilidade cambial é
mais credível.
Em regime de câmbios flexíveis: (i) o risco de desvalorização cambial
atenua o afluxo de capitais e (ii) o endividamento externo conduz à
desvalorização e à melhoria da competitividade.
• Quando o círculo é rompido, deixa atrás de si um lastro de
endividamento - que é assumido, em larga medida, pelo Estado.
O círculo vicioso, a participação no euro, a
crise internacional e a dívida pública
21. No entanto, nem todos os países da UE
foram igualmente afectados pela
liberalização financeira.
Porquê?
22. Quatro narrativas sobre as origens crise
1. “Andámos a viver acima das nossas possibilidades”
2. “Não nos preparámos devidamente para viver sob o euro”
3. “Portugal foi a n-ésima vítima da liberalização financeira”
4. “A estrutura da economia portuguesa revelou-se demasiado
frágil para viver com as regras da UEM”
23. Os países mais afetados pela crise são os que têm, desde
há muito, estruturas produtivas mais frágeis.
24. Fonte: CE (2011), The Economic Adjustment Programme for Portugal
Vantagens comparativas reveladas, por grupos de intensidade de
crescimento das exportações mundiais de bens, 2005-2009
São economias com fracas perspectivas de
crescimento e muito expostas à globalização
25. O que está relacionado com os baixos níveis de
educação dos países em causa
Fonte: Eurostat
26. Fonte: AMECO
Variação anual do peso da indústria transformadora entre 2000 e 2007
Em Portugal isto conduziu a uma quebra muito
acentuada do peso da indústria transformadora…
27. Fonte: Mamede (2014)
Variação do número de
trabalhadores entre 2000 e
2006 (milhares)
… determinada pelo recuo dos sectores
tradicionais, não compensado por outros.
28. As quatro narrativas sobre a crise e a resolução dos
problemas da economia portuguesa
“Andámos a
viver acima
das nossas
possibilidade
s”
Nacional Austeridade
“Não nos
preparámos
devidamente
para o euro”
Nacional
Reformas
estruturais
“Portugal foi
vítima da
liberalização
financeira”
Partilhada
‘Repressão
financeira’
“Economia
demasiado frágil
para as regras da
UEM”
Partilhada
Reforma da UEM
ou saída do euro
Narrativa Responsabilidade Resposta
29. As quatro narrativas sobre a crise e o papel de uma
eventual reestruturação da dívida pública
“Andámos a
viver acima
das nossas
possibilidade
s”
Nacional Austeridade
“Não nos
preparámos
devidamente
para o euro”
Nacional
Reformas
estruturais
“Portugal foi
vítima da
liberalização
financeira”
Partilhada
‘Repressão
financeira’
“Economia
demasiado frágil
para as regras da
UEM”
Partilhada
Reforma da UEM
ou saída do euro
Narrativa RespostaPapel da reestruturação da dívida
Reestruturação desnecessária e/ou
contraproducente: constitui um
incentivo a ‘comportamentos errados’
e ao adiamento das ‘reformas
estruturais’
Reestruturação necessária e suficiente
(com maior regulação financeira)
Reestruturação necessária e urgente,
mas insuficiente