O documento discute a hereditariedade e como ela é passada de geração em geração através dos genes. Explica que inicialmente acreditava-se na hereditariedade leve de Lamarck, mas estudos de Mendel, Galton, Weismann e Morgan demonstraram que a hereditariedade ocorre de forma discreta através dos cromossomos na transmissão de pais para filhos.
1. Capítulo 34
O QUE HERDAMOS?
Hoje em dia sabemos que as características como a cor dos olhos ou
do cabelo são passados de uma geração para outra através dos genes.
Genética é o estudo dos genes. Hereditariedade ou herança é a palavra
utilizada para para descrever as “informações” passadas de um indivíduo
para outro através dos genes.
A hereditariedade era um traço principal no trabalho de Charles Darwin,
mesmo que este não a compreendesse. Depois da divulgação do trabalho de
Darwin vários biólogos continuaram testes para comprovar se a chamada
hereditariedade leve pode ria acontecer mesmo que de vez em quando.
A hereditariedade leve era associada ao naturalista francês Jean
Batiste Lamarck, que também acreditava no desenvolvimento das espécies
de maneira evolutiva. Lamarck defendia a ideia de que o meio ambiente
interagiria com o organismo, modelando-o ou adaptando-o e isso seria
passado adiante para as gerações seguintes. Por exemplo, as girafas teriam
pescoço comprido porque o esticavam muito para alcançar as folhas mais
altas, assim, esta mudança passaria de geração para geração.
Francis Galton – primo de Darwin – conduziu uma série de
experimentos criteriosos na tentativa de comprovar a hereditariedade leve.
Cortou a cauda de ratos durante várias gerações sem conseguir gerar
nenhuma geração de ratos sem cauda. Introduziu sangue de coelhos pretos
em coelhos brancos sem que a prole dos coelhos brancos sofresse qualquer
alterações em função disso.
Duas questões convenceram os biólogos de que traços adquiridos
durante a vida não são transmitidos para prole.
O primeiro motivo foi a descoberta dos estudos de um monge da
Morávia (República Tcheca) chamado gregos Mendel. Mendel mesmo antes
de Galton cortar a cauda de vários ratos, queria saber qual o resultado do
2. cruzamento de ervilhas com características morfológicas distintas. Mendel
descobriu que traços eram herdados com precisão matemática. Se uma
planta com ervilhas verdes fosse cruzado com uma planta de ervilhas
amarelas toda a primeira geração seria amarelas. Porém, quando esta
geração era cruzado entre si, 3 de cada 4 plantas seriam ervilhas amarelas e
1 seria verde. O traço amarelo foi dominante na primeira geração mas, na 2ª
geração o traço recessivo verde apareceu novamente.
Mendel concluiu que hereditariedade é particulada, ou seja, que
vegetais e animais herdam traços em unidades separadas. Em vez das
mudanças graduais da hereditariedade leve, ou de uma média dos atributos
dos dois pais hereditariedade era algo bem definido. As ervilhas era verdes
ou amarelas e não algum matiz intermediário.
O segundo e decisivo ataque sobre a hereditariedade leve foram os
trabalhos de August Weismann um biólogo alemão que acreditava nas ideias
evolutivas de Darwin e buscou no seu fascínio por células e por divisão
celular uma solução para o problema.
Weismann percebeu que, para criar um óvulo ou espermatozoide, as
“células mãe” do sistema reprodutivo se dividiam de uma forma diferente
das demais células do corpo.
Em todas as outras células do corpo a célula filha possui o mesmo
número de cromossomos da célula mãe. Mas nas células reprodutivas
acontece o processo de meiose onde a célula filha possui a metade dos
cromossomos da célula mãe. Então, quando óvulo e espermatozoide se
unem constituem a quantidade integral de cromossomos para o
desenvolvimento de um novo ser.
Weismann argumentou que independente do que acontecesse nas
células musculares, sanguíneas, epidérmicas, apenas as células
reprodutivas continham o que seria herdado pela prole.
Com exceção das células reprodutivas, todas as outras não teriam o
que Weismann chamou de “plasma germinativo”. Essa ideia de
3. hereditariedade foi chamada de “continuidade do plasma germinativo”.
Em 1900 3 cientistas reeditaram cópias do periódico que continham o
artigo de Mendel. Os cientistas perceberam que o mendelismo tinha deixado
bases sólidas para a continuidade de pesquisas nesta linha. Em pouco
tempo a sociedade científica dividiu-se em dois grupos: os mendelianos e os
biométricos.
Os biométricos liderados por Karl Pearson acreditavam na herança
continua. Defendiam que aquilo que herdamos é uma média dos atributos
dos pais.
Os mendelianos liderados por William Bateson enfatizavam a herança
de traços discretos. Argumentavam que a mudança biológica ocorria aos
saltos, ao contrário das alterações lentas e continuas dos biométricos.
Os dois grupos aceitavam o fato da evolução . O debate se constituía
sobre a forma como ela ocorria.
Esses debates duraram 20 anos até que foi comprovado que ambos
estavam certos e errados ao mesmo tempo. Observavam um mesmo
problema de lados diferentes.
Por exemplo, a altura dos filhos tende a acontecer de acordo com a
visão biométrica, por mais que algum filho tenha sua altura mais semelhante
a altura do pai ou da mãe, normalmente, o que acontece é uma média entre
a altura dos dois. Já o caso da cor dos olhos é herdada na forma “ou, ou” e
não “tão quanto” como afirmam os mendelianos.
Thomas Hunt foi um dos responsáveis por desvendar como a
transmissão da herança acontece. Antes dos estudos genéticos Morgan
estudava embriologia. Seu laboratório era conhecido como a sala das
moscas, pois tornou-se o lar de milhares de gerações de moscas-das-frutas
a drosófila. Esta mosca é um animal conveniente pois apenas 4
cromossomos e era a função dos cromossomos que Morgan queria descobrir
e entender.
A sala das moscas, como era chamado o laboratório de Morgan
4. chamou a atenção de vários estudantes e cientistas. Morgan passou então a
coordenar grupos de pesquisa. Por trabalhar em grupo, ao ganhar o prêmio
Nobel, Morgan dividiu o dinheiro com dois de seus jovens colegas.
Morgan fez uma descoberta fundamental ao observar uma mosca de
olhos vermelhos e depois sua prole. Percebeu que todas as moscas de olhos
vermelhos eram fêmeas. Isso sugeria que o gene era transportado no
cromossomo do sexo. E que os padrões de herança da cor dos olhos
seguiam as mesmas regras das ervilhas de Mendel os olhos eram brancos
ou vermelhos, mas nunca rosa ou uma cor intermediária.
Um dos alunos de Morgan, Muller, descobriu que os raio X causavam
mutações mais rápidas. Ganhou o prêmio Nobel em 1948 e seu trabalho
alertou o mundo sobre os perigos da radiação de bombas atômicas e até os
raios X de uso médico.
Morgan também demonstrou que os cromossomos, as vezes, trocam
material genético enquanto estão se dividindo. Isso é chamado de
recombinação (crossing over) sendo outra via pela qual a natureza aumenta
a quantidade de variações em vegetais e animais.
Os estudos sobre genética demonstraram que as mutações é o que
move as mudanças evolutivas. As mutações podem ocorrer de forma natural
ou, por exemplo pelos métodos artificiais estudados por Muller.
Em 1904 Francis Galton primo de Darwin (o mesmo que tentava provar
a hereditariedade leve cortando a cauda de ratos) fundou um laboratório de
eugenia. Foi ele que cunhou o termo eugenia que significa “bom nascimento”
. Tentava mudar os habitus de reprodução dos seres humanos. Se era
possível demonstrar que inteligência, criatividade, criminalidade, insanidade
ou preguiça eram traços de família, então, fazia sentido encorajar os bons a
terem mais filhos (eugenia positiva) e evitar que os maus tivessem filhos
( eugenia negativa). Como tudo, os estudos genéticos podem servir para
promover avanços em muitas áreas ou então para justificar atos desumanos
como os que ocorreram durante a 2ª Guerra Mundial.