SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 5
Baixar para ler offline
A Religião e as religiões africanas no Brasil1
                                                                                                                        Yvie Favero2
     A religião de origem africana é cultuada no Brasil desde o século XVI, trazida da África pelos negros,
       escravos, arrancados de sua terra para este país, que hoje, depois de tantas perseguições, lutas e
                                                     desafetos podem cultuar seus Deuses de forma livre.

                                                                                                                    Eduardo Cezimbra


          Brasil: República Federativa, a maior da América do Sul. É um dos países mais
populosos do mundo e um dos mais multirraciais. Com cerca de 45% da população
composta de afrodescendentes, recebeu imigrantes da Itália, Espanha, França, Japão
e muito mais, por isso mesmo, riquíssimo em cultura, em culturas! Assim, pensar em
Brasil é pensar em brasilidade, tradições, costumes, crenças, sentimentos, língua e
linguagens. Para falar e pensar o Brasil é preciso considerar seus sistemas simbólicos:
sua arte, ciência, linguagens, relações econômicas e sua religião, aspectos este, foco
deste texto.
          Comecemos, então, a falar em religião: a expressão deriva do latim re-ligare,
religar com o divino, no âmbito das concepções místicas, às percepções que vão além
do mundo físico. A manifestação religiosa está presente em todas as culturas e pode
ser definida como o conjunto das atitudes e atos pelos quais o homem se prende, se
liga ao divino ou manifesta sua dependência em relação a seres invisíveis tidos como
sobrenaturais. Os mitos engendrados milenarmente reatualizavam e ritualizavam
convicções que mantinham a estrutura das sociedades.
          Alguns estudos, como os promovidos por Engels e Durkhein, citados em
BASTIDE(1989, p.10) e, depois, por VALÈRIO que, erroneamente chamaram algumas
coletividades de “primitivas”, diziam que a forma religiosa traduzia a angústia do
homem em relação às forças misteriosas da natureza que não pode domesticar.
Todavia, as coletividades “contemporâneas” também exprimiriam suas angústias em
face às forças sociais, economia, desemprego, globalização. Entretanto, classificar as
religiões em primitivas ou não, foram maneiras preconceituosas e discriminatórias
utilizadas pelo pensamento evolucionista. Tendo como parâmetro a sua religião,

1
  Texto utilizado no curso Presença Africana nas Matrizes Culturais Brasileiras, desenvolvido pela Secretaria Municipal de Educação de Santos,
através do site: https://www.egov.santos.sp.gov.br/ead/cursos/aplic/index.php?cod_curso=7
2
  Yvie Favero é jornalista e professora. Pós graduada em psicopedagogia. Reside no Guarujá e é funcionária nas redes municipais de ensino de
Santos e Guarujá, atua como formadora em Informática Educativa e Educação a Distância no Centro Municipal de Inclusão Digital, NuEd, em Santos
e como formadora para as séries Iniciais do Ensino Fundamental, ensino Regular e Educação de Jovens e Adultos e para Educação Infantil. Também
é colaboradora do Gruhbas Projetos Educacionais e escreve para os jornais Bolando Aula e Bolando Aula de História.




                                                                                                                                            1
estudiosos europeus ordenaram e julgaram as chamadas “outras” sociedades. Nesse
sentido, as consideradas atrasadas ficavam mais distantes do modelo de referência,
isto é, o Europeu.
      Classificações para as formas religiosas, como a cronológica, por exemplo,
utilizam uma divisão em quatro grupos: Panteístas, Monoteístas, Politeístas e Ateístas.
A classificação cronológica aqui citada é sugerida por VALÉRIO em Religião. Em busca
da transcendência. O primeiro grupo remontaria à Pré-história. Estavam presentes em
povos silvícolas das Américas, África e Oceania. A mitologia era transmitida pela
oralidade. Deus era considerado o próprio mundo. Acreditava-se em espíritos e
reencarnação, cultuavam os antepassados. Havia harmonia com a natureza, e o
mundo era tido como eterno. Já, os monoteístas, surgiriam no último milênio antes de
Cristo e indo até a Idade Média. Crença transmitida a partir de livros sagrados. Relação
paternal entre o criador e as criaturas. Há um Messias e acreditava-se num evento
renovador no final dos tempos. Para os politeístas diversos deuses criavam e
destruíam o mundo. As histórias dos deuses se assemelhavam a dramas humanos.
Existem diferentes registros literários sobre sua mitologia.          Sociedades agráfas
possuem tradições icônicas elaboradas. Surgido no século V depois de Cristo, os
ateístas produziram seus textos com conteúdo filosófico, sem força dogmática.
Acreditam na possibilidade da evolução espiritual a partir de um trabalho intimo.
      Tal classificação é evolucionista e generalista, não considera as religiões
africanas ou indígenas, o que pode significar desconhecimento destas formas
religiosas ou um tipo de preconceito e discriminação em relação a tais manifestações.
      Segundo Bastide(p.10), Deus não é mais que a imagem do capitalismo
irracional. Daí, ser psicológica e sociológica a explicação definitiva da religião. Análises
sociológicas procuraram explicar as religiões cujo sentido nasceria do esforço do
trabalho humano em face à natureza ou contradições de um regime econômico. A área
da psicologia considerou os reveses da vida ou suas contradições como fatores que
agiriam em relação ao medo anti o irracional e controlável pelo homem.
      A presença religiosa se dá de diferentes formas e não sempre pelo medo ou
pela força, paz ou alegria, mas em diversas relações, que se dão de maneira




                                                                                          2
ideológica, formando-se       no sentido mais tradicional de ‘deformação inconsciente’,
atuando nas infra-estruturas econômicas. (BASTIDE, p. 11).
       As concepções religiosas interagem com os meios sociais onde foram gestadas,
contudo, são vivas, não estáticas, podendo ser inúmeras em uma mesma sociedade,
portanto, uma religião também expressa uma estrutura em seu dinamismo e as
tendências de um contexto particular. São a comunhão e a expressão própria do
vínculo entre o profano e o sagrado, está presente no social, o que não quer dizer que
seja o social o “criador” da religião.
       Portanto, faz-se necessário, ainda, levar em consideração que o conteúdo
cultural exerce influência manifesta sobre as formas de organização social, por
exemplo, o conteúdo da fé, protestante ou católica, que influi na organização adotada
pelas igrejas. No entanto, não se pode deduzir que do conteúdo ou dos valores
religiosos surgem as relações reais dos homens em sociedade.
       Sociologicamente, as religiões são da ordem da cultura, portanto conhecimento
adquirido, aprendido, transmitido e, assim, são condicionadas pelas relações existentes
entre os homens em seus grupos sociais, de acordo com interesses dominantes,
políticos, econômicos e biológicos. Estes fatores podem excluir certas posições
possíveis da lógica espiritual, favorecê-las ou selecioná-las. Desta forma, a etnia ou a
especificidade da matriz cultural, podem favorecer crenças, valores, ritos como formas
comunitárias ou familiares de manifestação, não apenas em relação à religião, mas,
também, a partir de suas representações plásticas, demonstradas, por exemplo, nos
álbuns de Tintin(personagem das Histórias em Quadrinhos, criado na Bélgica, em
1929), em que
              [...] a construção da face, a fisionomia dos habitantes nativos, a postura do corpo, o
              cenário e principalmente a relação entre os dois mundos, levam o leitor a concluir que
              um modelo de tipo humano, o branco europeu belga, é superior ao outro, o negro
              africano congolês. (SOUZA et al.., 2005, p.18/20)
       Considerando que as relações entre os homens não são da mesma natureza
que as relações entre os objetos, uma religião deve ser observada segundo a estrutura
social da qual faz parte. E, também, na variabilidade possível, ou seja, há dinamismo
para a expressão de seus símbolos, das relações entre os gêneros, grupos de idade,
os religiosos que interpretam sentidos.


                                                                                                  3
As religiões africanas e o Brasil


      O caso das religiões africanas no Brasil oferece uma gama de modelos, valores,
ideais ou idéias, uma rica simbologia segundo certa visão mística do mundo em
correlação com o universo mítico e ritualístico. Estudar este suporte cultural, seus
sentidos explícitos ou implícitos, ainda associado ao do grupo que dela participa é
compreendê-las como fenômenos sociais.
      As populações negras trazidas ao Brasil pertenciam a diferentes civilizações e
provinham das mais variadas regiões africanas. Suas religiões eram partes de
estruturas   familiares,   organizadas      socialmente     ou    ecologicamente       à    meios
biogeográficos. Com o tráfico negreiro, sentiram-se obrigadas a decifrar um novo tipo
de sociedade, baseada na família patriarcal, latifundiária e em regime de castas étnicas
(sistemas tradicionais, hereditários ou sociais de estratificação, baseados em
classificações como raça, cultura, ocupação profissional. O termo também é usado
para designar “cor”).
      Durante o longo período de escravidão, mais de trezentos anos, ocorreram
mudanças na economia brasileira, estrutura social rural ou urbana, nos processos de
miscigenação. Com o advento da República, as religiões africanas sofrem o impacto da
modificação na estrutura demográfica, bem como novas estratificações sociais
             [...] uma vez que o negro seja camponês, artesão, proletário, ou constitua uma espécie
             de subproletariado, sua religião se apresentará diversamente ou exprimirá posições
             diversas, condições de vida e quadros sociais não identificáveis. (BASTIDE, 1989, P.
             31).
      Há de se compreender as relações de poder entre instituições por todo esse
período de formação da sociedade. No aspecto religioso, ser europeu, católico, recebia
um status diferente de qualquer matriz africana. As representações simbólicas do
cristianismo, os valores morais eram mais aceitos, constituíam a oficialidade e eram
associados à nacionalidade que também se firmava. Os descendentes de africanos,
sobretudo as gerações nascidas no Brasil habilmente, construíram estratégias para as
religiões de matriz africana criando aparentes sincretismos religiosos entre os deuses
africanos e os santos católicos. Nesse sentido, produziram um fator de ajustamento do


                                                                                                 4
indivíduo à sociedade. O candomblé baiano, por exemplo, conservou muito do panteão
mítico africano na religião que chamou de candomblé. Porém, a forma como existe no
país não existe na África. Foi uma religião concebida no novo país. Este é o caráter de
vitalidade das religiões, que é viva e passou por um longo processo de aculturação e
transformação, que em alguns casos se converte em ideologia, mas nem sempre.
      Para compreender a religiosidade afro-brasileira há que se considerar a
escravidão, o trabalho artesanal dos libertos, quadros sociais como estrutura familiar,
organização política, corporativa, religiosa e os aspectos geográficos, demográficos,
políticos, econômicos e sociais em seus diferentes níveis. Todas essas inter-relações
revelam a complexidade dos temas que envolvem origens religiosas, sobretudo, os
africanos, neste país.


REFERÊNCIAS:
AUGUSTO, Jordan. Todos os caminhos são importantes. Sociedade Brasileira de
Bugei. http://www.bugei.com.br/ensaios/index.asp?show=ensaio&id=312
BASTIDE, Roger. As Religiões Africanas No Brasil. Contribuição A Uma Sociologia Das
Interpenetrações De Civilizações. 3ª edição. Livraria Pioneira Editora. São Paulo. 1989.
SOUZA, Andréa Lisboa de; SOUZA, Ana Lucia Silva; LIMA, Heloisa Pires; SILVA,
Marcia. De olho na cultura: pontos de vista afro-brasileiros. UFBA- Centro de Estudos
Afro-Orientais. Brasilia: Fundação Palmares. 2005.
http://www.ceao.ufba.br/livrosevideos/pdf/de%20olho%20na%20cultura_cap01.pdf
http://www.ceao.ufba.br/livrosevideos/pdf/de%20olho%20na%20cultura_cap04.pdf
ou : http://www.ceao.ufba.br/2007/livrosvideos.php para o dowload da obra toda
VALÉRIO,       Marcos.     Religião.    Em      busca     da     transcendência.      In:
http://www.xr.pro.br/Religiao.html – acesso em 02/08/2007




                                                                                       5

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Transdisciplinaridade, ciências da religião e ensino religioso
Transdisciplinaridade, ciências da religião e ensino religiosoTransdisciplinaridade, ciências da religião e ensino religioso
Transdisciplinaridade, ciências da religião e ensino religiosoGilbraz Aragão
 
Ensino religioso, desafios e perspectivas
Ensino religioso, desafios e perspectivasEnsino religioso, desafios e perspectivas
Ensino religioso, desafios e perspectivasGilbraz Aragão
 
Mídia e religiões
Mídia e religiõesMídia e religiões
Mídia e religiõesJanaineaires
 
Aula(a importancia de (ere)introdução) (3)
Aula(a importancia de (ere)introdução) (3)Aula(a importancia de (ere)introdução) (3)
Aula(a importancia de (ere)introdução) (3)Antonio Filho
 
Religiao tradicional africana_em_mocambi
Religiao tradicional africana_em_mocambiReligiao tradicional africana_em_mocambi
Religiao tradicional africana_em_mocambiAlfane Gonçalves
 
História da educação resumo
História da educação resumoHistória da educação resumo
História da educação resumozildamisseno
 
Bncc ensino religioso
Bncc ensino religiosoBncc ensino religioso
Bncc ensino religiosowellenss
 
As entidades brasileiras da umbanda sulivan charles barros
As entidades brasileiras da umbanda sulivan charles barrosAs entidades brasileiras da umbanda sulivan charles barros
As entidades brasileiras da umbanda sulivan charles barrosHebert Silva
 
ENSINO RELIGIOSO - ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS
ENSINO RELIGIOSO - ORGANIZAÇÕES RELIGIOSASENSINO RELIGIOSO - ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS
ENSINO RELIGIOSO - ORGANIZAÇÕES RELIGIOSASRodrigo Basílio da Silva
 
A visão africana em relação à natureza
A visão africana em relação à naturezaA visão africana em relação à natureza
A visão africana em relação à naturezaEdineuda Soares
 
O CRISTIANISMO, ESCRAVIDÃO E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL
O CRISTIANISMO, ESCRAVIDÃO E TRANSFORMAÇÃO SOCIALO CRISTIANISMO, ESCRAVIDÃO E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL
O CRISTIANISMO, ESCRAVIDÃO E TRANSFORMAÇÃO SOCIALIsrael serique
 
Religião e Religiosidade
Religião e ReligiosidadeReligião e Religiosidade
Religião e ReligiosidadeEdilson Borges
 

Mais procurados (20)

Transdisciplinaridade, ciências da religião e ensino religioso
Transdisciplinaridade, ciências da religião e ensino religiosoTransdisciplinaridade, ciências da religião e ensino religioso
Transdisciplinaridade, ciências da religião e ensino religioso
 
Ensino religioso, desafios e perspectivas
Ensino religioso, desafios e perspectivasEnsino religioso, desafios e perspectivas
Ensino religioso, desafios e perspectivas
 
Mídia e religiões
Mídia e religiõesMídia e religiões
Mídia e religiões
 
cultura macua
cultura macuacultura macua
cultura macua
 
Aula(a importancia de (ere)introdução) (3)
Aula(a importancia de (ere)introdução) (3)Aula(a importancia de (ere)introdução) (3)
Aula(a importancia de (ere)introdução) (3)
 
Religiao tradicional africana_em_mocambi
Religiao tradicional africana_em_mocambiReligiao tradicional africana_em_mocambi
Religiao tradicional africana_em_mocambi
 
ENSINO RELIGIOSO
ENSINO RELIGIOSOENSINO RELIGIOSO
ENSINO RELIGIOSO
 
História da educação resumo
História da educação resumoHistória da educação resumo
História da educação resumo
 
4 antropologia missionária
4 antropologia missionária4 antropologia missionária
4 antropologia missionária
 
A diferença entre religião e religiosidade
A diferença entre religião e religiosidadeA diferença entre religião e religiosidade
A diferença entre religião e religiosidade
 
Bncc ensino religioso
Bncc ensino religiosoBncc ensino religioso
Bncc ensino religioso
 
As entidades brasileiras da umbanda sulivan charles barros
As entidades brasileiras da umbanda sulivan charles barrosAs entidades brasileiras da umbanda sulivan charles barros
As entidades brasileiras da umbanda sulivan charles barros
 
ENSINO RELIGIOSO - ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS
ENSINO RELIGIOSO - ORGANIZAÇÕES RELIGIOSASENSINO RELIGIOSO - ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS
ENSINO RELIGIOSO - ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS
 
A visão africana em relação à natureza
A visão africana em relação à naturezaA visão africana em relação à natureza
A visão africana em relação à natureza
 
O CRISTIANISMO, ESCRAVIDÃO E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL
O CRISTIANISMO, ESCRAVIDÃO E TRANSFORMAÇÃO SOCIALO CRISTIANISMO, ESCRAVIDÃO E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL
O CRISTIANISMO, ESCRAVIDÃO E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL
 
História da educação
História da educação História da educação
História da educação
 
A história da educação no brasi1
A história da educação no brasi1A história da educação no brasi1
A história da educação no brasi1
 
Religião e Religiosidade
Religião e ReligiosidadeReligião e Religiosidade
Religião e Religiosidade
 
Religiosidade
ReligiosidadeReligiosidade
Religiosidade
 
Ensino religioso
Ensino religiosoEnsino religioso
Ensino religioso
 

Semelhante a Religiões africanas no Brasil

Trabalho de ensino religioso
Trabalho de ensino religiosoTrabalho de ensino religioso
Trabalho de ensino religiosothayscler
 
Liberdade religiosa.docx
Liberdade religiosa.docxLiberdade religiosa.docx
Liberdade religiosa.docxlilyancosta
 
Boletim eletronico brasil cult
Boletim eletronico brasil cultBoletim eletronico brasil cult
Boletim eletronico brasil cultRodrigo Silveira
 
Introdução aos Conceitos de cultura
Introdução aos Conceitos de culturaIntrodução aos Conceitos de cultura
Introdução aos Conceitos de culturaFabio Salvari
 
A ESCOLA COMO INSTRUMENTO COLONIZADOR.pdf
A ESCOLA COMO INSTRUMENTO COLONIZADOR.pdfA ESCOLA COMO INSTRUMENTO COLONIZADOR.pdf
A ESCOLA COMO INSTRUMENTO COLONIZADOR.pdfJOSADNILTONFERREIRA
 
Trabalho de sociologia
Trabalho de sociologiaTrabalho de sociologia
Trabalho de sociologiaEdvilson Itb
 
Aulas de sociologia ensino médio para o 2 ano em.
Aulas de sociologia ensino médio   para o 2 ano em.Aulas de sociologia ensino médio   para o 2 ano em.
Aulas de sociologia ensino médio para o 2 ano em.MARISE VON FRUHAUF HUBLARD
 
Educação quilombola
Educação quilombolaEducação quilombola
Educação quilombolaFabiana Paula
 
O Estudo das Religiões: das primitivas às contemporâneas.
O Estudo das Religiões: das primitivas às contemporâneas.O Estudo das Religiões: das primitivas às contemporâneas.
O Estudo das Religiões: das primitivas às contemporâneas.Virna Salgado Barra
 
Reflexões teóricas e históricas sobre o espiritualismo de 1850 a 1930
Reflexões teóricas e históricas sobre o espiritualismo de 1850 a 1930Reflexões teóricas e históricas sobre o espiritualismo de 1850 a 1930
Reflexões teóricas e históricas sobre o espiritualismo de 1850 a 1930ceakimb
 
Sociologia heterogenea brasileira
Sociologia heterogenea brasileiraSociologia heterogenea brasileira
Sociologia heterogenea brasileiraJhonata Araujo
 
Sociologia unidade V
Sociologia unidade VSociologia unidade V
Sociologia unidade Vjoao paulo
 
Antropologia, histótia e sociologia da religião
Antropologia, histótia e sociologia da religiãoAntropologia, histótia e sociologia da religião
Antropologia, histótia e sociologia da religiãoWerkson Azeredo
 
Etnocentrismo, racismo e preconceito.
Etnocentrismo, racismo e preconceito.Etnocentrismo, racismo e preconceito.
Etnocentrismo, racismo e preconceito.Fábio Fernandes
 

Semelhante a Religiões africanas no Brasil (20)

Antropologia da religião
Antropologia da religiãoAntropologia da religião
Antropologia da religião
 
Trabalho de ensino religioso
Trabalho de ensino religiosoTrabalho de ensino religioso
Trabalho de ensino religioso
 
Slide int.e preconceitos
Slide int.e preconceitosSlide int.e preconceitos
Slide int.e preconceitos
 
Liberdade religiosa.docx
Liberdade religiosa.docxLiberdade religiosa.docx
Liberdade religiosa.docx
 
Matrizes culturais I
Matrizes culturais IMatrizes culturais I
Matrizes culturais I
 
Boletim eletronico brasil cult
Boletim eletronico brasil cultBoletim eletronico brasil cult
Boletim eletronico brasil cult
 
Antropologia
AntropologiaAntropologia
Antropologia
 
Antropologia
AntropologiaAntropologia
Antropologia
 
Introdução aos Conceitos de cultura
Introdução aos Conceitos de culturaIntrodução aos Conceitos de cultura
Introdução aos Conceitos de cultura
 
A ESCOLA COMO INSTRUMENTO COLONIZADOR.pdf
A ESCOLA COMO INSTRUMENTO COLONIZADOR.pdfA ESCOLA COMO INSTRUMENTO COLONIZADOR.pdf
A ESCOLA COMO INSTRUMENTO COLONIZADOR.pdf
 
Trabalho de sociologia
Trabalho de sociologiaTrabalho de sociologia
Trabalho de sociologia
 
Aulas de sociologia ensino médio para o 2 ano em.
Aulas de sociologia ensino médio   para o 2 ano em.Aulas de sociologia ensino médio   para o 2 ano em.
Aulas de sociologia ensino médio para o 2 ano em.
 
Educação quilombola
Educação quilombolaEducação quilombola
Educação quilombola
 
O Estudo das Religiões: das primitivas às contemporâneas.
O Estudo das Religiões: das primitivas às contemporâneas.O Estudo das Religiões: das primitivas às contemporâneas.
O Estudo das Religiões: das primitivas às contemporâneas.
 
Reflexões teóricas e históricas sobre o espiritualismo de 1850 a 1930
Reflexões teóricas e históricas sobre o espiritualismo de 1850 a 1930Reflexões teóricas e históricas sobre o espiritualismo de 1850 a 1930
Reflexões teóricas e históricas sobre o espiritualismo de 1850 a 1930
 
Sociologia heterogenea brasileira
Sociologia heterogenea brasileiraSociologia heterogenea brasileira
Sociologia heterogenea brasileira
 
Sociologia unidade V
Sociologia unidade VSociologia unidade V
Sociologia unidade V
 
Antropologia, histótia e sociologia da religião
Antropologia, histótia e sociologia da religiãoAntropologia, histótia e sociologia da religião
Antropologia, histótia e sociologia da religião
 
Geografia das Religiões
Geografia das ReligiõesGeografia das Religiões
Geografia das Religiões
 
Etnocentrismo, racismo e preconceito.
Etnocentrismo, racismo e preconceito.Etnocentrismo, racismo e preconceito.
Etnocentrismo, racismo e preconceito.
 

Religiões africanas no Brasil

  • 1. A Religião e as religiões africanas no Brasil1 Yvie Favero2 A religião de origem africana é cultuada no Brasil desde o século XVI, trazida da África pelos negros, escravos, arrancados de sua terra para este país, que hoje, depois de tantas perseguições, lutas e desafetos podem cultuar seus Deuses de forma livre. Eduardo Cezimbra Brasil: República Federativa, a maior da América do Sul. É um dos países mais populosos do mundo e um dos mais multirraciais. Com cerca de 45% da população composta de afrodescendentes, recebeu imigrantes da Itália, Espanha, França, Japão e muito mais, por isso mesmo, riquíssimo em cultura, em culturas! Assim, pensar em Brasil é pensar em brasilidade, tradições, costumes, crenças, sentimentos, língua e linguagens. Para falar e pensar o Brasil é preciso considerar seus sistemas simbólicos: sua arte, ciência, linguagens, relações econômicas e sua religião, aspectos este, foco deste texto. Comecemos, então, a falar em religião: a expressão deriva do latim re-ligare, religar com o divino, no âmbito das concepções místicas, às percepções que vão além do mundo físico. A manifestação religiosa está presente em todas as culturas e pode ser definida como o conjunto das atitudes e atos pelos quais o homem se prende, se liga ao divino ou manifesta sua dependência em relação a seres invisíveis tidos como sobrenaturais. Os mitos engendrados milenarmente reatualizavam e ritualizavam convicções que mantinham a estrutura das sociedades. Alguns estudos, como os promovidos por Engels e Durkhein, citados em BASTIDE(1989, p.10) e, depois, por VALÈRIO que, erroneamente chamaram algumas coletividades de “primitivas”, diziam que a forma religiosa traduzia a angústia do homem em relação às forças misteriosas da natureza que não pode domesticar. Todavia, as coletividades “contemporâneas” também exprimiriam suas angústias em face às forças sociais, economia, desemprego, globalização. Entretanto, classificar as religiões em primitivas ou não, foram maneiras preconceituosas e discriminatórias utilizadas pelo pensamento evolucionista. Tendo como parâmetro a sua religião, 1 Texto utilizado no curso Presença Africana nas Matrizes Culturais Brasileiras, desenvolvido pela Secretaria Municipal de Educação de Santos, através do site: https://www.egov.santos.sp.gov.br/ead/cursos/aplic/index.php?cod_curso=7 2 Yvie Favero é jornalista e professora. Pós graduada em psicopedagogia. Reside no Guarujá e é funcionária nas redes municipais de ensino de Santos e Guarujá, atua como formadora em Informática Educativa e Educação a Distância no Centro Municipal de Inclusão Digital, NuEd, em Santos e como formadora para as séries Iniciais do Ensino Fundamental, ensino Regular e Educação de Jovens e Adultos e para Educação Infantil. Também é colaboradora do Gruhbas Projetos Educacionais e escreve para os jornais Bolando Aula e Bolando Aula de História. 1
  • 2. estudiosos europeus ordenaram e julgaram as chamadas “outras” sociedades. Nesse sentido, as consideradas atrasadas ficavam mais distantes do modelo de referência, isto é, o Europeu. Classificações para as formas religiosas, como a cronológica, por exemplo, utilizam uma divisão em quatro grupos: Panteístas, Monoteístas, Politeístas e Ateístas. A classificação cronológica aqui citada é sugerida por VALÉRIO em Religião. Em busca da transcendência. O primeiro grupo remontaria à Pré-história. Estavam presentes em povos silvícolas das Américas, África e Oceania. A mitologia era transmitida pela oralidade. Deus era considerado o próprio mundo. Acreditava-se em espíritos e reencarnação, cultuavam os antepassados. Havia harmonia com a natureza, e o mundo era tido como eterno. Já, os monoteístas, surgiriam no último milênio antes de Cristo e indo até a Idade Média. Crença transmitida a partir de livros sagrados. Relação paternal entre o criador e as criaturas. Há um Messias e acreditava-se num evento renovador no final dos tempos. Para os politeístas diversos deuses criavam e destruíam o mundo. As histórias dos deuses se assemelhavam a dramas humanos. Existem diferentes registros literários sobre sua mitologia. Sociedades agráfas possuem tradições icônicas elaboradas. Surgido no século V depois de Cristo, os ateístas produziram seus textos com conteúdo filosófico, sem força dogmática. Acreditam na possibilidade da evolução espiritual a partir de um trabalho intimo. Tal classificação é evolucionista e generalista, não considera as religiões africanas ou indígenas, o que pode significar desconhecimento destas formas religiosas ou um tipo de preconceito e discriminação em relação a tais manifestações. Segundo Bastide(p.10), Deus não é mais que a imagem do capitalismo irracional. Daí, ser psicológica e sociológica a explicação definitiva da religião. Análises sociológicas procuraram explicar as religiões cujo sentido nasceria do esforço do trabalho humano em face à natureza ou contradições de um regime econômico. A área da psicologia considerou os reveses da vida ou suas contradições como fatores que agiriam em relação ao medo anti o irracional e controlável pelo homem. A presença religiosa se dá de diferentes formas e não sempre pelo medo ou pela força, paz ou alegria, mas em diversas relações, que se dão de maneira 2
  • 3. ideológica, formando-se no sentido mais tradicional de ‘deformação inconsciente’, atuando nas infra-estruturas econômicas. (BASTIDE, p. 11). As concepções religiosas interagem com os meios sociais onde foram gestadas, contudo, são vivas, não estáticas, podendo ser inúmeras em uma mesma sociedade, portanto, uma religião também expressa uma estrutura em seu dinamismo e as tendências de um contexto particular. São a comunhão e a expressão própria do vínculo entre o profano e o sagrado, está presente no social, o que não quer dizer que seja o social o “criador” da religião. Portanto, faz-se necessário, ainda, levar em consideração que o conteúdo cultural exerce influência manifesta sobre as formas de organização social, por exemplo, o conteúdo da fé, protestante ou católica, que influi na organização adotada pelas igrejas. No entanto, não se pode deduzir que do conteúdo ou dos valores religiosos surgem as relações reais dos homens em sociedade. Sociologicamente, as religiões são da ordem da cultura, portanto conhecimento adquirido, aprendido, transmitido e, assim, são condicionadas pelas relações existentes entre os homens em seus grupos sociais, de acordo com interesses dominantes, políticos, econômicos e biológicos. Estes fatores podem excluir certas posições possíveis da lógica espiritual, favorecê-las ou selecioná-las. Desta forma, a etnia ou a especificidade da matriz cultural, podem favorecer crenças, valores, ritos como formas comunitárias ou familiares de manifestação, não apenas em relação à religião, mas, também, a partir de suas representações plásticas, demonstradas, por exemplo, nos álbuns de Tintin(personagem das Histórias em Quadrinhos, criado na Bélgica, em 1929), em que [...] a construção da face, a fisionomia dos habitantes nativos, a postura do corpo, o cenário e principalmente a relação entre os dois mundos, levam o leitor a concluir que um modelo de tipo humano, o branco europeu belga, é superior ao outro, o negro africano congolês. (SOUZA et al.., 2005, p.18/20) Considerando que as relações entre os homens não são da mesma natureza que as relações entre os objetos, uma religião deve ser observada segundo a estrutura social da qual faz parte. E, também, na variabilidade possível, ou seja, há dinamismo para a expressão de seus símbolos, das relações entre os gêneros, grupos de idade, os religiosos que interpretam sentidos. 3
  • 4. As religiões africanas e o Brasil O caso das religiões africanas no Brasil oferece uma gama de modelos, valores, ideais ou idéias, uma rica simbologia segundo certa visão mística do mundo em correlação com o universo mítico e ritualístico. Estudar este suporte cultural, seus sentidos explícitos ou implícitos, ainda associado ao do grupo que dela participa é compreendê-las como fenômenos sociais. As populações negras trazidas ao Brasil pertenciam a diferentes civilizações e provinham das mais variadas regiões africanas. Suas religiões eram partes de estruturas familiares, organizadas socialmente ou ecologicamente à meios biogeográficos. Com o tráfico negreiro, sentiram-se obrigadas a decifrar um novo tipo de sociedade, baseada na família patriarcal, latifundiária e em regime de castas étnicas (sistemas tradicionais, hereditários ou sociais de estratificação, baseados em classificações como raça, cultura, ocupação profissional. O termo também é usado para designar “cor”). Durante o longo período de escravidão, mais de trezentos anos, ocorreram mudanças na economia brasileira, estrutura social rural ou urbana, nos processos de miscigenação. Com o advento da República, as religiões africanas sofrem o impacto da modificação na estrutura demográfica, bem como novas estratificações sociais [...] uma vez que o negro seja camponês, artesão, proletário, ou constitua uma espécie de subproletariado, sua religião se apresentará diversamente ou exprimirá posições diversas, condições de vida e quadros sociais não identificáveis. (BASTIDE, 1989, P. 31). Há de se compreender as relações de poder entre instituições por todo esse período de formação da sociedade. No aspecto religioso, ser europeu, católico, recebia um status diferente de qualquer matriz africana. As representações simbólicas do cristianismo, os valores morais eram mais aceitos, constituíam a oficialidade e eram associados à nacionalidade que também se firmava. Os descendentes de africanos, sobretudo as gerações nascidas no Brasil habilmente, construíram estratégias para as religiões de matriz africana criando aparentes sincretismos religiosos entre os deuses africanos e os santos católicos. Nesse sentido, produziram um fator de ajustamento do 4
  • 5. indivíduo à sociedade. O candomblé baiano, por exemplo, conservou muito do panteão mítico africano na religião que chamou de candomblé. Porém, a forma como existe no país não existe na África. Foi uma religião concebida no novo país. Este é o caráter de vitalidade das religiões, que é viva e passou por um longo processo de aculturação e transformação, que em alguns casos se converte em ideologia, mas nem sempre. Para compreender a religiosidade afro-brasileira há que se considerar a escravidão, o trabalho artesanal dos libertos, quadros sociais como estrutura familiar, organização política, corporativa, religiosa e os aspectos geográficos, demográficos, políticos, econômicos e sociais em seus diferentes níveis. Todas essas inter-relações revelam a complexidade dos temas que envolvem origens religiosas, sobretudo, os africanos, neste país. REFERÊNCIAS: AUGUSTO, Jordan. Todos os caminhos são importantes. Sociedade Brasileira de Bugei. http://www.bugei.com.br/ensaios/index.asp?show=ensaio&id=312 BASTIDE, Roger. As Religiões Africanas No Brasil. Contribuição A Uma Sociologia Das Interpenetrações De Civilizações. 3ª edição. Livraria Pioneira Editora. São Paulo. 1989. SOUZA, Andréa Lisboa de; SOUZA, Ana Lucia Silva; LIMA, Heloisa Pires; SILVA, Marcia. De olho na cultura: pontos de vista afro-brasileiros. UFBA- Centro de Estudos Afro-Orientais. Brasilia: Fundação Palmares. 2005. http://www.ceao.ufba.br/livrosevideos/pdf/de%20olho%20na%20cultura_cap01.pdf http://www.ceao.ufba.br/livrosevideos/pdf/de%20olho%20na%20cultura_cap04.pdf ou : http://www.ceao.ufba.br/2007/livrosvideos.php para o dowload da obra toda VALÉRIO, Marcos. Religião. Em busca da transcendência. In: http://www.xr.pro.br/Religiao.html – acesso em 02/08/2007 5