Trabalho apresentado no evento Interdisciplinaridade: processo educativos e de pesquisa na pós graduação, organizado pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos na UFPA, outubro de 2014.
1. Universidade Federal do Pará
Evento Interdisciplinaridade: processo educativos e de
pesquisa na pós graduação
A Arquivologia e a jornada pela sua
identidade acadêmica.
Roberto Lopes dos Santos Junior
2. Introdução
As duas faces do cenário arquivístico
contemporâneo brasileiro:
• Campo disciplinar com relativa consolidação
epistemológica e expansão de cursos em
graduação nas regiões Norte e Nordeste.
• Uma área ainda presa a indefinições sobre seu
campo de atuação e escopo teórico, e onde
polêmicas e atritos com profissionais de outros
campos de pesquisa ocorrem com certa
regularidade (mesmo que pouco registrada na
produção bibliográfica da área).
3. Objetivos
• Discorrer sobre como a Arquivologia
apresenta suas relações interdisciplinares com
outras áreas de pesquisa e como isso influiu
em seu desenvolvimento.
• Analisar o desenvolvimento do curso em
Arquivologia na UFPA, realçando a relação
entre diferentes escolas e cursos existentes na
Universidade.
4. Arquivologia: breve histórico
• Consolidação da arquivologia data da França pós-revolução de
1789: criação do primeiro arquivo nacional entre 1791 e 1794.
tentativas de reorganização, reclassificação e reavaliação em
documentos de arquivo.
• Durante o século XIX outros importantes marcos de consolidação da
área: promulgação do princípio do respeitos aos fundos na França
(1841) e da ordem original na Alemanha (1881), consolidação de
cursos na Europa e publicação do Manual dos Arquivistas
Holandeses (1898), considerada a obra que solidificou a prática em
arquivos.
• Pós segunda guerra: Os Estados Unidos, entre outros países anglo-
saxônicos elaboram o conceito de gestão de documentos (records
management) cuja ótica, inicialmente, era mais administrativa e
econômica. Em 1956, o norte-americano Theodore Schellenberg
publica Arquivos modernos – princípios e técnicas .
5. Arquivologia no Brasil: breve histórico
• Criação e evolução do Arquivo Nacional, a partir de 1838,
com um desenvolvimento, nas décadas seguintes, irregular,
instável e fortemente baseado no método europeu.
• Direção de José Honório Rodrigues (1958-1964) reorganiza
o Arquivo Nacional e faz a ponte para ideias e autores
anglo-saxônicos.
• Anos 1970: criação da Associação dos Arquivistas
Brasileiros (1971), do periódico Arquivo e Administração
(1972), do congresso brasileiro de arquivologia (o primeiro
ocorrido em 1972), criação os primeiros cursos em
graduação em Arquivologia –Unirio (RJ) e Santa Maria (RS),
ambos em 1977-, e a lei que regulamenta a profissão de
arquivista em 1978.
6. Arquivologia no Brasil: breve histórico
• Consolidação da lei 8.159/1991: que regulamenta os organismos
em arquivo no Brasil e a gestão de documentos arquivísiticos.
Legislações subseqüentes entre 1994 e 2002. Consolidação do
Conselho Nacional de Arquivos.
• Formação de gerações de arquivistas, ou profissionais ligados a
arquivos, com mestrado e pós-graduação em diferentes áreas de
pesquisa. Surgimento, a partir dos anos 1990, de periódicos
diretamente relacionados a Arquivística. Aumento do número de
concursos para profissionais em arquivo.
• Expansão dos congressos em Arquivologia (CNA, CBA e REPARQ).
• Criação do primeiro mestrado profissional em Arquivologia e
gestão de documentos na UNIRIO (RJ) em 2011.
7. Arquivologia: uma ciência, diferentes
origens
• Inicialmente, a Arquivologia apresentou relação direta com
os conceitos de “memória e patrimônio”, sendo os
arquivos, até meados do século XIX adquirindo um status
de “guardião de documentos”, onde disciplinas ligadas a
diplomática e direito encontrariam um local para
desenvolvimento de suas teorias e práticas.
• Século XIX: adquire importância para áreas ligadas a
história, sendo o documento de arquivo considerado
importante “patrimônio” que permite a pesquisa científica.
• Século XX: com a gestão de documentos a Arquivologia
adquire uma identidade própria, porém trocando
informações e experiências com a administração e
informática, e não cortando laços com a história e
memória.
8. Arquivologia: uma ciência, diferentes
origens e relações
• Após 1945: com a ascensão das novas
tecnologias e do conceito informação, a
Arquivologia, a partir dos anos 1980, encontra
relação com a Ciência da Informação e áreas
correlatas como a biblioteconomia e
Museologia, tendência essa que continuaria
no início do século 21. Outras disciplinas
ligadas as tecnologias da informação e
comunicação também encontrariam ponte
com a Arquivologia em alguns momentos.
9. Arquivologia e seu caráter
interdisciplinar:definições na área
No contexto brasileiro, desde os anos 1960, a Arquivologia, ao definir o
escopo de sua atuação, indicava o caráter interdisciplinar ou da
utilização de elementos de outras disciplinas em sua estrutura:
• “[Arquivologia é] uma disciplina auxiliar da administração e da história,
que se refere a criação histórica, organização e função dos arquivos e
seus fundamentos legais ou jurídicos” (Esposel, 1968; 1994)
• “ Disciplina cuja razão de ser situa-se no seio da gestão da informação,
recurso vital das informações” (Universidade de Quebec, 1987)
• “A Arquivística é uma das disciplinas que atuam e se propõe a
preservar e organizar intelectualmente a informação arquivística
contida em um arquivo, a disponibilizá-la de modo rápido e seguro, e a
garantir o acesso do usuário, para que efetivamente esta informação
venha a gerar conhecimento.(...) Isto caracterizaria a Arquivística como
uma das ciências da informação” (Brito, 2005).
10. Arquivologia e seu caráter interdisciplinar:
polêmicas
Contudo, algumas polêmicas e debates sobre a relação da arquivologia com
outros ramos de conhecimento estendem-se até hoje:
• Existem críticas sobre a Arquivologia ainda ser considerada por alguns
autores como uma “ciência auxiliar” da história e administração.
• Dúvidas e má interpretações sobre o papel da arquivologia numa possível
inserção em um campo relacionado a Ciência da Informação, conforme
proposto por alguns autores portugueses (e.g. Armando Malheiro). A
própria inclusão da Arquivologia como subalterna a CI na tabela de áreas
do CNPQ possui críticas de pesquisadores brasileiros.
• Questionamentos sobre o papel dos conceitos memória, patrimônio e
informação no escopo teórico da Arquivologia, por vezes sendo usadas de
forma equivocada pela área, usando definições não arquivísticas para
identificá-los.
• Instabilidades com profissionais ligados a história e biblioteconiomia sobre
a constituição dos cursos de graduação em Arquivologia e da atuação
profissional (reserva de mercado? Preferência aos arquivistas a de outros
profissionais?)
11. Arquivologia e seu caráter
interdisciplinar: questionamentos
Dúvidas, ainda não totalmente esclarecidas e discutidas
(apesar de haverem publicações analisando esse aspecto)
sobre se a relação da Arquivologia com outras disciplinas
pode ser considerada:
• Interdisciplinar, ou identificada pela “intensidade das trocas
entre especialistas e pelo grau de interação real das
disciplinas, no interior de um projeto específico de
pesquisa” (JAPIASSÚ,1976; PINHEIRO, 1997; SANTOS
JUNIOR, 2011).
• Aplicação de teoria e práticas entre diferentes disciplinas,
onde apesar de poder haver relação entre profissionais de
diferentes áreas de conhecimento, não significa que exista
ali uma relação interdisciplinar (SANTOS JUNIOR, 2011).
12. Escola de Arquivologia na UFPA
• Constituído em 2012, atualmente (final de 2014)
possuindo ligação com a Faculdade de
Biblioteconomia, porém em gradativo processo de
“separação”, com a construção e consolidação de grade
e programa próprio.
• No momento com 3 docentes, todos com graduação
em Arquivologia, em atividade
• Roberto Lopes dos Santos Junior
• Luiz Eduardo Ferreira da Silva
• Thiago Henrique Bragato Barros
• Ementas e horários reformulados pelo atual
coordenador do curso (Thiago Barros).
13. Escola de Arquivologia UFPA:
disciplinas em Arquivologia
• Introdução a Arquivologia
• Gestão de Doc. e Sistemas de Arquivos I e II
• Classificação Arquivística
• Avaliação de Documentos
• Representação Arquivística I e II
• Diplomática e Tipologia Documental
• Preservação e Conservação de Documentos
• Tecnologia de Reprod. e Armazenam. de Documentos
• Política e Legislação Arquivística
• Paleografia
• Gestão de Instituições Arquivísticas
• Preservação e Conservação de Documentos
14. Escola de Arquivologia UFPA:
Matérias de outras escolas
• Formação Soc.Econ.Pol. do Brasil e da Amazônia.
• Língua Estr. Instrumental Espanhol
• Fundamentos Teóricos da Ciência da Informação*
• Teoria Geral da Administração
• Ética e Informação
• Fundamentos da Filosofia e da Lógica
• Planejamento de Bases de Dados
• Linguagem de Indexação *
• História do Brasil e Acervos Documentais
• Memória, Cultura e Patrimônio
• Introdução ao Dir. Const. e Administrativo
15. Escola de Arquivologia UFPA:
Matérias de outras escolas
• Memória, Cultura e Patrimônio
• Introdução ao Dir. Const. e Administrativo
• Tecnologias da Informação e Comunicação
• Instituições de Direito Público E Privado
• Pesquisa Aplicada à Ci. da Informação *
• Organização e Métodos
16. Arquivologia na UFPA: práticas atuais
• Reformulação: professor Thiago reorganizou todas as disciplinas,
onde tanto as ementas quanto a bibliografia básica foi
modificada, no sentido em que houvesse algum tipo de relação
com o curso de arquivologia. No caso das disciplinas de outras
escolas, as mudanças são feitas tendo a sensibilidade em não
distorcer o conteúdo original oferecido em seus institutos e
cursos de origem.
• Professores de outros cursos têm uma breve conversa junto a
coordenação, onde é sugerido ajustes para que haja interação
entre os alunos da Arquivologia com o material a ser oferecido
pela disciplina.
• Discussões sobre possíveis expansões na grade de disciplinas e
na inclusão de outras matérias ligadas a arquivo. Contudo, esses
aspectos serão vistos e inseridos de forma gradativa, a medida
em que o curso expandir ser corpo docente.
17. Arquivologia na UFPA:
questionamentos e desafios
• Apesar das polêmicas, a Arquivologia é uma área
interdisciplinar que dialoga com diferentes campos do
conhecimento. Como fazer com que a Arquivologia, em sua
grade, consiga estabelecer uma interrelação eficiente e
proveitosa com diferentes cursos e campos do
conhecimento, enriquecendo teoricamente seus alunos?
• Até que ponto deve-se pautar a relação da escola de
arquivologia com os de outros cursos ? E caso outras
escolas e faculdades precisarem dos serviços dos
professores da escola? Como os arquivistas deverão pautar
suas disciplinas e práticas?
• Expansão de docentes e disciplinas de arquivo =
afastamento e diminuição do número de disciplinas e
professores de outros cursos na grade da escola?
18. Arquivologia na UFPA:
questionamentos e desafios
• A escola de arquivologia deve ter a sensibilidade de
não ignorar os questionamentos referentes aos
aspectos epistemológicos e profissionais que norteiam
a área, ainda envoltos em certa confusão e indecisão,
porém cada vez mais esclarecidos com a ascensão de
um número cada vez maior de arquivistas profissionais
em atividade, com mestrado e doutorado, e da
consolidação de cursos em graduação em arquivos ao
redor do Brasil.
• Troca de informação e práticas com outros cursos
sempre serão necessários, onde deverão ser evitados
atritos e trocas desiguais e instáveis de dados e
experiências.
19. Bibliografia
• BRITO, D. M de. A informação arquivística na arquivologia pós-
custodial. Arquivística.net, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 31-50,
jan./jun. 2005.
• ESPOSEL, J. P. Arquivos: uma questão de ordem. Niterói:
Muiraquitã, 1994.
• JAPIASSÚ, H. A Interdisciplinaridade e a patologia do saber. Rio de
Janeiro: Imago, 1976.
• PINHEIRO, L.V.R. A ciência da informação entre luz e sombra:
domínio epistemológico e campo interdisciplinar. Rio de Janeiro.
278f. Tese (Doutorado em Comunicação) - Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1997
• SANTOS JUNIOR, R. L.. A abordagem teórica de Lena Vania Ribeiro
Pinheiro sobre os conceitos inter e transdisciplinaridade.
Transinformação, v. 23, p. 227-234, 2011.