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Empreendedorismo de Internet na Criação do Futuro
Ruy José Guerra Barretto de Queiroz, Professor Associado, Centro de Informática da UFPE

O imenso contraste entre, por um lado os números preocupantes do desemprego de Junho
revelados há pouco pelo governo americano e, por outro lado, os números recordes de
desempenho da Apple, as fabulosas operações de IPO da LinkedIn e da Zillow (levando o
emblemático investidor Frank Quattrone a chamar a LinkedIn de “a Netscape da era atual”),
traz de volta a discussão em torno do papel da inovação tecnológica na geração de riqueza.
Nunca é demais lembrar que através do conceito absolutamente inovador de “internet
browser” (“navegador da internet”), a Netscape abriu caminho para uma onda multi-bilionária
de criatividade na internet que transformaria praticamente todas as indústrias e vidas de
bilhões de pessoas online atualmente. Em 1995 o IPO da Netscape, então uma empresa de 18
meses de idade que ainda não dava lucro, incendiou os mercados financeiros gerando uma das
maiores valorizações de ações no primeiro dia de oferta em toda a história das bolsas de
valores.

Com sorte de campeã, a Netscape teve seu IPO num momento em que estava se processando
uma maior democratização do investimento em bolsa de valores, e, como disse Sarah Lacy em
“How We All Missed Web 2.0's "Netscape Moment"” (Techcrunch, 03/04/2011), não foram os
bancos de investimento os responsáveis pelo estrondoso sucesso da oferta inicial da Netscape,
mas sim os investidores individuais invadindo as corretoras para comprar um exemplar do
produto que desejavam e que experimentou valorização tão rápida e dramática no mercado
de ações. E o co-fundador da Netscape, Marc Andreessen, hoje investidor anjo e capitalista de
ventura, “foi um sinal para todo hacker ou geek de que você poderia mudar para o Vale do
Silício e construir algo enorme (e ficar rico) em questão de meses – algo que nunca tinha sido
possível antes.”

Aparecendo como um bastião de esperança no cenário econômico dos Estados Unidos, e,
como diz Jon Bischke em seu artigo “A Tale Of Two Countries: The Growing Divide Between
Silicon Valley And Unemployed America” (Techcrunch, 16/07/2011), uma das poucas coisas
que ainda mantêm a expectativa de não deixar que o país perca a posição de uma das maiores
superpotências econômicas mundiais, o efervescente setor de tecnologia parece ter retomado
o ritmo alucinante de crescimento que se viu nos anos que antecederam o estouro da bolha da
internet em 2000. Empresas de crescimento rápido como Facebook, Groupon e Twitter,cujas
valorações de mercado atingem níveis estratosféricos, não apenas criam empregos, mas
também atraem investimentos estrangeiros e geram enorme riqueza para seus empregados e
acionistas que acaba circulando na economia do país. Até o mercado de automóveis de luxo se
beneficia da efervescência do setor de tecnologia: em artigo publicado no Wall Street Journal
(“Tech Boom Revs Up Demand for Luxury Cars”, 21/07/11), Shayindi Raice relata que no Vale
do Silício as concessionárias de carros de luxo experimentam um aumento significativo nas
vendas desde o final de Junho.

Muito já se falou dos impactos econômicos da internet, e, entre os fatores apontados por
vários estudiosos está o fenômeno da generatividade analisado por Jonathan Zittrain em seu
artigo “The Generative Internet” publicado no Harvard Law Review em 2006. Em poucas
palavras, Zittrain oferece três razões fundamentais: (1) generatividade é o que faz uma rede
global de PC’s interconectados se constituir numa tecnologia tão transformadora; (2)
generatividade não é uma característica inerente ou imutável da rede de PC’s que forma a
internet, mas sim o resultado de um certo número de decisões de projeto implementadas em
código executável, que podem ser modificadas posteriormente; (3) vulnerabilidades de
segurança servirão de balizadores cruciais na manutenção de um equilíbrio entre as demandas
por maior segurança por parte de consumidores e órgãos governamentais reguladores e as
necessidades de abertura fundamentais para manter a plataforma propícia à criatividade e à
inovação.

Mais recentemente, Barbara van Schewick em seu livro “Internet architecture and innovation”
(The MIT Press, Junho 2010) faz uma análise pormenorizada dos princípios que estão por trás
das referidas decisões de projeto que têm feito da arquitetura da internet um terreno fértil
para a inovação. Em destaque a advertência apontando os impactos econômicos que
poderiam advir associados a mudanças na estrutura da internet de uma arquitetura aberta
permitindo a qualquer inovador desenhar uma aplicação ou compartilhar um conteúdo para
uma estrutura na qual os intermediários (i.e., os provedores de serviço de internet) têm que
autorizar o acesso a conteúdo e desenhar as aplicações principais eles próprios. Valendo-se de
uma retrospectiva da história da internet, van Schewick vai buscar na teoria econômica o
apoio necessário à sua afirmação de que uma internet altamente controlada não apenas
constituiria um desvio de sua característica convidativa à inovação, mas também, e
infelizmente, resultaria em grandes prejuízos aos interesses econômicos, culturais e políticos
da sociedade.

A bem da verdade, acrescenta van Schewick, a arquitetura original da Internet foi baseada em
quatro princípios de desenho – modularidade, hierarquia em camadas, e duas versões do
muito celebrado porém muito mal-entendido “argumento fim-a-fim” (i.e., o intermediário não
decide, apenas repassa). Van Schewick demonstra que esse desenho tem servido de terreno
fértil para a inovação em aplicações e permitiu que aplicações e serviços como e-mail, World
Wide Web, eBay, Google, Skype, Flickr, Blogger e Facebook emergissem e fossem bem
sucedidos. Em última análise, a capacidade da internet de propiciar maior liberdade ao
indivíduo, devido à sua característica de plataforma apropriada a uma maior participação
democrática, e sua capacidade de alimentar uma cultura mais crítica e auto-reflexiva estão
fortemente associadas a características resultantes da versão mais ampla dos chamados
argumentos fim-a-fim.

Um dos empreendedores de internet em maior evidência no momento, Reid Hoffman, co-
fundador e Executive Chairman da LinkedIn, dá seu testemunho em palestra intitulada
“Entrepreneurs Will Create The Future” no encontro “Endeavor Entrepreneur Summit”
organizado em San Francisco de 28 a 30 de Junho de 2011. Chamando a atenção para o fato de
que o empreendedor hoje tem o papel de criar o futuro, Hoffman sugere alguns princípios
básicos que devem ser seguidos por aqueles que almejam navegar pelo processo de
empreendedorismo e criação de startups de inovação tecnológica. Para se tornar um
empreendedor eficaz, Hoffman recomenda seguir alguns princípios fundamentais: ( 1) buscar
sempre por mudanças disruptoras; (2) almejar alto; (3) construir uma rede em torno de seu
empreendimento; (4) planejar para a boa e a má sorte; (5) manter uma persistência flexível;
(6) lembrar que essas regras são apenas guias e não leis.

Nesse pormenor Hofmann lembra que quase todas as startups bem sucedidas passarão por
momentos críticos, os chamados momentos de “vale da sombra”, quando todos na equipe
inicial passam a se perguntar “por que é que essa é uma boa idéia?”. E aí é preciso entender
como lidar com o processo de agir com “persistência flexível”, ou seja, adotar uma postura
“pivotante” (i.e., girando em torno de um pivô): além de um plano A e um plano B, é preciso
vislumbrar um plano Z na eventual necessidade de vender ou mesmo fechar a empresa.

Seja lá qual for o plano adotado, o fato é que, como diz Hoffman, empreendedores devem
assumir o papel dos pioneiros modernos da era atual, no sentido de que devem estar
procurando enxergar oportunidades e trazer produtos e serviços que permitam a sociedade
inventar e se adaptar ao futuro, especialmente num momento de grandes mudanças como o
aquecimento global, mudanças no mercado financeiro, e globalização.

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  • 2. palavras, Zittrain oferece três razões fundamentais: (1) generatividade é o que faz uma rede global de PC’s interconectados se constituir numa tecnologia tão transformadora; (2) generatividade não é uma característica inerente ou imutável da rede de PC’s que forma a internet, mas sim o resultado de um certo número de decisões de projeto implementadas em código executável, que podem ser modificadas posteriormente; (3) vulnerabilidades de segurança servirão de balizadores cruciais na manutenção de um equilíbrio entre as demandas por maior segurança por parte de consumidores e órgãos governamentais reguladores e as necessidades de abertura fundamentais para manter a plataforma propícia à criatividade e à inovação. Mais recentemente, Barbara van Schewick em seu livro “Internet architecture and innovation” (The MIT Press, Junho 2010) faz uma análise pormenorizada dos princípios que estão por trás das referidas decisões de projeto que têm feito da arquitetura da internet um terreno fértil para a inovação. Em destaque a advertência apontando os impactos econômicos que poderiam advir associados a mudanças na estrutura da internet de uma arquitetura aberta permitindo a qualquer inovador desenhar uma aplicação ou compartilhar um conteúdo para uma estrutura na qual os intermediários (i.e., os provedores de serviço de internet) têm que autorizar o acesso a conteúdo e desenhar as aplicações principais eles próprios. Valendo-se de uma retrospectiva da história da internet, van Schewick vai buscar na teoria econômica o apoio necessário à sua afirmação de que uma internet altamente controlada não apenas constituiria um desvio de sua característica convidativa à inovação, mas também, e infelizmente, resultaria em grandes prejuízos aos interesses econômicos, culturais e políticos da sociedade. A bem da verdade, acrescenta van Schewick, a arquitetura original da Internet foi baseada em quatro princípios de desenho – modularidade, hierarquia em camadas, e duas versões do muito celebrado porém muito mal-entendido “argumento fim-a-fim” (i.e., o intermediário não decide, apenas repassa). Van Schewick demonstra que esse desenho tem servido de terreno fértil para a inovação em aplicações e permitiu que aplicações e serviços como e-mail, World Wide Web, eBay, Google, Skype, Flickr, Blogger e Facebook emergissem e fossem bem sucedidos. Em última análise, a capacidade da internet de propiciar maior liberdade ao indivíduo, devido à sua característica de plataforma apropriada a uma maior participação democrática, e sua capacidade de alimentar uma cultura mais crítica e auto-reflexiva estão fortemente associadas a características resultantes da versão mais ampla dos chamados argumentos fim-a-fim. Um dos empreendedores de internet em maior evidência no momento, Reid Hoffman, co- fundador e Executive Chairman da LinkedIn, dá seu testemunho em palestra intitulada “Entrepreneurs Will Create The Future” no encontro “Endeavor Entrepreneur Summit” organizado em San Francisco de 28 a 30 de Junho de 2011. Chamando a atenção para o fato de que o empreendedor hoje tem o papel de criar o futuro, Hoffman sugere alguns princípios básicos que devem ser seguidos por aqueles que almejam navegar pelo processo de empreendedorismo e criação de startups de inovação tecnológica. Para se tornar um empreendedor eficaz, Hoffman recomenda seguir alguns princípios fundamentais: ( 1) buscar sempre por mudanças disruptoras; (2) almejar alto; (3) construir uma rede em torno de seu
  • 3. empreendimento; (4) planejar para a boa e a má sorte; (5) manter uma persistência flexível; (6) lembrar que essas regras são apenas guias e não leis. Nesse pormenor Hofmann lembra que quase todas as startups bem sucedidas passarão por momentos críticos, os chamados momentos de “vale da sombra”, quando todos na equipe inicial passam a se perguntar “por que é que essa é uma boa idéia?”. E aí é preciso entender como lidar com o processo de agir com “persistência flexível”, ou seja, adotar uma postura “pivotante” (i.e., girando em torno de um pivô): além de um plano A e um plano B, é preciso vislumbrar um plano Z na eventual necessidade de vender ou mesmo fechar a empresa. Seja lá qual for o plano adotado, o fato é que, como diz Hoffman, empreendedores devem assumir o papel dos pioneiros modernos da era atual, no sentido de que devem estar procurando enxergar oportunidades e trazer produtos e serviços que permitam a sociedade inventar e se adaptar ao futuro, especialmente num momento de grandes mudanças como o aquecimento global, mudanças no mercado financeiro, e globalização.