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Universidade do Estado da Bahia - UNEB
           Departamento de Educação – Campus XIV
                    Colegiado de História
                     Jonatha Lima Silva




Jornalismo de “posição”: A Tarde e o golpe
                 de 1964




                 Orientador: Eduardo Borges
                  Conceição do Coité – BA
                       Março de 2010
Universidade do Estado da Bahia - UNEB
           Departamento de Educação – Campus XIV
                    Colegiado de História
                     Jonatha Lima Silva




Jornalismo de “posição”: A Tarde e o golpe
                 de 1964



                                        Artigo apresentado como trabalho
                                        de conclusão de curso e requisito
                                        parcial   para   a   obtenção   da
                                        graduação em história.




                 Orientador: Eduardo Borges
                  Conceição do Coité – BA
                       Março de 2010
Jornalismo de “posição”: A Tarde e o golpe de 1964



                                                                                  Jonatha Lima Silva1




                                               Resumo

O presente artigo analisa um importante veiculo de comunicação de grande credibilidade
entre os habitantes baianos: o jornal A Tarde. O estudo se define pela análise de editoriais do
jornal seis meses antes do golpe militar e seis meses depois, percebendo justamente os
posicionamentos, defesas, críticas e ideologias desse órgão da imprensa a respeito do governo
de João Goulart e Humberto Castelo Branco. Para isso foram destacados alguns editoriais que
tratavam de questões relevantes no período, como o temor de uma revolução comunista, a
questão agrária, a crise política-econômica e o surgimento do novo regime orientado pelos
militares.

Palavras-chave: A Tarde; Imprensa; Posicionamento; Centrista; Comunismo e Revolução.


                                               Abstract

This article examines an important vehicle of communication of great credibility among the
inhabitants of Bahia: A Tarde newspaper. The study is defined by the analysis of newspaper
editorials six months before the military coup six months later, realizing just the positions,
defenses, and ideologies critical of media report about the government of João Goulart and
Humberto Castelo Branco. For that were posted some editorials that dealt with issues relevant
period, as fears of a communist revolution, the agrarian question, the political-economic crisis
and the emergence of the new regime led by the military.

Keywords: The Late; Press; Positioning; Centrists; Communism and Revolution.



1. Introdução

        O estudo sobre o papel da imprensa em momentos decisivos na história brasileira,
ainda é muito pouco pesquisado, especialmente os que se dedicam a jornais que se limitam a
circular somente na esfera estadual. Nesse sentido encontramos do ponto de vista
historiográfico uma grande lacuna, tornando-se de extrema relevância o estudo da temática.



1
 Jonatha Lima Silva é discente do curso de história da Universidade do Estado da Bahia do Departamento de
Educação Campus XIV.
Tomando como base a realidade baiana, analisei o jornal A Tarde, importante veiculo
impresso presente no cotidiano de grande parte dos baianos da capital e do interior do Estado.

       A escolha do recorte temporal parte da necessidade de preencher lacunas em torno da
Ditadura Militar no Brasil e na Bahia, como também perceber ideologicamente as posições de
A Tarde, jornal este tão conceituado entre os habitantes baianos. Para tanto foi escolhido para
análise editoriais do período de setembro de 1963 a setembro de 1964, percebendo justamente
as posições que A Tarde assumiu durante o processo. Devido à objetividade do trabalho
selecionei e analisei alguns editoriais referentes ao governo de João Goulart e de Humberto
Castelo Branco.

       A escolha do estudo da linha editorial foi feita porque dentro da empresa jornalística,
ele se define como o espaço que representa a opinião do jornal, acerca dos fatos de maior
relevância, em uma dada edição, sua estrutura de texto é muito importante:


                       “[...] deve ser escrito em linguagem cuidada. Para redigi-lo, é necessário definir um
                       objetivo e ter clareza na escolha de uma idéia central para argumentação. O ponto
                       central é: Qual é a verdade? Partindo-se desse ponto, têm-se os critérios para a
                       argumentação. [...]” (Fundamentos da redação jornalística, p. .23)


       Por possuir esse formato de texto, o editorial deve ser bem elaborado, para que possa
justificar ou convencer o leitor, acerca do seu ponto de vista sobre determinado
acontecimento, pois ainda no que se refere a estrutura observamos:


                       “Quanto ao conteúdo, sua estrutura é dissertativa, organizada em tese (apresentação
                       sucinta de uma questão a ser discutida), desenvolvimento (ter argumento e contra-
                       argumentos indispensáveis à discussão e à defesa do ponto de vista do jornal) e
                       conclusão (síntese das idéias anteriormente desenvolvidas). Além disso, deve-se
                       usar exemplos que ilustrem o assunto em questão.” (Fundamentos da redação
                       jornalística, p. 23)


       O objetivo, portanto do editorial é de opinar e convencer através de argumentos bem
estruturados, se define dessa maneira, e sendo assim se estabelece também como uma
importante fonte histórica, pois através dele foi possível verificar e analisar durante o
processo de pesquisa, a forma como A Tarde tratou o governo de João Goulart meses antes do
Golpe Militar, e no semestre que se seguiu com o novo regime.

       Para a realização do estudo foi necessário utilizar a vasta historiografia sobre a
Ditadura Militar no Brasil, como também algumas obras referentes a área de comunicação,
essa pesquisa interdisciplinar não deixou de privilegiar a construção do trabalho na
perspectiva histórica. Fazer uso de outra área do conhecimento foi importante para a
compreensão mais aprofundada no que se refere a função que a imprensa escrita ocupa na
sociedade contemporânea, através das leituras foi possível perceber como ela lida e as vezes
se confunde com o poder, no momento que assume suas posições ideológicas.

       O trabalho, portanto, se resume a traçar um diálogo entre os editoriais de A Tarde
junto com o conhecimento histórico e comunicacional, se atendo aos momentos de grande
tensão política e social que se desdobraram no fim do período democrático brasileiro no inicio
dos anos 1960.


2. Imprensa, sociedade e suas relações de poder


       Entendendo a informação como um bem público e os meios de comunicação como os
grandes responsáveis por transmitir esses conteúdos de forma clara, objetiva e despida de
interesses e ideologias, se torna importante nos ater a algumas indagações: Qual o papel que a
imprensa ocupa na sociedade? Ela influencia as pessoas a mudarem suas posições
ideológicas? Como se relaciona a imprensa com o poder? Cabe a ela somente informar a
sociedade ou também de tomar partido de algum projeto ideológico?

       Questões como estas nos motivam a tentar entender até onde se estende o poder da
imprensa na sociedade contemporânea, já que está se considera e é considerada pelo senso
comum como formadora da opinião pública e do pensamento crítico isento de ideologia na
informação transmitida, porém em momentos em que o poder político e econômico do país se
encontram ameaçados, essa característica de isenção da informação alimentada a todo o
momento pela imprensa se perde. Foi o que ocorreu no período do Golpe de 1964.

       Segundo Bernardo Kucinski é comum em países subdesenvolvidos que a notícia seja
tratada como mercadoria, onde determinados espaços dos jornais são destinados a anúncios de
grupos econômicos que financiam e mantêm a empresa jornalística. Isto é também percebido
na relação que a imprensa estabelece com o poder político, apoiando candidatos e defendendo
governos que apresentem projetos condizentes com o seu posicionamento.

       Devido a esses fatores Kucinski aponta que durante a história do Brasil se tornou
comum o pacto entre a imprensa, os grupos econômicos e políticos do país, mantendo o que
ele chama de padrão complacente do jornalismo brasileiro.
“A complacência é o resultado normatizado do confronto entre o nosso tipo de
                             democracia e o nosso tipo de capitalismo. É sistêmica e de natureza cultural, um
                             código de comportamento que envolve, de modos diversos, donos de meios de
                             comunicação e jornalistas. Um padrão de jornalismo, típico de sociedades
                             subdesenvolvidas, reforçado, no nosso caso, por duas décadas de regime militar”
                             (JOSÉ, apresentação)


          Dentro dessa afirmativa percebe-se então que o tipo de jornalismo brasileiro é o de
compactuar com o poder em momentos decisivos da história brasileira, quando este lhe é
favorável, no contexto de 1964 como afirma Emiliano José, houve um grande investimento
nos meios de comunicação, dentro disso o autor aponta:

                             “é importante acentuar também que os meios de comunicação de massa
                             transformaram-se, no pós-1964 em área de acumulação intensiva de capital. O
                             desenvolvimento acelerado desses meios vincula-se intimamente ao também
                             acelerado processo de expansão do capitalismo monopolista do Brasil[...] Os
                             interesses dos meios de comunicação, portanto, estavam organicamente vinculados à
                             manutenção daquela específica situação política, que lhes dava segurança quanto aos
                             investimentos que realizavam.” (JOSE, p. 22)


          Nesse momento verifica-se o interesse da maioria dos órgãos da imprensa brasileira
em apoiar o regime militar além de garantir investimentos, afastava o temor do socialismo.
Referências contra o socialismo surgiram em editoriais de 1963 e 1964 da Folha de São Paulo
e O Estado de São Paulo, inclusive veremos também isto no jornal A Tarde. Portanto na
época era comum que os jornais apoiassem o sistema capitalista e passassem a desconfiar de
qualquer político progressista que defendesse programas “duvidosos” .2

          O mesmo ocorreu durante as eleições à presidência do Brasil em 1990 quando os
grandes meios de comunicação defenderam a candidatura de Fernando Collor de Mello,
meses antes a revista Veja já fazia propaganda política do candidato, um personagem até
então desconhecido do cenário político nacional. A defesa do candidato partia do programa
que este se predispunha a efetivar, baseado no neoliberalismo das privatizações em oposição
ao de Luis Inácio Lula da Silva, candidato ainda com o estigma do sindicalismo rebelde. O
estudo de Emiliano José no livro Imprensa e Poder acompanha o posicionamento de alguns
órgãos da imprensa durante a candidatura, a posse e o impeachment de Collor. O autor afirma
se referindo a imprensa e a Fernando Collor:


                             “A imprensa é partidária, não no sentido de defender este ou aquele partido, mas no
                             de ter um programa a defender. Ela estava perfeitamente identificada com as
                             propostas neoliberais e precisava não só do ator-espetáculo para sua demanda



2
    Á Exemplo das reformas de base de João Goulart
noticiosa, para a implementação desse novo modelo do culto à personalidade, como
                       também do ator político, que levasse à pratica o seu programa.” (JOSE, p. 26)


       Tanto em 1964 como em 1990 dois importantes momentos da história política
brasileira percebe-se o posicionamento explicito dos meios de comunicação e os interesses
por detrás da noticia, a informação perpassa a todo o momento pela opinião da empresa
jornalística. É claro que dentro do jornal existe o espaço dedicado as demandas populares, as
denúncias e as contradições existentes na sociedade, como também crítica ao candidato
preferencial da empresa jornalística, porém a opção existe como afirma Emiliano José. Se
olharmos outro aspecto da composição do jornal, constataremos isso, na diagramação, por
exemplo, se discute as seguintes questões: Qual a noticia deve ir para a primeira página? Qual
a fotografia utilizada para ilustrar determinado acontecimento? O que fica em segundo plano?
No livro João Goulart e a Imprensa a autora Maria Rosa Duarte de Oliveira, analisa
justamente o posicionamento da noticia e a diagramação do jornal no inicio dos anos 1960,
concluindo que:


                       “No caso especifico do discurso jornalístico, a ação argumentativa não se reduz aos
                       editoriais, onde, por estar a descoberto, é até menos convincente. É no ‘design’ da
                       página – nas redes diagramáticas das fotos, manchetes e submanchetes, tipos
                       gráficos e textos – que a persuasão se faz iconicamente, de forma direta e mais
                       eficaz.” (OLIVEIRA, p. 48)


       Dentro disso percebemos que o discurso jornalístico de transmitir a informação de
forma clara e precisa sem posições ideológicas é contraditório, já que a todo o momento,
desde a formatação do jornal até a opinião declarada nos editoriais há subjetividade e
posicionamento, como afirma Emiliano José:


                       “Trata-se de um interessante jogo de faz-de-conta, um discurso repetido
                       insistentemente nos editoriais, o da objetividade e da imparcialidade, editoriais que,
                       aliás, constituem o único espaço que ela admite ser o da opinião, esquecendo-se, ou
                       fingindo ignorar, que o exercício do jornalismo, cotidianamente, termina por ser
                       opinativo, mesmo quando se traveste de pura e simples noticia.” (JOSE, p. 16)



       No livro de Emiliano José, Imprensa e Poder, o autor constata que apesar de a
imprensa ser partidária existem momentos em que ela rompe com o pacto estabelecido, como
ocorreu com o ex-presidente Fernando Collor de Mello. As denúncias feitas por seu irmão
Pedro Collor concedendo entrevista e revelando os casos de corrupção, compeliu a imprensa
partidária de Collor a adotar uma posição contraria ao presidente, já que este estava
envolvido. Naquele momento se a imprensa não continuasse a divulgar os escândalos
políticos e se não posicionasse contrário a Collor, a legitimidade e credibilidade do jornalismo
brasileiro poderia ser seriamente abalada.

       Qual seria verdadeiramente a função da imprensa? Segundo Franklin Martins, em seu
livro Jornalismo Político, o jornalista deve ser leal, a empresa em que trabalha, aos colegas,
as fontes e principalmente a sociedade. Esta deve ser em última instância preservada, é dever
da imprensa garantir a informação fidedigna, correta e isenta, ou seja, segundo o autor os
jornalistas devem pensar da seguinte maneira:


                        “Nós, jornalistas, temos um contrato informal com a sociedade, que nos garante uma
                        série de prerrogativas, como o acesso a informações de caráter público[...] em suma,
                        gozamos de liberdade de imprensa. Em contrapartida, a sociedade espera que os
                        jornalistas exerçam esses direitos com o objetivo de mantê-la informada, e não
                        visando ao proveito pessoal ou empresarial. No fundo, o direito do jornalista à
                        liberdade de imprensa é apenas um reflexo do direito de a sociedade ser bem
                        informada. Essa é a questão básica que norteia a relação do jornalista com a
                        sociedade.” (MARTINS, p. 34)



       Garantir informação isenta é uma obrigação do jornalista e dos meios de comunicação,
a partir desta que o leitor irá formar sua opinião sobre determinado acontecimento, entretanto
o que se verifica em estudos de jornalistas é que os jornais e os diversos outros meios de
comunicação não fazem somente a divulgação da informação e interpretação dos fatos, mas se
utilizam da linguagem icônica do veiculo, através da divulgação, edição e a crítica da
informação para se posicionar. Em relação a impressa escrita é somente no espaço dos
editoriais que o jornal admite ser o de opinião.


3. O veículo


       Como é possível estudar os posicionamentos de A Tarde durante o Golpe Militar de
1964? Para isso é necessário identificar a trajetória do jornal e seu fundador na política baiana
nos anos que antecederam ao Golpe. Ernesto Simões da Silva Freitas Filho, fundador de A
Tarde, foi importante político na Bahia, atuou como Deputado, Ministro e até foi candidato ao
cargo de executivo estadual.

       Desde a “Revolução de 1930” até o fim do Estado Novo em 1945, A Tarde e Ernesto
Simões Filho se posicionaram contra as políticas ditatoriais de Getúlio Vargas. A ideologia
em voga e bastante difundida era da construção de uma nação forte baseada na unidade
nacional e na centralização político-administrativa, fato que incomodava os políticos
tradicionais da Bahia, pois isso na prática significava diminuição do poder dos estados da
Federação e conseqüentemente enfraquecimento dos grupos dirigentes locais.           Uma das
medidas utilizadas pelo Estado Novo para que isso ocorresse era a interventoria federal,
criada por Vargas, selecionava políticos e os enviava a outros estados do Brasil com objetivo
de minar o poder das forças políticas locais.

       Ernesto Simões Filho além de jornalista, era um político ligado a tradicional oligarquia
baiana, portanto estava também insatisfeito com a política intervencionista de Vargas, seu
principal opositor durante o período foi o interventor federal Juracy Magalhães enviado a
Bahia para assumir o cargo de governador do Estado.

       A constante oposição ao governo de Vargas por alguns políticos baianos fez surgir
uma espécie de agrupamento na Bahia, chamado de “autonomistas”, cujo interesse era de
aumentar o poder do Estado e se livrar da política intervencionista de Vargas, além de
políticos, atuaram junto ao grupo, intelectuais e alguns advogados que se apoiavam nas leis
para defender o sistema liberal e democrático. Ernesto Simões Filho participava dessa
corrente e inclusive cedia a sede do jornal A Tarde, para que os membros da “Concentração
Autonomista da Bahia” se reunissem. Em 1945, no final do Estado Novo, diversos artigos
dessa corrente foram publicados em A Tarde, tecendo críticas ao governo de Vargas e
destacando a necessidade de os baianos reaverem o poder político perdido.

       Passado o período ditatorial do governo Vargas, se percebe que Ernesto Simões Filho
apóia geralmente as candidaturas ligadas ao PSD, isso se verifica na eleição de Otávio
Mangabeira com a coligação UDN-PSD e com Luis Régis Pacheco, ex-autonomista, na
coligação PSD-PTB, sendo que no governo deste último Ernesto Simões Filho consegue
ocupar o cargo de Ministro da Educação no regime democrático de Getúlio Vargas. Durante o
governo da Bahia no período de Antonio Balbino de Carvalho Filho (1955-1959), eleito pela
coligação UDN-PSD-PTB, o fundador do jornal A Tarde vem a falecer. Depois disso o
principal opositor de Ernesto Simões Filho, Juracy Magalhães é eleito e exerce mandato de
1959-1963.

       Chegamos então na candidatura de Lomanto Junior, momento em que o país já esta
sentindo demasiadamente a crise política e econômica do pré-1964, vimos até aqui que A
Tarde e seu fundador adotou posições em um momento importante da história política
brasileira: O governo ditatorial de Getúlio Vargas. O lugar de onde surgiu o político e
jornalista Ernesto Simões Filho explica a adoção durante sua vida ao PSD, partido este que
juntamente com a UDN, advêm das velhas oligarquias baianas. A Tarde também se
caracteriza no mesmo perfil do dono, tentando manter a defesa dos interesses dos oligarcas
baianos, porém ao longo da década de 1950 e início dos anos 1960 é partidária de outros
segmentos da sociedade.

       Nas eleições de 1962 na Bahia ao cargo de executivo estadual, encontra-se um clima
de tensão política e uma realidade peculiar quanto a configuração dos partidos. O PSD e o
PTB, nesse momento lançam seus candidatos ao cargo de governador do Estado, o primeiro
partido muito tradicional passa por uma renovação e coloca em suas fileiras políticos com
perfil liberal e progressista representados no candidato Waldir Pires, enquanto que o PTB
baiano apostava na candidatura de Lomanto Júnior. Diferentemente da conjuntura nacional o
PTB baiano passa a ser composto pela burguesia agrária e tinha o apoio da oligarquia o que
colocava o partido em sintonia com o PSD nacional, no qual predominantemente fazia parte a
velha oligarquia fundiária do Brasil. Por outro lado encontramos no PSD baiano uma base
formada por forças populares, organizações sindicais e membros da classe trabalhadora, o que
fazia este se alinhar a organização do PTB nacional. Essa mudança interna do PSD baiano,
gerando uma base de apoio com um perfil mais popular, muito peculiar a realidade baiana,
colocou o jornal A Tarde em posição de mudança.

       Devido a isso A Tarde, até então pessedista, pois no partido se concentrava as forças
mais conservadoras, muda sua postura e passa a apoiar o PTB, como afirma o sociólogo
Antonio Sérgio Guimarães:


                       “Foi precisamente em torno da candidatura de Waldir Pires ao Governo do Estado
                       que se aglutinou o conjunto das forças progressistas e populares, assim como o
                       conjunto das organizações sindicais e partidárias da classe trabalhadora. Lentamente,
                       à medida que progride a campanha eleitoral, foi ficando nítida a ambigüidade do
                       apoio a máquina partidária pessedista, controlada pelos velhos caciques como
                       Antonio Balbino e Oliveira Brito, à candidatura de Wadir. Até mesmo um jornal
                       tradicionalmente pessedista como A Tarde vai gradualmente definindo-se pela
                       candidatura oponente. Pode-se dizer que o conjunto da burguesia baiana começa a
                       cerrar fileiras em torno da candidatura de Lomanto Junior, apoiada pela UDN, pelo
                       PTB, pelo PR e pelo PL.” (GUIMARAES, p. 32)


       Fazendo um apanhado das informações contidas no estudo de Antonio Sérgio
Guimarães, percebe-se economicamente que desde sua fundação A Tarde defendeu os
interesses das classes dominantes, inicialmente nos anos 1930 a defesa era em torno da
burguesia mercantil e da oligarquia baiana, ou seja, grupos ligados a terra e ao comércio, essa
estrutura econômica era dominante em quase todo cenário brasileiro. A revolução de 1930 fez
ascender à classe média, detentora de um pequeno capital. Nos anos 1950 e 1960 o Brasil
possui esse grupo consolidado e surgem o proletariado e o empresariado, advindos do
desenvolvimento da industria e da nova realidade econômica que cerca o país. Como afirma o
sociólogo Antonio Sérgio Guimarães o interesse de A Tarde se define nos grupos que possam
investir na Bahia e na conjuntura dos anos 1960 quem estava ascensão economicamente era o
jovem empresariado:


                        “O caráter pequeno-burguês de A Tarde e sua constituição como representante dos
                        interesses da burguesia agrário-industrial evidencia-se no início dos anos 60 quando,
                        com o acirramento das lutas de classe, ela abandona os interesses da oligarquia
                        fundiária e passa a defender a reforma agrária. Isso significava, na realidade, romper
                        com o coronelato que se aferrava às relações de produção ultrapassadas e às práticas
                        improdutivas de renda da terra. Mas significava também garantir a prosperidade
                        daqueles setores do coronelato que começavam a empresariar a terra. Não se deve
                        esquecer que a principal matriz da burguesia era forçosamente a velha oligarquia”
                        (GUIMARAES, p. 72)



       Percebe-se então a partir da análise do sociólogo que A Tarde no inicio dos anos 1960
rompe com a tradicional oligarquia baiana, este importante segmento que possuía até a
metade dos anos 1950 forte representação política. Ernesto Simões Filho foi oriundo desse
estrato da sociedade.

       Tomando como base o estudo de Antonio Sérgio Guimarães e de historiadores como
Luis Henrique Dias Tavares e Paulo Santos Silva foi possível traçar um pouco da trajetória
política de A Tarde e seu fundador, percebendo o contexto político e econômico baiano dos
anos de 1930 a 1960 e também identificando posicionamentos a favor de determinados grupos
políticos ligados ao grande latifúndio, e também a segmentos emergentes dentro da sociedade
baiana. Sem dúvida isso é de extrema relevância e o primeiro passo para entendermos que
esse veículo de comunicação adota e defende posições. No próximo tópico analisa-se
propriamente os editoriais de setembro de 1963 a setembro de 1964, destacando, o governo de
João Goulart e de Humberto Castelo Branco.


4. Jornalismo de “posição”


       Como se encontrava o cenário político brasileiro meses antes do Golpe Militar de
1964? Com certeza bem crítico, João Goulart, desde o inicio do regime presidencialista
tentava angariar apoio para realização de suas reformas de base e aplicação do Plano Trienal,
este último consistia numa serie de medidas que visavam combater a alta inflação do período
e ao mesmo tempo favorecer o crescimento econômico.

       Apesar da tentativa de conter a inflação, o resultado do programa foi o crescimento
desta no ano de 1963 e a estagnação econômica. Esse fato repercutiu mal para todos os
segmentos da sociedade, as classes baixas e altas foram afetadas pela crise e nenhuma
desejava ter seu poder de compra diminuído, frente ao aumento exorbitante dos bens de
primeira necessidade. Por isso as classes trabalhadoras e também militares de baixa patente
reivindicavam aumentos salariais.

       O contexto de crise política, econômica e social, exacerbado nos momentos finais que
antecederam o Golpe Militar de 1964 contribui para a diminuição da importância e da
influência de João Goulart frente as suas bases de apoio.

       A Tarde caracterizado como um jornal de matriz conservadora adotara no referido
período uma posição centrista, em relação ao governo de João Goulart, muito semelhante a
outro órgão da impressa escrita como a Folha de São Paulo. Ambos variavam em valorizar e
criticar através de sua linha editorial as medidas políticas adotadas pelo presidente.
Referindo-se ao jornal baiano no editorial de 03-09-1963, A Tarde valoriza Goulart por
suspender as atividades do IBAD durante seis meses, instituição que financiava com verbas
do governo federal, campanhas eleitorais de candidatos esquerdistas, o contraponto do IPES,
outro órgão formado por homens de negócio que também aplicavam capital para campanha de
candidatos. Segundo o jornal o motivo da suspensão partia da corrupção do instituto.

       No transcorrer do mês de setembro de 1963 A Tarde tece criticas muito contundentes
ao governo de João Goulart, principalmente ao posicionamento do presidente que não estava
nem mais satisfazendo as suas bases de apoio. Em dois editoriais de 10-09-1963 e 19-09-
1963, intitulados de Quebra Cabeças e Rumos Incertos, A Tarde relata a falta de apoio ao
governo federal e traça a situação política na qual o presidente se encontrava, abordando o
conflito com o Senado, o fracasso do Plano Trienal, as constantes greves e troca de ministros.
A falta de apoio político é bastante enfatizada nos editoriais, como segue abaixo:


                       “Afirmando isto, não se está mais que divulgando o estado geral de espírito de toda
                       a Nação. E, como ninguém entende o governo federal, paga ele o pesado tributo de
                       não ter a confiança de quase ninguém, hoje em dia. Até seu partido, vez por outra, se
                       insurge contra o sr. João Goulart, apesar de o presidente da República, além de
                       titular do mais alto posto do País ser também presidente daquela agremiação.” 10-
                       09-1963
Em outro momento também é analisado o mesmo aspecto: “Com isso, começaram a
desagregar-se as hostes janguistas. Rarearam dificilmente seus companheiros por assim dizer
de fé, os mais cegos partidários de ontem já esboçavam criticas e queixas, até abertamente.”
19-09-1963

       Os editoriais citados acima com os títulos bem sugestivos já demonstram o
pensamento do jornal em relação a situação do governo federal. O Quebra Cabeças, pode ser
entendido como um governo desmantelado que precisava se organizar enquanto que Rumos
Incertos indicava a falta de projeto e de uma política segura do governo. Essa situação no pré-
1964, ocorria, a base de apoio que realmente Goulart necessitava estava se esvaindo.

       Basicamente existiam segmentos da sociedade brasileira que deveriam apoiar Goulart
para que este pudesse governar, porém as políticas adotadas pelo presidente não agradavam os
centristas que presenciaram a ineficácia do Plano Trienal, a inflação exorbitante, a estagnação
econômica e ainda não viam com bons olhos a mobilização política dos trabalhadores urbanos
e rurais, enquanto isso, grupos mais conservadores como:


                       “Os proprietários rurais, por exemplo, tentavam convencer eleitores da classe média
                       nas cidades de que uma emenda constitucional permitindo indenização em títulos, ao
                       invés de em dinheiro, pelas desapropriações de terras seria um atentado a todo o
                       principio da propriedade privada” (SKIDMORE, p. 316)



       Essa idéia passou a ser tão difundida que realmente assustou grande parte dos
brasileiros, naquele momento para encontrar apoio do centro, era necessário conter a crise
econômica, experiência que naquela altura já havia fracassado, enquanto que manter as
“esquerdas”, significava levar adiante o projeto das reformas de base, sem ser muito radical
para não afastar os centristas. A propaganda dos proprietários rurais aliada ao temor surgido a
partir da proposta de reformas de base, destacando principalmente a reforma agrária, além dos
discursos da esquerda radical que pareciam buscar direitos além da Constituição, resultou no
afastamento de uma classe média e também de centristas (fundamentais para Jango se manter
firme no poder), já que o mundo estava polarizado como bem coloca o autor Francisco Carlos
Teixeira da Silva em seu artigo A Modernização Autoritária:


                       “A eclosão da guerra fria, a associação entre ‘mundo livre’ e ‘capitalismo’, assim
                       como a questão da terra como ponto central da Revolução Cubana, serviram para
                       consolidar, junto a milhares de brasileiros, a idéia de intocabilidade da propriedade
                       privada, mesmo que reconhecidamente injusta e herdeira de ‘quatro séculos de
                       latifúndio’. O seu pretenso caráter iníquo seria apenas o pretexto através do qual os
                       comunistas, sob os mais diversos matizes, poderiam iniciar a coletivização do país.
Assim não tratava de discutir esse ou aquele modelo de desenvolvimento
                        econômico, e sim de garantir um principio que estava em risco: a propriedade
                        privada”. (SILVA, F. p. .361)



       Apesar de discursos de radicais e da grande propaganda difundida que Jango tentava
aplicar um Golpe, A Tarde permanece como defensor da legalidade democrática do governo,
porém tece muitas criticas ao presidente durante o mês de setembro de 1963, basicamente
girando em torno da falta de posicionamento e da ineficácia política exercida por Goulart. O
jornal baiano identifica-o como jogador político, já que este tentava agradar a todos,
colocando, por exemplo, diversos ministros de base conservadora e moderada e causando
instabilidade no governo, o fato que causa maior irritação de A Tarde no período é justamente
a constante troca de ministros feitas pelo presidente. Como segue: “Jamais se teve um
governo afirmativo, nem se deixou um ministério, as mais das vezes inviável de nascença,
criar raízes necessárias para a realização de um programa administrativo.” 19-09-1963

       Percebe-se que A Tarde através dos editoriais não exerce somente a opinião, mas
sugere e cobra medidas políticas, principalmente por parte do presidente. Como afirma
Emiliano José a imprensa é partidária porque tem um programa a defender, em relação A
Tarde o programa se define como afirma Antonio Sérgio Guimarães na defesa da ordem e do
sistema federativo, inclui também nesse pacote os investimentos que possam ser levados a
Bahia. Em editorial de 21-09-1963 o jornal baiano critica a negação do Ministério da Fazenda
em conceder investimentos ao cacau da Bahia além de destacar a falta de apoio do presidente
aos baianos, este não sabendo reconhecer os seus aliados. Como segue na seguinte afirmativa:
“É – ironia das coisas de política – o presidente acabava de receber um firme apoio do
governador baiano contra os que visivelmente tramam contra seu legitimo mandato.”

       “Aliado” este como Lomanto Junior que segundo o jornal dava apoio ao governo
federal, como consta em editorial do dia anterior:


                        “...seu apoio ao presidente da Republica quando não tem, como agora, conotações
                        de personalismo ou vesquice partidária, reveste-se do sentido mais alto de
                        sustentação da autoridade constituída e se confunde com os melhores ensinamentos
                        da democracia e com os interesses nacionais.” 20-09-1963


       Por trás das bases de apoio de Lomanto Junior, estava A Tarde que durante as eleições
de 1962 ao governo do Estado, passou a ser petebista como a maioria da sociedade baiana de
base conservadora. Adotando uma linha de governo moderada o governador da Bahia pode
ser identificado no período como:
“Equilibrista político, na boa tradição do PSD nacional, ao qual formalmente não
                        pertencia, Lomanto procurou atuar, durante os doze meses de sua gestão que
                        antecederam o golpe de 1964, como um ‘algodão entre os cristais’, amortecendo os
                        atritos entre os Magalhães e Jango, o lacerdismo e o trabalhismo, a UDN e o PTB”
                        (FERREIRA, M. p. 3)



       A Tarde em seu tom moderado, tece varias criticas ao presidente, porém como jornal
não se posiciona radicalmente contra João Goulart, já que naquele momento os ânimos
estavam bem elevados, o fato de ser extremado poderia afetar grande parte do público leitor.
Em torno dos apontamentos feitos a deficiência do governo de Jango, existia a esperança de
melhora, visto que grande parte dos editoriais de setembro de 1963 ocorre a cobrança de
posicionamento, frente a política indecisa de Goulart para que este se firme como líder da
Nação. Isso pode ser entendido a partir da defesa que A Tarde faz a legalidade. Apesar das
criticas ao presidente, o jornal permanece defensor das instituições democráticas, e não deseja
que extremistas radicais ocupem o poder. Como pode se verifica a seguir: “Quem vê de perto
o clima de sobressalto em que vivem os poderes constituídos da Nação sabe que chegou a
hora do basta para ação impatriótica dos que desejam o poder ao preço mesmo da miséria
nacional.” 20-09-1963

       Em seu editorial de 20-09-1963 intitulado Pela Legalidade, percebe-se a causa que o
jornal defende: “Ainda ontem comentávamos que chegou a hora de se fortalecerem os poderes
constituídos da Nação, para que não caiamos no abismo de um golpe ou de uma revolução.”

       Defendendo, portanto a legalidade democrática, A Tarde se posiciona contrario a
qualquer outro regime. Dentro da conjuntura dos anos 1960 isso significava defender a
democracia dentro da ordem capitalista, já que naquele momento o mundo estava polarizado,
entre o “Ocidente capitalista” e o “Oriente socialista”. Em relação ao Brasil existia um grande
temor quanto a implantação de um regime baseado no socialismo, esse fato era reforçado pelo
discurso e ações da esquerda radical representada nos movimentos de massa que possuíam
componentes comunistas. Percebe-se que durante os seis meses que antecederam o golpe
militar no Brasil, A Tarde, permanece com seu discurso anti-comunista. Críticas são feitas aos
governos internacionais como o de Mão Tse Tung:


                        “Diz o sr. Mão Tse que uma guerra atômica destruiria ‘apenas’ metade do gênero
                        humano. E que, depois dela, esgotados todos os estoques de morte por
                        desintegração, a humanidade se refaria, atingindo, poucos anos além, a cifra de 2
                        bilhões e meio de almas. Dois bilhões e meios que seriam dominados pela ideologia
                        comunista...” 01-10-1963
Em relação ao governo cubano:

                        “Pretendendo livrar-se de más administrações e na esperança de verem sanados
                        todos os males que afligiam a sua pátria, os cubanos apoiaram, de boa fé, a Fidel
                        Castro, nas suas guerrilhas. No fim, dominados e traídos em seus ideais pelo
                        caudilho vermelho, perderam a sua liberdade, vendo a democracia substituída, a
                        força, pela ditadura.” 28-02-1964


       O anti-comunismo de A Tarde, ainda é visto na crítica feita a URSS: “[...] a Rússia
ainda sofre as misérias de tantos anos de horror . E ainda continua sendo o mesmo Estado
ditatorial, que só consegue extrair produções na cidade, do operariado urbano, que está bem
perto do tacão das tropas.” 12-10-1963

       A realidade brasileira também é mencionada, na qual existia o Partido Comunista na
ilegalidade e os membros comunistas infiltrados nos movimentos de massa.

       Portanto dentro do cenário da Guerra Fria, A Tarde, explicitamente mostrava sua
posição ao criticar os principais países representantes do socialismo internacional, em
editorial de 25-01-1964, o jornal baiano se irrita com o financiamento do governo em apoiar
um Congresso internacional de trabalhadores comunistas, organizado pelo C.G.T, fato que
segundo A Tarde, só traria mais agitação ao quadro de instabilidade política do país. Segundo
o mesmo esse movimento de massa dos trabalhadores estaria dominado por lideres
comunistas e pelegos que aderiam as organizações somente para tirar proveito próprio. No
seguinte trecho do editorial isso pode ser verificado:


                        “Quem representa os trabalhadores brasileiros neste congresso? Os dirigentes da
                        C.G.T. Esta sigla demonstra que espécie de pessoas se dizem porta-vozes dos
                        trabalhadores – trabalhadores que jamais viram. Grimpados desta organização
                        ditatorialmente, sem se submeterem a um processo democrático de escolha,
                        significam os dirigentes da C.G.T. a nata do comunismo e peleguismo nacional. Isto
                        é, o que de natureza é mais afastado do real trabalhador brasileiro”


       Para um jornal centrista como A Tarde os movimentos de massa não eram bem vistos,
já que possuíam uma forma muito agressiva de negociação, a CGT, por exemplo, costumava
pressionar o governo através da realização de grandes greves o que agravava a situação
econômica e o temor da população em relação ao grande poder de mobilização do grupo. Para
o jornal baiano o que mais incomodava era justamente o diálogo que o presidente João
Goulart tentava manter com esses grupos radicais, muitos com integrantes comunistas, fato
que afastava cada vez mais a opinião centrista em torno do presidente. Em editorial de 24-02-
1964, intitulado Suicídio, o jornal baiano critica a tentativa do governo federal de colocar o
Partido Comunista de volta a legalidade, os argumentos surgidos partem da Constituição que
veda a organização ou partido que contrarie o regime democrático, em linguagem médica A
Tarde faz sua crítica:


                         “O que se pretendeu com a medida, foi promover a defesa da democracia. Esta não
                         pode inocular no seu organismo o germe da própria destruição. Seria absurdo – por
                         analogia – que qualquer pessoa introduzisse no seu organismo os agentes
                         carreadores da doença.”


       O fato de colocar na ordem legal um partido que defende outro regime seria para o
jornal baiano um ato contraditório e suicida.

       Nos meses que se seguem, A Tarde continua criticando o governo de João Goulart
sempre o colocando como jogador querendo atuar em todas as bases. Em editorial de 02-10-
1963, intitulado, Definam-se as reformas, o jornal cobra posicionamento do presidente na
definição da maneira de se fazer as reformas de base. Como segue no trecho abaixo:


                         “Esta indefinição dos homens, dos líderes que tinham, por isso mesmo, dever de
                         comandar a opinião de seus liderados e, por via de conseqüência, da opinião pública,
                         é que esta levando este país a um abismo de desencontros, a uma descrença
                         generalizada nas autoridades e nos poderes constituídos”


       Em alguns editoriais de outubro e novembro de 1963 percebe-se um bom
posicionamento em relação ao governo federal, em editorial de 04-10-1963, o jornal baiano
critica a entrevista concedida por Carlos Lacerda a um jornal estrangeiro, no qual o
governador da Guanabara considerado de extrema direita critica o governo de João Goulart
ligando-o a grupos comunistas. A Tarde entende que o governo do presidente é deficiente,
mas não valoriza as criticas feitas por Lacerda, por estas colocarem em cheque a autoridade
das instituições. O jornal baiano ainda afirma que algumas críticas foram injustas, como
consta na afirmativa seguinte: “Desmandando-se em criticas, algumas justas, outras injustas,
ao governo federal o chefe do executivo da Guanabara causou o que se pode chamar de alto
prejuízo ao Brasil e atentado a nossa boa fama nacional.”

       Em outros editoriais A Tarde valoriza a fala do ministro da fazenda em solucionar os
problemas econômicos do Brasil:


                         “Como paliativos, e não mais que isto, não se pode negar eficácia as medidas que o
                         sr. Carvalho Pinto se disse disposto a adotar. Reconfortada com as palavras
                         tranqüilizadoras do ministro, a Nação passa a aguardar os efeitos dessas
                         providências, anciosa que está para que restaure o equilíbrio econômico e
                         financeiro.” 26-10-1963
O governo também é valorizado pelo jornal em relação a entrevista concedida por
Goulart a uma revista carioca, no qual é feita uma avaliação dos pontos positivos:


                       “E essas conclusões positivas existem. Isto porque, sem prejuízo do que merece, na
                       parte política, a posição do presidente Goulart, o pensamento reformista que ele
                       defende naquele documento merece atenção especial e é uma clara e valiosa
                       contribuição à luta pelas reformas de base, de que tanto nosso país precisa.” 26-11-
                       1963


       Dentro da grande quantidade de editoriais analisados, somente alguns valorizam o
governo presidencial ou adotam um tom moderado de crítica a João Goulart. E porque mesmo
assim pode ser afirmado que A Tarde adota uma posição de centro no referido período?
Simplesmente devido às posições extremadas do pré-1964. Quando Carlos Lacerda
pertencente a extrema direita tece criticas muito contundentes ao presidente, A Tarde vêem
em defesa de João Goulart criticando o tom extremado do governador da Guanabara. Também
percebe-se quanto ao otimismo de A Tarde frente as declarações do ministro da fazenda e a
possível implementação das reformas de base, além de que suas próprias criticas ao
presidente, se define mais por uma cobrança de posição, ou seja, de uma política clara que
defina seu grupo e/ou sua base de apoio.

       Em outubro de 1963 um fato que é duramente criticado por A Tarde é a solicitação do
presidente pelo Estado de Sitio, em três editoriais, o jornal baiano narra a solicitação. Como
conta abaixo:


                       “Funda-se em todas essas razões a inconformidade com o pedido de ‘sitio’ Não se
                       vê a que ele será útil. Não se enxerga no presidente um homem que possa conduzir-
                       se com acerto e a firmeza, que até hoje não encontrou, quando tiver nas mãos
                       poderes multiplicados.” 07-10-1963


       A revogação também é citada:


                       “Como que interessado em por lenha na fogueira de agitação que consome o país, o
                       governo federal nos da um triste exemplo de irresponsabilidade.[...] Em resumo
                       manda ao Congresso a proposta de uma medida extrema, com base em fatos que
                       anuncia graves, e pouco depois recua, negando já a gravidade da conjuntura que ele
                       próprio tinha pintado com nuvens carregadas e ameaçadoras.” 09-10-1963



       Como bem avaliou A Tarde, a medida visava conter as manifestações políticas
violentas, só que naquele momento confiar poderes extraordinários a Goulart era algo difícil,
já que o pedido de Estado de Sitio possuía uma conotação ambígua, ou seja, qualquer grupo
político poderia interpretar a medida como instrumento de repressão. Com a implantação da
medida as esquerdas e direitas extremadas, poderiam ser alvo da violência repressiva, e os
centristas vitimas de um golpe, como bem destaca A Tarde, em seu editorial de 09-10-1963.

       O temor de um golpe crescia na medida em que Goulart se aproximava da esquerda
radical, no mês de dezembro de 1963, a suspeita aumenta por causa da cogitação de substituir
Leonel Brizola por Carvalho Pinto no cargo de Ministro da Fazenda. A Tarde condena a ação
em editorial de 12-12-1963, intitulado, O menos indicado, no qual explicitamente se
posiciona contrario a indicação de Brizola: “Nestes tempos explosivos, que fará o governo?
Será possível que tente tirar do posto um homem equilibrado, conhecedor profundo de
finanças, que traz consigo tradição de bom senso administrativo – para substitui-lo por um
famoso agitador...”

       Em 20-12-1963, o jornal também crítica o troca-troca de ministros e faz referência a
substituição de Carvalho Pinto: “Um elemento ainda mais alarmante se juntava aos rumores já
de si incríveis: o sr. Carvalho Pinto seria substituído pelo principal agitador das esquerdas: o
sr. Leonel Brizola”

       A aproximação de Goulart com a esquerda extremista com certeza gerava temor por
parte de A Tarde que novamente sugere e opina sobre a constante troca de ministros, como
defensor da legalidade democrática seria contraditório apoiar um radical de esquerda que
através do seu discurso parecia querer romper com a ordem democrática.

       Outro ponto importante que A Tarde defende no período é a realização de
investimentos na Bahia e maior autonomia do Estado no que se refere a política e as finanças.
Em editorial de 13-12-1963, o jornal baiano defende o projeto de lei que cobra o imposto
sobre vendas e consignações de acordo com os consumidores e não produtores dos estados,
segundo A Tarde, são benefícios a Bahia, pois a cobrança anterior era injusta, além disso
cobra a aprovação do presidente para a implantação da medida. Em outros editoriais critica a
dependência econômica dos estados em relação ao governo da União:


                       “Hoje, a quase unanimidade dos estados brasileiros não conseguem manter uma
                       posição independente, muito menos oposta ao poder central. Faze-lo é votar-se ao
                       insucesso, à miséria sobre todas as formas. Assim, com os cordéis da política de
                       ajuda econômica e financeira o governo central dirige os governos estaduais ” 21-
                       01-1964


       Quando se trata de trazer vantagens ao nordeste e especialmente a Bahia o jornal passa
a defender com mais veemência o político João Goulart, como no exemplo da visita do
presidente ao Estado para verificar a destruição causada pelas enchentes no interior. Isso pode
ser verificado no trecho abaixo: “E reforça com sua presença a esperança de que o crédito que
abriu e as providencias que determinou não tiveram o caráter de demonstrações pró-forma,
mas foram medidas realmente para valer.” 27-01-1964

        Devido constar em seus editoriais sempre a defesa da autonomia e de maiores
investimentos a Bahia, percebe-se que é em torno da política dos governadores que A Tarde
faz sua defesa aguda, tradicionalmente a favor do autonomismo baiano defende a posição do
governador Lomanto Júnior ao promover uma reunião no Palácio Rio Branco, no qual o
governador:


                       “[...] buscava encontrar soluções para duas ordens de problemas, primeiro esvaziar o
                       impacto da proposta de reformas de base do presidente Goulart, transferindo para a
                       esfera estadual as decisões relativas a sua implementação ou não; assim como
                       restabelecer as bases da estabilidade política e da governabilidade através do
                       fortalecimento dos estados e municípios, o que retiraria a presidência da República
                       do centro da controvérsia acerca daquelas reformas. Mas, tratava-se também de
                       restaurar uma proposição histórica do autonomismo baiano, fortalecendo no seio da
                       UDN as posições do grupo politicamente mais moderado vinculado ao falecido
                       governador Otávio Mangabeira.” (FERREIRA, M. p. 3)



       Em editorial de 27-02-1964 o jornal baiano apóia a reunião dos governadores que
buscam maiores investimentos para os estados:


                       “A importância desse encontro, já salientada e, por si só avaliada pela expressão dos
                       seus participantes [...] O tema-central que nos proporcionará a presença de tão
                       ilustres visitantes, a melhor distribuição das rendas federais, para desafogo e maior
                       autonomia estadual [...]”


       Para angariar apoio do governo da União, A Tarde, sempre coloca o discurso da
desigualdade regional para receber recursos, seja fazendo referência as secas ou a falta de
desenvolvimento tecnológico.

       No inicio de 1964, a situação política-econômica-social brasileira já esta bastante
agravada. As classes sociais bastante definidas, a direita rejeitando as Reformas de Base,
principalmente a reforma agrária e angariando apoio da classe média e da burguesia
reformista, além de possuírem aliados dentro das Forças Armadas e dos EUA que tramavam o
Golpe Militar. Enquanto que as esquerdas estavam muito divididas e fragmentadas. Essa
realidade fez com que João Goulart se aproximasse cada vez mais das forças populares e da
esquerda extremada, porém tendo relativo apoio desse segmento da sociedade o presidente
ainda encontrava dificuldades para implantação das reformas. Em editorial de 07-02-1964, A
Tarde, crítica a demora de Jango na realização da reforma agrária e em 20-02-1964 teme o
clima de agitação no campo causado pela invasão de terras e a possível represália por parte
dos fazendeiros. Em ambos os editoriais o jornal baiano teme a desordem causada em torno
da terra e o crescente aumento do poder da população rural, em se armar e poder causar uma
revolução. A Tarde, defende a reforma agrária, porém dentro da ordem, por isso teme a
pressão dos movimentos populares e cobra medidas urgentes do governo federal para resolver
o impasse da questão agrária. Como segue no trecho abaixo:


                       “Já é tempo dos responsáveis pelos destinos do país – governo, parlamento e
                       dirigentes políticos – oferecerem à Nação a justa solução do problema da terra. Ou
                       as medidas nesse sentido partem das próprias autoridades, por meios pacíficos e
                       legais, ou se correrá o risco de ver a questão entregue à sanha de líderes
                       improvisados, sujeitos de idéias extremadas ou não.” 07-02-1964


        A aproximação do presidente com os movimentos de massa, como a organização dos
trabalhadores incomoda A Tarde, em editorial de 15-02-1964, o jornal crítica o presidente
pelo seu jogo político e identifica que agora o chefe da Nação se vê pressionado pelas massas
a aumentar o salário mínimo. Como segue abaixo:


                       “Cabe aqui dizer que, quem planta ventos colhe tempestade. Está, pois, o chefe da
                       Nação no centro do redemoinho que ele próprio semeou. Se colhe frutos amargos,
                       não tem de quem se queixar. Responsabilizado, há muito tempo, como fomentador
                       de paredes, dir-se-ia que agora o feitiço virou contra o feiticeiro.”


        Apesar de não ver com bons olhos a pressão das massas, em editorial de 25-02-1964
valoriza a medida implantada pelo presidente de aumento de 100% do mínimo: “Medida
justa, imposta pelas próprias condições de vida, a da majoração, em cem por cento, dos novos
níveis salariais.”

        Mas é somente mais tarde que o jornal baiano avalia bem as conseqüências do
aumento salarial, devido a especulação e a constante elevação dos preços dos bens de primeira
necessidade. Nesse momento crítica o governo pela falta de fiscalização em relação aos
especuladores. Como segue no trecho: “E mais uma vez, se confirma que a simples
decretação, de penada, do novo salário, sem cuidar o governo de medidas complementares
que protejam os consumidores contra a ganância desenfreada, é contra producente.” 11-03-
1964
Percebe-se então que em torno de determinadas questões A Tarde, defende João
Goulart e também o critica. Em editorial de 16-03-1964, valoriza o discurso na praça da
Central do Brasil em que Goulart afirma a definitiva implantação das reformas de base,
entretanto faz a ressalva de que se deve preservar as instituições democráticas. Como consta
no trecho abaixo:


                       “Líder de massas, deve saber o presidente Goulart que a nação não suporta mais
                       ditaduras, que não abre mão de suas conquistas democráticas. Provas disto nos
                       últimos anos não faltam. Deve o presidente se atentar nelas e apontar-lhes seus
                       conselheiros, que não parecem querer ouvir nem ver o verdadeiro espírito do povo
                       brasileiro, que quer reformas dentro da ordem do respeito a democracia, e da
                       liberdade.”


       Como se pode analisar A Tarde é a favor da política reformista de Jango, porém dentro
da ordem, o jornal não deseja o surgimento de outro regime.

       Depois do discurso na Central do Brasil, o estopim para o Golpe Militar foi a revolta
dos marinheiros o que afetou a hierarquia dentro das Forças Armadas. A Tarde, já vinha
analisando a situação política e premeditava um possível golpe, em editorial de 17-01-1964
fala das constantes greves de trabalhadores ocorrendo no país o que ocasionava o aumento da
crise econômica, além disso, crítica o presidente de está vinculado a esses movimentos e faz
questionamentos ao mesmo. Como segue abaixo:


                       Será por exemplo que ainda não enxergou ele que nesse passo só consegue favorecer
                       a candidatura de radicais? Que o povo está cansado dessa inquietação que devora o
                       País? Que por outro lado essa onda de greves só faz criar condições para uma
                       medida política violenta dando razões para os que defendem uma solução golpista
                       para a crise nacional?


       Em editorial de 31-03-1964, A Tarde faz uma análise correta quanto ao movimento
dos marinheiros, destacando que apesar de o presidente reprimir a rebeldia destes, houve um
dano irreparável que foi a quebra da hierarquia militar, fato que para o jornal vai desencadear
uma crise maior e marcar a vida democrática do país. Na afirmativa verifica-se isso: “Está
semana poderá, assim, marcar para o Brasil uma época decisiva, talvez, para a normalidade
democrática...”

       O fato como bem avalia A Tarde, não se encerra em si mesmo e foi o último dos
motivos para desencadear a conspiração golpista. Jango fugiu para o Uruguai e não quis
resistir, houve poucas tentativas de resistência no Brasil, o que comprova a desunião da
esquerda e a fragilidade das organizações de massa que teve logo em seguida seus líderes
perseguidos e presos.


5. A Tarde e o Golpe de 1964


       Como ficou a imprensa e a sociedade brasileira, logo após o golpe militar de 1964? O
poder assumido pelo Supremo Comando Revolucionário, formado por militares moderados e
da “linha dura” não sofreu inicialmente qualquer forma de resistência civil, assim como da
imprensa escrita. O jornal Última Hora, defensor até o fim do presidente João Goulart foi
fechado após a posse de Humberto Castelo Branco. Entretanto a grande imprensa que já vinha
de certa forma aumentando as críticas em relação ao presidente deposto, passou a valorizar e
defender o regime arbitrário. Em editorial de 04-04-1964 intitulado O Fim do pesadelo e de
07-04-1964 Dinheiro bem gasto, A Tarde explicitamente abraça o golpe dos militares.
Defendendo-o com variados argumentos, no primeiro cita a deposição de Goulart e o crítica
por esta envolvido com comunistas que tramavam uma revolução bolchevique, principal
argumento do jornal para defender o golpe, além disso enobrece os militares por entregar o
poder a um civil. Como segue abaixo:


                          “E mais digno ainda de louvor é a desambição de que deram testemunho mais uma
                          vez, quando, ao atingirem, triunfantes, o objetivo, timbraram em respeitar a
                          Constituição, entregando o poder a um civil, o presidente da Câmara Federal, o novo
                          mandatário supremo da nação. A historia recolherá devidamente esse seu gesto.”


       No segundo defende os gastos exorbitantes do movimento para depor o presidente,
necessário segundo o jornal baiano para trazer a liberdade, sem sangue e sem ditadura.Como
aponta o trecho abaixo:


                          “Que teria custado mais aos cofres da nação? O movimento militar que derrubou o
                          governo do sr. João Goulart, sem sangue, sem golpe nas instituições políticas, sem
                          implantação de ditadura, sem perda dos direitos constitucionais, ou os movimentos
                          grevistas insuflados e financiados pelo governo que fugiu?”


       Em ambos percebe-se a aderência total a favor dos militares, inclusive o entendimento
de A Tarde é que as Forças Armadas estão promovendo uma Revolução no país, diferente do
antigo presidente deposto que foi eleito democraticamente e ameaçava dar um golpe,
implantando uma ditadura. Pensamento um tanto contraditório apesar dos argumentos
defendidos pelo jornal baiano de que existia uma ameaça real do comunismo, representada
por grupos extremistas que o presidente dialogava.

           Para A Tarde o golpe militar, trouxe a organização, o poder centralizado, a defesa da
ordem, diferente do período de Goulart, no qual o governo estava totalmente em desordem.
Em editorial de 09-04-1964 enfatiza que o novo governo é seguro e estável e que o
empréstimo concedido pelas classes produtoras vai ter uma aplicabilidade responsável. “Seria
um empréstimo interno avalisado por um governo estável e responsável, portanto garantido.”

           Esse entendimento de que A Tarde é um jornal tipicamente de ordem vêem do
estudioso Antonio Sérgio Guimarães, este estudo compactua com esse posicionamento e
percebe que o jornal baiano defende até o Ato Institucional, quando este visa o combate a
lideres extremados da esquerda e possíveis comunistas: “Que o rigor contra o comunismo e
seus agentes é a principal preocupação do governo que se irá constituir, dentro em breve, não
há duvida. E não é outra coisa que exigem a ordem e a opinião pública” 10-04-1964

           A opinião de A Tarde nesse momento se travesti como opinião pública, a “operação
limpeza” defendida pelo jornal baiano e surgida a partir do AI3 tem grande destaque nos
editoriais, inclusive com alertas a população para manterem uma vigília da paz, visando
afastar os cidadãos dos perigos subversivos. Como segue abaixo:


                              “A chamada ‘operação limpeza’ não pode cessar e os democratas, vale dizer o povo
                              brasileiro não podem dormir tranqüilos, enquanto o ultimo reduto, o mais longínquo
                              esconderijo, a mais fraca das células, não for vasculhada convenientemente...” 18-
                              04-1964


            Em outro editorial de 23-04-1964 relata que a agitação do período de governo de
Goulart acabou graças a implantação do governo militar. Entretanto em 07-05-1964 adverte
ao governo que tenha cautela ao cassar os mandatos, pois isso pode prejudicar a imagem do
Brasil no plano internacional como um país ditatorial. Defendida abertamente por A Tarde a
operação limpeza conseguiu cassar direitos políticos de 378 pessoas até junho de 1964. O
forte anti-comunismo do jornal baiano encontra um instrumento de perseguição através do AI.

           As medidas anti-inflacionarias adotadas no período contrariaram grande parte da
sociedade, mas tiveram resultados efetivos a longo prazo, com a diminuição do índice
inflacionário, durante a aplicação destas o custo de vida aumentou e é um ponto que A Tarde
critica. Em editorial de 11-05-1964 relata o corte de subsídios de produtos derivados do

3
    Assegura ao executivo amplos poderes para suprimir direitos políticos por até dez anos.
petróleo, o que termina aumentando o preço da gasolina e conseqüentemente o custo de vida,
em outro momento, em 14-05-1964 cobra medidas mais eficientes de combate a inflação por
parte do governo e adverte que a situação inflacionaria é terreno fértil para a ação de
comunistas.

       Um aspecto importante que deve ser destacado é a posição de A Tarde em relação a
extensão do mandato presidencial de Castelo Branco, foi possível perceber isto a partir da
leitura e análise de quatro editoriais específicos sobre o assunto. Em 18-05-1964 ocorre uma
desconfiança de que é possível a extensão do mandato presidencial: “Ninguém, honestamente,
poderá, com tanta antecedência, afirmar como já insinua – a impossibilidade de eleições
normais em 1965”

        Entretanto em 29-05-1964 existe uma confiança plena no presidente e afirma que com
certeza o mandato será cumprido até a data prevista:


                        “Homem de palavra, o marechal Castelo Branco, ao assumir o governo, deixou
                       claro que no dia exato do termino do mandato que iria concluir entregaria o cargo,
                       sem atraso de um minuto, ao seu substituto. E ninguém tenha duvidas. O que disse
                       cumprirá, porque para ele a lei é um dogma.”


       Em visita a Bahia o presidente Castelo Branco afirma para A Tarde a não extensão do
AI, em contrapartida em editorial de 21-08-1964, o jornal baiano não confia plenamente na
afirmativa, já que o mandato presidencial foi estendido. Como segue: “O importante,
entretanto, não são apenas as palavras. Mais do que elas, os atos. E se o presidente quiser
mantida as suas afirmações, deve precaver-se, para que não suceda o que ocorreu com a
prorrogação do seu mandato.”

       No último editorial é possível perceber uma desilusão em torno das expectativas de A
Tarde em relação às declarações presidenciais, o momento ainda é de tensão e, portanto ainda
possível de ser adotado medidas autoritárias.


6. Considerações Finais


       O que foi importante considerarmos neste artigo foi justamente o posicionamento de A
Tarde referente a algumas questões relevantes dentro dos últimos instantes da crise política
brasileira que desencadeou o golpe militar de 1964. Vimos que o jornal baiano apesar de tecer
diversas críticas a João Goulart, sempre manteve o tom moderado, nunca se exaltando,
desejando ou insinuando que o presidente fosse deposto. Foi defensor até o final da legalidade
democrática e por isso podemos dizer que assumiu no referido período uma posição de centro,
já que no pré-1964 os posicionamentos eram extremados de crítica ou valorização ferrenha ao
executivo federal. Outro fator importante que reafirma esse ponto de vista é sempre a
moderação, jornais como o Estado de São Paulo possuía posições totalmente contrarias a João
Goulart, enquanto que A Tarde em determinados momentos cobra, sugere e até defende o
mandatário da República.

       O que provoca maior temor de A Tarde, como também dos centristas e da classe média
é a situação instável da política brasileira, é a falta de posicionamento do presidente que não
possui uma base de apoio consolidada, apesar de dialogar com todos os segmentos políticos e
efetivamente não conseguir apoio para realização de suas reformas de base. O momento de
crise que passou a sociedade brasileira atrelada a questões internacionais, como o medo
comunista, afetou com certeza a imprensa e a população. A Tarde como vimos é totalmente
anti-comunista, em diversos editoriais critica os países socialistas e movimentos de massa,
muitos deles com integrantes e lideres comunistas. A defesa de A Tarde parte, portanto para a
manutenção da ordem capitalista, não se deve alterar o regime vigente, apesar de o mesmo
órgão de imprensa ser a favor das reformas e que estas aconteçam dentro da legalidade
democrática.

       Devido a esses fatores e as posições extremadas do período é possível verificar a
posição de centro de A Tarde que também se perde na medida em que o presidente João
Goulart se aproxima da esquerda extremada ou “negativa”.

       Com o golpe militar a maior parte da imprensa brasileira assim como A Tarde passa a
apoiar o regime, o jornal baiano entende que a intervenção militar surge para sanar os
problemas políticos-sociais-econômicos que estavam afetando o Brasil naquele momento.
Entretanto acreditava-se ser uma intervenção temporária, em editoriais percebe-se essa
ansiedade quando o jornal baiano deseja saber se vai ocorrer a extensão do mandato
presidencial e do AI, até então medidas autoritárias temporárias justificadas para acabar com
os expurgos da sociedade brasileira.

       Adotando um regime político centralizado e autoritário A Tarde se satisfaz com a
“operação limpeza” que visava expurgar representantes da direita e esquerda extremada, isso
na prática eliminava os movimentos de massa organizados e também componentes
comunistas.
Apesar da Lei de Imprensa ser somente imposta em 1967, os jornais que se
posicionaram contrariamente ao regime militar logo após o golpe foram fechados, como o
jornal Última Hora. Em momentos de crise política no Brasil é que se podem perceber
claramente as posições dos órgãos de imprensa, já que se faz necessário a intervenção no
processo político, através da opinião e do convencimento da população, garantindo assim a
preservação de interesses bem demarcados. Quando a situação é de estabilidade política é
difícil perceber isso, pois a todo o momento, o discurso da imprensa é o da imparcialidade, do
jornalismo de “posição”, em que a opinião é encoberta pela informação.
Referências


BARROS, José D’Assunção. O projeto de pesquisa em História: da escolha do tema ao
quadro teórico. 4° ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.


BIROLI, Flávia. João Goulart e o golpe de 1964 na imprensa, da transição aos dias atuais:
uma análise das relações entre mídia, política e memória.


CABRAL, Elisa e CARVALHO, Tanira. Análise do editorial “A defesa de Palocci”, jornal
Folha de São Paulo.


FERREIRA, Jorge. A estratégia de confronto: a frente de mobilização popular. Revista
Brasileira de história. São Paulo, 2004.


FERREIRA, Muniz Gonçalves. O golpe de estado de 1964 na bahia.


GUIMARAES, Antônio Sergio Alfredo. Formação e crise da hegemonia burguesa na Bahia.
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MATTOS, Sérgio. Mídia controlada: a historia da censura no Brasil e no mundo. São Paulo:
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MENDES, Guilherme Rodrigues Monteiro. A argumentação nos editoriais jornalísticos.
Análise do editorial “Uma prova para todos”. PUC/SP


MENDONÇA, Sonia Regina e FONTES, Virginia Maria. Historia do Brasil recente; 1964 –
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OLIVEIRA, Maria Rosa Duarte de. João Goulart na imprensa: de personalidade a
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SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. A modernização autoritária: do golpe militar a
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SILVA, Paulo Santos & ZACARIAS, Carlos (org.). O Estado Novo: as múltiplas faces de
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TAVARES, Luis Henrique Dias. Historia da Bahia. UNESP.


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populismo. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1997.


                                   Fontes primárias


Editoriais de A Tarde (setembro de 1963 a setembro de 1964), disponíveis na Biblioteca
Publica do Estado da Bahia, Salvador-BA

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Jornalismo de posição a tarde e o golpe de 1964

  • 1. Universidade do Estado da Bahia - UNEB Departamento de Educação – Campus XIV Colegiado de História Jonatha Lima Silva Jornalismo de “posição”: A Tarde e o golpe de 1964 Orientador: Eduardo Borges Conceição do Coité – BA Março de 2010
  • 2. Universidade do Estado da Bahia - UNEB Departamento de Educação – Campus XIV Colegiado de História Jonatha Lima Silva Jornalismo de “posição”: A Tarde e o golpe de 1964 Artigo apresentado como trabalho de conclusão de curso e requisito parcial para a obtenção da graduação em história. Orientador: Eduardo Borges Conceição do Coité – BA Março de 2010
  • 3. Jornalismo de “posição”: A Tarde e o golpe de 1964 Jonatha Lima Silva1 Resumo O presente artigo analisa um importante veiculo de comunicação de grande credibilidade entre os habitantes baianos: o jornal A Tarde. O estudo se define pela análise de editoriais do jornal seis meses antes do golpe militar e seis meses depois, percebendo justamente os posicionamentos, defesas, críticas e ideologias desse órgão da imprensa a respeito do governo de João Goulart e Humberto Castelo Branco. Para isso foram destacados alguns editoriais que tratavam de questões relevantes no período, como o temor de uma revolução comunista, a questão agrária, a crise política-econômica e o surgimento do novo regime orientado pelos militares. Palavras-chave: A Tarde; Imprensa; Posicionamento; Centrista; Comunismo e Revolução. Abstract This article examines an important vehicle of communication of great credibility among the inhabitants of Bahia: A Tarde newspaper. The study is defined by the analysis of newspaper editorials six months before the military coup six months later, realizing just the positions, defenses, and ideologies critical of media report about the government of João Goulart and Humberto Castelo Branco. For that were posted some editorials that dealt with issues relevant period, as fears of a communist revolution, the agrarian question, the political-economic crisis and the emergence of the new regime led by the military. Keywords: The Late; Press; Positioning; Centrists; Communism and Revolution. 1. Introdução O estudo sobre o papel da imprensa em momentos decisivos na história brasileira, ainda é muito pouco pesquisado, especialmente os que se dedicam a jornais que se limitam a circular somente na esfera estadual. Nesse sentido encontramos do ponto de vista historiográfico uma grande lacuna, tornando-se de extrema relevância o estudo da temática. 1 Jonatha Lima Silva é discente do curso de história da Universidade do Estado da Bahia do Departamento de Educação Campus XIV.
  • 4. Tomando como base a realidade baiana, analisei o jornal A Tarde, importante veiculo impresso presente no cotidiano de grande parte dos baianos da capital e do interior do Estado. A escolha do recorte temporal parte da necessidade de preencher lacunas em torno da Ditadura Militar no Brasil e na Bahia, como também perceber ideologicamente as posições de A Tarde, jornal este tão conceituado entre os habitantes baianos. Para tanto foi escolhido para análise editoriais do período de setembro de 1963 a setembro de 1964, percebendo justamente as posições que A Tarde assumiu durante o processo. Devido à objetividade do trabalho selecionei e analisei alguns editoriais referentes ao governo de João Goulart e de Humberto Castelo Branco. A escolha do estudo da linha editorial foi feita porque dentro da empresa jornalística, ele se define como o espaço que representa a opinião do jornal, acerca dos fatos de maior relevância, em uma dada edição, sua estrutura de texto é muito importante: “[...] deve ser escrito em linguagem cuidada. Para redigi-lo, é necessário definir um objetivo e ter clareza na escolha de uma idéia central para argumentação. O ponto central é: Qual é a verdade? Partindo-se desse ponto, têm-se os critérios para a argumentação. [...]” (Fundamentos da redação jornalística, p. .23) Por possuir esse formato de texto, o editorial deve ser bem elaborado, para que possa justificar ou convencer o leitor, acerca do seu ponto de vista sobre determinado acontecimento, pois ainda no que se refere a estrutura observamos: “Quanto ao conteúdo, sua estrutura é dissertativa, organizada em tese (apresentação sucinta de uma questão a ser discutida), desenvolvimento (ter argumento e contra- argumentos indispensáveis à discussão e à defesa do ponto de vista do jornal) e conclusão (síntese das idéias anteriormente desenvolvidas). Além disso, deve-se usar exemplos que ilustrem o assunto em questão.” (Fundamentos da redação jornalística, p. 23) O objetivo, portanto do editorial é de opinar e convencer através de argumentos bem estruturados, se define dessa maneira, e sendo assim se estabelece também como uma importante fonte histórica, pois através dele foi possível verificar e analisar durante o processo de pesquisa, a forma como A Tarde tratou o governo de João Goulart meses antes do Golpe Militar, e no semestre que se seguiu com o novo regime. Para a realização do estudo foi necessário utilizar a vasta historiografia sobre a Ditadura Militar no Brasil, como também algumas obras referentes a área de comunicação, essa pesquisa interdisciplinar não deixou de privilegiar a construção do trabalho na
  • 5. perspectiva histórica. Fazer uso de outra área do conhecimento foi importante para a compreensão mais aprofundada no que se refere a função que a imprensa escrita ocupa na sociedade contemporânea, através das leituras foi possível perceber como ela lida e as vezes se confunde com o poder, no momento que assume suas posições ideológicas. O trabalho, portanto, se resume a traçar um diálogo entre os editoriais de A Tarde junto com o conhecimento histórico e comunicacional, se atendo aos momentos de grande tensão política e social que se desdobraram no fim do período democrático brasileiro no inicio dos anos 1960. 2. Imprensa, sociedade e suas relações de poder Entendendo a informação como um bem público e os meios de comunicação como os grandes responsáveis por transmitir esses conteúdos de forma clara, objetiva e despida de interesses e ideologias, se torna importante nos ater a algumas indagações: Qual o papel que a imprensa ocupa na sociedade? Ela influencia as pessoas a mudarem suas posições ideológicas? Como se relaciona a imprensa com o poder? Cabe a ela somente informar a sociedade ou também de tomar partido de algum projeto ideológico? Questões como estas nos motivam a tentar entender até onde se estende o poder da imprensa na sociedade contemporânea, já que está se considera e é considerada pelo senso comum como formadora da opinião pública e do pensamento crítico isento de ideologia na informação transmitida, porém em momentos em que o poder político e econômico do país se encontram ameaçados, essa característica de isenção da informação alimentada a todo o momento pela imprensa se perde. Foi o que ocorreu no período do Golpe de 1964. Segundo Bernardo Kucinski é comum em países subdesenvolvidos que a notícia seja tratada como mercadoria, onde determinados espaços dos jornais são destinados a anúncios de grupos econômicos que financiam e mantêm a empresa jornalística. Isto é também percebido na relação que a imprensa estabelece com o poder político, apoiando candidatos e defendendo governos que apresentem projetos condizentes com o seu posicionamento. Devido a esses fatores Kucinski aponta que durante a história do Brasil se tornou comum o pacto entre a imprensa, os grupos econômicos e políticos do país, mantendo o que ele chama de padrão complacente do jornalismo brasileiro.
  • 6. “A complacência é o resultado normatizado do confronto entre o nosso tipo de democracia e o nosso tipo de capitalismo. É sistêmica e de natureza cultural, um código de comportamento que envolve, de modos diversos, donos de meios de comunicação e jornalistas. Um padrão de jornalismo, típico de sociedades subdesenvolvidas, reforçado, no nosso caso, por duas décadas de regime militar” (JOSÉ, apresentação) Dentro dessa afirmativa percebe-se então que o tipo de jornalismo brasileiro é o de compactuar com o poder em momentos decisivos da história brasileira, quando este lhe é favorável, no contexto de 1964 como afirma Emiliano José, houve um grande investimento nos meios de comunicação, dentro disso o autor aponta: “é importante acentuar também que os meios de comunicação de massa transformaram-se, no pós-1964 em área de acumulação intensiva de capital. O desenvolvimento acelerado desses meios vincula-se intimamente ao também acelerado processo de expansão do capitalismo monopolista do Brasil[...] Os interesses dos meios de comunicação, portanto, estavam organicamente vinculados à manutenção daquela específica situação política, que lhes dava segurança quanto aos investimentos que realizavam.” (JOSE, p. 22) Nesse momento verifica-se o interesse da maioria dos órgãos da imprensa brasileira em apoiar o regime militar além de garantir investimentos, afastava o temor do socialismo. Referências contra o socialismo surgiram em editoriais de 1963 e 1964 da Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo, inclusive veremos também isto no jornal A Tarde. Portanto na época era comum que os jornais apoiassem o sistema capitalista e passassem a desconfiar de qualquer político progressista que defendesse programas “duvidosos” .2 O mesmo ocorreu durante as eleições à presidência do Brasil em 1990 quando os grandes meios de comunicação defenderam a candidatura de Fernando Collor de Mello, meses antes a revista Veja já fazia propaganda política do candidato, um personagem até então desconhecido do cenário político nacional. A defesa do candidato partia do programa que este se predispunha a efetivar, baseado no neoliberalismo das privatizações em oposição ao de Luis Inácio Lula da Silva, candidato ainda com o estigma do sindicalismo rebelde. O estudo de Emiliano José no livro Imprensa e Poder acompanha o posicionamento de alguns órgãos da imprensa durante a candidatura, a posse e o impeachment de Collor. O autor afirma se referindo a imprensa e a Fernando Collor: “A imprensa é partidária, não no sentido de defender este ou aquele partido, mas no de ter um programa a defender. Ela estava perfeitamente identificada com as propostas neoliberais e precisava não só do ator-espetáculo para sua demanda 2 Á Exemplo das reformas de base de João Goulart
  • 7. noticiosa, para a implementação desse novo modelo do culto à personalidade, como também do ator político, que levasse à pratica o seu programa.” (JOSE, p. 26) Tanto em 1964 como em 1990 dois importantes momentos da história política brasileira percebe-se o posicionamento explicito dos meios de comunicação e os interesses por detrás da noticia, a informação perpassa a todo o momento pela opinião da empresa jornalística. É claro que dentro do jornal existe o espaço dedicado as demandas populares, as denúncias e as contradições existentes na sociedade, como também crítica ao candidato preferencial da empresa jornalística, porém a opção existe como afirma Emiliano José. Se olharmos outro aspecto da composição do jornal, constataremos isso, na diagramação, por exemplo, se discute as seguintes questões: Qual a noticia deve ir para a primeira página? Qual a fotografia utilizada para ilustrar determinado acontecimento? O que fica em segundo plano? No livro João Goulart e a Imprensa a autora Maria Rosa Duarte de Oliveira, analisa justamente o posicionamento da noticia e a diagramação do jornal no inicio dos anos 1960, concluindo que: “No caso especifico do discurso jornalístico, a ação argumentativa não se reduz aos editoriais, onde, por estar a descoberto, é até menos convincente. É no ‘design’ da página – nas redes diagramáticas das fotos, manchetes e submanchetes, tipos gráficos e textos – que a persuasão se faz iconicamente, de forma direta e mais eficaz.” (OLIVEIRA, p. 48) Dentro disso percebemos que o discurso jornalístico de transmitir a informação de forma clara e precisa sem posições ideológicas é contraditório, já que a todo o momento, desde a formatação do jornal até a opinião declarada nos editoriais há subjetividade e posicionamento, como afirma Emiliano José: “Trata-se de um interessante jogo de faz-de-conta, um discurso repetido insistentemente nos editoriais, o da objetividade e da imparcialidade, editoriais que, aliás, constituem o único espaço que ela admite ser o da opinião, esquecendo-se, ou fingindo ignorar, que o exercício do jornalismo, cotidianamente, termina por ser opinativo, mesmo quando se traveste de pura e simples noticia.” (JOSE, p. 16) No livro de Emiliano José, Imprensa e Poder, o autor constata que apesar de a imprensa ser partidária existem momentos em que ela rompe com o pacto estabelecido, como ocorreu com o ex-presidente Fernando Collor de Mello. As denúncias feitas por seu irmão Pedro Collor concedendo entrevista e revelando os casos de corrupção, compeliu a imprensa partidária de Collor a adotar uma posição contraria ao presidente, já que este estava
  • 8. envolvido. Naquele momento se a imprensa não continuasse a divulgar os escândalos políticos e se não posicionasse contrário a Collor, a legitimidade e credibilidade do jornalismo brasileiro poderia ser seriamente abalada. Qual seria verdadeiramente a função da imprensa? Segundo Franklin Martins, em seu livro Jornalismo Político, o jornalista deve ser leal, a empresa em que trabalha, aos colegas, as fontes e principalmente a sociedade. Esta deve ser em última instância preservada, é dever da imprensa garantir a informação fidedigna, correta e isenta, ou seja, segundo o autor os jornalistas devem pensar da seguinte maneira: “Nós, jornalistas, temos um contrato informal com a sociedade, que nos garante uma série de prerrogativas, como o acesso a informações de caráter público[...] em suma, gozamos de liberdade de imprensa. Em contrapartida, a sociedade espera que os jornalistas exerçam esses direitos com o objetivo de mantê-la informada, e não visando ao proveito pessoal ou empresarial. No fundo, o direito do jornalista à liberdade de imprensa é apenas um reflexo do direito de a sociedade ser bem informada. Essa é a questão básica que norteia a relação do jornalista com a sociedade.” (MARTINS, p. 34) Garantir informação isenta é uma obrigação do jornalista e dos meios de comunicação, a partir desta que o leitor irá formar sua opinião sobre determinado acontecimento, entretanto o que se verifica em estudos de jornalistas é que os jornais e os diversos outros meios de comunicação não fazem somente a divulgação da informação e interpretação dos fatos, mas se utilizam da linguagem icônica do veiculo, através da divulgação, edição e a crítica da informação para se posicionar. Em relação a impressa escrita é somente no espaço dos editoriais que o jornal admite ser o de opinião. 3. O veículo Como é possível estudar os posicionamentos de A Tarde durante o Golpe Militar de 1964? Para isso é necessário identificar a trajetória do jornal e seu fundador na política baiana nos anos que antecederam ao Golpe. Ernesto Simões da Silva Freitas Filho, fundador de A Tarde, foi importante político na Bahia, atuou como Deputado, Ministro e até foi candidato ao cargo de executivo estadual. Desde a “Revolução de 1930” até o fim do Estado Novo em 1945, A Tarde e Ernesto Simões Filho se posicionaram contra as políticas ditatoriais de Getúlio Vargas. A ideologia em voga e bastante difundida era da construção de uma nação forte baseada na unidade
  • 9. nacional e na centralização político-administrativa, fato que incomodava os políticos tradicionais da Bahia, pois isso na prática significava diminuição do poder dos estados da Federação e conseqüentemente enfraquecimento dos grupos dirigentes locais. Uma das medidas utilizadas pelo Estado Novo para que isso ocorresse era a interventoria federal, criada por Vargas, selecionava políticos e os enviava a outros estados do Brasil com objetivo de minar o poder das forças políticas locais. Ernesto Simões Filho além de jornalista, era um político ligado a tradicional oligarquia baiana, portanto estava também insatisfeito com a política intervencionista de Vargas, seu principal opositor durante o período foi o interventor federal Juracy Magalhães enviado a Bahia para assumir o cargo de governador do Estado. A constante oposição ao governo de Vargas por alguns políticos baianos fez surgir uma espécie de agrupamento na Bahia, chamado de “autonomistas”, cujo interesse era de aumentar o poder do Estado e se livrar da política intervencionista de Vargas, além de políticos, atuaram junto ao grupo, intelectuais e alguns advogados que se apoiavam nas leis para defender o sistema liberal e democrático. Ernesto Simões Filho participava dessa corrente e inclusive cedia a sede do jornal A Tarde, para que os membros da “Concentração Autonomista da Bahia” se reunissem. Em 1945, no final do Estado Novo, diversos artigos dessa corrente foram publicados em A Tarde, tecendo críticas ao governo de Vargas e destacando a necessidade de os baianos reaverem o poder político perdido. Passado o período ditatorial do governo Vargas, se percebe que Ernesto Simões Filho apóia geralmente as candidaturas ligadas ao PSD, isso se verifica na eleição de Otávio Mangabeira com a coligação UDN-PSD e com Luis Régis Pacheco, ex-autonomista, na coligação PSD-PTB, sendo que no governo deste último Ernesto Simões Filho consegue ocupar o cargo de Ministro da Educação no regime democrático de Getúlio Vargas. Durante o governo da Bahia no período de Antonio Balbino de Carvalho Filho (1955-1959), eleito pela coligação UDN-PSD-PTB, o fundador do jornal A Tarde vem a falecer. Depois disso o principal opositor de Ernesto Simões Filho, Juracy Magalhães é eleito e exerce mandato de 1959-1963. Chegamos então na candidatura de Lomanto Junior, momento em que o país já esta sentindo demasiadamente a crise política e econômica do pré-1964, vimos até aqui que A Tarde e seu fundador adotou posições em um momento importante da história política brasileira: O governo ditatorial de Getúlio Vargas. O lugar de onde surgiu o político e jornalista Ernesto Simões Filho explica a adoção durante sua vida ao PSD, partido este que
  • 10. juntamente com a UDN, advêm das velhas oligarquias baianas. A Tarde também se caracteriza no mesmo perfil do dono, tentando manter a defesa dos interesses dos oligarcas baianos, porém ao longo da década de 1950 e início dos anos 1960 é partidária de outros segmentos da sociedade. Nas eleições de 1962 na Bahia ao cargo de executivo estadual, encontra-se um clima de tensão política e uma realidade peculiar quanto a configuração dos partidos. O PSD e o PTB, nesse momento lançam seus candidatos ao cargo de governador do Estado, o primeiro partido muito tradicional passa por uma renovação e coloca em suas fileiras políticos com perfil liberal e progressista representados no candidato Waldir Pires, enquanto que o PTB baiano apostava na candidatura de Lomanto Júnior. Diferentemente da conjuntura nacional o PTB baiano passa a ser composto pela burguesia agrária e tinha o apoio da oligarquia o que colocava o partido em sintonia com o PSD nacional, no qual predominantemente fazia parte a velha oligarquia fundiária do Brasil. Por outro lado encontramos no PSD baiano uma base formada por forças populares, organizações sindicais e membros da classe trabalhadora, o que fazia este se alinhar a organização do PTB nacional. Essa mudança interna do PSD baiano, gerando uma base de apoio com um perfil mais popular, muito peculiar a realidade baiana, colocou o jornal A Tarde em posição de mudança. Devido a isso A Tarde, até então pessedista, pois no partido se concentrava as forças mais conservadoras, muda sua postura e passa a apoiar o PTB, como afirma o sociólogo Antonio Sérgio Guimarães: “Foi precisamente em torno da candidatura de Waldir Pires ao Governo do Estado que se aglutinou o conjunto das forças progressistas e populares, assim como o conjunto das organizações sindicais e partidárias da classe trabalhadora. Lentamente, à medida que progride a campanha eleitoral, foi ficando nítida a ambigüidade do apoio a máquina partidária pessedista, controlada pelos velhos caciques como Antonio Balbino e Oliveira Brito, à candidatura de Wadir. Até mesmo um jornal tradicionalmente pessedista como A Tarde vai gradualmente definindo-se pela candidatura oponente. Pode-se dizer que o conjunto da burguesia baiana começa a cerrar fileiras em torno da candidatura de Lomanto Junior, apoiada pela UDN, pelo PTB, pelo PR e pelo PL.” (GUIMARAES, p. 32) Fazendo um apanhado das informações contidas no estudo de Antonio Sérgio Guimarães, percebe-se economicamente que desde sua fundação A Tarde defendeu os interesses das classes dominantes, inicialmente nos anos 1930 a defesa era em torno da burguesia mercantil e da oligarquia baiana, ou seja, grupos ligados a terra e ao comércio, essa estrutura econômica era dominante em quase todo cenário brasileiro. A revolução de 1930 fez ascender à classe média, detentora de um pequeno capital. Nos anos 1950 e 1960 o Brasil
  • 11. possui esse grupo consolidado e surgem o proletariado e o empresariado, advindos do desenvolvimento da industria e da nova realidade econômica que cerca o país. Como afirma o sociólogo Antonio Sérgio Guimarães o interesse de A Tarde se define nos grupos que possam investir na Bahia e na conjuntura dos anos 1960 quem estava ascensão economicamente era o jovem empresariado: “O caráter pequeno-burguês de A Tarde e sua constituição como representante dos interesses da burguesia agrário-industrial evidencia-se no início dos anos 60 quando, com o acirramento das lutas de classe, ela abandona os interesses da oligarquia fundiária e passa a defender a reforma agrária. Isso significava, na realidade, romper com o coronelato que se aferrava às relações de produção ultrapassadas e às práticas improdutivas de renda da terra. Mas significava também garantir a prosperidade daqueles setores do coronelato que começavam a empresariar a terra. Não se deve esquecer que a principal matriz da burguesia era forçosamente a velha oligarquia” (GUIMARAES, p. 72) Percebe-se então a partir da análise do sociólogo que A Tarde no inicio dos anos 1960 rompe com a tradicional oligarquia baiana, este importante segmento que possuía até a metade dos anos 1950 forte representação política. Ernesto Simões Filho foi oriundo desse estrato da sociedade. Tomando como base o estudo de Antonio Sérgio Guimarães e de historiadores como Luis Henrique Dias Tavares e Paulo Santos Silva foi possível traçar um pouco da trajetória política de A Tarde e seu fundador, percebendo o contexto político e econômico baiano dos anos de 1930 a 1960 e também identificando posicionamentos a favor de determinados grupos políticos ligados ao grande latifúndio, e também a segmentos emergentes dentro da sociedade baiana. Sem dúvida isso é de extrema relevância e o primeiro passo para entendermos que esse veículo de comunicação adota e defende posições. No próximo tópico analisa-se propriamente os editoriais de setembro de 1963 a setembro de 1964, destacando, o governo de João Goulart e de Humberto Castelo Branco. 4. Jornalismo de “posição” Como se encontrava o cenário político brasileiro meses antes do Golpe Militar de 1964? Com certeza bem crítico, João Goulart, desde o inicio do regime presidencialista tentava angariar apoio para realização de suas reformas de base e aplicação do Plano Trienal,
  • 12. este último consistia numa serie de medidas que visavam combater a alta inflação do período e ao mesmo tempo favorecer o crescimento econômico. Apesar da tentativa de conter a inflação, o resultado do programa foi o crescimento desta no ano de 1963 e a estagnação econômica. Esse fato repercutiu mal para todos os segmentos da sociedade, as classes baixas e altas foram afetadas pela crise e nenhuma desejava ter seu poder de compra diminuído, frente ao aumento exorbitante dos bens de primeira necessidade. Por isso as classes trabalhadoras e também militares de baixa patente reivindicavam aumentos salariais. O contexto de crise política, econômica e social, exacerbado nos momentos finais que antecederam o Golpe Militar de 1964 contribui para a diminuição da importância e da influência de João Goulart frente as suas bases de apoio. A Tarde caracterizado como um jornal de matriz conservadora adotara no referido período uma posição centrista, em relação ao governo de João Goulart, muito semelhante a outro órgão da impressa escrita como a Folha de São Paulo. Ambos variavam em valorizar e criticar através de sua linha editorial as medidas políticas adotadas pelo presidente. Referindo-se ao jornal baiano no editorial de 03-09-1963, A Tarde valoriza Goulart por suspender as atividades do IBAD durante seis meses, instituição que financiava com verbas do governo federal, campanhas eleitorais de candidatos esquerdistas, o contraponto do IPES, outro órgão formado por homens de negócio que também aplicavam capital para campanha de candidatos. Segundo o jornal o motivo da suspensão partia da corrupção do instituto. No transcorrer do mês de setembro de 1963 A Tarde tece criticas muito contundentes ao governo de João Goulart, principalmente ao posicionamento do presidente que não estava nem mais satisfazendo as suas bases de apoio. Em dois editoriais de 10-09-1963 e 19-09- 1963, intitulados de Quebra Cabeças e Rumos Incertos, A Tarde relata a falta de apoio ao governo federal e traça a situação política na qual o presidente se encontrava, abordando o conflito com o Senado, o fracasso do Plano Trienal, as constantes greves e troca de ministros. A falta de apoio político é bastante enfatizada nos editoriais, como segue abaixo: “Afirmando isto, não se está mais que divulgando o estado geral de espírito de toda a Nação. E, como ninguém entende o governo federal, paga ele o pesado tributo de não ter a confiança de quase ninguém, hoje em dia. Até seu partido, vez por outra, se insurge contra o sr. João Goulart, apesar de o presidente da República, além de titular do mais alto posto do País ser também presidente daquela agremiação.” 10- 09-1963
  • 13. Em outro momento também é analisado o mesmo aspecto: “Com isso, começaram a desagregar-se as hostes janguistas. Rarearam dificilmente seus companheiros por assim dizer de fé, os mais cegos partidários de ontem já esboçavam criticas e queixas, até abertamente.” 19-09-1963 Os editoriais citados acima com os títulos bem sugestivos já demonstram o pensamento do jornal em relação a situação do governo federal. O Quebra Cabeças, pode ser entendido como um governo desmantelado que precisava se organizar enquanto que Rumos Incertos indicava a falta de projeto e de uma política segura do governo. Essa situação no pré- 1964, ocorria, a base de apoio que realmente Goulart necessitava estava se esvaindo. Basicamente existiam segmentos da sociedade brasileira que deveriam apoiar Goulart para que este pudesse governar, porém as políticas adotadas pelo presidente não agradavam os centristas que presenciaram a ineficácia do Plano Trienal, a inflação exorbitante, a estagnação econômica e ainda não viam com bons olhos a mobilização política dos trabalhadores urbanos e rurais, enquanto isso, grupos mais conservadores como: “Os proprietários rurais, por exemplo, tentavam convencer eleitores da classe média nas cidades de que uma emenda constitucional permitindo indenização em títulos, ao invés de em dinheiro, pelas desapropriações de terras seria um atentado a todo o principio da propriedade privada” (SKIDMORE, p. 316) Essa idéia passou a ser tão difundida que realmente assustou grande parte dos brasileiros, naquele momento para encontrar apoio do centro, era necessário conter a crise econômica, experiência que naquela altura já havia fracassado, enquanto que manter as “esquerdas”, significava levar adiante o projeto das reformas de base, sem ser muito radical para não afastar os centristas. A propaganda dos proprietários rurais aliada ao temor surgido a partir da proposta de reformas de base, destacando principalmente a reforma agrária, além dos discursos da esquerda radical que pareciam buscar direitos além da Constituição, resultou no afastamento de uma classe média e também de centristas (fundamentais para Jango se manter firme no poder), já que o mundo estava polarizado como bem coloca o autor Francisco Carlos Teixeira da Silva em seu artigo A Modernização Autoritária: “A eclosão da guerra fria, a associação entre ‘mundo livre’ e ‘capitalismo’, assim como a questão da terra como ponto central da Revolução Cubana, serviram para consolidar, junto a milhares de brasileiros, a idéia de intocabilidade da propriedade privada, mesmo que reconhecidamente injusta e herdeira de ‘quatro séculos de latifúndio’. O seu pretenso caráter iníquo seria apenas o pretexto através do qual os comunistas, sob os mais diversos matizes, poderiam iniciar a coletivização do país.
  • 14. Assim não tratava de discutir esse ou aquele modelo de desenvolvimento econômico, e sim de garantir um principio que estava em risco: a propriedade privada”. (SILVA, F. p. .361) Apesar de discursos de radicais e da grande propaganda difundida que Jango tentava aplicar um Golpe, A Tarde permanece como defensor da legalidade democrática do governo, porém tece muitas criticas ao presidente durante o mês de setembro de 1963, basicamente girando em torno da falta de posicionamento e da ineficácia política exercida por Goulart. O jornal baiano identifica-o como jogador político, já que este tentava agradar a todos, colocando, por exemplo, diversos ministros de base conservadora e moderada e causando instabilidade no governo, o fato que causa maior irritação de A Tarde no período é justamente a constante troca de ministros feitas pelo presidente. Como segue: “Jamais se teve um governo afirmativo, nem se deixou um ministério, as mais das vezes inviável de nascença, criar raízes necessárias para a realização de um programa administrativo.” 19-09-1963 Percebe-se que A Tarde através dos editoriais não exerce somente a opinião, mas sugere e cobra medidas políticas, principalmente por parte do presidente. Como afirma Emiliano José a imprensa é partidária porque tem um programa a defender, em relação A Tarde o programa se define como afirma Antonio Sérgio Guimarães na defesa da ordem e do sistema federativo, inclui também nesse pacote os investimentos que possam ser levados a Bahia. Em editorial de 21-09-1963 o jornal baiano critica a negação do Ministério da Fazenda em conceder investimentos ao cacau da Bahia além de destacar a falta de apoio do presidente aos baianos, este não sabendo reconhecer os seus aliados. Como segue na seguinte afirmativa: “É – ironia das coisas de política – o presidente acabava de receber um firme apoio do governador baiano contra os que visivelmente tramam contra seu legitimo mandato.” “Aliado” este como Lomanto Junior que segundo o jornal dava apoio ao governo federal, como consta em editorial do dia anterior: “...seu apoio ao presidente da Republica quando não tem, como agora, conotações de personalismo ou vesquice partidária, reveste-se do sentido mais alto de sustentação da autoridade constituída e se confunde com os melhores ensinamentos da democracia e com os interesses nacionais.” 20-09-1963 Por trás das bases de apoio de Lomanto Junior, estava A Tarde que durante as eleições de 1962 ao governo do Estado, passou a ser petebista como a maioria da sociedade baiana de base conservadora. Adotando uma linha de governo moderada o governador da Bahia pode ser identificado no período como:
  • 15. “Equilibrista político, na boa tradição do PSD nacional, ao qual formalmente não pertencia, Lomanto procurou atuar, durante os doze meses de sua gestão que antecederam o golpe de 1964, como um ‘algodão entre os cristais’, amortecendo os atritos entre os Magalhães e Jango, o lacerdismo e o trabalhismo, a UDN e o PTB” (FERREIRA, M. p. 3) A Tarde em seu tom moderado, tece varias criticas ao presidente, porém como jornal não se posiciona radicalmente contra João Goulart, já que naquele momento os ânimos estavam bem elevados, o fato de ser extremado poderia afetar grande parte do público leitor. Em torno dos apontamentos feitos a deficiência do governo de Jango, existia a esperança de melhora, visto que grande parte dos editoriais de setembro de 1963 ocorre a cobrança de posicionamento, frente a política indecisa de Goulart para que este se firme como líder da Nação. Isso pode ser entendido a partir da defesa que A Tarde faz a legalidade. Apesar das criticas ao presidente, o jornal permanece defensor das instituições democráticas, e não deseja que extremistas radicais ocupem o poder. Como pode se verifica a seguir: “Quem vê de perto o clima de sobressalto em que vivem os poderes constituídos da Nação sabe que chegou a hora do basta para ação impatriótica dos que desejam o poder ao preço mesmo da miséria nacional.” 20-09-1963 Em seu editorial de 20-09-1963 intitulado Pela Legalidade, percebe-se a causa que o jornal defende: “Ainda ontem comentávamos que chegou a hora de se fortalecerem os poderes constituídos da Nação, para que não caiamos no abismo de um golpe ou de uma revolução.” Defendendo, portanto a legalidade democrática, A Tarde se posiciona contrario a qualquer outro regime. Dentro da conjuntura dos anos 1960 isso significava defender a democracia dentro da ordem capitalista, já que naquele momento o mundo estava polarizado, entre o “Ocidente capitalista” e o “Oriente socialista”. Em relação ao Brasil existia um grande temor quanto a implantação de um regime baseado no socialismo, esse fato era reforçado pelo discurso e ações da esquerda radical representada nos movimentos de massa que possuíam componentes comunistas. Percebe-se que durante os seis meses que antecederam o golpe militar no Brasil, A Tarde, permanece com seu discurso anti-comunista. Críticas são feitas aos governos internacionais como o de Mão Tse Tung: “Diz o sr. Mão Tse que uma guerra atômica destruiria ‘apenas’ metade do gênero humano. E que, depois dela, esgotados todos os estoques de morte por desintegração, a humanidade se refaria, atingindo, poucos anos além, a cifra de 2 bilhões e meio de almas. Dois bilhões e meios que seriam dominados pela ideologia comunista...” 01-10-1963
  • 16. Em relação ao governo cubano: “Pretendendo livrar-se de más administrações e na esperança de verem sanados todos os males que afligiam a sua pátria, os cubanos apoiaram, de boa fé, a Fidel Castro, nas suas guerrilhas. No fim, dominados e traídos em seus ideais pelo caudilho vermelho, perderam a sua liberdade, vendo a democracia substituída, a força, pela ditadura.” 28-02-1964 O anti-comunismo de A Tarde, ainda é visto na crítica feita a URSS: “[...] a Rússia ainda sofre as misérias de tantos anos de horror . E ainda continua sendo o mesmo Estado ditatorial, que só consegue extrair produções na cidade, do operariado urbano, que está bem perto do tacão das tropas.” 12-10-1963 A realidade brasileira também é mencionada, na qual existia o Partido Comunista na ilegalidade e os membros comunistas infiltrados nos movimentos de massa. Portanto dentro do cenário da Guerra Fria, A Tarde, explicitamente mostrava sua posição ao criticar os principais países representantes do socialismo internacional, em editorial de 25-01-1964, o jornal baiano se irrita com o financiamento do governo em apoiar um Congresso internacional de trabalhadores comunistas, organizado pelo C.G.T, fato que segundo A Tarde, só traria mais agitação ao quadro de instabilidade política do país. Segundo o mesmo esse movimento de massa dos trabalhadores estaria dominado por lideres comunistas e pelegos que aderiam as organizações somente para tirar proveito próprio. No seguinte trecho do editorial isso pode ser verificado: “Quem representa os trabalhadores brasileiros neste congresso? Os dirigentes da C.G.T. Esta sigla demonstra que espécie de pessoas se dizem porta-vozes dos trabalhadores – trabalhadores que jamais viram. Grimpados desta organização ditatorialmente, sem se submeterem a um processo democrático de escolha, significam os dirigentes da C.G.T. a nata do comunismo e peleguismo nacional. Isto é, o que de natureza é mais afastado do real trabalhador brasileiro” Para um jornal centrista como A Tarde os movimentos de massa não eram bem vistos, já que possuíam uma forma muito agressiva de negociação, a CGT, por exemplo, costumava pressionar o governo através da realização de grandes greves o que agravava a situação econômica e o temor da população em relação ao grande poder de mobilização do grupo. Para o jornal baiano o que mais incomodava era justamente o diálogo que o presidente João Goulart tentava manter com esses grupos radicais, muitos com integrantes comunistas, fato que afastava cada vez mais a opinião centrista em torno do presidente. Em editorial de 24-02- 1964, intitulado Suicídio, o jornal baiano critica a tentativa do governo federal de colocar o
  • 17. Partido Comunista de volta a legalidade, os argumentos surgidos partem da Constituição que veda a organização ou partido que contrarie o regime democrático, em linguagem médica A Tarde faz sua crítica: “O que se pretendeu com a medida, foi promover a defesa da democracia. Esta não pode inocular no seu organismo o germe da própria destruição. Seria absurdo – por analogia – que qualquer pessoa introduzisse no seu organismo os agentes carreadores da doença.” O fato de colocar na ordem legal um partido que defende outro regime seria para o jornal baiano um ato contraditório e suicida. Nos meses que se seguem, A Tarde continua criticando o governo de João Goulart sempre o colocando como jogador querendo atuar em todas as bases. Em editorial de 02-10- 1963, intitulado, Definam-se as reformas, o jornal cobra posicionamento do presidente na definição da maneira de se fazer as reformas de base. Como segue no trecho abaixo: “Esta indefinição dos homens, dos líderes que tinham, por isso mesmo, dever de comandar a opinião de seus liderados e, por via de conseqüência, da opinião pública, é que esta levando este país a um abismo de desencontros, a uma descrença generalizada nas autoridades e nos poderes constituídos” Em alguns editoriais de outubro e novembro de 1963 percebe-se um bom posicionamento em relação ao governo federal, em editorial de 04-10-1963, o jornal baiano critica a entrevista concedida por Carlos Lacerda a um jornal estrangeiro, no qual o governador da Guanabara considerado de extrema direita critica o governo de João Goulart ligando-o a grupos comunistas. A Tarde entende que o governo do presidente é deficiente, mas não valoriza as criticas feitas por Lacerda, por estas colocarem em cheque a autoridade das instituições. O jornal baiano ainda afirma que algumas críticas foram injustas, como consta na afirmativa seguinte: “Desmandando-se em criticas, algumas justas, outras injustas, ao governo federal o chefe do executivo da Guanabara causou o que se pode chamar de alto prejuízo ao Brasil e atentado a nossa boa fama nacional.” Em outros editoriais A Tarde valoriza a fala do ministro da fazenda em solucionar os problemas econômicos do Brasil: “Como paliativos, e não mais que isto, não se pode negar eficácia as medidas que o sr. Carvalho Pinto se disse disposto a adotar. Reconfortada com as palavras tranqüilizadoras do ministro, a Nação passa a aguardar os efeitos dessas providências, anciosa que está para que restaure o equilíbrio econômico e financeiro.” 26-10-1963
  • 18. O governo também é valorizado pelo jornal em relação a entrevista concedida por Goulart a uma revista carioca, no qual é feita uma avaliação dos pontos positivos: “E essas conclusões positivas existem. Isto porque, sem prejuízo do que merece, na parte política, a posição do presidente Goulart, o pensamento reformista que ele defende naquele documento merece atenção especial e é uma clara e valiosa contribuição à luta pelas reformas de base, de que tanto nosso país precisa.” 26-11- 1963 Dentro da grande quantidade de editoriais analisados, somente alguns valorizam o governo presidencial ou adotam um tom moderado de crítica a João Goulart. E porque mesmo assim pode ser afirmado que A Tarde adota uma posição de centro no referido período? Simplesmente devido às posições extremadas do pré-1964. Quando Carlos Lacerda pertencente a extrema direita tece criticas muito contundentes ao presidente, A Tarde vêem em defesa de João Goulart criticando o tom extremado do governador da Guanabara. Também percebe-se quanto ao otimismo de A Tarde frente as declarações do ministro da fazenda e a possível implementação das reformas de base, além de que suas próprias criticas ao presidente, se define mais por uma cobrança de posição, ou seja, de uma política clara que defina seu grupo e/ou sua base de apoio. Em outubro de 1963 um fato que é duramente criticado por A Tarde é a solicitação do presidente pelo Estado de Sitio, em três editoriais, o jornal baiano narra a solicitação. Como conta abaixo: “Funda-se em todas essas razões a inconformidade com o pedido de ‘sitio’ Não se vê a que ele será útil. Não se enxerga no presidente um homem que possa conduzir- se com acerto e a firmeza, que até hoje não encontrou, quando tiver nas mãos poderes multiplicados.” 07-10-1963 A revogação também é citada: “Como que interessado em por lenha na fogueira de agitação que consome o país, o governo federal nos da um triste exemplo de irresponsabilidade.[...] Em resumo manda ao Congresso a proposta de uma medida extrema, com base em fatos que anuncia graves, e pouco depois recua, negando já a gravidade da conjuntura que ele próprio tinha pintado com nuvens carregadas e ameaçadoras.” 09-10-1963 Como bem avaliou A Tarde, a medida visava conter as manifestações políticas violentas, só que naquele momento confiar poderes extraordinários a Goulart era algo difícil, já que o pedido de Estado de Sitio possuía uma conotação ambígua, ou seja, qualquer grupo
  • 19. político poderia interpretar a medida como instrumento de repressão. Com a implantação da medida as esquerdas e direitas extremadas, poderiam ser alvo da violência repressiva, e os centristas vitimas de um golpe, como bem destaca A Tarde, em seu editorial de 09-10-1963. O temor de um golpe crescia na medida em que Goulart se aproximava da esquerda radical, no mês de dezembro de 1963, a suspeita aumenta por causa da cogitação de substituir Leonel Brizola por Carvalho Pinto no cargo de Ministro da Fazenda. A Tarde condena a ação em editorial de 12-12-1963, intitulado, O menos indicado, no qual explicitamente se posiciona contrario a indicação de Brizola: “Nestes tempos explosivos, que fará o governo? Será possível que tente tirar do posto um homem equilibrado, conhecedor profundo de finanças, que traz consigo tradição de bom senso administrativo – para substitui-lo por um famoso agitador...” Em 20-12-1963, o jornal também crítica o troca-troca de ministros e faz referência a substituição de Carvalho Pinto: “Um elemento ainda mais alarmante se juntava aos rumores já de si incríveis: o sr. Carvalho Pinto seria substituído pelo principal agitador das esquerdas: o sr. Leonel Brizola” A aproximação de Goulart com a esquerda extremista com certeza gerava temor por parte de A Tarde que novamente sugere e opina sobre a constante troca de ministros, como defensor da legalidade democrática seria contraditório apoiar um radical de esquerda que através do seu discurso parecia querer romper com a ordem democrática. Outro ponto importante que A Tarde defende no período é a realização de investimentos na Bahia e maior autonomia do Estado no que se refere a política e as finanças. Em editorial de 13-12-1963, o jornal baiano defende o projeto de lei que cobra o imposto sobre vendas e consignações de acordo com os consumidores e não produtores dos estados, segundo A Tarde, são benefícios a Bahia, pois a cobrança anterior era injusta, além disso cobra a aprovação do presidente para a implantação da medida. Em outros editoriais critica a dependência econômica dos estados em relação ao governo da União: “Hoje, a quase unanimidade dos estados brasileiros não conseguem manter uma posição independente, muito menos oposta ao poder central. Faze-lo é votar-se ao insucesso, à miséria sobre todas as formas. Assim, com os cordéis da política de ajuda econômica e financeira o governo central dirige os governos estaduais ” 21- 01-1964 Quando se trata de trazer vantagens ao nordeste e especialmente a Bahia o jornal passa a defender com mais veemência o político João Goulart, como no exemplo da visita do
  • 20. presidente ao Estado para verificar a destruição causada pelas enchentes no interior. Isso pode ser verificado no trecho abaixo: “E reforça com sua presença a esperança de que o crédito que abriu e as providencias que determinou não tiveram o caráter de demonstrações pró-forma, mas foram medidas realmente para valer.” 27-01-1964 Devido constar em seus editoriais sempre a defesa da autonomia e de maiores investimentos a Bahia, percebe-se que é em torno da política dos governadores que A Tarde faz sua defesa aguda, tradicionalmente a favor do autonomismo baiano defende a posição do governador Lomanto Júnior ao promover uma reunião no Palácio Rio Branco, no qual o governador: “[...] buscava encontrar soluções para duas ordens de problemas, primeiro esvaziar o impacto da proposta de reformas de base do presidente Goulart, transferindo para a esfera estadual as decisões relativas a sua implementação ou não; assim como restabelecer as bases da estabilidade política e da governabilidade através do fortalecimento dos estados e municípios, o que retiraria a presidência da República do centro da controvérsia acerca daquelas reformas. Mas, tratava-se também de restaurar uma proposição histórica do autonomismo baiano, fortalecendo no seio da UDN as posições do grupo politicamente mais moderado vinculado ao falecido governador Otávio Mangabeira.” (FERREIRA, M. p. 3) Em editorial de 27-02-1964 o jornal baiano apóia a reunião dos governadores que buscam maiores investimentos para os estados: “A importância desse encontro, já salientada e, por si só avaliada pela expressão dos seus participantes [...] O tema-central que nos proporcionará a presença de tão ilustres visitantes, a melhor distribuição das rendas federais, para desafogo e maior autonomia estadual [...]” Para angariar apoio do governo da União, A Tarde, sempre coloca o discurso da desigualdade regional para receber recursos, seja fazendo referência as secas ou a falta de desenvolvimento tecnológico. No inicio de 1964, a situação política-econômica-social brasileira já esta bastante agravada. As classes sociais bastante definidas, a direita rejeitando as Reformas de Base, principalmente a reforma agrária e angariando apoio da classe média e da burguesia reformista, além de possuírem aliados dentro das Forças Armadas e dos EUA que tramavam o Golpe Militar. Enquanto que as esquerdas estavam muito divididas e fragmentadas. Essa realidade fez com que João Goulart se aproximasse cada vez mais das forças populares e da esquerda extremada, porém tendo relativo apoio desse segmento da sociedade o presidente
  • 21. ainda encontrava dificuldades para implantação das reformas. Em editorial de 07-02-1964, A Tarde, crítica a demora de Jango na realização da reforma agrária e em 20-02-1964 teme o clima de agitação no campo causado pela invasão de terras e a possível represália por parte dos fazendeiros. Em ambos os editoriais o jornal baiano teme a desordem causada em torno da terra e o crescente aumento do poder da população rural, em se armar e poder causar uma revolução. A Tarde, defende a reforma agrária, porém dentro da ordem, por isso teme a pressão dos movimentos populares e cobra medidas urgentes do governo federal para resolver o impasse da questão agrária. Como segue no trecho abaixo: “Já é tempo dos responsáveis pelos destinos do país – governo, parlamento e dirigentes políticos – oferecerem à Nação a justa solução do problema da terra. Ou as medidas nesse sentido partem das próprias autoridades, por meios pacíficos e legais, ou se correrá o risco de ver a questão entregue à sanha de líderes improvisados, sujeitos de idéias extremadas ou não.” 07-02-1964 A aproximação do presidente com os movimentos de massa, como a organização dos trabalhadores incomoda A Tarde, em editorial de 15-02-1964, o jornal crítica o presidente pelo seu jogo político e identifica que agora o chefe da Nação se vê pressionado pelas massas a aumentar o salário mínimo. Como segue abaixo: “Cabe aqui dizer que, quem planta ventos colhe tempestade. Está, pois, o chefe da Nação no centro do redemoinho que ele próprio semeou. Se colhe frutos amargos, não tem de quem se queixar. Responsabilizado, há muito tempo, como fomentador de paredes, dir-se-ia que agora o feitiço virou contra o feiticeiro.” Apesar de não ver com bons olhos a pressão das massas, em editorial de 25-02-1964 valoriza a medida implantada pelo presidente de aumento de 100% do mínimo: “Medida justa, imposta pelas próprias condições de vida, a da majoração, em cem por cento, dos novos níveis salariais.” Mas é somente mais tarde que o jornal baiano avalia bem as conseqüências do aumento salarial, devido a especulação e a constante elevação dos preços dos bens de primeira necessidade. Nesse momento crítica o governo pela falta de fiscalização em relação aos especuladores. Como segue no trecho: “E mais uma vez, se confirma que a simples decretação, de penada, do novo salário, sem cuidar o governo de medidas complementares que protejam os consumidores contra a ganância desenfreada, é contra producente.” 11-03- 1964
  • 22. Percebe-se então que em torno de determinadas questões A Tarde, defende João Goulart e também o critica. Em editorial de 16-03-1964, valoriza o discurso na praça da Central do Brasil em que Goulart afirma a definitiva implantação das reformas de base, entretanto faz a ressalva de que se deve preservar as instituições democráticas. Como consta no trecho abaixo: “Líder de massas, deve saber o presidente Goulart que a nação não suporta mais ditaduras, que não abre mão de suas conquistas democráticas. Provas disto nos últimos anos não faltam. Deve o presidente se atentar nelas e apontar-lhes seus conselheiros, que não parecem querer ouvir nem ver o verdadeiro espírito do povo brasileiro, que quer reformas dentro da ordem do respeito a democracia, e da liberdade.” Como se pode analisar A Tarde é a favor da política reformista de Jango, porém dentro da ordem, o jornal não deseja o surgimento de outro regime. Depois do discurso na Central do Brasil, o estopim para o Golpe Militar foi a revolta dos marinheiros o que afetou a hierarquia dentro das Forças Armadas. A Tarde, já vinha analisando a situação política e premeditava um possível golpe, em editorial de 17-01-1964 fala das constantes greves de trabalhadores ocorrendo no país o que ocasionava o aumento da crise econômica, além disso, crítica o presidente de está vinculado a esses movimentos e faz questionamentos ao mesmo. Como segue abaixo: Será por exemplo que ainda não enxergou ele que nesse passo só consegue favorecer a candidatura de radicais? Que o povo está cansado dessa inquietação que devora o País? Que por outro lado essa onda de greves só faz criar condições para uma medida política violenta dando razões para os que defendem uma solução golpista para a crise nacional? Em editorial de 31-03-1964, A Tarde faz uma análise correta quanto ao movimento dos marinheiros, destacando que apesar de o presidente reprimir a rebeldia destes, houve um dano irreparável que foi a quebra da hierarquia militar, fato que para o jornal vai desencadear uma crise maior e marcar a vida democrática do país. Na afirmativa verifica-se isso: “Está semana poderá, assim, marcar para o Brasil uma época decisiva, talvez, para a normalidade democrática...” O fato como bem avalia A Tarde, não se encerra em si mesmo e foi o último dos motivos para desencadear a conspiração golpista. Jango fugiu para o Uruguai e não quis resistir, houve poucas tentativas de resistência no Brasil, o que comprova a desunião da
  • 23. esquerda e a fragilidade das organizações de massa que teve logo em seguida seus líderes perseguidos e presos. 5. A Tarde e o Golpe de 1964 Como ficou a imprensa e a sociedade brasileira, logo após o golpe militar de 1964? O poder assumido pelo Supremo Comando Revolucionário, formado por militares moderados e da “linha dura” não sofreu inicialmente qualquer forma de resistência civil, assim como da imprensa escrita. O jornal Última Hora, defensor até o fim do presidente João Goulart foi fechado após a posse de Humberto Castelo Branco. Entretanto a grande imprensa que já vinha de certa forma aumentando as críticas em relação ao presidente deposto, passou a valorizar e defender o regime arbitrário. Em editorial de 04-04-1964 intitulado O Fim do pesadelo e de 07-04-1964 Dinheiro bem gasto, A Tarde explicitamente abraça o golpe dos militares. Defendendo-o com variados argumentos, no primeiro cita a deposição de Goulart e o crítica por esta envolvido com comunistas que tramavam uma revolução bolchevique, principal argumento do jornal para defender o golpe, além disso enobrece os militares por entregar o poder a um civil. Como segue abaixo: “E mais digno ainda de louvor é a desambição de que deram testemunho mais uma vez, quando, ao atingirem, triunfantes, o objetivo, timbraram em respeitar a Constituição, entregando o poder a um civil, o presidente da Câmara Federal, o novo mandatário supremo da nação. A historia recolherá devidamente esse seu gesto.” No segundo defende os gastos exorbitantes do movimento para depor o presidente, necessário segundo o jornal baiano para trazer a liberdade, sem sangue e sem ditadura.Como aponta o trecho abaixo: “Que teria custado mais aos cofres da nação? O movimento militar que derrubou o governo do sr. João Goulart, sem sangue, sem golpe nas instituições políticas, sem implantação de ditadura, sem perda dos direitos constitucionais, ou os movimentos grevistas insuflados e financiados pelo governo que fugiu?” Em ambos percebe-se a aderência total a favor dos militares, inclusive o entendimento de A Tarde é que as Forças Armadas estão promovendo uma Revolução no país, diferente do antigo presidente deposto que foi eleito democraticamente e ameaçava dar um golpe, implantando uma ditadura. Pensamento um tanto contraditório apesar dos argumentos
  • 24. defendidos pelo jornal baiano de que existia uma ameaça real do comunismo, representada por grupos extremistas que o presidente dialogava. Para A Tarde o golpe militar, trouxe a organização, o poder centralizado, a defesa da ordem, diferente do período de Goulart, no qual o governo estava totalmente em desordem. Em editorial de 09-04-1964 enfatiza que o novo governo é seguro e estável e que o empréstimo concedido pelas classes produtoras vai ter uma aplicabilidade responsável. “Seria um empréstimo interno avalisado por um governo estável e responsável, portanto garantido.” Esse entendimento de que A Tarde é um jornal tipicamente de ordem vêem do estudioso Antonio Sérgio Guimarães, este estudo compactua com esse posicionamento e percebe que o jornal baiano defende até o Ato Institucional, quando este visa o combate a lideres extremados da esquerda e possíveis comunistas: “Que o rigor contra o comunismo e seus agentes é a principal preocupação do governo que se irá constituir, dentro em breve, não há duvida. E não é outra coisa que exigem a ordem e a opinião pública” 10-04-1964 A opinião de A Tarde nesse momento se travesti como opinião pública, a “operação limpeza” defendida pelo jornal baiano e surgida a partir do AI3 tem grande destaque nos editoriais, inclusive com alertas a população para manterem uma vigília da paz, visando afastar os cidadãos dos perigos subversivos. Como segue abaixo: “A chamada ‘operação limpeza’ não pode cessar e os democratas, vale dizer o povo brasileiro não podem dormir tranqüilos, enquanto o ultimo reduto, o mais longínquo esconderijo, a mais fraca das células, não for vasculhada convenientemente...” 18- 04-1964 Em outro editorial de 23-04-1964 relata que a agitação do período de governo de Goulart acabou graças a implantação do governo militar. Entretanto em 07-05-1964 adverte ao governo que tenha cautela ao cassar os mandatos, pois isso pode prejudicar a imagem do Brasil no plano internacional como um país ditatorial. Defendida abertamente por A Tarde a operação limpeza conseguiu cassar direitos políticos de 378 pessoas até junho de 1964. O forte anti-comunismo do jornal baiano encontra um instrumento de perseguição através do AI. As medidas anti-inflacionarias adotadas no período contrariaram grande parte da sociedade, mas tiveram resultados efetivos a longo prazo, com a diminuição do índice inflacionário, durante a aplicação destas o custo de vida aumentou e é um ponto que A Tarde critica. Em editorial de 11-05-1964 relata o corte de subsídios de produtos derivados do 3 Assegura ao executivo amplos poderes para suprimir direitos políticos por até dez anos.
  • 25. petróleo, o que termina aumentando o preço da gasolina e conseqüentemente o custo de vida, em outro momento, em 14-05-1964 cobra medidas mais eficientes de combate a inflação por parte do governo e adverte que a situação inflacionaria é terreno fértil para a ação de comunistas. Um aspecto importante que deve ser destacado é a posição de A Tarde em relação a extensão do mandato presidencial de Castelo Branco, foi possível perceber isto a partir da leitura e análise de quatro editoriais específicos sobre o assunto. Em 18-05-1964 ocorre uma desconfiança de que é possível a extensão do mandato presidencial: “Ninguém, honestamente, poderá, com tanta antecedência, afirmar como já insinua – a impossibilidade de eleições normais em 1965” Entretanto em 29-05-1964 existe uma confiança plena no presidente e afirma que com certeza o mandato será cumprido até a data prevista: “Homem de palavra, o marechal Castelo Branco, ao assumir o governo, deixou claro que no dia exato do termino do mandato que iria concluir entregaria o cargo, sem atraso de um minuto, ao seu substituto. E ninguém tenha duvidas. O que disse cumprirá, porque para ele a lei é um dogma.” Em visita a Bahia o presidente Castelo Branco afirma para A Tarde a não extensão do AI, em contrapartida em editorial de 21-08-1964, o jornal baiano não confia plenamente na afirmativa, já que o mandato presidencial foi estendido. Como segue: “O importante, entretanto, não são apenas as palavras. Mais do que elas, os atos. E se o presidente quiser mantida as suas afirmações, deve precaver-se, para que não suceda o que ocorreu com a prorrogação do seu mandato.” No último editorial é possível perceber uma desilusão em torno das expectativas de A Tarde em relação às declarações presidenciais, o momento ainda é de tensão e, portanto ainda possível de ser adotado medidas autoritárias. 6. Considerações Finais O que foi importante considerarmos neste artigo foi justamente o posicionamento de A Tarde referente a algumas questões relevantes dentro dos últimos instantes da crise política brasileira que desencadeou o golpe militar de 1964. Vimos que o jornal baiano apesar de tecer diversas críticas a João Goulart, sempre manteve o tom moderado, nunca se exaltando,
  • 26. desejando ou insinuando que o presidente fosse deposto. Foi defensor até o final da legalidade democrática e por isso podemos dizer que assumiu no referido período uma posição de centro, já que no pré-1964 os posicionamentos eram extremados de crítica ou valorização ferrenha ao executivo federal. Outro fator importante que reafirma esse ponto de vista é sempre a moderação, jornais como o Estado de São Paulo possuía posições totalmente contrarias a João Goulart, enquanto que A Tarde em determinados momentos cobra, sugere e até defende o mandatário da República. O que provoca maior temor de A Tarde, como também dos centristas e da classe média é a situação instável da política brasileira, é a falta de posicionamento do presidente que não possui uma base de apoio consolidada, apesar de dialogar com todos os segmentos políticos e efetivamente não conseguir apoio para realização de suas reformas de base. O momento de crise que passou a sociedade brasileira atrelada a questões internacionais, como o medo comunista, afetou com certeza a imprensa e a população. A Tarde como vimos é totalmente anti-comunista, em diversos editoriais critica os países socialistas e movimentos de massa, muitos deles com integrantes e lideres comunistas. A defesa de A Tarde parte, portanto para a manutenção da ordem capitalista, não se deve alterar o regime vigente, apesar de o mesmo órgão de imprensa ser a favor das reformas e que estas aconteçam dentro da legalidade democrática. Devido a esses fatores e as posições extremadas do período é possível verificar a posição de centro de A Tarde que também se perde na medida em que o presidente João Goulart se aproxima da esquerda extremada ou “negativa”. Com o golpe militar a maior parte da imprensa brasileira assim como A Tarde passa a apoiar o regime, o jornal baiano entende que a intervenção militar surge para sanar os problemas políticos-sociais-econômicos que estavam afetando o Brasil naquele momento. Entretanto acreditava-se ser uma intervenção temporária, em editoriais percebe-se essa ansiedade quando o jornal baiano deseja saber se vai ocorrer a extensão do mandato presidencial e do AI, até então medidas autoritárias temporárias justificadas para acabar com os expurgos da sociedade brasileira. Adotando um regime político centralizado e autoritário A Tarde se satisfaz com a “operação limpeza” que visava expurgar representantes da direita e esquerda extremada, isso na prática eliminava os movimentos de massa organizados e também componentes comunistas.
  • 27. Apesar da Lei de Imprensa ser somente imposta em 1967, os jornais que se posicionaram contrariamente ao regime militar logo após o golpe foram fechados, como o jornal Última Hora. Em momentos de crise política no Brasil é que se podem perceber claramente as posições dos órgãos de imprensa, já que se faz necessário a intervenção no processo político, através da opinião e do convencimento da população, garantindo assim a preservação de interesses bem demarcados. Quando a situação é de estabilidade política é difícil perceber isso, pois a todo o momento, o discurso da imprensa é o da imparcialidade, do jornalismo de “posição”, em que a opinião é encoberta pela informação.
  • 28. Referências BARROS, José D’Assunção. O projeto de pesquisa em História: da escolha do tema ao quadro teórico. 4° ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. BIROLI, Flávia. João Goulart e o golpe de 1964 na imprensa, da transição aos dias atuais: uma análise das relações entre mídia, política e memória. CABRAL, Elisa e CARVALHO, Tanira. Análise do editorial “A defesa de Palocci”, jornal Folha de São Paulo. FERREIRA, Jorge. A estratégia de confronto: a frente de mobilização popular. Revista Brasileira de história. São Paulo, 2004. FERREIRA, Muniz Gonçalves. O golpe de estado de 1964 na bahia. GUIMARAES, Antônio Sergio Alfredo. Formação e crise da hegemonia burguesa na Bahia. Salvador, UFBA, 1982 (revista em 2003 pelo autor) JOSE, Emiliano. Imprensa e Poder: ligações perigosas. Salvador. EDUFBA; São Paulo: Hucitec, 1996. LIMA, Lilian Martins de. Um discurso sobre o Brasil: uma análise do jornal Minerva Brasiliense – Rio de Janeiro (1843 – 1845) LOPES, Luiz Roberto. Uma história do Brasil republica. 3 °ed. São Paulo: Contexto, 2002. MARTINS, Franklin. Jornalismo Político. São Paulo: Contexto, 2005. MATTOS, Sérgio. Mídia controlada: a historia da censura no Brasil e no mundo. São Paulo: Paulus, 2005. MENDES, Guilherme Rodrigues Monteiro. A argumentação nos editoriais jornalísticos. Análise do editorial “Uma prova para todos”. PUC/SP MENDONÇA, Sonia Regina e FONTES, Virginia Maria. Historia do Brasil recente; 1964 – 1992, 4°ed. Editora Ática, 2001.
  • 29. OLIVEIRA, Maria Rosa Duarte de. João Goulart na imprensa: de personalidade a personagem. São Paulo: Annablume, 1993. SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. A modernização autoritária: do golpe militar a redemocratização 1964 – 1984. IN: Maria Yedda Linhares (org.). Historia Geral do Brasil. 9°ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 1990. SILVA, Paulo Santos & ZACARIAS, Carlos (org.). O Estado Novo: as múltiplas faces de uma experiência autoritária. EDUNEB, 2005. SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Getulio Vargas a Castelo Branco: 1930 – 1945. 7° ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. TAVARES, Luis Henrique Dias. Historia da Bahia. UNESP. TOLEDO, Caio Navarro de. (org.). 1964: Visões criticas do Golpe; democracia e reformas no populismo. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1997. Fontes primárias Editoriais de A Tarde (setembro de 1963 a setembro de 1964), disponíveis na Biblioteca Publica do Estado da Bahia, Salvador-BA