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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
  DEPARTAMENTO DE CIENCIAS HUMANAS
  CAMPUS XIV – CONCEIÇÃO DO COITÉ/BA
  CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA




  MÁRCIO ANDRÉ BARRETO DOS SANTOS
         PROFESSOR ORIENTADOR
          ROGÉRIO SOUZA SILVA




Duas visões sobre Canudos




        CONCEIÇÃO DO COITÉ/BA
                2010
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
  DEPARTAMENTO DE CIENCIAS HUMANAS
  CAMPUS XIV – CONCEIÇÃO DO COITÉ/BA
  CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA




  MÁRCIO ANDRÉ BARRETO DOS SANTOS
         PROFESSOR ORIENTADOR
          ROGERIO SOUZA SILVA




Duas visões sobre Canudos


                          Artigo apresentado ao Curso de
                          graduação da Universidade do
                          Estado da Bahia, Departamento de
                          Educação – Campus XIV – curso
                          Licenciatura em História, como
                          requisito final de avaliação do
                          Curso Licenciatura em História.




        CONCEIÇÃO DO COITÉ/BA
                2010



                                                             2
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
                DEPARTAMENTO DE CIENCIAS HUMANAS
                CAMPUS XIV – CONCEIÇÃO DO COITÉ/BA
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                MÁRCIO ANDRÉ BARRETO DOS SANTOS




            Duas visões sobre Canudos


Artigo aprovado em ______/_____/_____ para obtenção do título de Licenciatura em
História.

Banca Examinadora:




                      _________________________________
                              Rogério Souza Silva


                      _________________________________
                                  Convidado


                      _________________________________
                                  Convidado




                                                                                   3
SUMÁRIO


1 RESUMO..............................................................................................................................................4

2 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................5

3 CANUDOS: DUAS VISÕES, UM ÚNICO OBJETIVO..................................................................6

           3.1 Mudanças estruturais e mudanças políticas..........................................................................6
           3.2 Canudos ao olhar dos militares.............................................................................................8
           3.3 O estranho sertão e seus habitantes....................................................................................10
           3.4 um viés militar e o desabafo de Dantas...............................................................................11
           3.5 Conselheiristas.....................................................................................................................14
           3.6 Controvérsias e silêncios.....................................................................................................16
           3.7 Despesas..............................................................................................................................18

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................19

5 BIBLIOGRAFIA...............................................................................................................................22




                                                                                                                                                          4
Duas visões sobre Canudos


                                                                  Márcio André Barreto dos Santos1

Resumo

O artigo Duas visões sobre Canudos, analisa três obras de dois altos oficiais do Exército, que
estiveram na última campanha para a destruição de Antonio Conselheiro e sua urbe, para
tentar compreender a Guerra de Canudos em algumas de suas particularidades, extraindo de
suas obras como o Exército posicionou-se frente a esse movimento no sertão baiano e, o que
esse posicionamento influiu nas obras de Dantas Barreto e Macedo Soares, para poder
entender o grau de violência que fora empregado contra Canudos.


Palavras-chave: Exército, Canudos, conselheiristas, conflito, revisão




1
 Estudante de Licenciatura em História da UNEB – Campus XIV – Conceição do Coité - Bahia. Correio
eletrônico: Barreto-ba@hotmail.com


                                                                                                     5
INTRODUÇÃO

        As tensões vividas pelo país durante o governo de Prudente de Morais (1894-1898)
deslocaram-se para o nordeste da Bahia. Após três tentativas frustradas de derrotar Antônio
Conselheiro, organiza-se, a partir de meados de 1897, um grande contingente militar liderado
pelo general Arthur Oscar. Sem dúvida, Canudos naquele determinado momento significava
para as forças legais o inimigo que poderia derrubar o regime Republicano.

        No intuito de abrir novas possibilidades de interpretações sobre esse acontecimento, o
presente artigo analisa a obra de dois oficiais do Exército, que estiveram na campanha para a
destruição de Antonio Conselheiro, escrita logo após a hedionda carnificina, com o objetivo
de elucidar e se compreender a Guerra de Canudos em algumas de suas particularidades,
extraindo de suas obras como o Exército se posicionou em frente a essa revolta no sertão
baiano e, sobretudo, o que esse posicionamento influiu nas obras de Emídio Dantas Barreto e
Duque-Estrada de Macedo Soares pra poder entender o grau de violência que fora empregado
contra Canudos.

        As obras de Emídio Dantas Barreto2, A última Expedição de Canudos (1898) e a
Destruição de Canudos (1912) e, por último, A Guerra de Canudos (1902) do Ten. Henrique
Duque-Estrada de Macedo Soares3, estes livros desmembram-se em várias vertentes com
muitas possibilidades de estudo, pois tratam em seu conteúdo desde os seus assuntos
burocráticos em torno da constituição da última Expedição passando pelos planos de guerra, a
organização das tropas, as dificuldades com a região e os percalços da guerra e, por fim, a
destruição de Canudos, tudo isto escrito baseado nas experiências diárias e nos relatórios
diários da Expedição.




2
  Emídio Dantas Barreto, Marechal-de-Exército, historiador militar, jornalista, romancista e teatrólogo, nasceu
em Bom Conselho, PE, em 22 de março de 1850, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 8 de março de 1931. Eleito
em 10 de setembro de 1910 para a Cadeira n. 27, na sucessão de Joaquim Nabuco, foi recebido em 7 de janeiro
de 1911, pelo acadêmico Carlos de Laet. Com apenas 15 anos de idade, alistou-se como voluntário na campanha
do Paraguai, onde obteve medalha por sua atuação. Em 1868, foi promovido a oficial. Após o término da guerra,
voltou ao Brasil e fez o curso de artilharia na Escola Militar do Rio de Janeiro. Tomou parte na campanha de
Canudos, tendo sido seus esforços coroados com a promoção a coronel. Em 1910 era General-de-Divisão. Foi
ministro da Guerra de Hermes da Fonseca. Demitiu-se para assumir o governo de Pernambuco (1911-1915),
Estado que o elegeu senador (1916-1918). Reformou-se como Marechal-de-Exército em 1918.
3
  Henrique Duque-Estrada de Macedo Soares, nasceu em Bananal, município de Maricá, Estado do Rio de
Janeiro, em 20 de outubro de 1870 e faleceu em 21 de fevereiro de 1906. Seguiu a careira militar, na qual
alcançou o posto de tenente de artilharia.
Os escritos são de suma importância para o entendimento das questões que envolviam
os interesses do Exército no Brasil do final do século XIX e início do XX. As obras analisadas
constituem-se em uma grande fonte documental da época que nos revela detalhes peculiares
para o estudo e análise da Guerra de Canudos.

       Portanto, o presente artigo não tem a pretensão de suprir tal lacuna, propõe, tão
somente, e muito modestamente, equacionar o problema levantando questões que poderão
constituir-se em abertura pra um exame mais amplo e profundo do assunto.




CANUDOS: DUAS VISÕES, UM ÚNICO OBJETIVO

Mudanças políticas e mudanças estruturais

       Para entendermos algumas das questões que envolveram Canudos no período da
Guerra, temos que retornar a estrutura vigente na época, fazendo uma releitura do seu
contexto. Sobretudo, as mudanças que vinham se processando no bojo da sociedade iam
configurando não somente modificações de tipos estruturais, bem como, a de caráter social.

       Para entender o que era o Exército naquele determinado momento, temos que retomar
a formação de seus militares, que com a Escola Militar, principalmente depois da Guerra do
Paraguai, sem dúvida, foi importante na criação de uma identidade militar, “classe militar”,
principalmente depois da chamada Questão Militar – um incidente entre o governo imperial e
o Exército, envolvendo a discussão do direito que os militares teriam ou não de manifestarem-
se publicamente a respeito de questões políticas ou militares, em que atitudes do governo
imperial foram entendidas por alguns oficiais como um ultraje à honra dos militares – eventos
da Questão Militar se arrastaram de agosto de 1886 a maio de 1887 (Castro: 1995, p. 85).
Mas também na gestação da República e na implantação do espírito científico positivista.

       A Guerra de Canudos foi um episódio que marcou um dos momentos mais
importantes do final do século XIX no Brasil. Com a instauração da República brasileira,
foram acompanhados por significativas alterações no cenário nacional, frutos da nova
realidade política e econômica, que viam com estigmas o seu passado colonial e monárquico
diante dos países europeus, transpor as dificuldades equivalia a igualar à Europa e América do
Norte (industrializadas, saneadas e brancas) e, portanto à civilização.



                                                                                                 7
Conforme Aldo José Morais (2006, p. 155),

                           o novo elemento presente no ideal de civilização encampado pela sociedade
                           republicana reside na exacerbação, por assim dizer, das expectativas em torno da
                           possibilidade de realização dessa nova sociedade, seja quanto às suas conquistas
                           materiais, seja quanto ao seu estilo de vida. De fato, a sociedade – ou pelo menos os
                           segmentos dirigentes e a intelectualidade nacional – viram o advento do regime
                           republicano como sendo uma expressão inicial e concreta da superação do atraso
                           nacional, então associado à condição de nação colonizada e, por extensão, ao antigo
                           regime.




        O teor desta idéia de civilização pode ainda ser aqui caracterizado, observando que
estava associado ao grande entusiasmo provocado pelo desenvolvimento de novas
tecnologias, progressivamente incorporadas ao quotidiano da população como resultado direto
da chamada Revolução Científico-Tecnológico, protagonizada pela Europa por volta de 1870.

        Com a Segunda Revolução Industrial representou um salto enorme em relação à
primeira manifestação da economia mecanizada, sobretudo, como essas inovações invadiam o
cotidiano das pessoas, principalmente no contexto desse outro fenômeno derivado da
revolução, as grandes metrópoles modernas (Sevecenko, 1998, p.10).

        Assim, para a nova elite aburguesada brasileira, as realizações tecnológicas dos
europeus eram vistas como indicador seguro da eficácia do seu modelo e processo de
desenvolvimento, e até mesmo da pertinência de suas crenças sobre a superioridade racial
branca4, conforme Aldo Morais “glorificando seus modelos de vida, seus valores,
identificando-os como civilizados e dispondo-se reproduzi-los como caminha seguro para
alcançar aquela civilidade (Silva: 2006, p.156).

        Outro traço característico do período final do século XIX e início do século XX, o
intenso crescimento dos contingentes urbanos da população brasileira. Essa tendência
demográfica marca o início de um processo que inverteu a distribuição sócio-territorial da
população brasileira. Em termos da fisionomia social das cidades, a conglomeração de
populações adventícias vindas dos mais diferentes lugares aumentava a impressão de


4
  Engajados no empreendimento do nacionalismo ou da expansão imperial, os Estados fabricaram identidades
raciais e étnicas, por meio de classificações oficiais que definiram o lugar de cada grupo perante a sociedade.
O chamado racismo científico ganha corpo nas grandes nações imperialistas e colonialista do mundo. No
Brasil, esse pensamento terá grande influencia desse corpo teórico que em suma tinha índios e africanos como
inferiores, parados no tempo ou condicionados ao atraso social pelo espaço geográfico onde viviam. A elite
brasileira racista dos séculos XIX e XX sonhou promover, com a imigração européia, o branqueamento da
população.


                                                                                                                   8
desordem citadina, provocando uma espécie de mal-estar entre as autoridades e os setores
dominantes (Winssenbach, 1998, p. 91-2).

       Nessa perspectiva, segundo Aldo Morais, talvez a primeira expressão de tal esforço
possa ser identificada no desenvolvimento dos grandes planos de reforma urbanística,
ocorrido entre os últimos anos do século XIX e as primeiras décadas do século seguinte.
Destacando neste período a construção da nova capital mineira, Belo Horizonte (primeira
etapa entre 1894 e 1897), as reformas no Rio de janeiro (1904), Recife e de Belém (entre 1909
e 1913), Porto Alegre (1914) e Salvador (1912 e 1916).

       Na época, já havia preocupações em ordenar o espaço urbano, meio ao caos das
crescentes metrópoles do Brasil, com seus projetos urbanistas de enquadramento de ruas,
avenidas, saneamentos, entre outros. Maria Cristina Winssenbach coloca Canudos como uma
referencia para dimensionar a questão social presente nas cidades brasileiras da época, e de
certa forma prefigurava a explosão demográfica das cidades (Winssenbach, 1998, p. 94).




Canudos ao olhar dos militares

       Quando a 4ª Expedição se depara com a cidade de Antonio Conselheiro causou
espanto a todos, pois as configurações de suas ruas não tinham nenhuma preocupação com
esquadro de ruas e praças, era praticamente uma desordem. O autor Duque-Estrada de
Macedo Soares (1985, p. 90), que participou ativamente da última expedição contra Canudos,
quando as forças federalistas chegam a cinco quilômetros de distancia, descreve-a,

                       Lá estava, colocada em plano inferior às focas a cavaleiro, a temível Cidadela, a
                       lendária capital dos jagunços! À nossa vista deslumbrada, surgia aquele
                       extraordinário amontoado de casas de vários feitios, de cor barrenta e avermelhada,
                       numa caprichosa desordem…




       Dentre tantos, as descrições e os conseqüentes estranhamentos sobre Canudos em seu
aspecto urbano é um dos que mais chama a atenção. Expressões como “núcleo faccioso”
(BARRETO: 1898, p. 13), “urbs monstruosa” (CUNHA: 1950, p. 184), “(...) negro reduto
do fanatismo” (PIEDADE: 2002, p. 55), “o hediondo Canudos” (HORCADES: 1899, p. 25),




                                                                                                             9
entre outras, revelam esses sentimentos. Todos esses olhares formam um amplo conjunto de
expressões que procuraram execrar o Belo Monte5 (Silva, 2006).

         No entanto, viam aquele amontoado de casas e suas duas torres da igreja nova de
modos estarrecidos, admirando-as chegando a ponto de compará-las com as “enigmáticas
pyramides do Egypto” (Barreto: 1912, p.138), a “faustosa Babylonia” (Soares:1912, p.17)
arrancava a cada um presentes uma exclamação de prazer ao vê-la.

        Conforme o autor Dantas Barreto ao analisar a topografia da região, afirma que
Canudos tinha um propósito em estar situada ali, a sede do povo do Bom Jesus Conselheiro
“satisfazia inteiramente os seus intuitos subversivos (Barreto: 1912, p.11). Segundo Macedo
Soares (1985, p. 44) “qualquer força para lá chegar, fosse de qualquer ponto, teria de
atravessar uma região estéril, sem água e nem recursos de espécie alguma…”. Na linha de
pensamento dos autores, a idéia que transparece é que o conselheiro escolheu aquele lugar,
aos seus olhos de difícil acesso, para construir sua fortaleza prevendo os ataques que sofreria
por parte das forças legais.

        Canudos era uma “edificação incomprehensivel” (Barreto: 1912, p. 142), segundo
Euclides da Cunha aquele tipo de “edificação rudimentar permitia à multidão sem lares fazer
até doze casas por dia” (Cunha: 1950, p. 183), sem o menor senso de enquadramento das
ruas, ocasionando uma sensação de desordem citadina. Tudo isto passava despercebido aos
olhos dos conselheiristas que estavam acostumados as estreitas ruas e becos.

        A cidade criada por Antonio Conselheiro e os seus seguidores, denominada de Bello
Monte foi muito hostilizada pelas denominações dos autores, como por exemplo: “cidadella
maldita” (Barreto:1898, p. 68), “cidadella do fanatismo” (Ibid., p. 98), “centro do
fanatismo” (Soares: 1985, p. 89), “reduto infernal” (Ibid., p. 222). Esses aglomerados de
designações procuravam disseminar uma figura maléfica, colocando Canudos como inimigo
do Estado e, consequentemente, de todos os cidadãos.


O estranho sertão e seus habitantes

        Ao se depararem com o sertão baiano, um assombro com a região, Euclides da Cunha
imortalizou a região na sua obra Os Sertões dando descrições da vegetação, clima, entre

5
 Trecho retirado do projeto de pesquisa Terra estrangeira: olhares de jornalistas e militares sobre o sertão da
Bahia durante a campanha de Canudos (2006), do autor Rogério Souza Silva.


                                                                                                                  10
outros, numa linguagem literária. Os autores não escondiam o sentimento de
descontentamento com lugar, denunciavam o clima quente que assolava a todos, a “terra
queimava como uma chapa de ferro candente” (Barreto: 1898, p. 174-5), a “atmosfera de
uma calidez asfixiante” (Soares: 1985, p. 150), todo esse clima de constrangimento com o
sertão pode ser observado no trecho abaixo retirado da obra de Dantas Barreto (1898, p. 41-
2),

                       Os dias nessa região agreste, já tão conhecida pelas descripções publicadas em todos
                       os jornaes do Brazil, tinham para nós a duração de mezes; não parecia estar-se no
                       próprio paiz;


       Nota-se nas suas palavras o sentimento de não pertencimento ao lugar, transparecendo
estar numa terra estrangeira, o autor afirma que nas conversas informais entre soldados e
oficiais dizia-se naturalmente: “– Quando eu voltar ao Brazil farei isto ou terei
aquilo…”(Barreto: 1898, p. 43). Contudo, não podemos esquecer que eram homens, de
lugares diferentes, imbuídos de uma noção de civilização, progresso e modernidade diante de
uma realidade que não atendia aos seus anseios (Silva, 2006), por isto, é evidente o choque
que tiveram ao deparar-se com sertão baiano.

       Entretanto, esse mesmo olhar estendeu-se para toda a região, nada escapava aos seus
olhares, tecendo seus comentários quando passavam a caminho do local do conflito.
Observação sobre as cidades, vilas, arraiais ou fazendas, juntamente com seus habitantes, às
vezes denegriam usando expressão como “pittoresca villa”(Barreto: 1912, p. 48) referindo-se
a Monte Santo, uma das sedes base dos militares a que muito lhe servira.

       Apesar dessas visões deturpadas desses lugares, é importante ressaltar que para a 4ª
Expedição e o seu propósito, esses lugares serviram de pontos de apoio para descanso dos
soldados, organização das tropas, do serviço de fornecimento de alimentos e transporte,
depósitos de munição e de boca, além dos hospitais instalados para cuidar dos feridos.

       Todavia, o sentimento de alteridade que se estendeu para os habitantes destas
localidades, são todos execrando a figura do sertanejo, conforme podemos notar em Macedo
Soares (1985, p. 44) no trecho abaixo,

                       […] Geremoabo, Monte Santo e Uauá, lugarejos pobres, assolados pelas febres de
                       mau caráter, e os habitantes desconfiados, embrutecidos pela ignorância e pelo
                       fanatismo.




                                                                                                              11
Aos seus olhos eram totalmente diferentes dos habitantes do sul, tachados de
“brazileiro primitivo” (Barreto: 1898, p. 42), “physionomia geralmente vulgar” e eram
“exemplares magníficos dessa raça imperfeita” (Barreto: 1912, p. 53). Por tudo isto,
exemplifica muito bem a visão deturpada dos militares em relação aos habitantes do sertão do
norte da Bahia.

       Dentro de uma perspectiva simbólica de pertencimento territorial, esses estrangeiros
no sertão não se sentiam presos ao local, conseqüentemente, visto que esse sentimento de
territorialidade cria barreiras de aceitação, o que contribuiu nas suas visões contra o sertão e
os seus habitantes. No entanto, isto não justifica a violência empregada contra os
conselheiristas, mas, sobretudo, apresentas-se como um fator complicador dentro desse
complexo universo.

       As mulheres não escaparam da visão destes autores sendo descritas como “As
desgraçadas” (Barreto: 1912, p. 284), “repugnantes megeras” (Soares, 1985, p. 212), Dantas
Barreto vai mais além “as mulheres trajavam pobremente e, das suas roupas que não eram
abundantes, exhalava forte bafio de azedo arruinado” (Barreto, 1912, p. 13). Os autores
resumem suas atividades em cuidar dos feridos e crianças, limpar as armas e da “ração” dos
seus maridos. Em alguns casos as mulheres iam às linhas de fogo levar as armas que podiam
recolher dos seus companheiros mortos, algumas morriam como verdadeiras heroínas (Soares:
1985, p. 92).




Um viés militar e o desabafo de Dantas Barreto

       Canudos estava relacionada com o universo político brasileiro, que necessitava de um
inimigo plenamente vigoroso para justificar o açodamento das intervenções, cada vez mais
intensas, envolvendo quase metade das forças militares do Exército e das polícias estaduais.
Sobretudo, segundo Rogério Souza Silva (2001),

                        havia diversos interesses políticos em jogo: pelo governo federal, pelos jornalistas,
                        pelas forças políticas, como os jacobinos, ou mesmos pelos governadores de Estados
                        que estavam fora do eixo de poder central. Esses por último, enviavam tropas para o
                        campo de batalha, em troca de alcançar favores com as unidades mais fortes da
                        federação.




                                                                                                                12
É interessante notar como os autores viam Canudos e a própria situação que o País
vivia no período, o trecho a seguir nos mostra a situação preocupante dos militares,

                       O fracasso e conseqüentemente aniquilamento da brigada às ordens do intemerato
                       coronel Moreira César produziu, como era de prever, grande abalo no espírito do
                       público e o país inteiro agitou-se na eventualidade de mais graves e terríveis
                       acontecimentos, proximamente aguardadas. Canudos, naquela época, constituía o
                       espantalho geral e os mais inverossímeis boatos fervilhavam sobre sua fortaleza, o
                       números de fanáticos e os seus intuitos (Soares: 1985, p. 48).




       O autor está se retratando depois do fracasso da Expedição de Moreira Cesar e o abalo
que isto causou em todo o Brasil e no próprio Exército, afirmando a este estar desfalcado e
mal se refazendo da recente e longa campanha federalista (SOARES: 1985, p.48). Naquele
período rumores já rondavam a capital do País como um movimento cujos fins eram de
derrubar a República recém instaurada, chegando a contar com ajuda de estrangeiros e dos
membros do Partido Monarquista.

       Canudos só tomou grandes repercussões depois da derrota da Expedição Moreira
César foi neste momento que se pode medir “a grandeza do mal que se gerava no organismo
nacional e o governo viu o precipício em que dir-se-ia prestes a tombar o monumento de 89”
(Barreto:1898, p. 11). Naquele determinado momento, Antonio Conselheiro e sua urbe eram
as únicas forças que poderiam derrubar as instituições republicanas do Brasil, aos olhos dos
republicanos.

       O autor Dantas Barreto (1898, p. 158) admite no trecho abaixo seu receio de vê a 4ª
Expedição ser derrotada,

                       E, comtudo, nenhum communicava ao outro as duvida e os receios que lhe
                       assaltavam o espírito: não por si, que desde muito haviam feito abstracção da própria
                       vida, mas pela expedição, pelo exercito e pela Republica, que não supportaria mais
                       um desastre das suas forças em Canudos.



       Como podemos perceber, Dantas Barreto temia que o Exército não suportasse outra
derrota, pois tinha a noção que se a 4ª Expedição não vencesse Canudos, a ruína assombraria
o Exército e seu país que poderia cair nas mãos dos monarquistas. Não esquecendo que neste
determinado momento, havia muitos rumores que os monarquistas estariam por trás de
Canudos ou até mesmo os auxiliando nos combates contras as expedições.




                                                                                                               13
No entanto, segundo Nicolau Sevecenko, a única maneira de justificar a catástrofe foi
atribuir aos revoltosos a imagem de conspiradores monarquistas, decididos a derrubar o novo
regime mantido, organizados e fortemente armados a partir do exterior por líderes expatriados
do regime imperial. Aniquilá-los por completo era, portanto, uma questão de vida ou morte
para a jovem República (Sevecenko: 1996, p. 17).

       Sendo assim, para os militares, lutava-se contra uma pavorosa anarquia, um núcleo de
rebeldes, mas contra os inimigos voltados contra as Instituições Oficiais (República), ainda se
afirmando após o movimento de 15 de novembro 1889, contudo, era preciso submeter aquele
formidável núcleo ao domínio da Lei.

       Neste sentido, a vergonha de terem perdidos em duas Expedições sucessivas para um
bando de sertanejos, aumentara o ímpeto nos combates contra Canudos, isto aliado as baixas
sofridas no seu contingente, as péssimas condições de subsistência que as tropas passaram ao
longo da campanha, o próprio cenário da Guerra, talvez tenha contribuído para o grau de
violência que fora empregado aos conselheiristas.

       O autor Dantas Barreto critica abertamente o Capitão Manoel Benício, correspondente
do Jornal do Commercio, em espalhar notícias inverídicas sobre a 1ª Coluna quando esta
pediu a 2ª coluna ao comando do general Savaget que viesse ao seu auxílio. Segundo o autor,
o Capitão Manuel Benício, “para desabafo de paixões estranhas” (Barreto: 1898, p. 106-7),
transcreveu para o Rio que a 1ª Coluna havia recuado três vezes, antes de chegar a 2ª, o que
realmente segundo Dantas Barreto nunca havia acontecido.

       Apesar disso, objurga o comandante em chefe do Exército pelas condições que a 4ª
Expedição achava-se quando marcharam para Canudos, pois faltava-lhes muitos recursos,
desde remédios até comida. Especialmente, a falta de assistência para com a Expedição que
custaram 13 dias de fome a mercê da sorte na Favela, “E a fome, implacável e negra, a todos
abatendo e definhando desesperados” (Soares: 1985, p. 116). E que isto custara muitas vidas
dos soldados que aventuravam-se na caça de bois, carneiros e cabritos para alimento próprio,
ao mesmo tempo, sendo vítimas dos conselheiristas que os esperavam na caatinga.

       Outra crítica de Dantas Barreto eram os planos de guerra para a destruição da
“Jerusalém dos Fanáticos” (Barreto: 1898, p. 98), segundo o mesmo, “as combinações
apparatosas e cheias de atavios escusados” (Barreto: 1912, p. 158), Euclides da Cunha
afirma que os oficiais eram treinados em Francês, por instrutores belgas, por meio de manuais



                                                                                                  14
belgas com táticas apropriadas pra os territórios dos Países Baixos (SEVECENKO, apud
CUNHA), eram inspirados em fatos das guerras européias, na literatura militar da Rússia, da
França e da Alemanha, e que tudo isto nada valia nas guerras americanas, tinham que ser
puramente originais nas suas táticas e estratégias.




Conselheiristas

       Há um trecho muito interessante na Introdução do livro A Guerra de Canudos, de
Macedo Soares (1985, p. 12), no qual diz,

                        Conhecendo o ódio que nos votavam os jagunços de Antonio Conselheiro, o autor,
                        entretanto, jamais esqueceu que eles eram brasileiros e jamais os denegriu nem
                        ofendeu, quer como homem, quer como combatentes.



       É importante notar que ao longo de sua obra as palavras “fanáticos”, “bandidos”,
“sanguinários” e “pobres diabos”, comparando-os a “touros bravios” e o mais interessante
foi designar os conselheiristas de “grupos de canibais” (Soares: 1985, p. 33), isto é ultrajante
e incompatível com o que a frase acima nos diz, mas, sobretudo, é fundamental ressaltar como
o Ten. Henrique Duque-Estrada de Macedo Soares enxergava os conselheiristas com total
sentimento de desprezo.

       Macedo Soares ao discutir a questão sobre as derrotas sofridas e as conseqüentes
baixas padecidas pelo Exército nas anteriores Expedições, acusa à dificuldade de adaptação
com o ambiente, que era totalmente estranho a tudo que tinham visto. Aliado a tudo isto, foi
decisivo para muitos dos fracassos do Exército o conhecimento de todo o território em volta
de Canudos pelos conselheiristas, que “ocupavam os melhores pontos, os mais elevados, e
entrincheiravam-se nos acidentes naturais do terreno” (Soares: 1985, p. 105). Com certeza o
relevo da região e o clima foi um diferencial poderoso a favor dos conselheiristas que faziam
suas emboscadas trazendo muito prejuízo para a campanha.

       Aliás, não esquecendo o mérito dos conselheiristas em interceptar os comboios, estes
últimos, só se utilizavam das armas e das munições de guerra, o gado era morto e deixavam o
animal intacto, embora fossem exíguos os seus recursos.




                                                                                                         15
Os conselheiristas não saqueavam porque o Conselheiro impunha castigos severos
àqueles que se utilizavam dos despojos dos seus adversários a não ser o que pudesse ser
aproveitado como arma de guerra, conforme Macedo Soares (1985, p. 175),

                       Os jagunços com intransigente fidelidade cumpriam os preceitos do Conselheiro,
                       que lhes proibia em absoluto o saque e o aproveitamento dos elementos do inimigo,
                       a não ser o da munição.



       A caminho do conflito a Expedição encontrou diversas casas destruídas e fazendas
danificadas pelos jagunços, outras estavam destelhadas pelos próprios donos, para se
eximirem dos seus ataques (SOARES: 1985, p. 175). Isto ilustra bem a ação dos jagunços
com o pessoal local que não apoiasse a causa Conselheirista, pregando-lhes castigos.

       Uma dessas ações aplicadas pelos jagunços está descrita no livro de Macedo Soares
(1985, p. 68),

                       Em caminho de Juá para Aracaty, o general-em-chefe teve aviso de que um pequeno
                       grupo de jagunços atava fogo e tentava destelhar a casa da fazendo do coronel José
                       Américo, prestimoso amigo e auxiliar das forças legais. O general mandou seguir
                       para o ponto indicado o seu ajudante-de-ordens, alferes Marques da Rocha, com
                       praça do piquete, que fizeram fugir os jagunços, exceto um, que morreu brigando. O
                       grupo era de 8 a 10.



       Os dois autores descreveram esse mesmo acontecimento e o que divergem entre
ambos é o tamanho do grupo de jagunços, enquanto Macedo Soares afirma ser entre 8 a 10 e
Dantas Barreto fala entre 15 a 20 jagunços. A quantidade de jagunços não importa, mas como
essas construções são feitas, porque motivo aumentaria a quantidade de jagunços, senão para
vangloriar o piquete destacado e/ou ridicularizar as forças de combate dos conselheiristas.

       Entretanto, os mesmos homens imbuídos de uma noção de civilidade, no qual
incumbidos como agentes executores da ordem, na missão de resguardar a lei, invertiam os
papeis igualando-se a muitos arruaceiros, cometeram violência com a população sertaneja,
como podemos notar abaixo,

                       Esse comboio fora entregue a um cabo de esquadra, cuja praça nem ao menos
                       pudera conter os soldados, que nesse trajecto commetteram violências, que
                       afugentaram os poucos moradores da estrada, durante dias (Barreto: 1898, p. 51-2).




                                                                                                            16
Contudo, não esquecendo o embate entre as forças legais e os jagunços de Antonio
Conselheiro em Uauá que após o confronto, antes de se retirarem, os soldados incendiaram o
povoado e saquearam as casas6.

           Outra discussão é sobre o potencial bélico dos conselheiristas, como eles teriam
conseguido suportar os ataques do Exército junto com as forças policias Estaduais. Alguns
militares como Carlos Telles, Macedo Soares e Dantas Barreto acreditavam que as armas
abandonadas pelas Expedições anteriores foram fundamentais para o aumento do potencial
dos conselheiristas. Conforme Macedo Soares afirma que Canudos tinha fornecimento dos
elementos de guerra que vinham de Minas, Bahia e Sergipe, aliado as armas de fabricação dos
conselheiristas (Soares, 1985, p. 46).

           Segundo Angelina Nobre Rolim Garcez (1977), os jagunços contaram com farta
munição, até a batalha final. A mesma afirma que em canudos, em nenhum momento retraiu-
se ou demonstrou precisar poupar munições, “ao contrário, apesar de sitiados, os jagunços
continuaram atacando, esbanjando seu municiamento, como se dispusessem de uma fonte
inesgotável”. Segundo Araripe, os conselheiristas conseguiram fornecedores de armas como
“Coronel Leitão, fazendeiro e comerciante em Santa Luzia, o qual fornecia armas e munições
aos jagunços” (Garcez, 1977 apud Araripe, 1960, p. 44).



Controvérsias e silêncios

           Umas das questões polêmicas que muitos autores e militares divergem é sobre os
números de habitantes em Bello Monte, o autor Macedo Soares afirma que Canudos contava
com 6.000 habitações e estima uma população de 30 ou 35 mil pessoas fanatizadas. No
entanto, esses números são contestados, pois não há um consenso entre os próprios militares
em relação ao número de habitantes e de casas, na obra O Rei dos Jagunços de Manoel
Benício – correspondente do Jornal do Comércio – alega existir ali casas em número de mil.
Já Euclides da Cunha estima uma população de aproximadamente 25 a 30 mil pessoas e 5200
casas.

           No entanto, José Calasans através de seus estudos estimava que houvesse entre 8 a 10
mil pessoas, segundo ele, esse índice populacional teve seu auge na hora da guerra pelo
deslocamento das pessoas para a defesa de Canudos (VILLA, 1998, p. 77). O autor escreve

6
    Fonte Jornal A Tarde, jornalista Oleone Coelho Fontes, 16 de novembro de 1996.


                                                                                                  17
numa perspectiva de dar voz ao vencidos, escrevendo uma história vista a partir de baixo.
Contudo, Segundo Dantas Barreto, após a destruição de Canudos, o número de sinais de casas
do arraial foi verificado existir 5.200 casas.

       O que podemos constatar é que existem muitas controvérsias em torno do número de
habitantes e das construções das casas que, segundo o Coronel Carlos Telles, existiam apenas
1.000 e não 5.000 casas naquela cidade. O coronel Telles procura eliminar as fantasmagorias
criadas pelos jornalistas, políticos e militares em torno de Canudos

       Marco Antonio Villa argumenta sobre esse número elevado de habitantes, afirma que
a contagem pouco criteriosa das casas existentes em Canudos foi ao encontro dos interesses
militares em enaltecer o tamanho da cidade, para justificar o massacre ocorrido e a deslocação
da metade do contingente do exército para o conflito.

       Uma última questão na análise das lutas é a questão da degola dos prisioneiros.
Tomarei uma citação de Euclides da Cunha (1950, p. 542), pois foi o primeiro a denunciá-la
da seguinte maneira:

                         Os soldados impunham à vítima invariavelmente um viva à República, que era
                         poucas vezes satisfeito. Era o prólogo invariável de uma cena cruel. Agarravam-na
                         pelos cabelos, dobrando-lhes a cabeça, esgargalando-lhe o pescoço; e, francamente
                         exposta a garganta, degolavam-na. Não raro a sofreguidão do assassino repulsava
                         esses preparativos lúgubres. O processo era, então, mais expedito: varavam-na,
                         prestes a facão.




       Entretanto, um silêncio paira sobre este determinado assunto nas duas obras de Dantas
Barreto e no livro de Macedo Soares, pois na guerra a degola foi uma prática corriqueira de
ambos os lados, contudo, é muito mais difícil de ser aceita pelos autores militares. Talvez, no
intuito de esconder os crimes que praticaram, para não manchar sua reputação aos olhos da
sociedade, visto que eles representavam a lei e a justiça, que não fora concebida aos
prisioneiros, com exceção dos velhos, mulheres e crianças.




Despesas

       Do ponto de vista econômico-financeiro da guerra, sua execução necessitou,
especialmente na última expedição, de recursos federais e estaduais. César Zama afirma que a



                                                                                                             18
repressão a Canudos custou muito caro ao país: “obrigou o tesouro nacional a despender
milhares de contos e impôs aos cofres estaduais onus que eles não podiam suportar...
deixando o tesouro exausto, com credito esgotado” (Zama: 1899).

         Apesar disso, não faltaram oportunidades para o enriquecimento às custas das
Expedições, principalmente os grandes proprietários de gados e comerciantes, que vendiam
seus produtos a preços altíssimos. Contudo, é claro, existiam casos extremos de danos
materiais causados pelos militares à região, como por exemplo, relatos dos casos de confiscos
de reses que ocorreram em vários momentos para alimentar as tropas. Há um caso, muito
interessante, de um processo datado de 1908, onde a D. Francisca Dantas – proprietária da
fazenda Canudos – apela por meio da justiça para que seja reembolsada o valor das compras
de víveres para a alimentação das tropas. Curiosamente, a proprietária da fazenda chega a
afirmar que o exército causou mais estragos que os próprios conselheiristas.

         Em 05 de outubro de 1897, caíram os últimos combatentes de Canudos, estando tudo
acabado. Eclodiram vivas a República e ao Exército, “assim, estava terminada e de maneira
tão singularmente trágica a sanguinosa guerra, que o banditismo e o fanatismo traziam acesa
por longos meses, naquele recanto do Território Nacional” (Soares: 1985, p. 224). As ordens
eram para que não sobrasse nada de Canudos senão ruínas, “era preciso não deixar uma
parede em meio, uma viga sequer intacta” (Barreto: 1912, p. 291) e, assim o foi executado.

         O autor Dantas Barreto conclui sua obra afirmando que Exército cumpriu o seu papel
“amparou as instituições da República” e “destruiu os elementos subversivos dos longínquos
sertões da Bahia e é a impávida sentinella que vigia attentamente os traidores e os inimigos
da Patria” (Barreto: 1912, p. 300). Entretanto, o mesmo autor, critica os poderes da nação em
não retribuir os militares como deviam depois da destruição de Canudos “trataram com a
freisa de um facto commum na vida da República” (Barreto: 1898, p.112).

         A Guerra de Canudos deixou sepultados dentro de suas cercanias uma parte da história
do Exército, da Bahia e do Brasil. Submersa sobre as águas do Vaza Barris, que em tempos de
seca suas águas baixam, ressurgindo destroços do passado, como se fosse um pedido para que
não nos esqueçamos daquela terrível e horrenda carnificina contra os sertanejos do norte da
Bahia.




                                                                                                19
CONSIDERAÇÕES FINAIS


       A guerra fratricida articulada pelo governo brasileiro em 1897 conta o líder
carismático Antonio Vicente Mendes Maciel – o Bom Jesus Conselheiro – e sua grei
apostólico-sertaneja não apenas aniquilou a cidade de Canudos, sede daquilo que até se pode
denominar de Movimento Conselheirista, mas, principalmente afetou toda a realidade do
sertão baiano (Oliveira: 2006).

       É inegável o papel dos militares como agentes executores das ações políticas
governamentais, bem como, a sua indiferença com os habitantes do sertão que foram
destratados, humilhados. Além disso, os militares representavam a civilidade, moralidade e
justiça, vinham incumbidos de uma noção de civilização a um espaço territorial pouco
desenvolvido e acharam-se no direito de passar por cima de tudo. Mostravam-se muitas vezes
superiores aos conselheiristas e a todos os habitantes daquela região denegriam a imagens
destas pessoas humildes. Portanto, o interesse para a compreensão deste processo colocou no
cerne deste trabalho a discussão sobre a visão do Exército e a influência deste pensamento nas
obras em análise.

       O Exército vivia outro momento na sua estrutura depois da Guerra do Paraguai, mais
politizados e preocupados, dentro de seus próprios interesses, com o destino político do
Brasil. Com a Proclamação da República fruto de um golpe militar e, por isso, os
republicanos precisaram continuar investindo na propaganda objetivando alcançar o coração
da sociedade da consolidação do regime, afinal o novo regime não fora proclamado com a
participação popular.

       Entretanto, era preciso legitimar, justificar e exaltar o novo regime que estava imbuído
com a noção de modernização do país, por isto, a manipulação do imaginário foi uma arma
valiosa para justificar o novo regime e legitimar o seu poder.

       Segundo Von Clausewitz na obra “Da Guerra”, enfatiza que a guerra é um
instrumento político, uma continuação das relações políticas, uma realização destas por outros
meios (CLAUSEWITZ, 1996). Então, quando Canudos aparece no cenário nacional,
manipula-se toda a opinião pública contra Canudos, pois a República precisava de um inimigo
a altura que unisse toda a nação, tornou-se assim, necessário transformar Canudos em um
perigo real para a mesma, justificando certas ações.



                                                                                                  20
O Exército via em Canudos um inimigo a ser vencido, mas, não se pode esquecer as
derrotas das 2ª e 3ª Expedições, em que o algoz vitimado com seu orgulho ferido, buscou
reerguer-se diante de toda a sociedade num esforço para expressar sua força e recuperar seu
prestígio, já que cabia-lhe a defesa da República recém instaurada. Suas derrotas colocavam
em xeque o seu poderio e status, então, sem dúvida, a destruição da urbe de Conselheiro
representava a oportunidade de erigir-se perante toda a nação.

       Dentro dessa perspectiva militar, os autores vão beber direto da fonte e apresentam o
mesmo pensamentos em relação a Canudos, além do mais, estenderam isto a seus habitantes,
subjugavam os sertanejos apelidados de “beatos”, “fanáticos”, “jagunços” e “bandidos”,
entre outros, demonstrando seu desprezo e muitas vezes colocaram-se acima de todos e,
sobretudo, dentro de uma superioridade racial, taxava-os como componentes de uma subraça.
Portanto, os autores naquele espaço e determinado momento eram homens imbuídos de uma
noção de civilização, progresso e modernidade, e viam tudo aquilo como um retrocesso, pois
vinham de capitais urbanizadas que na época eram vistas como modernas.

       O Exército, instituição diretamente envolvida na luta contra Canudos, tem um modo
próprio de entender como se figurava a situação em torno deles. Ele e os seus militares são
responsáveis não só por ter sido o dolo direto pela eliminação de Canudos, como também por
estar ligado, desde o início, à implantação da República, por ser um dos principais sujeitos
dos conflitos políticos daqueles primeiros momentos do novo regime, mas também pelas
funestas denominações sobre Canudos e seus habitantes, pois os militares foram os primeiros
a escreverem sobre o assunto e, é claro, por terem sido formados pela Instituição “Exército”
como Dantas Barreto e Macedo Soares, Euclides da Cunha e muitos outros contribuíram para
o conjunto de expressões que maculam Canudos.

       Por isto, estudar como se formou a opinião da instituição sobre esse significativo
acontecimento é contribuir para o entendimento de um importante agente social e político,
para o entendimento de como ele pensa de si próprio, como pensa o país e sua relação com
ele.
       Resta-nos somente desconstruir esses tipos de visões que distorcem a realidade dos
fatos apresentando-lhes a real intenção para não cairmos nas armadilhas e não reproduzirmos
estas visões deturpadas do que foi o real movimento conselheiristas.




                                                                                               21
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GACEZ, Angelina Nobre Rolim. Aspectos econômicos do episodio de Canudos. Salvador:
Centro de Estudos Baianos da Universidade Federal da Bahia, 1977.

GALVÃO, Walnice Nogueira. O calor da hora: a guerra de Canudos nos jornais, 4ª
Expedição. Ed. Ática S/A. São Paulo, 1994.

MONIZ, Edmundo. Canudos: a luta pela terra. 7ª Ed. São Paulo: Global, 1988.

NERY, A. Constantino. A Quarta Expedição contra Canudos. 2ª ed. Pará, Typ. de Pinto
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NUNES, Favila. Guerra de Canudos: narrativa histórica. Rio de Janeiro, Tipografia Morais,
1898.



                                                                                            22
OLIVEIRA, José Plínio de. Queimadas no contexto histórico e cultural do eixo euclidiano.
Serrinha: Universidade do Estado da Bahia, 2006.

SEVCENKO, Nicolau, Introdução in História da Vida Privada no Brasil – República: da
Belle Époque à Era do Rádio. Vol.3. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

___________. O prelúdio republicano, astúcias da ordem e ilusões do progresso. In.
História da vida privada no Brasil. Vol.3. São Paulo: companhia das Letras. 2004.

SILVA, Aldo José Morais. Instituto Geográfico e Histórico da Bahia: origem e estratégias
de consolidação institucional. Salvador, 2006. Tese (Doutorado em História) Universidade
Federal da Bahia. p. 155-162.

SILVA, Rogério Souza. Antônio Conselheiro: a fronteira entre a civilização e a barbárie.
São Paulo: Annablume, 2001.

___________.Terra estrangeira: olhares de jornalistas e militares sobre o sertão da Bahia
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SOARES, Henrique Duque-Estrada de Macedo. A Guerra de Canudos. 3ª ed. Rio de
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TAVARES, Odorico. Canudos: cinqüenta anos depois (1947). Academia de Letras da
Bahia, 1993.

VILLA, Marco Antônio. Canudos: o povo da Terra. São Paulo, Ática, 1995.

__________. CALASANS: um depoimento para a história. Salvador: gráfica da UNEB,
1998.

WISSENBACH, Maria Cristina Cortez. Da escravidão à liberdade: dimensões de uma
privacidade possível. História da Vida Privada no Brasil. República: da Belle Époque à Era do
Rádio (Nicolau Sevcenko, org.; Fernando Novais, dir.), v. 3. São Paulo: Companhia das
Letras, 2004.

Wolsey (César Zama). Libelo republicano acompanhado de comentários sobre a campanha
de Canudos. Salvador: Centro de Estudos Baianos da Universidade Federal da Bahia, 1899.

Artigo


O fogo de Uauá: estopim da Guerra de Canudos, de Oleone Coelho Fontes, o 5º publicado na
série, na Revista do Exército Brasileiro, vol. 134, 2° trimestre de 1997.

Apelação Cível


BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Indemnização de perdas e damnos por facto das forças
expedicionárias contra CANUDOS. Apellação Civel nº 1526. Apelante: A Fazenda Nacional.
Apelada: D. Francisca Dantas da Silveira Carvalho. Relator Vital H. Baptista soares. Bahia,
18 de fevereiro de 1908.



                                                                                                23

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Duas visões sobre canudos

  • 1. UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE CIENCIAS HUMANAS CAMPUS XIV – CONCEIÇÃO DO COITÉ/BA CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA MÁRCIO ANDRÉ BARRETO DOS SANTOS PROFESSOR ORIENTADOR ROGÉRIO SOUZA SILVA Duas visões sobre Canudos CONCEIÇÃO DO COITÉ/BA 2010
  • 2. UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE CIENCIAS HUMANAS CAMPUS XIV – CONCEIÇÃO DO COITÉ/BA CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA MÁRCIO ANDRÉ BARRETO DOS SANTOS PROFESSOR ORIENTADOR ROGERIO SOUZA SILVA Duas visões sobre Canudos Artigo apresentado ao Curso de graduação da Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação – Campus XIV – curso Licenciatura em História, como requisito final de avaliação do Curso Licenciatura em História. CONCEIÇÃO DO COITÉ/BA 2010 2
  • 3. UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE CIENCIAS HUMANAS CAMPUS XIV – CONCEIÇÃO DO COITÉ/BA CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA MÁRCIO ANDRÉ BARRETO DOS SANTOS Duas visões sobre Canudos Artigo aprovado em ______/_____/_____ para obtenção do título de Licenciatura em História. Banca Examinadora: _________________________________ Rogério Souza Silva _________________________________ Convidado _________________________________ Convidado 3
  • 4. SUMÁRIO 1 RESUMO..............................................................................................................................................4 2 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................5 3 CANUDOS: DUAS VISÕES, UM ÚNICO OBJETIVO..................................................................6 3.1 Mudanças estruturais e mudanças políticas..........................................................................6 3.2 Canudos ao olhar dos militares.............................................................................................8 3.3 O estranho sertão e seus habitantes....................................................................................10 3.4 um viés militar e o desabafo de Dantas...............................................................................11 3.5 Conselheiristas.....................................................................................................................14 3.6 Controvérsias e silêncios.....................................................................................................16 3.7 Despesas..............................................................................................................................18 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................19 5 BIBLIOGRAFIA...............................................................................................................................22 4
  • 5. Duas visões sobre Canudos Márcio André Barreto dos Santos1 Resumo O artigo Duas visões sobre Canudos, analisa três obras de dois altos oficiais do Exército, que estiveram na última campanha para a destruição de Antonio Conselheiro e sua urbe, para tentar compreender a Guerra de Canudos em algumas de suas particularidades, extraindo de suas obras como o Exército posicionou-se frente a esse movimento no sertão baiano e, o que esse posicionamento influiu nas obras de Dantas Barreto e Macedo Soares, para poder entender o grau de violência que fora empregado contra Canudos. Palavras-chave: Exército, Canudos, conselheiristas, conflito, revisão 1 Estudante de Licenciatura em História da UNEB – Campus XIV – Conceição do Coité - Bahia. Correio eletrônico: Barreto-ba@hotmail.com 5
  • 6. INTRODUÇÃO As tensões vividas pelo país durante o governo de Prudente de Morais (1894-1898) deslocaram-se para o nordeste da Bahia. Após três tentativas frustradas de derrotar Antônio Conselheiro, organiza-se, a partir de meados de 1897, um grande contingente militar liderado pelo general Arthur Oscar. Sem dúvida, Canudos naquele determinado momento significava para as forças legais o inimigo que poderia derrubar o regime Republicano. No intuito de abrir novas possibilidades de interpretações sobre esse acontecimento, o presente artigo analisa a obra de dois oficiais do Exército, que estiveram na campanha para a destruição de Antonio Conselheiro, escrita logo após a hedionda carnificina, com o objetivo de elucidar e se compreender a Guerra de Canudos em algumas de suas particularidades, extraindo de suas obras como o Exército se posicionou em frente a essa revolta no sertão baiano e, sobretudo, o que esse posicionamento influiu nas obras de Emídio Dantas Barreto e Duque-Estrada de Macedo Soares pra poder entender o grau de violência que fora empregado contra Canudos. As obras de Emídio Dantas Barreto2, A última Expedição de Canudos (1898) e a Destruição de Canudos (1912) e, por último, A Guerra de Canudos (1902) do Ten. Henrique Duque-Estrada de Macedo Soares3, estes livros desmembram-se em várias vertentes com muitas possibilidades de estudo, pois tratam em seu conteúdo desde os seus assuntos burocráticos em torno da constituição da última Expedição passando pelos planos de guerra, a organização das tropas, as dificuldades com a região e os percalços da guerra e, por fim, a destruição de Canudos, tudo isto escrito baseado nas experiências diárias e nos relatórios diários da Expedição. 2 Emídio Dantas Barreto, Marechal-de-Exército, historiador militar, jornalista, romancista e teatrólogo, nasceu em Bom Conselho, PE, em 22 de março de 1850, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 8 de março de 1931. Eleito em 10 de setembro de 1910 para a Cadeira n. 27, na sucessão de Joaquim Nabuco, foi recebido em 7 de janeiro de 1911, pelo acadêmico Carlos de Laet. Com apenas 15 anos de idade, alistou-se como voluntário na campanha do Paraguai, onde obteve medalha por sua atuação. Em 1868, foi promovido a oficial. Após o término da guerra, voltou ao Brasil e fez o curso de artilharia na Escola Militar do Rio de Janeiro. Tomou parte na campanha de Canudos, tendo sido seus esforços coroados com a promoção a coronel. Em 1910 era General-de-Divisão. Foi ministro da Guerra de Hermes da Fonseca. Demitiu-se para assumir o governo de Pernambuco (1911-1915), Estado que o elegeu senador (1916-1918). Reformou-se como Marechal-de-Exército em 1918. 3 Henrique Duque-Estrada de Macedo Soares, nasceu em Bananal, município de Maricá, Estado do Rio de Janeiro, em 20 de outubro de 1870 e faleceu em 21 de fevereiro de 1906. Seguiu a careira militar, na qual alcançou o posto de tenente de artilharia.
  • 7. Os escritos são de suma importância para o entendimento das questões que envolviam os interesses do Exército no Brasil do final do século XIX e início do XX. As obras analisadas constituem-se em uma grande fonte documental da época que nos revela detalhes peculiares para o estudo e análise da Guerra de Canudos. Portanto, o presente artigo não tem a pretensão de suprir tal lacuna, propõe, tão somente, e muito modestamente, equacionar o problema levantando questões que poderão constituir-se em abertura pra um exame mais amplo e profundo do assunto. CANUDOS: DUAS VISÕES, UM ÚNICO OBJETIVO Mudanças políticas e mudanças estruturais Para entendermos algumas das questões que envolveram Canudos no período da Guerra, temos que retornar a estrutura vigente na época, fazendo uma releitura do seu contexto. Sobretudo, as mudanças que vinham se processando no bojo da sociedade iam configurando não somente modificações de tipos estruturais, bem como, a de caráter social. Para entender o que era o Exército naquele determinado momento, temos que retomar a formação de seus militares, que com a Escola Militar, principalmente depois da Guerra do Paraguai, sem dúvida, foi importante na criação de uma identidade militar, “classe militar”, principalmente depois da chamada Questão Militar – um incidente entre o governo imperial e o Exército, envolvendo a discussão do direito que os militares teriam ou não de manifestarem- se publicamente a respeito de questões políticas ou militares, em que atitudes do governo imperial foram entendidas por alguns oficiais como um ultraje à honra dos militares – eventos da Questão Militar se arrastaram de agosto de 1886 a maio de 1887 (Castro: 1995, p. 85). Mas também na gestação da República e na implantação do espírito científico positivista. A Guerra de Canudos foi um episódio que marcou um dos momentos mais importantes do final do século XIX no Brasil. Com a instauração da República brasileira, foram acompanhados por significativas alterações no cenário nacional, frutos da nova realidade política e econômica, que viam com estigmas o seu passado colonial e monárquico diante dos países europeus, transpor as dificuldades equivalia a igualar à Europa e América do Norte (industrializadas, saneadas e brancas) e, portanto à civilização. 7
  • 8. Conforme Aldo José Morais (2006, p. 155), o novo elemento presente no ideal de civilização encampado pela sociedade republicana reside na exacerbação, por assim dizer, das expectativas em torno da possibilidade de realização dessa nova sociedade, seja quanto às suas conquistas materiais, seja quanto ao seu estilo de vida. De fato, a sociedade – ou pelo menos os segmentos dirigentes e a intelectualidade nacional – viram o advento do regime republicano como sendo uma expressão inicial e concreta da superação do atraso nacional, então associado à condição de nação colonizada e, por extensão, ao antigo regime. O teor desta idéia de civilização pode ainda ser aqui caracterizado, observando que estava associado ao grande entusiasmo provocado pelo desenvolvimento de novas tecnologias, progressivamente incorporadas ao quotidiano da população como resultado direto da chamada Revolução Científico-Tecnológico, protagonizada pela Europa por volta de 1870. Com a Segunda Revolução Industrial representou um salto enorme em relação à primeira manifestação da economia mecanizada, sobretudo, como essas inovações invadiam o cotidiano das pessoas, principalmente no contexto desse outro fenômeno derivado da revolução, as grandes metrópoles modernas (Sevecenko, 1998, p.10). Assim, para a nova elite aburguesada brasileira, as realizações tecnológicas dos europeus eram vistas como indicador seguro da eficácia do seu modelo e processo de desenvolvimento, e até mesmo da pertinência de suas crenças sobre a superioridade racial branca4, conforme Aldo Morais “glorificando seus modelos de vida, seus valores, identificando-os como civilizados e dispondo-se reproduzi-los como caminha seguro para alcançar aquela civilidade (Silva: 2006, p.156). Outro traço característico do período final do século XIX e início do século XX, o intenso crescimento dos contingentes urbanos da população brasileira. Essa tendência demográfica marca o início de um processo que inverteu a distribuição sócio-territorial da população brasileira. Em termos da fisionomia social das cidades, a conglomeração de populações adventícias vindas dos mais diferentes lugares aumentava a impressão de 4 Engajados no empreendimento do nacionalismo ou da expansão imperial, os Estados fabricaram identidades raciais e étnicas, por meio de classificações oficiais que definiram o lugar de cada grupo perante a sociedade. O chamado racismo científico ganha corpo nas grandes nações imperialistas e colonialista do mundo. No Brasil, esse pensamento terá grande influencia desse corpo teórico que em suma tinha índios e africanos como inferiores, parados no tempo ou condicionados ao atraso social pelo espaço geográfico onde viviam. A elite brasileira racista dos séculos XIX e XX sonhou promover, com a imigração européia, o branqueamento da população. 8
  • 9. desordem citadina, provocando uma espécie de mal-estar entre as autoridades e os setores dominantes (Winssenbach, 1998, p. 91-2). Nessa perspectiva, segundo Aldo Morais, talvez a primeira expressão de tal esforço possa ser identificada no desenvolvimento dos grandes planos de reforma urbanística, ocorrido entre os últimos anos do século XIX e as primeiras décadas do século seguinte. Destacando neste período a construção da nova capital mineira, Belo Horizonte (primeira etapa entre 1894 e 1897), as reformas no Rio de janeiro (1904), Recife e de Belém (entre 1909 e 1913), Porto Alegre (1914) e Salvador (1912 e 1916). Na época, já havia preocupações em ordenar o espaço urbano, meio ao caos das crescentes metrópoles do Brasil, com seus projetos urbanistas de enquadramento de ruas, avenidas, saneamentos, entre outros. Maria Cristina Winssenbach coloca Canudos como uma referencia para dimensionar a questão social presente nas cidades brasileiras da época, e de certa forma prefigurava a explosão demográfica das cidades (Winssenbach, 1998, p. 94). Canudos ao olhar dos militares Quando a 4ª Expedição se depara com a cidade de Antonio Conselheiro causou espanto a todos, pois as configurações de suas ruas não tinham nenhuma preocupação com esquadro de ruas e praças, era praticamente uma desordem. O autor Duque-Estrada de Macedo Soares (1985, p. 90), que participou ativamente da última expedição contra Canudos, quando as forças federalistas chegam a cinco quilômetros de distancia, descreve-a, Lá estava, colocada em plano inferior às focas a cavaleiro, a temível Cidadela, a lendária capital dos jagunços! À nossa vista deslumbrada, surgia aquele extraordinário amontoado de casas de vários feitios, de cor barrenta e avermelhada, numa caprichosa desordem… Dentre tantos, as descrições e os conseqüentes estranhamentos sobre Canudos em seu aspecto urbano é um dos que mais chama a atenção. Expressões como “núcleo faccioso” (BARRETO: 1898, p. 13), “urbs monstruosa” (CUNHA: 1950, p. 184), “(...) negro reduto do fanatismo” (PIEDADE: 2002, p. 55), “o hediondo Canudos” (HORCADES: 1899, p. 25), 9
  • 10. entre outras, revelam esses sentimentos. Todos esses olhares formam um amplo conjunto de expressões que procuraram execrar o Belo Monte5 (Silva, 2006). No entanto, viam aquele amontoado de casas e suas duas torres da igreja nova de modos estarrecidos, admirando-as chegando a ponto de compará-las com as “enigmáticas pyramides do Egypto” (Barreto: 1912, p.138), a “faustosa Babylonia” (Soares:1912, p.17) arrancava a cada um presentes uma exclamação de prazer ao vê-la. Conforme o autor Dantas Barreto ao analisar a topografia da região, afirma que Canudos tinha um propósito em estar situada ali, a sede do povo do Bom Jesus Conselheiro “satisfazia inteiramente os seus intuitos subversivos (Barreto: 1912, p.11). Segundo Macedo Soares (1985, p. 44) “qualquer força para lá chegar, fosse de qualquer ponto, teria de atravessar uma região estéril, sem água e nem recursos de espécie alguma…”. Na linha de pensamento dos autores, a idéia que transparece é que o conselheiro escolheu aquele lugar, aos seus olhos de difícil acesso, para construir sua fortaleza prevendo os ataques que sofreria por parte das forças legais. Canudos era uma “edificação incomprehensivel” (Barreto: 1912, p. 142), segundo Euclides da Cunha aquele tipo de “edificação rudimentar permitia à multidão sem lares fazer até doze casas por dia” (Cunha: 1950, p. 183), sem o menor senso de enquadramento das ruas, ocasionando uma sensação de desordem citadina. Tudo isto passava despercebido aos olhos dos conselheiristas que estavam acostumados as estreitas ruas e becos. A cidade criada por Antonio Conselheiro e os seus seguidores, denominada de Bello Monte foi muito hostilizada pelas denominações dos autores, como por exemplo: “cidadella maldita” (Barreto:1898, p. 68), “cidadella do fanatismo” (Ibid., p. 98), “centro do fanatismo” (Soares: 1985, p. 89), “reduto infernal” (Ibid., p. 222). Esses aglomerados de designações procuravam disseminar uma figura maléfica, colocando Canudos como inimigo do Estado e, consequentemente, de todos os cidadãos. O estranho sertão e seus habitantes Ao se depararem com o sertão baiano, um assombro com a região, Euclides da Cunha imortalizou a região na sua obra Os Sertões dando descrições da vegetação, clima, entre 5 Trecho retirado do projeto de pesquisa Terra estrangeira: olhares de jornalistas e militares sobre o sertão da Bahia durante a campanha de Canudos (2006), do autor Rogério Souza Silva. 10
  • 11. outros, numa linguagem literária. Os autores não escondiam o sentimento de descontentamento com lugar, denunciavam o clima quente que assolava a todos, a “terra queimava como uma chapa de ferro candente” (Barreto: 1898, p. 174-5), a “atmosfera de uma calidez asfixiante” (Soares: 1985, p. 150), todo esse clima de constrangimento com o sertão pode ser observado no trecho abaixo retirado da obra de Dantas Barreto (1898, p. 41- 2), Os dias nessa região agreste, já tão conhecida pelas descripções publicadas em todos os jornaes do Brazil, tinham para nós a duração de mezes; não parecia estar-se no próprio paiz; Nota-se nas suas palavras o sentimento de não pertencimento ao lugar, transparecendo estar numa terra estrangeira, o autor afirma que nas conversas informais entre soldados e oficiais dizia-se naturalmente: “– Quando eu voltar ao Brazil farei isto ou terei aquilo…”(Barreto: 1898, p. 43). Contudo, não podemos esquecer que eram homens, de lugares diferentes, imbuídos de uma noção de civilização, progresso e modernidade diante de uma realidade que não atendia aos seus anseios (Silva, 2006), por isto, é evidente o choque que tiveram ao deparar-se com sertão baiano. Entretanto, esse mesmo olhar estendeu-se para toda a região, nada escapava aos seus olhares, tecendo seus comentários quando passavam a caminho do local do conflito. Observação sobre as cidades, vilas, arraiais ou fazendas, juntamente com seus habitantes, às vezes denegriam usando expressão como “pittoresca villa”(Barreto: 1912, p. 48) referindo-se a Monte Santo, uma das sedes base dos militares a que muito lhe servira. Apesar dessas visões deturpadas desses lugares, é importante ressaltar que para a 4ª Expedição e o seu propósito, esses lugares serviram de pontos de apoio para descanso dos soldados, organização das tropas, do serviço de fornecimento de alimentos e transporte, depósitos de munição e de boca, além dos hospitais instalados para cuidar dos feridos. Todavia, o sentimento de alteridade que se estendeu para os habitantes destas localidades, são todos execrando a figura do sertanejo, conforme podemos notar em Macedo Soares (1985, p. 44) no trecho abaixo, […] Geremoabo, Monte Santo e Uauá, lugarejos pobres, assolados pelas febres de mau caráter, e os habitantes desconfiados, embrutecidos pela ignorância e pelo fanatismo. 11
  • 12. Aos seus olhos eram totalmente diferentes dos habitantes do sul, tachados de “brazileiro primitivo” (Barreto: 1898, p. 42), “physionomia geralmente vulgar” e eram “exemplares magníficos dessa raça imperfeita” (Barreto: 1912, p. 53). Por tudo isto, exemplifica muito bem a visão deturpada dos militares em relação aos habitantes do sertão do norte da Bahia. Dentro de uma perspectiva simbólica de pertencimento territorial, esses estrangeiros no sertão não se sentiam presos ao local, conseqüentemente, visto que esse sentimento de territorialidade cria barreiras de aceitação, o que contribuiu nas suas visões contra o sertão e os seus habitantes. No entanto, isto não justifica a violência empregada contra os conselheiristas, mas, sobretudo, apresentas-se como um fator complicador dentro desse complexo universo. As mulheres não escaparam da visão destes autores sendo descritas como “As desgraçadas” (Barreto: 1912, p. 284), “repugnantes megeras” (Soares, 1985, p. 212), Dantas Barreto vai mais além “as mulheres trajavam pobremente e, das suas roupas que não eram abundantes, exhalava forte bafio de azedo arruinado” (Barreto, 1912, p. 13). Os autores resumem suas atividades em cuidar dos feridos e crianças, limpar as armas e da “ração” dos seus maridos. Em alguns casos as mulheres iam às linhas de fogo levar as armas que podiam recolher dos seus companheiros mortos, algumas morriam como verdadeiras heroínas (Soares: 1985, p. 92). Um viés militar e o desabafo de Dantas Barreto Canudos estava relacionada com o universo político brasileiro, que necessitava de um inimigo plenamente vigoroso para justificar o açodamento das intervenções, cada vez mais intensas, envolvendo quase metade das forças militares do Exército e das polícias estaduais. Sobretudo, segundo Rogério Souza Silva (2001), havia diversos interesses políticos em jogo: pelo governo federal, pelos jornalistas, pelas forças políticas, como os jacobinos, ou mesmos pelos governadores de Estados que estavam fora do eixo de poder central. Esses por último, enviavam tropas para o campo de batalha, em troca de alcançar favores com as unidades mais fortes da federação. 12
  • 13. É interessante notar como os autores viam Canudos e a própria situação que o País vivia no período, o trecho a seguir nos mostra a situação preocupante dos militares, O fracasso e conseqüentemente aniquilamento da brigada às ordens do intemerato coronel Moreira César produziu, como era de prever, grande abalo no espírito do público e o país inteiro agitou-se na eventualidade de mais graves e terríveis acontecimentos, proximamente aguardadas. Canudos, naquela época, constituía o espantalho geral e os mais inverossímeis boatos fervilhavam sobre sua fortaleza, o números de fanáticos e os seus intuitos (Soares: 1985, p. 48). O autor está se retratando depois do fracasso da Expedição de Moreira Cesar e o abalo que isto causou em todo o Brasil e no próprio Exército, afirmando a este estar desfalcado e mal se refazendo da recente e longa campanha federalista (SOARES: 1985, p.48). Naquele período rumores já rondavam a capital do País como um movimento cujos fins eram de derrubar a República recém instaurada, chegando a contar com ajuda de estrangeiros e dos membros do Partido Monarquista. Canudos só tomou grandes repercussões depois da derrota da Expedição Moreira César foi neste momento que se pode medir “a grandeza do mal que se gerava no organismo nacional e o governo viu o precipício em que dir-se-ia prestes a tombar o monumento de 89” (Barreto:1898, p. 11). Naquele determinado momento, Antonio Conselheiro e sua urbe eram as únicas forças que poderiam derrubar as instituições republicanas do Brasil, aos olhos dos republicanos. O autor Dantas Barreto (1898, p. 158) admite no trecho abaixo seu receio de vê a 4ª Expedição ser derrotada, E, comtudo, nenhum communicava ao outro as duvida e os receios que lhe assaltavam o espírito: não por si, que desde muito haviam feito abstracção da própria vida, mas pela expedição, pelo exercito e pela Republica, que não supportaria mais um desastre das suas forças em Canudos. Como podemos perceber, Dantas Barreto temia que o Exército não suportasse outra derrota, pois tinha a noção que se a 4ª Expedição não vencesse Canudos, a ruína assombraria o Exército e seu país que poderia cair nas mãos dos monarquistas. Não esquecendo que neste determinado momento, havia muitos rumores que os monarquistas estariam por trás de Canudos ou até mesmo os auxiliando nos combates contras as expedições. 13
  • 14. No entanto, segundo Nicolau Sevecenko, a única maneira de justificar a catástrofe foi atribuir aos revoltosos a imagem de conspiradores monarquistas, decididos a derrubar o novo regime mantido, organizados e fortemente armados a partir do exterior por líderes expatriados do regime imperial. Aniquilá-los por completo era, portanto, uma questão de vida ou morte para a jovem República (Sevecenko: 1996, p. 17). Sendo assim, para os militares, lutava-se contra uma pavorosa anarquia, um núcleo de rebeldes, mas contra os inimigos voltados contra as Instituições Oficiais (República), ainda se afirmando após o movimento de 15 de novembro 1889, contudo, era preciso submeter aquele formidável núcleo ao domínio da Lei. Neste sentido, a vergonha de terem perdidos em duas Expedições sucessivas para um bando de sertanejos, aumentara o ímpeto nos combates contra Canudos, isto aliado as baixas sofridas no seu contingente, as péssimas condições de subsistência que as tropas passaram ao longo da campanha, o próprio cenário da Guerra, talvez tenha contribuído para o grau de violência que fora empregado aos conselheiristas. O autor Dantas Barreto critica abertamente o Capitão Manoel Benício, correspondente do Jornal do Commercio, em espalhar notícias inverídicas sobre a 1ª Coluna quando esta pediu a 2ª coluna ao comando do general Savaget que viesse ao seu auxílio. Segundo o autor, o Capitão Manuel Benício, “para desabafo de paixões estranhas” (Barreto: 1898, p. 106-7), transcreveu para o Rio que a 1ª Coluna havia recuado três vezes, antes de chegar a 2ª, o que realmente segundo Dantas Barreto nunca havia acontecido. Apesar disso, objurga o comandante em chefe do Exército pelas condições que a 4ª Expedição achava-se quando marcharam para Canudos, pois faltava-lhes muitos recursos, desde remédios até comida. Especialmente, a falta de assistência para com a Expedição que custaram 13 dias de fome a mercê da sorte na Favela, “E a fome, implacável e negra, a todos abatendo e definhando desesperados” (Soares: 1985, p. 116). E que isto custara muitas vidas dos soldados que aventuravam-se na caça de bois, carneiros e cabritos para alimento próprio, ao mesmo tempo, sendo vítimas dos conselheiristas que os esperavam na caatinga. Outra crítica de Dantas Barreto eram os planos de guerra para a destruição da “Jerusalém dos Fanáticos” (Barreto: 1898, p. 98), segundo o mesmo, “as combinações apparatosas e cheias de atavios escusados” (Barreto: 1912, p. 158), Euclides da Cunha afirma que os oficiais eram treinados em Francês, por instrutores belgas, por meio de manuais 14
  • 15. belgas com táticas apropriadas pra os territórios dos Países Baixos (SEVECENKO, apud CUNHA), eram inspirados em fatos das guerras européias, na literatura militar da Rússia, da França e da Alemanha, e que tudo isto nada valia nas guerras americanas, tinham que ser puramente originais nas suas táticas e estratégias. Conselheiristas Há um trecho muito interessante na Introdução do livro A Guerra de Canudos, de Macedo Soares (1985, p. 12), no qual diz, Conhecendo o ódio que nos votavam os jagunços de Antonio Conselheiro, o autor, entretanto, jamais esqueceu que eles eram brasileiros e jamais os denegriu nem ofendeu, quer como homem, quer como combatentes. É importante notar que ao longo de sua obra as palavras “fanáticos”, “bandidos”, “sanguinários” e “pobres diabos”, comparando-os a “touros bravios” e o mais interessante foi designar os conselheiristas de “grupos de canibais” (Soares: 1985, p. 33), isto é ultrajante e incompatível com o que a frase acima nos diz, mas, sobretudo, é fundamental ressaltar como o Ten. Henrique Duque-Estrada de Macedo Soares enxergava os conselheiristas com total sentimento de desprezo. Macedo Soares ao discutir a questão sobre as derrotas sofridas e as conseqüentes baixas padecidas pelo Exército nas anteriores Expedições, acusa à dificuldade de adaptação com o ambiente, que era totalmente estranho a tudo que tinham visto. Aliado a tudo isto, foi decisivo para muitos dos fracassos do Exército o conhecimento de todo o território em volta de Canudos pelos conselheiristas, que “ocupavam os melhores pontos, os mais elevados, e entrincheiravam-se nos acidentes naturais do terreno” (Soares: 1985, p. 105). Com certeza o relevo da região e o clima foi um diferencial poderoso a favor dos conselheiristas que faziam suas emboscadas trazendo muito prejuízo para a campanha. Aliás, não esquecendo o mérito dos conselheiristas em interceptar os comboios, estes últimos, só se utilizavam das armas e das munições de guerra, o gado era morto e deixavam o animal intacto, embora fossem exíguos os seus recursos. 15
  • 16. Os conselheiristas não saqueavam porque o Conselheiro impunha castigos severos àqueles que se utilizavam dos despojos dos seus adversários a não ser o que pudesse ser aproveitado como arma de guerra, conforme Macedo Soares (1985, p. 175), Os jagunços com intransigente fidelidade cumpriam os preceitos do Conselheiro, que lhes proibia em absoluto o saque e o aproveitamento dos elementos do inimigo, a não ser o da munição. A caminho do conflito a Expedição encontrou diversas casas destruídas e fazendas danificadas pelos jagunços, outras estavam destelhadas pelos próprios donos, para se eximirem dos seus ataques (SOARES: 1985, p. 175). Isto ilustra bem a ação dos jagunços com o pessoal local que não apoiasse a causa Conselheirista, pregando-lhes castigos. Uma dessas ações aplicadas pelos jagunços está descrita no livro de Macedo Soares (1985, p. 68), Em caminho de Juá para Aracaty, o general-em-chefe teve aviso de que um pequeno grupo de jagunços atava fogo e tentava destelhar a casa da fazendo do coronel José Américo, prestimoso amigo e auxiliar das forças legais. O general mandou seguir para o ponto indicado o seu ajudante-de-ordens, alferes Marques da Rocha, com praça do piquete, que fizeram fugir os jagunços, exceto um, que morreu brigando. O grupo era de 8 a 10. Os dois autores descreveram esse mesmo acontecimento e o que divergem entre ambos é o tamanho do grupo de jagunços, enquanto Macedo Soares afirma ser entre 8 a 10 e Dantas Barreto fala entre 15 a 20 jagunços. A quantidade de jagunços não importa, mas como essas construções são feitas, porque motivo aumentaria a quantidade de jagunços, senão para vangloriar o piquete destacado e/ou ridicularizar as forças de combate dos conselheiristas. Entretanto, os mesmos homens imbuídos de uma noção de civilidade, no qual incumbidos como agentes executores da ordem, na missão de resguardar a lei, invertiam os papeis igualando-se a muitos arruaceiros, cometeram violência com a população sertaneja, como podemos notar abaixo, Esse comboio fora entregue a um cabo de esquadra, cuja praça nem ao menos pudera conter os soldados, que nesse trajecto commetteram violências, que afugentaram os poucos moradores da estrada, durante dias (Barreto: 1898, p. 51-2). 16
  • 17. Contudo, não esquecendo o embate entre as forças legais e os jagunços de Antonio Conselheiro em Uauá que após o confronto, antes de se retirarem, os soldados incendiaram o povoado e saquearam as casas6. Outra discussão é sobre o potencial bélico dos conselheiristas, como eles teriam conseguido suportar os ataques do Exército junto com as forças policias Estaduais. Alguns militares como Carlos Telles, Macedo Soares e Dantas Barreto acreditavam que as armas abandonadas pelas Expedições anteriores foram fundamentais para o aumento do potencial dos conselheiristas. Conforme Macedo Soares afirma que Canudos tinha fornecimento dos elementos de guerra que vinham de Minas, Bahia e Sergipe, aliado as armas de fabricação dos conselheiristas (Soares, 1985, p. 46). Segundo Angelina Nobre Rolim Garcez (1977), os jagunços contaram com farta munição, até a batalha final. A mesma afirma que em canudos, em nenhum momento retraiu- se ou demonstrou precisar poupar munições, “ao contrário, apesar de sitiados, os jagunços continuaram atacando, esbanjando seu municiamento, como se dispusessem de uma fonte inesgotável”. Segundo Araripe, os conselheiristas conseguiram fornecedores de armas como “Coronel Leitão, fazendeiro e comerciante em Santa Luzia, o qual fornecia armas e munições aos jagunços” (Garcez, 1977 apud Araripe, 1960, p. 44). Controvérsias e silêncios Umas das questões polêmicas que muitos autores e militares divergem é sobre os números de habitantes em Bello Monte, o autor Macedo Soares afirma que Canudos contava com 6.000 habitações e estima uma população de 30 ou 35 mil pessoas fanatizadas. No entanto, esses números são contestados, pois não há um consenso entre os próprios militares em relação ao número de habitantes e de casas, na obra O Rei dos Jagunços de Manoel Benício – correspondente do Jornal do Comércio – alega existir ali casas em número de mil. Já Euclides da Cunha estima uma população de aproximadamente 25 a 30 mil pessoas e 5200 casas. No entanto, José Calasans através de seus estudos estimava que houvesse entre 8 a 10 mil pessoas, segundo ele, esse índice populacional teve seu auge na hora da guerra pelo deslocamento das pessoas para a defesa de Canudos (VILLA, 1998, p. 77). O autor escreve 6 Fonte Jornal A Tarde, jornalista Oleone Coelho Fontes, 16 de novembro de 1996. 17
  • 18. numa perspectiva de dar voz ao vencidos, escrevendo uma história vista a partir de baixo. Contudo, Segundo Dantas Barreto, após a destruição de Canudos, o número de sinais de casas do arraial foi verificado existir 5.200 casas. O que podemos constatar é que existem muitas controvérsias em torno do número de habitantes e das construções das casas que, segundo o Coronel Carlos Telles, existiam apenas 1.000 e não 5.000 casas naquela cidade. O coronel Telles procura eliminar as fantasmagorias criadas pelos jornalistas, políticos e militares em torno de Canudos Marco Antonio Villa argumenta sobre esse número elevado de habitantes, afirma que a contagem pouco criteriosa das casas existentes em Canudos foi ao encontro dos interesses militares em enaltecer o tamanho da cidade, para justificar o massacre ocorrido e a deslocação da metade do contingente do exército para o conflito. Uma última questão na análise das lutas é a questão da degola dos prisioneiros. Tomarei uma citação de Euclides da Cunha (1950, p. 542), pois foi o primeiro a denunciá-la da seguinte maneira: Os soldados impunham à vítima invariavelmente um viva à República, que era poucas vezes satisfeito. Era o prólogo invariável de uma cena cruel. Agarravam-na pelos cabelos, dobrando-lhes a cabeça, esgargalando-lhe o pescoço; e, francamente exposta a garganta, degolavam-na. Não raro a sofreguidão do assassino repulsava esses preparativos lúgubres. O processo era, então, mais expedito: varavam-na, prestes a facão. Entretanto, um silêncio paira sobre este determinado assunto nas duas obras de Dantas Barreto e no livro de Macedo Soares, pois na guerra a degola foi uma prática corriqueira de ambos os lados, contudo, é muito mais difícil de ser aceita pelos autores militares. Talvez, no intuito de esconder os crimes que praticaram, para não manchar sua reputação aos olhos da sociedade, visto que eles representavam a lei e a justiça, que não fora concebida aos prisioneiros, com exceção dos velhos, mulheres e crianças. Despesas Do ponto de vista econômico-financeiro da guerra, sua execução necessitou, especialmente na última expedição, de recursos federais e estaduais. César Zama afirma que a 18
  • 19. repressão a Canudos custou muito caro ao país: “obrigou o tesouro nacional a despender milhares de contos e impôs aos cofres estaduais onus que eles não podiam suportar... deixando o tesouro exausto, com credito esgotado” (Zama: 1899). Apesar disso, não faltaram oportunidades para o enriquecimento às custas das Expedições, principalmente os grandes proprietários de gados e comerciantes, que vendiam seus produtos a preços altíssimos. Contudo, é claro, existiam casos extremos de danos materiais causados pelos militares à região, como por exemplo, relatos dos casos de confiscos de reses que ocorreram em vários momentos para alimentar as tropas. Há um caso, muito interessante, de um processo datado de 1908, onde a D. Francisca Dantas – proprietária da fazenda Canudos – apela por meio da justiça para que seja reembolsada o valor das compras de víveres para a alimentação das tropas. Curiosamente, a proprietária da fazenda chega a afirmar que o exército causou mais estragos que os próprios conselheiristas. Em 05 de outubro de 1897, caíram os últimos combatentes de Canudos, estando tudo acabado. Eclodiram vivas a República e ao Exército, “assim, estava terminada e de maneira tão singularmente trágica a sanguinosa guerra, que o banditismo e o fanatismo traziam acesa por longos meses, naquele recanto do Território Nacional” (Soares: 1985, p. 224). As ordens eram para que não sobrasse nada de Canudos senão ruínas, “era preciso não deixar uma parede em meio, uma viga sequer intacta” (Barreto: 1912, p. 291) e, assim o foi executado. O autor Dantas Barreto conclui sua obra afirmando que Exército cumpriu o seu papel “amparou as instituições da República” e “destruiu os elementos subversivos dos longínquos sertões da Bahia e é a impávida sentinella que vigia attentamente os traidores e os inimigos da Patria” (Barreto: 1912, p. 300). Entretanto, o mesmo autor, critica os poderes da nação em não retribuir os militares como deviam depois da destruição de Canudos “trataram com a freisa de um facto commum na vida da República” (Barreto: 1898, p.112). A Guerra de Canudos deixou sepultados dentro de suas cercanias uma parte da história do Exército, da Bahia e do Brasil. Submersa sobre as águas do Vaza Barris, que em tempos de seca suas águas baixam, ressurgindo destroços do passado, como se fosse um pedido para que não nos esqueçamos daquela terrível e horrenda carnificina contra os sertanejos do norte da Bahia. 19
  • 20. CONSIDERAÇÕES FINAIS A guerra fratricida articulada pelo governo brasileiro em 1897 conta o líder carismático Antonio Vicente Mendes Maciel – o Bom Jesus Conselheiro – e sua grei apostólico-sertaneja não apenas aniquilou a cidade de Canudos, sede daquilo que até se pode denominar de Movimento Conselheirista, mas, principalmente afetou toda a realidade do sertão baiano (Oliveira: 2006). É inegável o papel dos militares como agentes executores das ações políticas governamentais, bem como, a sua indiferença com os habitantes do sertão que foram destratados, humilhados. Além disso, os militares representavam a civilidade, moralidade e justiça, vinham incumbidos de uma noção de civilização a um espaço territorial pouco desenvolvido e acharam-se no direito de passar por cima de tudo. Mostravam-se muitas vezes superiores aos conselheiristas e a todos os habitantes daquela região denegriam a imagens destas pessoas humildes. Portanto, o interesse para a compreensão deste processo colocou no cerne deste trabalho a discussão sobre a visão do Exército e a influência deste pensamento nas obras em análise. O Exército vivia outro momento na sua estrutura depois da Guerra do Paraguai, mais politizados e preocupados, dentro de seus próprios interesses, com o destino político do Brasil. Com a Proclamação da República fruto de um golpe militar e, por isso, os republicanos precisaram continuar investindo na propaganda objetivando alcançar o coração da sociedade da consolidação do regime, afinal o novo regime não fora proclamado com a participação popular. Entretanto, era preciso legitimar, justificar e exaltar o novo regime que estava imbuído com a noção de modernização do país, por isto, a manipulação do imaginário foi uma arma valiosa para justificar o novo regime e legitimar o seu poder. Segundo Von Clausewitz na obra “Da Guerra”, enfatiza que a guerra é um instrumento político, uma continuação das relações políticas, uma realização destas por outros meios (CLAUSEWITZ, 1996). Então, quando Canudos aparece no cenário nacional, manipula-se toda a opinião pública contra Canudos, pois a República precisava de um inimigo a altura que unisse toda a nação, tornou-se assim, necessário transformar Canudos em um perigo real para a mesma, justificando certas ações. 20
  • 21. O Exército via em Canudos um inimigo a ser vencido, mas, não se pode esquecer as derrotas das 2ª e 3ª Expedições, em que o algoz vitimado com seu orgulho ferido, buscou reerguer-se diante de toda a sociedade num esforço para expressar sua força e recuperar seu prestígio, já que cabia-lhe a defesa da República recém instaurada. Suas derrotas colocavam em xeque o seu poderio e status, então, sem dúvida, a destruição da urbe de Conselheiro representava a oportunidade de erigir-se perante toda a nação. Dentro dessa perspectiva militar, os autores vão beber direto da fonte e apresentam o mesmo pensamentos em relação a Canudos, além do mais, estenderam isto a seus habitantes, subjugavam os sertanejos apelidados de “beatos”, “fanáticos”, “jagunços” e “bandidos”, entre outros, demonstrando seu desprezo e muitas vezes colocaram-se acima de todos e, sobretudo, dentro de uma superioridade racial, taxava-os como componentes de uma subraça. Portanto, os autores naquele espaço e determinado momento eram homens imbuídos de uma noção de civilização, progresso e modernidade, e viam tudo aquilo como um retrocesso, pois vinham de capitais urbanizadas que na época eram vistas como modernas. O Exército, instituição diretamente envolvida na luta contra Canudos, tem um modo próprio de entender como se figurava a situação em torno deles. Ele e os seus militares são responsáveis não só por ter sido o dolo direto pela eliminação de Canudos, como também por estar ligado, desde o início, à implantação da República, por ser um dos principais sujeitos dos conflitos políticos daqueles primeiros momentos do novo regime, mas também pelas funestas denominações sobre Canudos e seus habitantes, pois os militares foram os primeiros a escreverem sobre o assunto e, é claro, por terem sido formados pela Instituição “Exército” como Dantas Barreto e Macedo Soares, Euclides da Cunha e muitos outros contribuíram para o conjunto de expressões que maculam Canudos. Por isto, estudar como se formou a opinião da instituição sobre esse significativo acontecimento é contribuir para o entendimento de um importante agente social e político, para o entendimento de como ele pensa de si próprio, como pensa o país e sua relação com ele. Resta-nos somente desconstruir esses tipos de visões que distorcem a realidade dos fatos apresentando-lhes a real intenção para não cairmos nas armadilhas e não reproduzirmos estas visões deturpadas do que foi o real movimento conselheiristas. 21
  • 22. Bibliografia ARARIPE, Tristão de Alencar. Expedições Militares Contra Canudos. Imp. Do Exército, Rio de Janeiro, 1960. BARRETO, Emídio Dantas. Última Expedição de Canudos. 2ª ed. Porto Alegre, Franco e Irmãos Editores, 1898. ________________, Destruição de Canudos. Recife, Ed. Jornal do Recife, 1912. BENÍCIO, Manuel. O rei dos jagunços: crônica histórica e de costumes sertanejos sobre os acontecimentos de Canudos. 2ª ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1997. BURKE, Peter. O que É História Cultural?. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. CALASANS, José. Quase biografias de jagunços: (o séquito de Antonio Conselheiro). Salvador: UFBA, Centro de Estudos Baianos, 1986. CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: o imaginário da república no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras. _____________. Os bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi. Cia. das Letras, São Paulo, 2002. CASTRO, Maurício de Almeida Siaines de. Canudos: visões militares. Rio de Janeiro: UFRJ, IFCS/PPGSA, 2004. CASTRO, Celso, 1990. O espírito militar: um estudo de antropologia social na Academia Militar das Agulhas Negras. Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro. CLAUSEWITZ, Carl Von. Da Guerra. 2ª Ed. Editora: Martins Fontes, 1996. COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república: momentos decisivos. 4ª Ed. São Paulo: Brasiliense, 1987. CUNHA, Euclides. Os Sertões: a campanha de Canudos. 21ª ed., Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1950. GACEZ, Angelina Nobre Rolim. Aspectos econômicos do episodio de Canudos. Salvador: Centro de Estudos Baianos da Universidade Federal da Bahia, 1977. GALVÃO, Walnice Nogueira. O calor da hora: a guerra de Canudos nos jornais, 4ª Expedição. Ed. Ática S/A. São Paulo, 1994. MONIZ, Edmundo. Canudos: a luta pela terra. 7ª Ed. São Paulo: Global, 1988. NERY, A. Constantino. A Quarta Expedição contra Canudos. 2ª ed. Pará, Typ. de Pinto Barbosa, 1898. NUNES, Favila. Guerra de Canudos: narrativa histórica. Rio de Janeiro, Tipografia Morais, 1898. 22
  • 23. OLIVEIRA, José Plínio de. Queimadas no contexto histórico e cultural do eixo euclidiano. Serrinha: Universidade do Estado da Bahia, 2006. SEVCENKO, Nicolau, Introdução in História da Vida Privada no Brasil – República: da Belle Époque à Era do Rádio. Vol.3. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. ___________. O prelúdio republicano, astúcias da ordem e ilusões do progresso. In. História da vida privada no Brasil. Vol.3. São Paulo: companhia das Letras. 2004. SILVA, Aldo José Morais. Instituto Geográfico e Histórico da Bahia: origem e estratégias de consolidação institucional. Salvador, 2006. Tese (Doutorado em História) Universidade Federal da Bahia. p. 155-162. SILVA, Rogério Souza. Antônio Conselheiro: a fronteira entre a civilização e a barbárie. São Paulo: Annablume, 2001. ___________.Terra estrangeira: olhares de jornalistas e militares sobre o sertão da Bahia durante a campanha de Canudos. 2006. SOARES, Henrique Duque-Estrada de Macedo. A Guerra de Canudos. 3ª ed. Rio de Janeiro: Philobiblion, 1985. TAVARES, Odorico. Canudos: cinqüenta anos depois (1947). Academia de Letras da Bahia, 1993. VILLA, Marco Antônio. Canudos: o povo da Terra. São Paulo, Ática, 1995. __________. CALASANS: um depoimento para a história. Salvador: gráfica da UNEB, 1998. WISSENBACH, Maria Cristina Cortez. Da escravidão à liberdade: dimensões de uma privacidade possível. História da Vida Privada no Brasil. República: da Belle Époque à Era do Rádio (Nicolau Sevcenko, org.; Fernando Novais, dir.), v. 3. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. Wolsey (César Zama). Libelo republicano acompanhado de comentários sobre a campanha de Canudos. Salvador: Centro de Estudos Baianos da Universidade Federal da Bahia, 1899. Artigo O fogo de Uauá: estopim da Guerra de Canudos, de Oleone Coelho Fontes, o 5º publicado na série, na Revista do Exército Brasileiro, vol. 134, 2° trimestre de 1997. Apelação Cível BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Indemnização de perdas e damnos por facto das forças expedicionárias contra CANUDOS. Apellação Civel nº 1526. Apelante: A Fazenda Nacional. Apelada: D. Francisca Dantas da Silveira Carvalho. Relator Vital H. Baptista soares. Bahia, 18 de fevereiro de 1908. 23