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Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 2003   1
Novas Aplicações para
     Entrevista
                                      a Engenharia Genética
                                                                                                                Entrevista concedida a
                                                                                                               Maria Fernanda Diniz

                                                                Engenharia genética pode ajudar a prevenir e curar o câncer de mama



                                            câncer de mama é um dos males que mais
                                            aflige a população feminina em todo o
                                            mundo. A cada ano, 182 mil mulheres são
                                            diagnosticadas com câncer de mama e,
                                            dessas, 43 mil morrem. Apesar de ser uma
                                            enfermidade com grandes chances de cura,
                           quando detectada no início, ainda é a pior ameaça para as
                           mulheres brasileiras, pois é o tumor maligno feminino de
                           maior incidência e mortalidade no país. Nos últimos 20
                           anos, segundo dados do INCA (Instituto Nacional do
                           Câncer), a mortalidade por câncer de mama cresceu cerca
                           de 60%. A taxa de incidência desse câncer no Brasil foi
                           estimada em 40,7 casos para cada 100 mil mulheres e a de
                           mortalidade em 10,3 para o mesmo número de mulheres.
                           As causas para o aumento da incidência dessa doença nas
                           últimas décadas estão associadas aos estresses da vida
                           moderna e à mudança de comportamento das mulheres,
                           que hoje ocupam grande parte do mercado de trabalho e consomem em muito
                           maior quantidade substâncias nocivas, como cigarros e bebidas alcoólicas.
                                 A engenharia genética pode ser um caminho promissor para a prevenção
                           e a cura de muitas enfermidades, inclusive do câncer de mama. Diante disso,
                           a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, através da
                           Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, uma de suas 40 unidades de
                           pesquisa, localizada em Brasília, DF; a Universidade de Campinas (Unicamp);
                           a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade de Montevidéu, no
                           Uruguai, se uniram para desenvolver variedades de soja transgênica com
                           anticorpos anticâncer contra o câncer de mama. Essas variedades serão
                           utilizadas para produção de fármacos que atuarão na prevenção e diagnóstico
                           da doença e terão também potencial terapêutico, mesmo com o câncer em
                           estágio avançado.. È importante ressaltar que elas não serão usadas na cadeia
                           alimentar, mas apenas como medicamentos
                                 Os anticorpos monoclonais para uso clínico movimentam mais de US$
                           1 bilhão nos EUA. No Brasil, a utilização desses anticorpos na área médica
                           ainda é pequena. O principal anticorpo monoclonal usado clinicamente é o
                           anti-CD3, que atua na prevenção da rejeição decorrente de transplantes de
                           órgãos. O Instituto Butantã, de São Paulo, produz e distribui esse medicamen-
                           to no Brasil. Os métodos e estratégias para produção de novos anticorpos
                           evoluíram, incorporando a manipulação genética, e a flexibilidade nessa
                           manipulação fez desses anticorpos produtos de alto valor econômico e com
                           grandes perspectivas de utilização, especialmente para a prevenção e
                           tratamento de algumas enfermidades.
                                 Para falar sobre essa pesquisa e outras questões relacionadas ao
                           desenvolvimento de produtos transgênicos no Brasil, a revista BIOTECNO-

2   Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 2003
LOGIA, CIÊNCIA & DESENVOLVI-             EUA, vários anticorpos humaniza-                    Elíbio Rech - A utilização de
MENTO entrevistou o pesquisador          dos já foram liberados pelo FDA               anticorpos sempre mostrou bom po-
da Embrapa Recursos Genéticos e          (“Food and Drug Administration”) e            tencial para o diagnóstico e trata-
Biotecnologia, Elíbio Rech. Durante      um grande número se encontra em               mento de muitas doenças, mas anti-
a entrevista, ele ressaltou os benefí-   fase de testes clínicos, o que indica         gamente eles tinham que ser utiliza-
cios que a tecnologia do DNA re-         que nos próximos dez anos, o mer-             dos em sua forma integral, o que
combinante pode trazer para as áre-      cado deverá estar repleto desses              onerava e dificultava o processo. A
as de saúde e de alimentação, atra-      anticorpos de última geração. A pers-         engenharia genética tornou possí-
vés da expressão de proteínas de                                                       vel a geração de anticorpos recom-
interesse em plantas e animais, que       “O objetivo é desenvolver plantas e          binantes, desenvolvidos em labora-
passarão a atuar como biofábricas, o      animais que atuem como biofábricas,          tório, que se constituem em peque-
que certamente barateará os custos        ou seja, que expressem característi-         nos fragmentos capazes de expres-
de produção, além de possibilitar a                                                    sar suas características de interesse
                                          cas de interesse para os seres huma-
produção em larga escala. Elíbio                                                       nas plantas. Além de diminuírem os
enfocou ainda questões polêmicas e        nos e os animais.”                           custos do processo, esses fragmen-
atuais, como a rotulagem dos produ-                                                    tos, conhecidos como anticorpos mo-
tos transgênicos, entre outras. Ve-      pectiva é de que a tecnologia de              dernos, conseguem penetrar os tu-
jam agora a entrevista:                  anticorpos recombinantes venha a              mores sólidos e praticamente não
                                         fornecer insumos para diversas áre-           causam efeitos colaterais. Por isso,
    BC&D – Em que ponto de               as da medicina, que incluem desde             eu acredito que esse é um dos cami-
desenvolvimento está a pesquisa          agentes imunomoduladores até va-              nhos mais promissores da medicina
para produção da soja transgêni-         cinas recombinantes. Essa tecnologia          no futuro. A tecnologia de desenvol-
ca com o anticorpo anticâncer            tem sido utilizada no tratamento de           vimento dos anticorpos monoclo-
de mama?                                 doenças graves como o câncer e a              nais recombinantes e sua eficiência
                                         AIDS, além da prevenção de doen-              já estão mais do que comprovados,
      Elíbio Rech - A pesquisa está      ças bacterianas. É importante ressal-         mas é preciso desenvolver a sua
em estágio avançado. Já temos se-        tar que o domínio de técnicas de              produção em larga escala a custos
mentes de soja em nossos laboratóri-     manipulação genética foi fundamen-            menores. Os produtos à base de
os produzindo 25 mg de anticorpos        tal para a seleção, redefinição e             anticorpos existentes hoje no mer-
em uma semente, o que é um índice        humanização desses anticorpos.                cado brasileiro, como o Zenapax e a
muito bom. A estimativa é produzir                                                     Herceptina têm custos muito altos e
alguns quilos do anticorpo em ape-        “... esses fragmentos, conhecidos como       são inacessíveis para a maior parte
nas um hectare. O próximo passo é         anticorpos modernos, conseguem pene-         da população.
purificar as sementes (fazer um ex-
trato a partir da semente, no qual só     trar os tumores sólidos e praticamente           BC&D – Existem outras pes-
o anticorpo é isolado) e enviá-las ao     não causam efeitos colaterais.”              quisas nessa linha sendo desen-
Instituto Pasteur para avaliação so-                                                   volvidas no Brasil?
bre o potencial dessas sementes con-          A inserção dos genes nas plan-
tra o câncer de mama. Eu acredito        tas de soja foi feita pela nossa equi-             Elíbio Rech - A manipulação
que essa etapa esteja pronta até o       pe da Embrapa Recursos Genéticos              genética pode ser uma boa opção
segundo semestre de 2004.                e Biotecnologia, que já domina as             para reduzir os custos e otimizar a
                                         tecnologias de transgenia. Além de            produção de medicamentos. E, por
    BC&D - Como foi feito o pro-         agregar valor à soja, uma das nos-            isso, o desenvolvimento das plantas
cesso de transformação genética          sas maiores preocupações é barate-            de soja com os anticorpos anticâncer
dessa soja?                              ar os custos de produção dos                  não são a única pesquisa da Embrapa
                                         fármacos a base de anticorpos. A              nessa linha. Na verdade, a Empresa,
     Elíbio Rech - Os anticorpos         produção de anticorpos recombi-               através de três de suas unidades de
inseridos nas plantas de soja foram      nantes em plantas apresenta um                pesquisa – Embrapa Recursos Gené-
isolados na Universidade de Monte-       grande potencial biotecnológico               ticos e Biotecnologia, Embrapa
vidéu a partir de camundongos. De-       devido ao baixo custo de produção             Instrumentação Agropecuária (São
pois, eles passaram por um proces-       e à facilidade de introdução do               Carlos, SP), e Embrapa Soja (Londri-
so conhecido como “humanização”,         transgene.                                    na, PR) – a Unicamp, a Universidade
ou seja, fazer com que sejam aceitos                                                   de Brasília (UnB), a Universidade de
por seres humanos [A utilização de            BC&D – De que maneira a                  São Paulo (USP), a Universidade de
fármacos à base de anticorpos re-        engenharia genética pode inten-               Montevidéu e o Instituto Butantã for-
combinantes vem se tornando uma          sificar a utilização de anticorpos            maram uma rede para produção de
realidade em todo o mundo]. Os           no Brasil, já que apresentam bom              biomoléculas voltadas para a saúde
produtos humanizados também já           potencial para cura de muitas en-             humana e animal. O objetivo é de-
ganham volume no mercado. Nos            fermidades?                                   senvolver plantas e animais que atu-

                                                     Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho   3
em como biofábricas, ou seja, que              ainda está em fase inicial. No mo-          de vista da medicina, o ideal é que
    expressem características de interes-          mento, estamos empenhados na                esses produtos passem por testes
    se para os seres humanos e os ani-             busca de genes que são expressos            científicos para que se conheçam a
    mais. Atualmente, além das plantas             nas glândulas das aranhas brasilei-         fundo as suas propriedades medici-
    de soja com os anticorpos anticâncer,          ras, com o objetivo de formar um            nais. Muitos deles não apresentam
    estão sendo desenvolvidas também               banco genético na Unidade. Algu-            nenhum efeito do ponto de vista da
    plantas de soja com o hormônio do                                                          ciência e os seus resultados são
    crescimento humano; dois outros an-             “O que eu acho que existe é uma certa      puramente de caráter somático. Os
    ticorpos com a UnB; alface e tomate             inércia da indústria para a criação de     fitoterápicos e seus efeitos precisam
    transgênicos com uma proteína anti-                                                        ser estudados. Daí a importância da
    diarréica; além de animais transgêni-           novas fábricas, que hoje são muito ne-     ciência e da tecnologia, que
    cos com características de interesse            cessárias em função da descoberta cada     disponibilizam as ferramentas ne-
    no leite. Dessas pesquisas, a que está          vez mais ágil de novas moléculas, oriun-   cessárias para estudar e conhecer as
    em fase mais adiantada é a soja                 das da biodiversidade, e em alguns ca-     aplicações de diferentes produtos
    transgênica com os anticorpos contra            sos até a partir de fitoterápicos.”        oriundos de plantas.
    o câncer de mama.                                                                               O segundo ponto está relacio-
         É muito importante ressaltar que                                                      nado à indústria farmacêutica. Eu,
    nenhuma dessas plantas vai fazer               mas espécies potencialmente inte-           particularmente, não acredito em
    parte da cadeia alimentar. Todas               ressantes já foram coletadas e en-          boicote. O que eu acho que existe é
    elas serão utilizadas para a produ-            contram-se no Butantã.                      uma certa inércia da indústria para a
    ção de fármacos.                                                                           criação de novas fábricas, que hoje
                                                        BC&D – O grande avanço da              são muito necessárias em função da
        BC&D – Recentemente, a                     indústria farmacêutica, que se en-          descoberta cada vez mais ágil de
    mídia divulgou amplamente uma                  contra em poder das multinacio-             novas moléculas, oriundas da biodi-
    pesquisa baseada na utilização de              nais, tem feito com que as pesso-           versidade, e em alguns casos até a
    proteínas da teia de aranha e que              as se esqueçam do grande poten-             partir de fitoterápicos. As empresas
    pode beneficiar vários setores da              cial dos remédios fitoterápicos.            teriam que mudar toda a sua estrutu-
    indústria. Em que estágio se en-               Na sua avaliação, os produtos ge-           ra e até que ponto será que elas
    contra essa pesquisa?                          neticamente modificados com                 estão interessadas nessa vantagem
                                                   propriedades medicinais podem               comercial e vão estimular o estabe-
         Elíbio Rech – Essa pesquisa é                                                         lecimento de novas fábricas? Na ver-
    muito interessante e está sendo                 “... essa tecnologia de plantas transgê-   dade, o cenário mundial hoje se
    conduzida em parceria com o Insti-                                                         constitui de sistemas já estabeleci-
                                                    nicas vai exatamente ao encontro de
    tuto Butantã, Universidade de São                                                          dos para produção de proteínas re-
    Paulo (USP), Unicamp e com a                    uma demanda da sociedade, que é a          combinantes, como por exemplo, a
    Embrapa Instrumentação Agropecu-                redução da utilização de defensivos quí-   vacina da hepatite B, a insulina e o
    ária, em São Carlos, SP. Trata-se do            micos com a conseqüente redução de         hormônio do crescimento humano,
    estudo das proteínas que compõem                seus efeitos para o meio ambiente. Não     entre outros. Essas proteínas são
    as teias de aranhas e que pode ser a                                                       vendidas na farmácia, mediante pres-
                                                    existe nenhum antagonismo entre os
    chave para incrementar diversos                                                            crição médica. Elas já existem no
    setores da indústria, além da área              transgênicos e o meio ambiente, muito      mercado, são fabricadas por diver-
    médica. A pesquisa na Embrapa                   pelo contrário.”                           sas empresas e estão à disposição
    Recursos Genéticos e Biotecnologia                                                         dos consumidores.
    está sendo conduzida por mim e                 vir a sofrer algum tipo de boicote               A tecnologia do DNA recombi-
    pelo pesquisador Francisco Aragão,             por parte dessas grandes empre-             nante permite a geração de novas
    além dos técnicos e estudantes que             sas que, potencialmente, perde-             moléculas oriundas da biodiversi-
    compõem a nossa equipe. A mani-                riam mercados?                              dade em ritmo cada vez mais acele-
    pulação das proteínas encontradas                                                          rado. Por exemplo, nós estamos
    nas teias de algumas aranhas brasi-                 Elíbio Rech – Essa questão tem         testando, em parceria com a USP,
    leiras permitiu entender o funciona-           dois pontos importantes, que de-            uma nova molécula chamada
    mento das folhas alfa e beta, que são          vem ser enfatizados. Um se refere           gomesina, um peptídeo isolado de
    as responsáveis pela rigidez e elas-           aos medicamentos fitoterápicos, que         uma aranha, e que tem potencial
    ticidade dos fios. Esse estudo vai             têm sido utilizados principalmente          contra bactérias e, por isso, pode
    gerar benefícios para a indústria de           por comunidades locais e indígenas          ser usado para a fabricação de anti-
    vestuário, através da fabricação de            com sucesso porque os povos des-            bióticos, e é eficiente também con-
    novos tipos de tecidos, sem falar na           sas comunidades detêm o conheci-            tra alguns fungos. O nosso objetivo
    área médica, que vai poder contar              mento tradicional e conhecem os             é desenvolver um sistema para
    com fios mais finos e resistentes,             efeitos e formas de utilização das          expressá-la porque até hoje ela nun-
    muito úteis para a sutura. A pesquisa          plantas medicinais. Mas, do ponto           ca foi expressa em nada, a não ser

4   Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 2003
na aranha. Estamos buscando for-        normalmente o processo é feito com            em laboratório pelo qual se transfor-
mas para expressá-la em plantas ou      mamíferos e nós também somos ma-              ma a folha em pó), quantificadas,
no leite de animais. Mas esse é         míferos, então há mais chance de              padronizadas e colocadas dentro de
apenas um exemplo de um merca-          que microrganismos passem para as             cápsulas para serem vendidas.
do que está em expansão porque          moléculas. Logo, a produção dessas
novas moléculas potencialmente in-      moléculas em plantas é uma segu-                   BC&D – Enquanto se fala mui-
teressantes estão sendo constante-                                                    to das plantas transgênicas, des-
mente descobertas e precisam ser         “Hoje existe a noção errada de que tudo      via-se a discussão dos males cau-
produzidas. Existem algumas fábri-       que é natural é bom. Nem sempre é            sados pelos agrotóxicos tanto
cas de produção já estabelecidas,                                                     para o meio ambiente quanto para
mas são muito caras e já estão           assim. Enquanto a atenção da socieda-        a saúde da população. Você con-
atingindo o seu limite de produção.      de está desviada para os produtos trans-     corda?
Então têm que ser criadas novas          gênicos, que hoje são os vilões de plan-
fábricas, o que pressupõe grande         tão, os produtos orgânicos são aceitos            Elíbio Rech – Sem dúvida, con-
investimento, já que a montagem          sem restrições, quando deveriam ser          cordo, claro. A questão é a seguinte:
de cada uma delas envolve milhões                                                     essa tecnologia de plantas transgê-
de dólares. A possibilidade de           muito mais questionados.”                    nicas vai exatamente ao encontro de
produzí-las em biofábricas -plantas                                                   uma demanda da sociedade, que é a
ou animais – reduz os custos de         rança adicional para o consumidor.            redução da utilização de defensivos
produção e, conseqüentemente, do        Mas, se todas as regras de segurança          químicos com a conseqüente redu-
produto final. Pelo que eu sei, já      forem seguidas à risca, o processo            ção de seus efeitos para o meio
existe em nível internacional um        pode ser feito também com animais             ambiente. Não existe nenhum anta-
reconhecimento por parte das in-        e bactérias sem riscos para os seres          gonismo entre os transgênicos e o
dústrias de que muitas moléculas        humanos. No caso de vacinas, a                meio ambiente, muito pelo contrá-
estão chegando e que as fábricas já     situação é um pouco diferente, já             rio. Uma questão, entretanto, que
estabelecidas não serão capazes de      que são feitas na maior parte em              deve ser amplamente debatida pela
produzí-las. Os sistemas de expres-     plantas. Mas há um ponto que eu               sociedade, e não tem sido, é com
são alternativos, como as biofábri-     gostaria de enfatizar novamente: ne-          relação aos produtos orgânicos. Por
cas, também já são reconhecidos         nhum desses produtos vai entrar na            que? A base desses produtos é o
pela indústria como uma potencial       cadeia alimentar. Serão utilizados            esterco. E o esterco, tanto de gali-
solução para suprir a demanda a                                                       nha, quanto de bovinos normalmen-
custos mais baixos, mas como eu          “... a rotulagem vai enfrentar algumas       te apresenta grande quantidade de
disse anteriormente, ainda existe                                                     antibióticos, principalmente no caso
uma certa inércia em mudar toda a        dificuldades, como controlar alimentos       das aves, que ficam depositados no
estrutura já existente.                  que são vendidos em lugares alternati-       solo. Os produtos orgânicos, como
                                         vos. Como saber, por exemplo, se a           qualquer outra tecnologia, têm que
     BC&D – As vacinas transgêni-        pamonha vendida na beira da estrada          ser devidamente regulamentados, o
cas podem ajudar a controlar ou-         é feita a partir de milho transgênico?”      que não tem acontecido no Brasil,
tras doenças que afligem a popu-                                                      onde são vendidos livremente em
lação mundial, como a gripe e a                                                       feiras, sem nenhum tipo de selo. Em
tuberculose?                            somente como fármacos. Eles vão               alguns lugares, como supermerca-
                                        integrar a cadeia de medicamentos,            dos e em grande parte das feiras de
     Elíbio Rech – Sem dúvida. É        o que implica alguns cuidados espe-           São Paulo, esses produtos já são
importante lembrar que cada caso é      ciais, como por exemplo, no trans-            regulamentados, mas na maior parte
um caso, mas existem duas aplica-       porte, que tem que ser feito em               dos estados brasileiros, isso não
ções básicas. A primeira é a produ-     caminhão fechado para não correr o            acontece. Então,eu acho que a po-
ção de medicamentos em larga esca-      risco de que alguma planta de soja            pulação se engana redondamente
la. A grande vantagem da produção       caia na estrada e possa ser plantada.         com relação aos alimentos orgâni-
em planta é que não há o perigo de      Quanto às plantas-vacinas transgê-            cos, por exemplo, que podem ser de
contaminação, como aconteceu com        nicas, há ainda outra questão impor-          alto risco se não forem fiscalizados.
a doença da vaca louca, por exem-       tante a ser ressaltada: elas nunca            Hoje existe a noção errada de que
plo. Se o hormônio do crescimento       serão vendidas em feiras ou como              tudo que é natural é bom. Nem
humano for produzido em planta,         fitoterápicos. Serão vendidas na far-         sempre é assim. Enquanto a atenção
depois de purificado, o ser humano      mácia, como medicamentos, sob                 da sociedade está desviada para os
pode ter segurança total de que não     prescrição médica. É claro que por            produtos transgênicos, que hoje são
será contaminado por nenhum ví-         exemplo o alface transgênico para             os vilões de plantão, os produtos
rus. Mas quando é produzido em          combater a leishmaniose não será              orgânicos são aceitos sem restri-
animais, o controle na purificação      vendido em folha na farmácia. As              ções, quando deveriam ser muito
tem que ser muito mais rígido, já que   folhas serão liofilizadas (processo           mais questionados.

                                                    Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho   5
BC&D – Na sua avaliação,                   ro, mas hoje, com a Lei de Proteção       lamentação e fiscalização federais
    quais as vantagens práticas e po-              de Cultivares, é possível fazer um        e estaduais. A sociedade deve exi-
    tenciais que as plantas transgê-               mapeamento da planta, de forma            gir segurança. Eu participei recen-
    nicas têm em relação às conven-                que se alguém utilizá-la no futuro, a     temente de um seminário internaci-
    cionais?                                       pessoa que a desenvolveu tem como         onal em São Paulo, no qual foi
                                                   localizá-la e cobrar o que é devido.      levantada uma questão muito inte-
         Elíbio Rech – Depende, a situ-                                                      ressante: nos EUA, todo produto é
    ação deve ser avaliada caso a caso.                                                      seguro até que se prove o contrário;
    Mas no contexto atual podem ser
                                                    “Os transgênicos no Brasil foram colo-   na França, é o contrário. Já no
    ressaltadas as seguintes característi-          cados no banco do réus, sem nenhuma      Brasil, a situação é inédita, pois
    cas: tolerância a herbicidas, resis-            acusação concreta. Ou seja, estão se-    aqui os produtos transgênicos são
    tência a insetos e vírus, e modifica-           guindo o caminho inverso ao aceitável:   seguros e inseguros, ao mesmo tem-
    ção da qualidade protéica. A quali-             são culpados até que se prove sua ino-   po. Isso porque a polarização – a
    dade nutricional beneficia direta-                                                       favor e contra esses produtos – faz
    mente o consumidor. As outras não,
                                                    cência. Como é que uma sociedade pode    com que sejam taxados de seguros
    beneficiam o produtor através da                evoluir nesse sentido?”                  por um grupo e de inseguros por
    redução de custos de produção;                                                           outro. E o consumidor fica perdido
    melhor competitividade no merca-               Então, eu acho que sim, tanto faz se      no meio, sem saber o que fazer. Os
    do externo e a redução no uso de               a semente for transgênica ou não.         transgênicos no Brasil foram colo-
    defensivos agrícolas. Sem falar nos                                                      cados no banco do réus, sem ne-
    benefícios para o meio ambiente. O                  BC&D – A SBPC (Sociedade             nhuma acusação concreta. Ou seja,
    agronegócio é que tem impulsiona-              Brasileira para o Progresso da Ci-        estão seguindo o caminho inverso
    do esse país. Então, é fundamental             ência), em texto publicado a res-         ao aceitável: são culpados até que
    integrar tecnologia ao sistema de              peito de OGM’s diz que: “a intro-         se prove sua inocência. Como é que
    produção de alimentos.                         dução de OGM’s na cadeia de pro-          uma sociedade pode evoluir nesse
                                                   dução de alimentos para uso hu-           sentido? A sociedade brasileira tem
         BC&D – As sementes devem                  mano requer a divulgação através          que confiar mais nas suas institui-
    ser consideradas patrimônio da                 da rotulagem de cada produto,             ções. Se não existe essa confiança,
    humanidade. No seu ponto de                    dando informações detalhadas e            então o problema é mais sério e
    vista, esses mesmos princípios po-             compreensíveis. Como você ana-            transcende os produtos transgêni-
    dem ser empregados também no                   lisa essa questão?                        cos. Nesse caso tem que haver co-
    caso das sementes transgênicas?                                                          brança, pressão para que as autori-
                                                        Elíbio Rech – A rotulagem é          dades melhorem o sistema, como
         Elíbio Rech – Veja bem, só                um direito do consumidor. E é uma         por exemplo, com a contratação de
    para fazer uma comparação. A nossa             questão que o país deve decidir. Se       mais fiscais. Por outro lado, eu acho
    Lei de Proteção de Cultivares dá               o Brasil decidir rotular, tudo bem.       que essa discussão sobre os produ-
    prerrogativa ao produtor – especial-           Mas para mim essa não é a questão         tos transgênicos é muito importan-
    mente para o pequeno, que só usa               principal. O fato de o produto ser        te para a nossa sociedade porque é
    aquela semente para o seu sustento             rotulado não diz se ele é seguro. E       um exercício de avaliação crítica.
    – de comprar a semente, plantar,               é isso o que o consumidor deve            Esses produtos abriram o caminho
    colher e utilizá-la no ano seguinte            saber de fato: se os produtos que         para que qualquer nova tecnologia
    novamente. Então, ele não precisa              chegam às prateleiras dos super-          que venha a “bater à nossa porta”
    comprar. Nos EUA, a legislação não             mercados são seguros. Além disso,         daqui pra frente seja questionada.
    oferece essa prerrogativa e, por isso,         é importante que as pessoas sai-          Eu torço para que a sociedade
    as sementes têm que ser compradas              bam que a rotulagem vai enfrentar         direcione brevemente esse questio-
    todos os anos. É claro que as situa-           algumas dificuldades, como con-           namento para os produtos orgâni-
    ções dos dois países são completa-             trolar alimentos que são vendidos         cos, como eu já disse no início
    mente diferentes. Nos EUA, a agri-             em lugares alternativos. Como sa-         dessa entrevista. Será que são tão
    cultura é extremamente subsidiada,             ber, por exemplo, se a pamonha            naturais assim? O aprimoramento
    além de outras vantagens. Mas o                vendida na beira da estrada é feita       do senso crítico em uma sociedade
    ideal seria que o agricultor brasileiro        a partir de milho transgênico? Nos        só traz benefícios. A discussão soci-
    também pudesse comprar as semen-               EUA, onde a população confia nos          al é sempre muito saudável, mas a
    tes todos os anos porque a qualida-            órgãos de fiscalização e regulamen-       população deve ficar atenta porque
    de da semente se torna bem melhor.             tação, os produtos não são rotula-        o que não é nada saudável é excluir
    Então, respondendo a pergunta, é               dos. A sociedade não exigiu isso.         o Brasil da tecnologia de desenvol-
    claro que qualquer tipo de semente             Então, o que eu acho é que a soci-        vimento de produtos transgênicos,
    representa uma agregação de valor              edade tem que confiar em duas             que é fundamental para o seu de-
    e soberania para os países. Não sei            instâncias: primeiro, nos cientistas.     senvolvimento e competitividade
    como essa situação vai ficar no futu-          Segundo, nas instituições de regu-        internacional.

6   Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 2003
Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho   7
Carta ao Leitor

                                          Prezados Leitores,

                                          Como já informamos, a revista Biotecnologia foi
                                          reestruturada desde a edição anterior e está sendo editada
                                          apenas em sua versão on line, disponível no site
                                          www.biotecnologia.com.br, à toda comunidade científica,
                                          com duas edições anuais, tanto em formato html como
                                          também em pdf, e obedecendo os mesmos critérios e
                                          objetivos que nortearam nosso trabalho desde sua funda-
                                          ção, em 1997, como a indexação e a divulgação da
                                          pesquisa no país.

BIOTECNOLOGIA Ciência & Desenvolvimento   Nesta edição, contamos com a prestigiosa colaboração do
           KL3 Publicações                Dr. Elíbio Rech, pesquisador da Embrapa Cenargen, que
                                          em nossas páginas verdes nos conta a respeito não apenas
                Fundador                  sobre novas aplicações dentro das múltiplas possibilida-
        Dr. Henrique da Silva Castro      des da engenharia genética, como dá sua opinião sobre
                                          temas tão polêmicos, como a rotulagem dos produtos
          Direção Geral e Edição          transgênicos, e até mesmo sobre os alimentos orgânicos,
           Ana Lúcia de Almeida           tão em moda em nossos dias.
                   E-mail                 Esperamos que nossos leitores continuem também
     biotecnologia@biotecnologia.com.br   interagindo conosco, para que possamos aperfeiçoar cada
                                          vez mais.
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                                          Dr. Henrique da Silva Castro
             Projeto Gráfico
           KL3 Publicações LTDA

         SHIN CA 05 Conjunto “J”
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         Lago Norte - Brasília - DF
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       Os artigos assinados são de
        inteira responsabilidade
             de seus autores.

              ISSN 1414-4522




                                          Nota: Todas as edições da Revista Biotecnologia Ciência &
                                          Desenvolvimento estão sendo indexadas para o AGRIS
                                          (International Information System for the Agricultural Sciences
                                          and Technology) da FAOepara aAGROBASE (Base deDados da
                                          AgriculturaBrasileira).
Conselho Científico
Dr.   Aluízio Borém - Genética e Melhoramento Vegetal
                                                                         Colaboraram nesta edição:
Dr.   Henrique da Silva Castro - Saúde;
Dr.   Ivan Rud de Moraes - Saúde - Toxicologia;                          Alexander Machado Cardoso, Anderson Brito da Silva ,
Dr.   João de Deus Medeiros - Embriologia Vegetal;                       André Vitor Chaves de Andrade, Aneli de Melo Barbosa,
Dr.   Naftale Katz - Saúde;                                              Ariadne Cristiane Cabral da Cruz, Ariane Maria Leoni,
Dr.   Pedro Jurberg - Ciências;                                          Carlos de Oliveira Paiva Santos, Celso Omoto, Christiane
Dr.   Sérgio Costa Oliveira - Imunologia e Vacinas;                      Philippini Ferreira Borges, Cláudio Lúcio, Fernandes
Dr.   Vasco Ariston de Carvalho Azevedo - Genética de Microorganismos;   Amaral, Cosme Damião Cruz, Danielle Patrice Alexandre
Dr.   William Gerson Matias - Toxicologia Ambiental.                     Lima, Elias da Costa, Elíbio Rech, Ellen Cristine Giese,
                                                                         Elza Fernandes de Araújo, Ester Ribeiro Gouveia, Fábio
Conselho Brasileiro de Fitossanidade - Cobrafi                           André dos Santos, Gláucia Manoella de Souza Lima, Hui
Dr. Luís Carlos Bhering Nasser - Fitopatologia                           I Tsai, Humberto Miguel Garay, Iracema Mª Castro Coimbra
                                                                         Cordeiro, Iulla Naiff Rabelo de Souza Reis, Janete Magali
Fundação Dalmo Catauli Giacometti                                        de Araújo, João de Deus Medeiros, João Marcelo Ochiucci,
Dr. Eugen Silvano Gander - Engenharia Genética;                          Joel Majerowicz, Jorge Fernando Pereira, José Caetano
Dr. José Manuel Cabral de Sousa Dias - Controle Biológico;               Zurita da Silva, José Ernesto Belizário, Juliano Alves, Lara
Dra. Marisa de Goes - Recursos Genéticos                                 Tschopoko Pedroso Pereira, Lexandra Novaki, Loiva Maria
                                                                         Karnopp, Mª Fernanda Diniz, Manoel Teixeira Souza
Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares - IPEN                    Júnior, Marcelo Poletti, Maria de Lourdes Corradi da Silva,
Dr. José Roberto Rogero                                                  Maria do Carmo Bittencourt-Oliveira, Maria do Socorro
                                                                         Duarte, Marisa Vieira de Queiroz, Mariza Boscacci Marques,
Sociedade Brasileira de Biotecnologia - SBBiotec                         Natália Florêncio Martins, Naysa B. Mandetta Clementino,
Dr. Luiz Antonio Barreto de Castro - EMBRAPA                             Odílio B. G. Assis, Orlando Bonifácio Martins, Osmar Alves
Dr. Diógenes Santiago Santos - UFRGS                                     Lameira, Renato Molica, Ricardo Pilz Vieira, Rodrigo Barros
Dr. José Luiz Lima Filho - UFPE                                          Rocha, Rodrigo Volcan Almeida, Sylvia M. Campbell
Dra. Elba P. S. Bon - UFRJ                                               Alqueres, Welington Inácio de Almeida




               Entrevista
               Novas Aplicações para a Engenharia Genética                                                         2

               Pesquisa
               Predição do Potencial de Alergenicidade em OGMs - estudo de caso                                  10
               Resistência de Inimigos Naturais a Pesticidas                                                     16
               O Mapeamento Genético no Melhoramento de Plantas                                                  27
               Filmes Comestíveis de Quitosana                                                                   33
               Bactérias Produtoras de Biossurfactantes                                                          39
               Marcadores Microssatélites em Espécies Vegetais                                                   46
               Biovidros                                                                                         51
               Melhoramento Biotecnológico de Plantas Medicinais                                                 55
               Degradação Seletiva de Proteínas e suas Implicações no Câncer                                     60
               Archaea: Potencial Biotecnológico                                                                 71
               Otimização da Propagação In vitro de Curauá (Ananas erectifolius L. B. SMITH)                     78
               Cianobactéria Invasora                                                                            82
               Marcadores Moleculares e Geminivírus                                                              91
               Glucanases Fúngicas                                                                               97
               Biossegurança em Biotérios                                                                       105
               A Biotecnologia e a Extinção de Espécies                                                         109
Predição do Potencial
                                                  de Alergenicidade em
         Pesquisa
                                                  OGMs - estudo de caso
                                                             Gene da capa protéica de Papaya ringspot virus em mamoeiro transgênico

     Manoel Teixeira Souza Júnior, Ph.D.              Alergia, biossegurança de                             Em 2001, a FAO e a OMS defini-
     Pesquisador em Biotecnologia/Genômica da
     Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
                                                            OGMs e uso de                             ram como árvore de decisão para
     msouza@cenargen.embrapa.br                           Bioinformática na                           alergenicidade (Ver anexo) uma série
                                                        predição de proteínas                         de condições que definem o potenci-
     Natália Florêncio Martins, Ph.D.                        alergênicas                              al alergênico de uma nova proteína
     Pesquisadora em Bioinformática da Embrapa                                                        introduzida em alimentos genetica-
     Recursos Genéticos e Biotecnologia
     natalia@cenargen.embrapa.br
                                                          Um dos pontos principais para a             mente modificados. Esse enfoque uti-
                                                    garantia de biossegurança de alimentos            liza estratégias que investigam a fonte
     Ilustrações cedidas pelos autores              geneticamente modificados (OGMs), tam-            do gene, a homologia da seqüência
                                                    bém conhecidos como transgênicos, é a             com alérgenos conhecidos, as rea-
                                                    avaliação do potencial de alergenicidade          ções de associação com IgEs de fonte
                                                    das proteínas codificadas pelos genes             sorológica de indivíduos alérgicos e
                                                    inseridos. Modificações genéticas po-             investiga algumas propriedades físi-
                                                    dem afetar a alergenicidade dos OGMs              co-químicas da proteína codificada
                                                    de duas formas principais: pela introdu-          pelo gene introduzido.
                                                    ção de alérgenos ou pela modificação do                 A análise bioinformática das se-
                                                    nível ou da natureza de alérgenos intrín-         qüências é fundamental para detectar
                                                    secos. Os alérgenos podem ser introdu-            e prever propriedades estruturais, re-
                                                    zidos pela expressão de proteínas trans-          ações adversas e o potencial de aler-
                                                    gênicas, uma vez que as proteínas têm             genicidade dessas proteínas. A FAO e
                                                    sido apontadas como agentes causado-              a OMS recomendam uma padroniza-
                                                    res de diversas alergias (alimentar,              ção nas metodologias utilizadas para
                                                    esporos, pólen, etc.) (Kleter et al., 2002).      a árvore de decisão.
                                                          O potencial de alergenicidade de                  A comparação das seqüências de
                                                    uma proteína não é um parâmetro facil-            interesse com bancos de dados de
                                                    mente previsível, sendo dependente da             alergênicos como o Structural Database
                                                    diversidade genética e da variabilidade           of Allergenic Proteins - SDAP (http://
                                                    da resposta de IgEs 1 específicas. Dada a         fermi.utmb.edu/SDAP/index.html), e
                                                    falta de previsibilidade da alergenicida-         outros servidores disponiveis na
                                                    de, faz-se necessário obter evidências            internet, usando algoritmos de buscas
                                                    que minimizem as dúvidas quanto ao                comparativas como o FASTA e BLAST,
                                                    potencial alergênico da proteína em               é o método internacionalmente reco-
                                                    questão, o que é feito mediante um                nhecido para tal detecção. O método
                                                    processo de acessar riscos compostos de           atual permite encontrar medidas de
                                                    diversos passos (European Comission,              similaridade e/ou identidade com pro-
                                                    2003).                                            teínas conhecidas como alergênicas.
                                                    ________________________________________
                                                    1
                                                      A principal barreira imunológica a proteínas estranhas é a secreção de moléculas IgA, no
                                                    interior do intestino, a qual se complexa com as proteínas estranhas e bloqueia a sua absorção.
                                                    As proteínas estranhas que conseguem chegar à circulação são recebidas por anticorpos da
                                                    classe IgA e IgG, os quais são eliminados do organismo pelo sistema retículo endotelial. Pessoas
                                                    normais geram anticorpos da classe IgA, IgM e IgG em minúsculas quantidades em reação a
                                                    antígenos alimentares. Reações mediadas por IgE liberam histamina, prostaglandinas e
                                                    leucotrienos, produzindo uma reação alérgica típica imediata, com sintomas que aparecem em
                                                    minutos.
                                                    Reações não mediadas por IgE produzem os sintomas em horas ou dias. Reações não mediadas
                                                    por IgE e de mecanismo desconhecido causam um aumento da reatividade a um determinado
                                                    alimento sem o envolvimento do sistema imune, as quais chamamos de intolerância alimentar.
                                                    (Theron G. Randolph: An Alternative Approach to Allergies - The New Field of Clinical Unravels
                                                    the Environmental Causes of Mental and Physical Ills. Harper & Row, Publishers, New York,1989).


10     Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 2003
aminoácidos contíguos como o número
                                                                                                  ideal, enquanto que o ILSI/IFBC deter-
                                                                                                  mina seis aminoácidos contíguos. O
                                                                                                  segmento idêntico deve ser considerado
                                                                                                  com base na similaridade química dos
                                                                                                  aminoácidos, cientificamente justificada
                                                                                                  de modo que evite resultados falso-
                                                                                                  positivos (European Comission, 2003).
                                                                                                       Recentemente, Hileman e colabo-
                                                                                                  radores, que buscavam identidades em
                                                                                                  segmentos contíguos de 6, 7 e 8 amino-
                                                                                                  ácidos idênticos, compararam, usando
                                                                                                  o algoritmo FASTA, seqüências de seis
                                                                                                  endotoxinas de Bacillus thuringiensis
                                                                                                  (inseticidas), três seqüências de proteí-
                                                                                                  nas alimentares não alergênicas e 50
                                                                                                  proteínas de milho selecionadas aleato-
                                                                                                  riamente. Os autores concluíram que o
                                                                                                  algoritmo usado é o mais eficiente e o
Figura 1 .Alinhamento de seqüências de aminoácidos das proteínas capsídicas dos                   que melhor prediz para reações cruza-
isolados brasileiro (BR) e havaiano (HA5-1) de Papaya ringspot vírus (PRSV) utilizados            das entre proteínas alergênicas, e suge-
como doadores de gene cp para a produção dos mamoeiros transgênicos do Brasil e
dos EUA, respectivamente. Tarja vermelha mostra localização do epitopo EKQKEK na
                                                                                                  re que o segmento de oito aminoácidos
proteína capsídica do isolado havaiano.                                                           estabeleça uma margem maior de segu-
                                                                                                  rança para a predição de alergenicida-
Similaridades em seqüências primári-                   A avaliação das seqüências através         de. Além disso, os autores apontaram
as podem sugerir reações alérgicas               das ferramentas da bioinformática auxi-          que o segmento de seis aminoácidos
decorrentes do aparecimento de regi-             liam na predição de reações cruzadas e           idênticos foi o que produziu um maior
ões específicas de apresentação às               de eventuais reconhecimentos pelas               número de falsos positivos.
imuno-globulinas epitopos2.                      imunoglobulinas do tipo IgE. O CODEX
     Quanto à análise de homologia               alimentarius considera como potencial-              Epitopo potencialmente
em seqüências de proteínas introdu-              mente alergênica a proteína que possuir                alergênico na capa
zidas, recomenda-se o uso de bancos              35% de identidade com uma extensão                    protéica do Papaya
de dados internacionalmente conhe-               (janela) de 80 aminoácidos ao longo de               ringspot virus (PRSV)
cidos como o SwissProt, TrEMBL,                  toda a seqüência protéica; contudo, esse
que contêm seqüências de amino-                  parâmetro ainda está sendo discutido                  Recentemente,          Kleter    e
ácidos da grande maioria dos alérge-             pela comunidade internacional (Hileman           Peijnenburg publicaram um trabalho
nos dos quais se conhecem as rea-                et al., 2002). Já organizações internacio-       na revista BMC Structural Biology
ções alérgicas.                                  nais como a FAO e a OMS sugerem oito             (Kleter et al., 2002). Nessa publicação
                                                                                                  os autores propõem uma metodologia
 Tab ela 1 P o pu laçõ es d e mamo eiro s tran sgên ico s tran sferid o s para a E mb rapa Man d io ca e Fru ticu ltu ra.
 P o pu lação           Geração                                          Descrição
 Embrapa PTP01            R1          População originária de autofecundação controlada da linha Ro UM1a
 Embrapa PTP02            R1          População originária de cruzamento controlado entre linhas Ro UM7d e Ro UM1a
 Embrapa PTP03            R1          População originária de autofecundação controlada da linha Ro UM1g
 Embrapa PTP04            R1          População originária de cruzamento controlado entre linhas Ro UM7d e Ro UM11d
 Embrapa PTP05            R1          População originária de autofecundação controlada da linha Ro UM11d
 Embrapa PTP06            R1          População originária de autofecundação controlada da linha Ro UM15b
 Embrapa PTP07            R1          População originária de autofecundação controlada da linha Ro UM18e
 Embrapa PTP08            R1          População originária de autofecundação controlada da linha Ro TS1j
 Embrapa PTP09            R1          População originária de autofecundação controlada da linha Ro TS7f
 Embrapa PTP10            R1          População originária de autofecundação controlada da linha Ro TS8b
 Embrapa PTP17            R1          População originária de autofecundação controlada da linha Ro TL6b
                                      População obtida por autofecundação controlada de planta R1 resultante de
 Embrapa PTP18               R2       cruzamento entre linhas Ro UM7c e UM1g
 Embrapa PTP28               R1       População originária de autofecundação controlada da linha Ro UM6h
________________________________________
2
  Epitopos – O epitopo é constituído por um grupo de átomos, que formam configurações específicas tridimensionais, esterioespecíficas de tamanho
limitado (em média na ordem de um tri a um hexassacarídeo, ou de um tri a um decapeptídeo), na superfície da molécula imunogênica. São as
estruturas que induzem a imunogenicidade de uma molécula (regiões ditas imunopotentes) e seus determinantes específicos antigênicos (epitopos
ou locais conformacionais ou seqüenciais) relacionam-se mais com zonas distintas da moléculas. Atualmente, somente algumas moleculas de plantas
são conhecidas como epitopos - que têm afinidade por IgEs. Uma coleção dessas moléculas foi organizada na forma de uma base de dados disponível
no endereco: http://www.csl.gov.uk/allergen/Index.htm.



                                                        Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 2003        11
de avaliação de casos potencialmente                                               Anexo I
     alergênicos e estendem as buscas com-
                                                                                 Árvore de Decisão FAO
     parativas a bancos de dados, incluído
     o pipeline, a predição de alergenicidade
     pelo método de Hoop & Woods (1981)
     e testes sorológicos para proteínas cuja
     identidade com alergênicos fosse de
     seis ou sete aminoácidos.
           Naquele artigo, a metodologia pro-
     posta foi aplicada em 33 proteínas trans-
     gênicas e suas predições de alergenici-
     dade foram discutidas. O procedimento
     foi dividido em duas partes: primeira-
     mente, foi extraída da literatura interna-
     cional uma busca de epitopos lineares,
     em particular, de proteínas alergênicas;
     em seguida, a lista de proteínas
     alergênicas foi comparada com o con-
     junto de proteínas transgênicas.
           O segundo passo da análise foi a
     predição de alergenicidade através do
     algoritmo computacional descrito em
     Hoops & Woods (1981). Subseqüen-
     temente, foi verificado se a região
     predita como antigênica da proteína
     coincidia com a seqüência de proteí-
     na alergênica. Esse passo foi particu-
     larmente útil para os casos onde os
     dados da literatura eram escassos.
           Como resultado da metodologia
     aplicada, 22 proteínas apresentaram
     resultados positivos com segmentos de
     seis ou sete aminoácidos. Três dessas
     foram identificadas como potencialmen-
     te alergênicas [PRSV CP - proteína
     capsídica do Papaya ringspot vírus
     (PRSV) (gi593497), acetolactato sintase
     GH50 e glicofosfato oxidoredutase. Os
     demais casos foram claramente negati-
     vos, como a Cry1Ac.
           A análise da capa protéica (CP)
     do vírus causador da doença deno-
     minada “Mancha Anelar” ou “Mosai-
     co”, o PRSV, em especial o isolado do
     papaya havaiano HA 5-1, doador do
     gene de resistência nas variedades
     transgênicas Rainbow e SunUp, cul-
     tivadas no Havaí desde 1998, apre-
     sentou o segmento EKQKEK idênti-
     co a uma proteína alergênica de ne-
     matóide, sendo assim classificado
     como potencialmente alergênico
     pelo método de predição. Para a
     seqüência EKQKEK, não foram en-
     contrados dados na literatura que
     descrevam a potencial associação a
     IgEs. Portanto, os autores sugeriram
     que o potencial alergênico da prote-
     ína transgênica presente nos mamo-             Figura 2. Estrutura secundária das proteínas capsídicas dos isolados brasileiro (BR) e
     eiros havaianos fosse confirmado por           havaiano (HA5-1) de Papaya ringspot vírus (PRSV) utilizados como doadores de gene
     testes clínicos e/ou sorológicos.              cp para a produção dos mamoeiros transgênicos do Brasil e dos EUA, respectivamente.


12     Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 2003
Avaliando a presença do
                                                                                                 epitopo EKQKEK na capa
                                                                                                   protéica dos isolados
                                                                                                 brasileiros de PRSV, e nos
                                                                                                 mamoeiros transgênicos
                                                                                                 produzidos pela Embrapa
                                                                                                     Há pouco mais de dez anos, a
                                                                                                Embrapa, por intermédio de suas uni-
                                                                                                dades de Cruz das Almas (Embrapa
                                                                                                Mandioca e Fruticultura) e Brasília
                                                                                                (Embrapa Recursos Genéticos e Bio-
                                                                                                tecnologia), realiza um trabalho de
                                                                                                cooperação técnica com a New York
                                                                                                State Agriculture Experiment Station,
                                                                                                Cornell University, na cidade de
                                                                                                Geneva, no estado de New York, nos
                                                                                                EUA, com vistas a desenvolver mamo-
                                                                                                eiros (C. papaya) transgênicos resis-
                                                                                                tentes à Mancha Anelar, que é um dos
                                                                                                principais fatores limitantes dessa cul-
                                                                                                tura no Brasil.
                                                                                                     Em abril de 2001, foram incorpora-
                                                                                                das pela Embrapa Recursos Genéticos e
                                                                                                Biotecnologia, no programa de melho-
                                                                                                ramento genético de mamoeiro, desen-
                                                                                                volvido na Embrapa Mandioca e Fruti-
                                                                                                cultura, treze populações de mamoei-
                                                                                                ros transgênicos (Tabela 1). Os traba-
Figura 3. Hidrofobicidade das proteínas capsídicas codificadas pelos genes cp de Papaya         lhos de pesquisa da última fase de
ringspot vírus presente nos mamoeiros transgênicos brasileiros e havaianos. O quadro            desenvolvimento de mamoeiro trans-
superior mostra a hidrofobicidade da proteína do isolado PRSV BR (Souza Jr., 1999), e o
quadro inferior mostra a hidrofobicidade da proteína do isolado PRSV HA 5-1 (Acesso             gênico resistente à PRSV feitos pela
gi593497 no http://www.ncbi.nlm.nih.gov ).                                                      Embrapa compõem um dos projetos
                                                                                                que fazem parte [“Avaliação de segu-
                                                                                                rança alimentar e ambiental de mamo-
                                                                                                eiro geneticamente modificado para re-
                                                                                                sistência ao vírus da mancha anelar
                                                                                                (PRSV)”] da rede de Biossegurança de
                                                                                                Organismos Geneticamente Modifica-
                                                                                                dos, aprovada em 2002, no Macropro-
                                                                                                grama 1 da Embrapa.
                                                                                                     O gene cp utilizado nas constru-
                                                                                                ções gênicas aplicadas na transforma-
                                                                                                ção genética de mamoeiros das varie-
                                                                                                dades ‘Sunrise’ e ‘Sunset’ Solo, que
                                                                                                visam à resistência a isolados brasilei-
                                                                                                ros de PRSV, foi obtido a partir de um
                                                                                                isolado de PRSV coletado na região de
                                                                                                Nova Viçosa, no Estado da Bahia. As
                                                                                                populações transferidas para a
                                                                                                Embrapa Mandioca e Fruticultura fo-
                                                                                                ram originadas de plantas que conti-
                                                                                                nham uma das três versões do gene
                                                                                                cp, e são elas: UM (untranslatable
                                                                                                medium), TS (translatable short) e TL
                                                                                                (translatable large) (Souza Jr., 1999).
                                                                                                “Untranslatable” significa não-tradu-
Figura 4. Gráfico de antigenicidade gerado pelo método Hopp e Woods (1981) da seqüência         zido, isto é, o gene é transcrito, mas o
das proteínas capsídicas codificadas pelos genes cp de Papaya ringspot vírus presente nos       mRNA produzido a partir dele não
mamoeiros transgênicos brasileiros e havaianos. O quadro superior mostra a antigenicidade       gera proteína devido à presença de
da proteína do isolado PRSV BR (Souza Jr., 1999), e o quadro inferior mostra a antigenicidade
da proteína do isolado PRSV HA 5-1 (Acesso gi593497 no http://www.ncbi.nlm.nih.gov).            códon terminador inserido a alguns


                                                       Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 2003   13
Anexo II

                                                     O que é alergia alimentar?
            Nosso corpo se protege de infecções através do sistema imunológico. Nós produzimos moléculas, chamadas
       anticorpos, que reconhecem o agente causador da infecção. Existem diferentes tipos de anticorpos: aqueles que
       estão envolvidos em reações alérgicas chamam-se IgE. Nós sabemos que as moléculas de IgE são normalmente
       produzidas em resposta a infecções causadas por parasitas, como o agente causador da malária, por exemplo. Ainda
       não conhecemos a causa, mas algumas pessoas produzem IgE para outros agentes não parasitas, como o polén e
       alguns alimentos. Nessas reações de reconhecimento são deflagrados os sintomas de alergia, como febre, tontura,
       dores de cabeça e outros.
            As moléculas de IgE agem como etiquetas que se aderem às moléculas advindas do alimento ou do pólen,
       chamadas alérgenos. Quando alguém tem uma alergia alimentar e ingere o alérgeno, as IgEs atacam as moléculas
       « invasoras » e disparam as reações em cascata as quais caracterizam o processo alérgico. Um dos efeitos comuns
       das IgEs associadas às células basófilas é a liberação de grânulos de histamina, que, por sua vez, causam as reações
       inflamatórias que são percebidas pelos sintomas alérgicos.

                                                       Alergia ou Intolerância?
                                                                                   A tolerância imunológica é definida como a incapa-
                                                                             cidade específica adquirida, total ou parcial, por um
                                                                             indivíduo que desenvolve uma resposta imune humoral
                                                                             normal ou a mediação celular a um antígeno ou a diversos
                                                                             epitopos de um certo antígeno contra o qual ele normal-
                                                                             mente não desenvolveria. Um indivíduo dito tolerante
                                                                             possui a capacidade de responder a outros antígenos
                                                                             administrados ao mesmo tempo que o primeiro, que
                                                                             pode ou não bloquear seu potencial de resposta imune.
                                                                             Em outras palavras, a tolerância imunologica é também
                                                                             específica a um antígeno.
                                                                                   Uma outra coleção de sintomas são relatados em
                                                                             pessoas que são sensibilizadas por alimentos, como
                                                                             dores de cabeça, dores musculares e nas juntas e fadiga.
                                                                             Esse conjunto é comumente conhecido como intolerân-
                                                                             cia alimentar. Ainda assim, conhece-se muito pouco das
                                                                             reações que causam a intolerância e que podem se
                                                                             agravar para o diagnóstico de alergia.
                                                                                   Existem exceções : conhece-se bem a doença
                                                                             Celíaca (http://www.concordia.psi.br/~celiaco/
                                                                             doenca.htm) e a intolerância à lactose. Na doença
                                                                             Celíaca, as reações alérgicas são deflagradas pela ingestão
                                                                             de glúten (derivado de trigo, aveia e outros cereais). A
                                                                             intolerância à lactose não se caracteriza como alergia,
                                                                             mas causa alguns sintomas como a alergia ao leite com
                                                                             dores abdominais e diarréia. (http://www.celiac.org).


     códons após o códon iniciador.                      Sob a ótica do método de predição        não está presente no isolado brasileiro
     “Translatable” significa que há a tra-         descrito por Kleter et al. (2002), analisa-   (Figura 1). No lugar dele, é encontrado
     dução completa desse gene.                     mos a presença do epitopo EKQKEK e            o epitopo EKQKKK. O gráfico do
          A versão do gene cp do isolado            do potencial alergênico deste na prote-       alinhamento mostra que as regiões va-
     PRSV HA 5-1 utilizado para a produ-            ína expressa pelo gene da capa protéica       riáveis da proteína são pontuais e distri-
     ção do mamoeiro transgênico havaiano           (cp) encontrado nos mamoeiros trans-          buídas ao longo da seqüência. Algumas
     (Fitch et al., 1992) é uma versão curta        gênicos desenvolvidos por Souza Jr.           mutações observadas entre os residuos
     do gene cp (Ling et al., 1991) e não           (1999) e liberados para o programa de         33, 38, 44 e 54 são mais significativas
     apresenta a seqüência de nucleotíde-           melhoramento genético de C. papaya            para a estrutura da proteína.
     os necessária para traduzir a sua extre-       desenvolvido na Embrapa Mandioca e                 A predição da estrutura secundária
     midade N. Essa é a razão para a falta          Fruticultura. Quanto à presença do            das proteínas do isolado do Havaí indi-
     dos dezenove primeiros aminoácidos             epitopo, observamos que o alinhamen-          ca que os resíduos do epitopo exibem
     que estão presentes na proteína                to das seqüências de aminoácidos das          uma tendência a construírem uma es-
     capsídica do isolado Brasil. Bahia - ou        proteínas do capsídeo dos isolados BR         trutura em forma de alça (loop). En-
     PRSV BR (Figura 1).                            e HA 5-1 mostra que o epitopo EKQKEK          quanto a análise da proteína do isolado


14     Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 2003
Figura 5. Alinhamento de seqüências de aminoácidos – 60 primeiros aminoácidos do terminal N - das proteínas capsídicas de 13 isolados
brasileiros de Papaya ringspot vírus (PRSV). O isolado Brasil é o doador do gene cp utilizado para produzir os mamoeiros transgênicos
brasileiros. Denominação dos isolados: DF P (Brasília, biótipo P), DF W (Brasília, biótipo W), CE P (Guaiúba, Ceará, biótipo P), CE W
(Aracoiaba, Ceará, biótipo W), BA-CA (Cruz das Almas, Bahia), BA-IT1 (Itabela, Bahia – isolado 1), BA-IT2 (Itabela, Bahia – isolado 2),
ES (Linhares, Espírito Santo), PB (Alhandra, Paraíba), PE (Camaragibe, Pernambuco), SP (Piracicaba, São Paulo), PR (Paranavaí, Paraná).
A tarja vermelha mostra a posição do primeiro epitopo, enquanto a tarja azul mostra a posição do segundo epitopo.

                                                                                                 resistance in genetically engineered
                                                                                                 papaya against papaya ringspot
                                                                                                 potyvirus, partial characterization
                                                                                                 of the PRSV.Brazil.Bahia isolate,
                                                                                                 and development of transgenic
                                                                                                 papaya for Brazil. (Ph.D.
                                                                                                 Dissertation). Ithaca. Cornell
                                                                                                 University. 1999.
                                                                                              LIMA, R. C. A.; SOUZA JR., M. T.,
                                                                                                 PIO-RIBEIRO, G. & LIMA, A. A.
                                                                                                 2002. Sequences of the coat
                                                                                                 protein gene from Brazilian
                                                                                                 isolates of Papaya ringspot virus.
Figura 6. Estrutura tridimensional prevista pelo método de modelagem molecular por               Brazilian Phytopathology,
homologia dos peptídeos das proteínas capsídicas codificadas pelos genes cp de Papaya            27(2): 174-180.
ringspot vírus presente nos mamoeiros transgênicos brasileiros e havaianos.                   LING, K. S., NAMBA, S., GONSALVES,
                                                                                                 C., SLIGHTOM, J. L., &
do Brasil, doador do gene cp presente          epitopo (PE, ES e CE-P), e os que                 GONSALVES, D. 1991. Protection
nas plantas transgênicas, mostra uma           apresentam duas cópias deste (DF-P,               against detrimental effects of
tendência a formar uma estrutura em            DF-W, CE-W, BA-IT1, BA-IT2, PB e SP)              potyvirus infection in transgenic
forma de hélice (Figura 2).                    (Figura 5).                                       tobacco plants expressing the
       A predição de hidrofobicidade e              A predição da estrutura tridimen-            papaya ringspot virus coat protein
antigenicidade para a proteína do              sional do segmento em questão cor-                gene. Bio/Technology 9:752-758.
capsídeo do isolado brasileiro e do            roborou a predição da estrutura se-            HOOP T.P. and WOODS K.R. 1981.
isolado havaiano (gi 593497) de PRSV           cundária, onde ocorre uma alça na                 Prediction of protein antigenic
foi realizada usando o algoritmo de            seqüência EKQKEK e forma uma es-                  determinants from amino acid
Hoop & Woods (1981) e o resultado              trutura secundária estável em forma               sequences. Proc.Natl.Acad.Sci
do cálculo é apresentado nas figuras           de alfa-hélice para a seqüência do                USA, 78: 3824-3828.
de 3 a 5.                                      mamão brasileiro (Figura 6).                   HILEMAN R.E., SILVANOVICH A.,
       Uma análise da presença desse                                                             GOODMAN R.E., RICE E.A.,
epitopo2 EKQKEK na proteína do                  Referências Bibliográficas                       HOLLESCHAK G., ASTWOOD J.D.,
capsídeo de 13 isolados brasileiros de                                                           HEFLE S.L.2002 Bioinformatic
PRSV, cuja seqüência é conhecida e se          FITCH, M. M., MANSHARDT, R. M.,                   Methods for Allergenicity
encontra disponível na literatura (Souza           GONSALVES. D., SLIGHTOM, J. L &               Assessment Using a Comprehensive
Jr., 1999; Lima et al., 2002) ou na internet       SANFORD, J. C. Virus resistant papaya         Allergen Database. Int Arch Allergy
(http://www.ncbi.nlm.nih.gov), revelou             plants derived from tissues                   Immunol,128:280-291.
que esses isolados podem ser agrupa-               bombarded with the coat protein            GENDEL , S. M. 2002. “Sequence
dos em três classes: os que não apresen-           gene of papaya ringspot virus. Bio /          analysis for assessing potential
tam o epitopo (Brasil.Bahia, BA-CA e               Technology, v.10, p.1466-1472, 1992.          allergenicity.” Ann N Y Acad Sci,
PR), os que apresentam uma cópia do            SOUZA JR., M. T. Analysis of the                  964: 87-98.


                                                     Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 2003   15
Resistência de Inimigos
         Pesquisa
                                                Naturais a Pesticidas
                                 Exploração de Inimigos Naturais Resistentes a Pesticidas em Programas de Manejo Integrado de Pragas



     Marcelo Poletti                                                 Introdução                           Até o final da década de 80, o
     Doutorando em Entomologia, Departamento de                                                     número de casos de resistência docu-
     Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola,
     Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”           A utilização de pesticidas como     mentados era de 504 espécies de inse-
     (ESALQ - USP).                                       estratégia de controle de pragas na       tos e ácaros, sendo considerado muito
     mpoletti@esalq.usp.br
                                                          agricultura moderna tem se contra-        baixa a porcentagem de detecções
                                                          posto à teoria preconizada pelo Ma-       associadas aos inimigos naturais
     Celso Omoto
     Professor Doutor, Departamento de Entomologia,
                                                          nejo Integrado de Pragas (MIP) (Kogan,    (Georghiou & Lagunes-Tejeda, 1991)
     Fitopatologia e Zoologia Agrícola, Escola Superior   1998) devido à maneira e intensidade      (Figura 1). Dados mais recentes mos-
     de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ - USP).      sob as quais tem sido empregada. O        traram que os casos de resistência têm
     celomoto@esalq.usp.br
                                                          freqüente uso de produtos de largo        aumentado para 540 (Whalon et al.,
     Ilustrações cedidas pelos autores                    espectro de ação, além de afetar o        2003). As hipóteses da pré-adaptação
                                                          desenvolvimento da dinâmica popu-         diferencial e da limitação do alimento
                                                          lacional de inimigos naturais em cam-     têm sido apresentadas com o intuito de
                                                          po, interferindo sobre o equilíbrio dos   justificar essa baixa taxa de detecção
                                                          mais variados organismos, no              da resistência para os agentes do con-
                                                          agroecossistema, também está associ-      trole biológico (Croft & Morse, 1979).
                                                          ado a outros problemas entre os quais           A hipótese da pré-adaptação dife-
                                                          a evolução da resistência de insetos e    rencial baseia-se no fato de que as
                                                          ácaros a pesticidas.                      pragas estão melhor pré-adaptadas a
                                                                A resistência, por definição, é o   sobreviver à aplicação de produtos
                                                          desenvolvimento de uma habilidade         químicos do que seus inimigos natu-
                                                          em uma determinada linhagem de um         rais, sendo que este fato está associado
                                                          organismo em tolerar doses de tóxicos     à capacidade intrínseca das mesmas
                                                          que seriam letais para a maioria da       em lidar com estresses bioquímicos
                                                          população suscetível da mesma espé-       associados a suas fontes de alimento.
                                                          cie. Trata-se de uma característica he-   Uma possível explicação é que essa
                                                          reditária sendo um termo que se aplica    habilidade tenha sido desenvolvida
                                                          intraespecificamente. O processo          durante o processo de co-evolução
                                                          determinante no desenvolvimento da        planta-hospedeira inseto-praga, poden-
                                                          resistência é a pressão de seleção,       do ocorrer diferenças nos processos de
                                                          dada pelo uso freqüente de um mesmo       destoxificações hidrolítica e oxidativa
                                                          pesticida ou de pesticidas pertencen-     entre o grupo das pragas e dos inimi-
                                                          tes a um mesmo grupo químico. De          gos naturais (Plapp & Bull, 1978).
                                                          acordo com Roush & Mckenzie (1987),             Quanto à hipótese da limitação do
                                                          no início da evolução da resistência,     alimento, sustenta-se no fato de que os
                                                          estima-se que a freqüência dos alelos     inimigos naturais que sobreviveram à
                                                          que conferem essa característica a uma    aplicação de um determinado produto
                                                          população é bastante baixa (10-2 a 10-    poderiam sofrer falta de alimento devi-
                                                          13
                                                            ). No entanto, devido ao uso contínuo   do à baixa disponibilidade da presa.
                                                          de um mesmo pesticida, a freqüência       Dessa forma, os indivíduos sobrevi-
                                                          de resistência poderá aumentar em         ventes não se reproduziriam com efici-
                                                          níveis em que a eficácia do produto é     ência, ou, então, poderiam emigrar
                                                          afetada devido a esse fato (freqüência    para áreas não tratadas ocorrendo con-
                                                          crítica de resistência).                  seqüentemente diluição da resistência

16     Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 2003
nofosforados e piretróides, pelo fato
                                                                                            de apresentarem elevada toxicidade
                                                                                            para a maioria das espécies de ácaros
                                                                                            predadores em campo.
                                                                                                  Durante a década de 70 foram
                                                                                            realizadas várias detecções de resistên-
                                                                                            cia aos inseticidas organofosforados:
                                                                                            azinfosmetil, diazinon, fosmet, paration,
                                                                                            TEPP e fosalone em diferentes popula-
Figura 1. Porcentagem relativa dos casos detectados de resistência de artrópodes a          ções de G. occidentalis coletadas nas
pesticidas de acordo com a importância econômica (Georghiou & Lagunes-Tejeda, 1991).
                                                                                            regiões produtoras de frutas nos Esta-
devido à introgressão com populações         1985a). Análises genéticas realizadas          dos Unidos (Croft, 1990). Em laborató-
suscetíveis. Nesse caso, o princípio         com Galendromus (=Metaseiulus)                 rio, após processo de pressão de sele-
dessa hipótese é que a evolução da           occidentalis, espécie que se reproduz          ção com carbaril (carbamato), Roush &
resistência nas espécies fitófagas deve      por parahaploidia, demonstraram que            Hoy (1980) obtiveram linhagens de G.
preceder a evolução nos inimigos na-         os machos herdaram de suas mães a              occidentalis resistentes a esse produ-
turais (Baker & Arbogast, 1995).             resistência a inseticidas carbamatos           to. Posteriormente, realizando estudos
      A resistência entre os artrópodes      (Roush & Hoy, 1981a; Roush & Plapp,            em condições de laboratório, casa de
fitófagos e seus inimigos naturais apre-     1982). Um outro fator que se relaciona         vegetação e campo esses autores veri-
senta efeitos contrastantes, sendo que       com o aumento na freqüência de ácaros          ficaram que essa linhagem apresentou
para os fitófagos a resistência intensifi-   fitoseídeos resistentes a pesticidas é a       um aumento na razão sexual (maior
ca sua condição de praga reduzindo as        ocorrência de espécies generalistas            número de fêmeas) quando compara-
possibilidades de manejo. Por outro          quanto ao hábito alimentar. Neste caso,        do com a linhagem suscetível de refe-
lado, a evolução da resistência em           essas espécies são capazes de sobrevi-         rência No entanto, esse fato não afetou
populações de inimigos naturais pode         ver e reproduzir-se com eficiência,            o desempenho da mesma no controle
contribuir de maneira significativa com      alimentando-se de pólen e exudatos             biológico de ácaros fitófagos nas con-
o MIP pela conservação desses orga-          de plantas, além de fungos e pequenos          dições avaliadas (Roush & Hoy, 1981b).
nismos mesmo após aplicações de              insetos (McMurtry, 1997). Esse fato                  O monitoramento da resistência
produtos considerados nocivos a eles         neutraliza a possibilidade da limitação        de G. occidentalis a metomil e
(Croft, 1990). Sendo assim, o presente       do alimento após a aplicação de um             dimetoato também foi efetuado pelos
trabalho tem como objetivo relacionar        pesticida, ocorrendo dessa forma a             mesmos autores (Roush & Hoy,
alguns casos de detecção da resistên-        preservação da população resistente            1981b). Neste caso foram avaliadas as
cia a pesticidas em artrópodes inimi-        em campo.                                      respostas de várias populações
gos naturais, e sua utilização no MIP,             O primeiro relato de sobrevivência       coletadas em pomares de maçã, pêra,
bem como enfatizar a possibilidade do        em populações de ácaros fitoseídeos            amora e uva, sendo que todas apre-
emprego da biotecnologia para a ob-          após pulverizações com inseticidas de          sentaram baixa razão de resistência a
tenção de linhagens resistentes.             largo espectro de ação em campo foi            esses dois produtos. De acordo com
                                             efetuado no início dos anos 50 para G.         Roush & Plapp (1982) a linhagem de
    Resistência de Ácaros                    occidentalis (Huffaker & Kennett, 1953).       G. occidentalis resistente a carbaril
   Fitoseídeos a Pesticidas                  No entanto, esse fato foi associado à          também apresentou elevada resistên-
                                             resistência somente no final da década         cia a propoxur. Hoy & Knop (1981)
      Os ácaros fitoseídeos (Acari:          de 60, quando trabalhos realizados em          também selecionaram para resistên-
Phytoseiidae) têm constituído o grupo        laboratório confirmaram a ocorrência           cia a permetrina populações de G.
de inimigos naturais mais explorado          da variabilidade intraespecífica na sus-       occidentalis coletadas em pomares de
em estudos dirigidos à resistência. Es-      cetibilidade de populações de G.               maçã situados em Washington/EUA.
ses predadores apresentam parâme-            occidentalis e Neoseiulus (=Amblyseius)              Resistência múltipla a organofos-
tros intrínsecos que favorecem a evo-        fallacis a inseticidas organofosforados        forados, cabamatos, piretróides, enxo-
lução dessa característica, destacando-      (Motoyama et al., 1970; Croft & Jeppson,       fre e ao acaricida abamectin foi detec-
se o alto potencial reprodutivo e o          1970). Posteriormente, resistência a           tada em diversas populações dessa
rápido ciclo de vida, além do fato de        paration foi detectada em populações           espécie em campo. Esse fato tem sido
algumas espécies reproduzirem-se por         de Amblyseius hibisci coletadas em             intensivamente explorado dentro do
parahaploidia ou pseudo-arrenotoquia.        pomares de citros na Califórnia/EUA            manejo integrado em várias culturas
Neste tipo de reprodução, machos e           (Kennett, 1970). A partir disso, inúme-        nos Estados Unidos (Croft, 1990). Em
fêmeas são originados de ovos diplóides      ros trabalhos de detecção e seleção            outros países, tal como a Rússia, linha-
(2n) fecundados. No entanto, durante         para a resistência a pesticidas em po-         gens resistentes de G. occidentalis a
o processo embrionário, ocorre a per-        pulações de ácaros fitoseídeos foram           inseticidas como os organofosforados
da de um conjunto de cromossomos de          efetuados em todo mundo (Quadro 1).            e piretróides também têm sido explo-
origem paterna nos ovos que darão            Quanto aos pesticidas, ênfase tem sido         radas em estudos visando o manejo de
origem aos machos haplóides (n) (Hoy,        dada aos inseticidas carbamatos, orga-         ácaros-praga (Petrushov, 1991).

                                                   Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 2003   17
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Engenharia genética para prevenir e curar câncer de mama

  • 1. Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 2003 1
  • 2. Novas Aplicações para Entrevista a Engenharia Genética Entrevista concedida a Maria Fernanda Diniz Engenharia genética pode ajudar a prevenir e curar o câncer de mama câncer de mama é um dos males que mais aflige a população feminina em todo o mundo. A cada ano, 182 mil mulheres são diagnosticadas com câncer de mama e, dessas, 43 mil morrem. Apesar de ser uma enfermidade com grandes chances de cura, quando detectada no início, ainda é a pior ameaça para as mulheres brasileiras, pois é o tumor maligno feminino de maior incidência e mortalidade no país. Nos últimos 20 anos, segundo dados do INCA (Instituto Nacional do Câncer), a mortalidade por câncer de mama cresceu cerca de 60%. A taxa de incidência desse câncer no Brasil foi estimada em 40,7 casos para cada 100 mil mulheres e a de mortalidade em 10,3 para o mesmo número de mulheres. As causas para o aumento da incidência dessa doença nas últimas décadas estão associadas aos estresses da vida moderna e à mudança de comportamento das mulheres, que hoje ocupam grande parte do mercado de trabalho e consomem em muito maior quantidade substâncias nocivas, como cigarros e bebidas alcoólicas. A engenharia genética pode ser um caminho promissor para a prevenção e a cura de muitas enfermidades, inclusive do câncer de mama. Diante disso, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, através da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, uma de suas 40 unidades de pesquisa, localizada em Brasília, DF; a Universidade de Campinas (Unicamp); a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade de Montevidéu, no Uruguai, se uniram para desenvolver variedades de soja transgênica com anticorpos anticâncer contra o câncer de mama. Essas variedades serão utilizadas para produção de fármacos que atuarão na prevenção e diagnóstico da doença e terão também potencial terapêutico, mesmo com o câncer em estágio avançado.. È importante ressaltar que elas não serão usadas na cadeia alimentar, mas apenas como medicamentos Os anticorpos monoclonais para uso clínico movimentam mais de US$ 1 bilhão nos EUA. No Brasil, a utilização desses anticorpos na área médica ainda é pequena. O principal anticorpo monoclonal usado clinicamente é o anti-CD3, que atua na prevenção da rejeição decorrente de transplantes de órgãos. O Instituto Butantã, de São Paulo, produz e distribui esse medicamen- to no Brasil. Os métodos e estratégias para produção de novos anticorpos evoluíram, incorporando a manipulação genética, e a flexibilidade nessa manipulação fez desses anticorpos produtos de alto valor econômico e com grandes perspectivas de utilização, especialmente para a prevenção e tratamento de algumas enfermidades. Para falar sobre essa pesquisa e outras questões relacionadas ao desenvolvimento de produtos transgênicos no Brasil, a revista BIOTECNO- 2 Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 2003
  • 3. LOGIA, CIÊNCIA & DESENVOLVI- EUA, vários anticorpos humaniza- Elíbio Rech - A utilização de MENTO entrevistou o pesquisador dos já foram liberados pelo FDA anticorpos sempre mostrou bom po- da Embrapa Recursos Genéticos e (“Food and Drug Administration”) e tencial para o diagnóstico e trata- Biotecnologia, Elíbio Rech. Durante um grande número se encontra em mento de muitas doenças, mas anti- a entrevista, ele ressaltou os benefí- fase de testes clínicos, o que indica gamente eles tinham que ser utiliza- cios que a tecnologia do DNA re- que nos próximos dez anos, o mer- dos em sua forma integral, o que combinante pode trazer para as áre- cado deverá estar repleto desses onerava e dificultava o processo. A as de saúde e de alimentação, atra- anticorpos de última geração. A pers- engenharia genética tornou possí- vés da expressão de proteínas de vel a geração de anticorpos recom- interesse em plantas e animais, que “O objetivo é desenvolver plantas e binantes, desenvolvidos em labora- passarão a atuar como biofábricas, o animais que atuem como biofábricas, tório, que se constituem em peque- que certamente barateará os custos ou seja, que expressem característi- nos fragmentos capazes de expres- de produção, além de possibilitar a sar suas características de interesse cas de interesse para os seres huma- produção em larga escala. Elíbio nas plantas. Além de diminuírem os enfocou ainda questões polêmicas e nos e os animais.” custos do processo, esses fragmen- atuais, como a rotulagem dos produ- tos, conhecidos como anticorpos mo- tos transgênicos, entre outras. Ve- pectiva é de que a tecnologia de dernos, conseguem penetrar os tu- jam agora a entrevista: anticorpos recombinantes venha a mores sólidos e praticamente não fornecer insumos para diversas áre- causam efeitos colaterais. Por isso, BC&D – Em que ponto de as da medicina, que incluem desde eu acredito que esse é um dos cami- desenvolvimento está a pesquisa agentes imunomoduladores até va- nhos mais promissores da medicina para produção da soja transgêni- cinas recombinantes. Essa tecnologia no futuro. A tecnologia de desenvol- ca com o anticorpo anticâncer tem sido utilizada no tratamento de vimento dos anticorpos monoclo- de mama? doenças graves como o câncer e a nais recombinantes e sua eficiência AIDS, além da prevenção de doen- já estão mais do que comprovados, Elíbio Rech - A pesquisa está ças bacterianas. É importante ressal- mas é preciso desenvolver a sua em estágio avançado. Já temos se- tar que o domínio de técnicas de produção em larga escala a custos mentes de soja em nossos laboratóri- manipulação genética foi fundamen- menores. Os produtos à base de os produzindo 25 mg de anticorpos tal para a seleção, redefinição e anticorpos existentes hoje no mer- em uma semente, o que é um índice humanização desses anticorpos. cado brasileiro, como o Zenapax e a muito bom. A estimativa é produzir Herceptina têm custos muito altos e alguns quilos do anticorpo em ape- “... esses fragmentos, conhecidos como são inacessíveis para a maior parte nas um hectare. O próximo passo é anticorpos modernos, conseguem pene- da população. purificar as sementes (fazer um ex- trato a partir da semente, no qual só trar os tumores sólidos e praticamente BC&D – Existem outras pes- o anticorpo é isolado) e enviá-las ao não causam efeitos colaterais.” quisas nessa linha sendo desen- Instituto Pasteur para avaliação so- volvidas no Brasil? bre o potencial dessas sementes con- A inserção dos genes nas plan- tra o câncer de mama. Eu acredito tas de soja foi feita pela nossa equi- Elíbio Rech - A manipulação que essa etapa esteja pronta até o pe da Embrapa Recursos Genéticos genética pode ser uma boa opção segundo semestre de 2004. e Biotecnologia, que já domina as para reduzir os custos e otimizar a tecnologias de transgenia. Além de produção de medicamentos. E, por BC&D - Como foi feito o pro- agregar valor à soja, uma das nos- isso, o desenvolvimento das plantas cesso de transformação genética sas maiores preocupações é barate- de soja com os anticorpos anticâncer dessa soja? ar os custos de produção dos não são a única pesquisa da Embrapa fármacos a base de anticorpos. A nessa linha. Na verdade, a Empresa, Elíbio Rech - Os anticorpos produção de anticorpos recombi- através de três de suas unidades de inseridos nas plantas de soja foram nantes em plantas apresenta um pesquisa – Embrapa Recursos Gené- isolados na Universidade de Monte- grande potencial biotecnológico ticos e Biotecnologia, Embrapa vidéu a partir de camundongos. De- devido ao baixo custo de produção Instrumentação Agropecuária (São pois, eles passaram por um proces- e à facilidade de introdução do Carlos, SP), e Embrapa Soja (Londri- so conhecido como “humanização”, transgene. na, PR) – a Unicamp, a Universidade ou seja, fazer com que sejam aceitos de Brasília (UnB), a Universidade de por seres humanos [A utilização de BC&D – De que maneira a São Paulo (USP), a Universidade de fármacos à base de anticorpos re- engenharia genética pode inten- Montevidéu e o Instituto Butantã for- combinantes vem se tornando uma sificar a utilização de anticorpos maram uma rede para produção de realidade em todo o mundo]. Os no Brasil, já que apresentam bom biomoléculas voltadas para a saúde produtos humanizados também já potencial para cura de muitas en- humana e animal. O objetivo é de- ganham volume no mercado. Nos fermidades? senvolver plantas e animais que atu- Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 3
  • 4. em como biofábricas, ou seja, que ainda está em fase inicial. No mo- de vista da medicina, o ideal é que expressem características de interes- mento, estamos empenhados na esses produtos passem por testes se para os seres humanos e os ani- busca de genes que são expressos científicos para que se conheçam a mais. Atualmente, além das plantas nas glândulas das aranhas brasilei- fundo as suas propriedades medici- de soja com os anticorpos anticâncer, ras, com o objetivo de formar um nais. Muitos deles não apresentam estão sendo desenvolvidas também banco genético na Unidade. Algu- nenhum efeito do ponto de vista da plantas de soja com o hormônio do ciência e os seus resultados são crescimento humano; dois outros an- “O que eu acho que existe é uma certa puramente de caráter somático. Os ticorpos com a UnB; alface e tomate inércia da indústria para a criação de fitoterápicos e seus efeitos precisam transgênicos com uma proteína anti- ser estudados. Daí a importância da diarréica; além de animais transgêni- novas fábricas, que hoje são muito ne- ciência e da tecnologia, que cos com características de interesse cessárias em função da descoberta cada disponibilizam as ferramentas ne- no leite. Dessas pesquisas, a que está vez mais ágil de novas moléculas, oriun- cessárias para estudar e conhecer as em fase mais adiantada é a soja das da biodiversidade, e em alguns ca- aplicações de diferentes produtos transgênica com os anticorpos contra sos até a partir de fitoterápicos.” oriundos de plantas. o câncer de mama. O segundo ponto está relacio- É muito importante ressaltar que nado à indústria farmacêutica. Eu, nenhuma dessas plantas vai fazer mas espécies potencialmente inte- particularmente, não acredito em parte da cadeia alimentar. Todas ressantes já foram coletadas e en- boicote. O que eu acho que existe é elas serão utilizadas para a produ- contram-se no Butantã. uma certa inércia da indústria para a ção de fármacos. criação de novas fábricas, que hoje BC&D – O grande avanço da são muito necessárias em função da BC&D – Recentemente, a indústria farmacêutica, que se en- descoberta cada vez mais ágil de mídia divulgou amplamente uma contra em poder das multinacio- novas moléculas, oriundas da biodi- pesquisa baseada na utilização de nais, tem feito com que as pesso- versidade, e em alguns casos até a proteínas da teia de aranha e que as se esqueçam do grande poten- partir de fitoterápicos. As empresas pode beneficiar vários setores da cial dos remédios fitoterápicos. teriam que mudar toda a sua estrutu- indústria. Em que estágio se en- Na sua avaliação, os produtos ge- ra e até que ponto será que elas contra essa pesquisa? neticamente modificados com estão interessadas nessa vantagem propriedades medicinais podem comercial e vão estimular o estabe- Elíbio Rech – Essa pesquisa é lecimento de novas fábricas? Na ver- muito interessante e está sendo “... essa tecnologia de plantas transgê- dade, o cenário mundial hoje se conduzida em parceria com o Insti- constitui de sistemas já estabeleci- nicas vai exatamente ao encontro de tuto Butantã, Universidade de São dos para produção de proteínas re- Paulo (USP), Unicamp e com a uma demanda da sociedade, que é a combinantes, como por exemplo, a Embrapa Instrumentação Agropecu- redução da utilização de defensivos quí- vacina da hepatite B, a insulina e o ária, em São Carlos, SP. Trata-se do micos com a conseqüente redução de hormônio do crescimento humano, estudo das proteínas que compõem seus efeitos para o meio ambiente. Não entre outros. Essas proteínas são as teias de aranhas e que pode ser a vendidas na farmácia, mediante pres- existe nenhum antagonismo entre os chave para incrementar diversos crição médica. Elas já existem no setores da indústria, além da área transgênicos e o meio ambiente, muito mercado, são fabricadas por diver- médica. A pesquisa na Embrapa pelo contrário.” sas empresas e estão à disposição Recursos Genéticos e Biotecnologia dos consumidores. está sendo conduzida por mim e vir a sofrer algum tipo de boicote A tecnologia do DNA recombi- pelo pesquisador Francisco Aragão, por parte dessas grandes empre- nante permite a geração de novas além dos técnicos e estudantes que sas que, potencialmente, perde- moléculas oriundas da biodiversi- compõem a nossa equipe. A mani- riam mercados? dade em ritmo cada vez mais acele- pulação das proteínas encontradas rado. Por exemplo, nós estamos nas teias de algumas aranhas brasi- Elíbio Rech – Essa questão tem testando, em parceria com a USP, leiras permitiu entender o funciona- dois pontos importantes, que de- uma nova molécula chamada mento das folhas alfa e beta, que são vem ser enfatizados. Um se refere gomesina, um peptídeo isolado de as responsáveis pela rigidez e elas- aos medicamentos fitoterápicos, que uma aranha, e que tem potencial ticidade dos fios. Esse estudo vai têm sido utilizados principalmente contra bactérias e, por isso, pode gerar benefícios para a indústria de por comunidades locais e indígenas ser usado para a fabricação de anti- vestuário, através da fabricação de com sucesso porque os povos des- bióticos, e é eficiente também con- novos tipos de tecidos, sem falar na sas comunidades detêm o conheci- tra alguns fungos. O nosso objetivo área médica, que vai poder contar mento tradicional e conhecem os é desenvolver um sistema para com fios mais finos e resistentes, efeitos e formas de utilização das expressá-la porque até hoje ela nun- muito úteis para a sutura. A pesquisa plantas medicinais. Mas, do ponto ca foi expressa em nada, a não ser 4 Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 2003
  • 5. na aranha. Estamos buscando for- normalmente o processo é feito com em laboratório pelo qual se transfor- mas para expressá-la em plantas ou mamíferos e nós também somos ma- ma a folha em pó), quantificadas, no leite de animais. Mas esse é míferos, então há mais chance de padronizadas e colocadas dentro de apenas um exemplo de um merca- que microrganismos passem para as cápsulas para serem vendidas. do que está em expansão porque moléculas. Logo, a produção dessas novas moléculas potencialmente in- moléculas em plantas é uma segu- BC&D – Enquanto se fala mui- teressantes estão sendo constante- to das plantas transgênicas, des- mente descobertas e precisam ser “Hoje existe a noção errada de que tudo via-se a discussão dos males cau- produzidas. Existem algumas fábri- que é natural é bom. Nem sempre é sados pelos agrotóxicos tanto cas de produção já estabelecidas, para o meio ambiente quanto para mas são muito caras e já estão assim. Enquanto a atenção da socieda- a saúde da população. Você con- atingindo o seu limite de produção. de está desviada para os produtos trans- corda? Então têm que ser criadas novas gênicos, que hoje são os vilões de plan- fábricas, o que pressupõe grande tão, os produtos orgânicos são aceitos Elíbio Rech – Sem dúvida, con- investimento, já que a montagem sem restrições, quando deveriam ser cordo, claro. A questão é a seguinte: de cada uma delas envolve milhões essa tecnologia de plantas transgê- de dólares. A possibilidade de muito mais questionados.” nicas vai exatamente ao encontro de produzí-las em biofábricas -plantas uma demanda da sociedade, que é a ou animais – reduz os custos de rança adicional para o consumidor. redução da utilização de defensivos produção e, conseqüentemente, do Mas, se todas as regras de segurança químicos com a conseqüente redu- produto final. Pelo que eu sei, já forem seguidas à risca, o processo ção de seus efeitos para o meio existe em nível internacional um pode ser feito também com animais ambiente. Não existe nenhum anta- reconhecimento por parte das in- e bactérias sem riscos para os seres gonismo entre os transgênicos e o dústrias de que muitas moléculas humanos. No caso de vacinas, a meio ambiente, muito pelo contrá- estão chegando e que as fábricas já situação é um pouco diferente, já rio. Uma questão, entretanto, que estabelecidas não serão capazes de que são feitas na maior parte em deve ser amplamente debatida pela produzí-las. Os sistemas de expres- plantas. Mas há um ponto que eu sociedade, e não tem sido, é com são alternativos, como as biofábri- gostaria de enfatizar novamente: ne- relação aos produtos orgânicos. Por cas, também já são reconhecidos nhum desses produtos vai entrar na que? A base desses produtos é o pela indústria como uma potencial cadeia alimentar. Serão utilizados esterco. E o esterco, tanto de gali- solução para suprir a demanda a nha, quanto de bovinos normalmen- custos mais baixos, mas como eu “... a rotulagem vai enfrentar algumas te apresenta grande quantidade de disse anteriormente, ainda existe antibióticos, principalmente no caso uma certa inércia em mudar toda a dificuldades, como controlar alimentos das aves, que ficam depositados no estrutura já existente. que são vendidos em lugares alternati- solo. Os produtos orgânicos, como vos. Como saber, por exemplo, se a qualquer outra tecnologia, têm que BC&D – As vacinas transgêni- pamonha vendida na beira da estrada ser devidamente regulamentados, o cas podem ajudar a controlar ou- é feita a partir de milho transgênico?” que não tem acontecido no Brasil, tras doenças que afligem a popu- onde são vendidos livremente em lação mundial, como a gripe e a feiras, sem nenhum tipo de selo. Em tuberculose? somente como fármacos. Eles vão alguns lugares, como supermerca- integrar a cadeia de medicamentos, dos e em grande parte das feiras de Elíbio Rech – Sem dúvida. É o que implica alguns cuidados espe- São Paulo, esses produtos já são importante lembrar que cada caso é ciais, como por exemplo, no trans- regulamentados, mas na maior parte um caso, mas existem duas aplica- porte, que tem que ser feito em dos estados brasileiros, isso não ções básicas. A primeira é a produ- caminhão fechado para não correr o acontece. Então,eu acho que a po- ção de medicamentos em larga esca- risco de que alguma planta de soja pulação se engana redondamente la. A grande vantagem da produção caia na estrada e possa ser plantada. com relação aos alimentos orgâni- em planta é que não há o perigo de Quanto às plantas-vacinas transgê- cos, por exemplo, que podem ser de contaminação, como aconteceu com nicas, há ainda outra questão impor- alto risco se não forem fiscalizados. a doença da vaca louca, por exem- tante a ser ressaltada: elas nunca Hoje existe a noção errada de que plo. Se o hormônio do crescimento serão vendidas em feiras ou como tudo que é natural é bom. Nem humano for produzido em planta, fitoterápicos. Serão vendidas na far- sempre é assim. Enquanto a atenção depois de purificado, o ser humano mácia, como medicamentos, sob da sociedade está desviada para os pode ter segurança total de que não prescrição médica. É claro que por produtos transgênicos, que hoje são será contaminado por nenhum ví- exemplo o alface transgênico para os vilões de plantão, os produtos rus. Mas quando é produzido em combater a leishmaniose não será orgânicos são aceitos sem restri- animais, o controle na purificação vendido em folha na farmácia. As ções, quando deveriam ser muito tem que ser muito mais rígido, já que folhas serão liofilizadas (processo mais questionados. Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 5
  • 6. BC&D – Na sua avaliação, ro, mas hoje, com a Lei de Proteção lamentação e fiscalização federais quais as vantagens práticas e po- de Cultivares, é possível fazer um e estaduais. A sociedade deve exi- tenciais que as plantas transgê- mapeamento da planta, de forma gir segurança. Eu participei recen- nicas têm em relação às conven- que se alguém utilizá-la no futuro, a temente de um seminário internaci- cionais? pessoa que a desenvolveu tem como onal em São Paulo, no qual foi localizá-la e cobrar o que é devido. levantada uma questão muito inte- Elíbio Rech – Depende, a situ- ressante: nos EUA, todo produto é ação deve ser avaliada caso a caso. seguro até que se prove o contrário; Mas no contexto atual podem ser “Os transgênicos no Brasil foram colo- na França, é o contrário. Já no ressaltadas as seguintes característi- cados no banco do réus, sem nenhuma Brasil, a situação é inédita, pois cas: tolerância a herbicidas, resis- acusação concreta. Ou seja, estão se- aqui os produtos transgênicos são tência a insetos e vírus, e modifica- guindo o caminho inverso ao aceitável: seguros e inseguros, ao mesmo tem- ção da qualidade protéica. A quali- são culpados até que se prove sua ino- po. Isso porque a polarização – a dade nutricional beneficia direta- favor e contra esses produtos – faz mente o consumidor. As outras não, cência. Como é que uma sociedade pode com que sejam taxados de seguros beneficiam o produtor através da evoluir nesse sentido?” por um grupo e de inseguros por redução de custos de produção; outro. E o consumidor fica perdido melhor competitividade no merca- Então, eu acho que sim, tanto faz se no meio, sem saber o que fazer. Os do externo e a redução no uso de a semente for transgênica ou não. transgênicos no Brasil foram colo- defensivos agrícolas. Sem falar nos cados no banco do réus, sem ne- benefícios para o meio ambiente. O BC&D – A SBPC (Sociedade nhuma acusação concreta. Ou seja, agronegócio é que tem impulsiona- Brasileira para o Progresso da Ci- estão seguindo o caminho inverso do esse país. Então, é fundamental ência), em texto publicado a res- ao aceitável: são culpados até que integrar tecnologia ao sistema de peito de OGM’s diz que: “a intro- se prove sua inocência. Como é que produção de alimentos. dução de OGM’s na cadeia de pro- uma sociedade pode evoluir nesse dução de alimentos para uso hu- sentido? A sociedade brasileira tem BC&D – As sementes devem mano requer a divulgação através que confiar mais nas suas institui- ser consideradas patrimônio da da rotulagem de cada produto, ções. Se não existe essa confiança, humanidade. No seu ponto de dando informações detalhadas e então o problema é mais sério e vista, esses mesmos princípios po- compreensíveis. Como você ana- transcende os produtos transgêni- dem ser empregados também no lisa essa questão? cos. Nesse caso tem que haver co- caso das sementes transgênicas? brança, pressão para que as autori- Elíbio Rech – A rotulagem é dades melhorem o sistema, como Elíbio Rech – Veja bem, só um direito do consumidor. E é uma por exemplo, com a contratação de para fazer uma comparação. A nossa questão que o país deve decidir. Se mais fiscais. Por outro lado, eu acho Lei de Proteção de Cultivares dá o Brasil decidir rotular, tudo bem. que essa discussão sobre os produ- prerrogativa ao produtor – especial- Mas para mim essa não é a questão tos transgênicos é muito importan- mente para o pequeno, que só usa principal. O fato de o produto ser te para a nossa sociedade porque é aquela semente para o seu sustento rotulado não diz se ele é seguro. E um exercício de avaliação crítica. – de comprar a semente, plantar, é isso o que o consumidor deve Esses produtos abriram o caminho colher e utilizá-la no ano seguinte saber de fato: se os produtos que para que qualquer nova tecnologia novamente. Então, ele não precisa chegam às prateleiras dos super- que venha a “bater à nossa porta” comprar. Nos EUA, a legislação não mercados são seguros. Além disso, daqui pra frente seja questionada. oferece essa prerrogativa e, por isso, é importante que as pessoas sai- Eu torço para que a sociedade as sementes têm que ser compradas bam que a rotulagem vai enfrentar direcione brevemente esse questio- todos os anos. É claro que as situa- algumas dificuldades, como con- namento para os produtos orgâni- ções dos dois países são completa- trolar alimentos que são vendidos cos, como eu já disse no início mente diferentes. Nos EUA, a agri- em lugares alternativos. Como sa- dessa entrevista. Será que são tão cultura é extremamente subsidiada, ber, por exemplo, se a pamonha naturais assim? O aprimoramento além de outras vantagens. Mas o vendida na beira da estrada é feita do senso crítico em uma sociedade ideal seria que o agricultor brasileiro a partir de milho transgênico? Nos só traz benefícios. A discussão soci- também pudesse comprar as semen- EUA, onde a população confia nos al é sempre muito saudável, mas a tes todos os anos porque a qualida- órgãos de fiscalização e regulamen- população deve ficar atenta porque de da semente se torna bem melhor. tação, os produtos não são rotula- o que não é nada saudável é excluir Então, respondendo a pergunta, é dos. A sociedade não exigiu isso. o Brasil da tecnologia de desenvol- claro que qualquer tipo de semente Então, o que eu acho é que a soci- vimento de produtos transgênicos, representa uma agregação de valor edade tem que confiar em duas que é fundamental para o seu de- e soberania para os países. Não sei instâncias: primeiro, nos cientistas. senvolvimento e competitividade como essa situação vai ficar no futu- Segundo, nas instituições de regu- internacional. 6 Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 2003
  • 7. Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 7
  • 8. Carta ao Leitor Prezados Leitores, Como já informamos, a revista Biotecnologia foi reestruturada desde a edição anterior e está sendo editada apenas em sua versão on line, disponível no site www.biotecnologia.com.br, à toda comunidade científica, com duas edições anuais, tanto em formato html como também em pdf, e obedecendo os mesmos critérios e objetivos que nortearam nosso trabalho desde sua funda- ção, em 1997, como a indexação e a divulgação da pesquisa no país. BIOTECNOLOGIA Ciência & Desenvolvimento Nesta edição, contamos com a prestigiosa colaboração do KL3 Publicações Dr. Elíbio Rech, pesquisador da Embrapa Cenargen, que em nossas páginas verdes nos conta a respeito não apenas Fundador sobre novas aplicações dentro das múltiplas possibilida- Dr. Henrique da Silva Castro des da engenharia genética, como dá sua opinião sobre temas tão polêmicos, como a rotulagem dos produtos Direção Geral e Edição transgênicos, e até mesmo sobre os alimentos orgânicos, Ana Lúcia de Almeida tão em moda em nossos dias. E-mail Esperamos que nossos leitores continuem também biotecnologia@biotecnologia.com.br interagindo conosco, para que possamos aperfeiçoar cada vez mais. Home-Page www.biotecnologia.com.br Dr. Henrique da Silva Castro Projeto Gráfico KL3 Publicações LTDA SHIN CA 05 Conjunto “J” Bloco “B” Sala 105 Lago Norte - Brasília - DF Tel.: (061) 468-6099 Fax: (061) 468-3214 Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores. ISSN 1414-4522 Nota: Todas as edições da Revista Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento estão sendo indexadas para o AGRIS (International Information System for the Agricultural Sciences and Technology) da FAOepara aAGROBASE (Base deDados da AgriculturaBrasileira).
  • 9. Conselho Científico Dr. Aluízio Borém - Genética e Melhoramento Vegetal Colaboraram nesta edição: Dr. Henrique da Silva Castro - Saúde; Dr. Ivan Rud de Moraes - Saúde - Toxicologia; Alexander Machado Cardoso, Anderson Brito da Silva , Dr. João de Deus Medeiros - Embriologia Vegetal; André Vitor Chaves de Andrade, Aneli de Melo Barbosa, Dr. Naftale Katz - Saúde; Ariadne Cristiane Cabral da Cruz, Ariane Maria Leoni, Dr. Pedro Jurberg - Ciências; Carlos de Oliveira Paiva Santos, Celso Omoto, Christiane Dr. Sérgio Costa Oliveira - Imunologia e Vacinas; Philippini Ferreira Borges, Cláudio Lúcio, Fernandes Dr. Vasco Ariston de Carvalho Azevedo - Genética de Microorganismos; Amaral, Cosme Damião Cruz, Danielle Patrice Alexandre Dr. William Gerson Matias - Toxicologia Ambiental. Lima, Elias da Costa, Elíbio Rech, Ellen Cristine Giese, Elza Fernandes de Araújo, Ester Ribeiro Gouveia, Fábio Conselho Brasileiro de Fitossanidade - Cobrafi André dos Santos, Gláucia Manoella de Souza Lima, Hui Dr. Luís Carlos Bhering Nasser - Fitopatologia I Tsai, Humberto Miguel Garay, Iracema Mª Castro Coimbra Cordeiro, Iulla Naiff Rabelo de Souza Reis, Janete Magali Fundação Dalmo Catauli Giacometti de Araújo, João de Deus Medeiros, João Marcelo Ochiucci, Dr. Eugen Silvano Gander - Engenharia Genética; Joel Majerowicz, Jorge Fernando Pereira, José Caetano Dr. José Manuel Cabral de Sousa Dias - Controle Biológico; Zurita da Silva, José Ernesto Belizário, Juliano Alves, Lara Dra. Marisa de Goes - Recursos Genéticos Tschopoko Pedroso Pereira, Lexandra Novaki, Loiva Maria Karnopp, Mª Fernanda Diniz, Manoel Teixeira Souza Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares - IPEN Júnior, Marcelo Poletti, Maria de Lourdes Corradi da Silva, Dr. José Roberto Rogero Maria do Carmo Bittencourt-Oliveira, Maria do Socorro Duarte, Marisa Vieira de Queiroz, Mariza Boscacci Marques, Sociedade Brasileira de Biotecnologia - SBBiotec Natália Florêncio Martins, Naysa B. Mandetta Clementino, Dr. Luiz Antonio Barreto de Castro - EMBRAPA Odílio B. G. Assis, Orlando Bonifácio Martins, Osmar Alves Dr. Diógenes Santiago Santos - UFRGS Lameira, Renato Molica, Ricardo Pilz Vieira, Rodrigo Barros Dr. José Luiz Lima Filho - UFPE Rocha, Rodrigo Volcan Almeida, Sylvia M. Campbell Dra. Elba P. S. Bon - UFRJ Alqueres, Welington Inácio de Almeida Entrevista Novas Aplicações para a Engenharia Genética 2 Pesquisa Predição do Potencial de Alergenicidade em OGMs - estudo de caso 10 Resistência de Inimigos Naturais a Pesticidas 16 O Mapeamento Genético no Melhoramento de Plantas 27 Filmes Comestíveis de Quitosana 33 Bactérias Produtoras de Biossurfactantes 39 Marcadores Microssatélites em Espécies Vegetais 46 Biovidros 51 Melhoramento Biotecnológico de Plantas Medicinais 55 Degradação Seletiva de Proteínas e suas Implicações no Câncer 60 Archaea: Potencial Biotecnológico 71 Otimização da Propagação In vitro de Curauá (Ananas erectifolius L. B. SMITH) 78 Cianobactéria Invasora 82 Marcadores Moleculares e Geminivírus 91 Glucanases Fúngicas 97 Biossegurança em Biotérios 105 A Biotecnologia e a Extinção de Espécies 109
  • 10. Predição do Potencial de Alergenicidade em Pesquisa OGMs - estudo de caso Gene da capa protéica de Papaya ringspot virus em mamoeiro transgênico Manoel Teixeira Souza Júnior, Ph.D. Alergia, biossegurança de Em 2001, a FAO e a OMS defini- Pesquisador em Biotecnologia/Genômica da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia OGMs e uso de ram como árvore de decisão para msouza@cenargen.embrapa.br Bioinformática na alergenicidade (Ver anexo) uma série predição de proteínas de condições que definem o potenci- Natália Florêncio Martins, Ph.D. alergênicas al alergênico de uma nova proteína Pesquisadora em Bioinformática da Embrapa introduzida em alimentos genetica- Recursos Genéticos e Biotecnologia natalia@cenargen.embrapa.br Um dos pontos principais para a mente modificados. Esse enfoque uti- garantia de biossegurança de alimentos liza estratégias que investigam a fonte Ilustrações cedidas pelos autores geneticamente modificados (OGMs), tam- do gene, a homologia da seqüência bém conhecidos como transgênicos, é a com alérgenos conhecidos, as rea- avaliação do potencial de alergenicidade ções de associação com IgEs de fonte das proteínas codificadas pelos genes sorológica de indivíduos alérgicos e inseridos. Modificações genéticas po- investiga algumas propriedades físi- dem afetar a alergenicidade dos OGMs co-químicas da proteína codificada de duas formas principais: pela introdu- pelo gene introduzido. ção de alérgenos ou pela modificação do A análise bioinformática das se- nível ou da natureza de alérgenos intrín- qüências é fundamental para detectar secos. Os alérgenos podem ser introdu- e prever propriedades estruturais, re- zidos pela expressão de proteínas trans- ações adversas e o potencial de aler- gênicas, uma vez que as proteínas têm genicidade dessas proteínas. A FAO e sido apontadas como agentes causado- a OMS recomendam uma padroniza- res de diversas alergias (alimentar, ção nas metodologias utilizadas para esporos, pólen, etc.) (Kleter et al., 2002). a árvore de decisão. O potencial de alergenicidade de A comparação das seqüências de uma proteína não é um parâmetro facil- interesse com bancos de dados de mente previsível, sendo dependente da alergênicos como o Structural Database diversidade genética e da variabilidade of Allergenic Proteins - SDAP (http:// da resposta de IgEs 1 específicas. Dada a fermi.utmb.edu/SDAP/index.html), e falta de previsibilidade da alergenicida- outros servidores disponiveis na de, faz-se necessário obter evidências internet, usando algoritmos de buscas que minimizem as dúvidas quanto ao comparativas como o FASTA e BLAST, potencial alergênico da proteína em é o método internacionalmente reco- questão, o que é feito mediante um nhecido para tal detecção. O método processo de acessar riscos compostos de atual permite encontrar medidas de diversos passos (European Comission, similaridade e/ou identidade com pro- 2003). teínas conhecidas como alergênicas. ________________________________________ 1 A principal barreira imunológica a proteínas estranhas é a secreção de moléculas IgA, no interior do intestino, a qual se complexa com as proteínas estranhas e bloqueia a sua absorção. As proteínas estranhas que conseguem chegar à circulação são recebidas por anticorpos da classe IgA e IgG, os quais são eliminados do organismo pelo sistema retículo endotelial. Pessoas normais geram anticorpos da classe IgA, IgM e IgG em minúsculas quantidades em reação a antígenos alimentares. Reações mediadas por IgE liberam histamina, prostaglandinas e leucotrienos, produzindo uma reação alérgica típica imediata, com sintomas que aparecem em minutos. Reações não mediadas por IgE produzem os sintomas em horas ou dias. Reações não mediadas por IgE e de mecanismo desconhecido causam um aumento da reatividade a um determinado alimento sem o envolvimento do sistema imune, as quais chamamos de intolerância alimentar. (Theron G. Randolph: An Alternative Approach to Allergies - The New Field of Clinical Unravels the Environmental Causes of Mental and Physical Ills. Harper & Row, Publishers, New York,1989). 10 Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 2003
  • 11. aminoácidos contíguos como o número ideal, enquanto que o ILSI/IFBC deter- mina seis aminoácidos contíguos. O segmento idêntico deve ser considerado com base na similaridade química dos aminoácidos, cientificamente justificada de modo que evite resultados falso- positivos (European Comission, 2003). Recentemente, Hileman e colabo- radores, que buscavam identidades em segmentos contíguos de 6, 7 e 8 amino- ácidos idênticos, compararam, usando o algoritmo FASTA, seqüências de seis endotoxinas de Bacillus thuringiensis (inseticidas), três seqüências de proteí- nas alimentares não alergênicas e 50 proteínas de milho selecionadas aleato- riamente. Os autores concluíram que o algoritmo usado é o mais eficiente e o Figura 1 .Alinhamento de seqüências de aminoácidos das proteínas capsídicas dos que melhor prediz para reações cruza- isolados brasileiro (BR) e havaiano (HA5-1) de Papaya ringspot vírus (PRSV) utilizados das entre proteínas alergênicas, e suge- como doadores de gene cp para a produção dos mamoeiros transgênicos do Brasil e dos EUA, respectivamente. Tarja vermelha mostra localização do epitopo EKQKEK na re que o segmento de oito aminoácidos proteína capsídica do isolado havaiano. estabeleça uma margem maior de segu- rança para a predição de alergenicida- Similaridades em seqüências primári- A avaliação das seqüências através de. Além disso, os autores apontaram as podem sugerir reações alérgicas das ferramentas da bioinformática auxi- que o segmento de seis aminoácidos decorrentes do aparecimento de regi- liam na predição de reações cruzadas e idênticos foi o que produziu um maior ões específicas de apresentação às de eventuais reconhecimentos pelas número de falsos positivos. imuno-globulinas epitopos2. imunoglobulinas do tipo IgE. O CODEX Quanto à análise de homologia alimentarius considera como potencial- Epitopo potencialmente em seqüências de proteínas introdu- mente alergênica a proteína que possuir alergênico na capa zidas, recomenda-se o uso de bancos 35% de identidade com uma extensão protéica do Papaya de dados internacionalmente conhe- (janela) de 80 aminoácidos ao longo de ringspot virus (PRSV) cidos como o SwissProt, TrEMBL, toda a seqüência protéica; contudo, esse que contêm seqüências de amino- parâmetro ainda está sendo discutido Recentemente, Kleter e ácidos da grande maioria dos alérge- pela comunidade internacional (Hileman Peijnenburg publicaram um trabalho nos dos quais se conhecem as rea- et al., 2002). Já organizações internacio- na revista BMC Structural Biology ções alérgicas. nais como a FAO e a OMS sugerem oito (Kleter et al., 2002). Nessa publicação os autores propõem uma metodologia Tab ela 1 P o pu laçõ es d e mamo eiro s tran sgên ico s tran sferid o s para a E mb rapa Man d io ca e Fru ticu ltu ra. P o pu lação Geração Descrição Embrapa PTP01 R1 População originária de autofecundação controlada da linha Ro UM1a Embrapa PTP02 R1 População originária de cruzamento controlado entre linhas Ro UM7d e Ro UM1a Embrapa PTP03 R1 População originária de autofecundação controlada da linha Ro UM1g Embrapa PTP04 R1 População originária de cruzamento controlado entre linhas Ro UM7d e Ro UM11d Embrapa PTP05 R1 População originária de autofecundação controlada da linha Ro UM11d Embrapa PTP06 R1 População originária de autofecundação controlada da linha Ro UM15b Embrapa PTP07 R1 População originária de autofecundação controlada da linha Ro UM18e Embrapa PTP08 R1 População originária de autofecundação controlada da linha Ro TS1j Embrapa PTP09 R1 População originária de autofecundação controlada da linha Ro TS7f Embrapa PTP10 R1 População originária de autofecundação controlada da linha Ro TS8b Embrapa PTP17 R1 População originária de autofecundação controlada da linha Ro TL6b População obtida por autofecundação controlada de planta R1 resultante de Embrapa PTP18 R2 cruzamento entre linhas Ro UM7c e UM1g Embrapa PTP28 R1 População originária de autofecundação controlada da linha Ro UM6h ________________________________________ 2 Epitopos – O epitopo é constituído por um grupo de átomos, que formam configurações específicas tridimensionais, esterioespecíficas de tamanho limitado (em média na ordem de um tri a um hexassacarídeo, ou de um tri a um decapeptídeo), na superfície da molécula imunogênica. São as estruturas que induzem a imunogenicidade de uma molécula (regiões ditas imunopotentes) e seus determinantes específicos antigênicos (epitopos ou locais conformacionais ou seqüenciais) relacionam-se mais com zonas distintas da moléculas. Atualmente, somente algumas moleculas de plantas são conhecidas como epitopos - que têm afinidade por IgEs. Uma coleção dessas moléculas foi organizada na forma de uma base de dados disponível no endereco: http://www.csl.gov.uk/allergen/Index.htm. Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 2003 11
  • 12. de avaliação de casos potencialmente Anexo I alergênicos e estendem as buscas com- Árvore de Decisão FAO parativas a bancos de dados, incluído o pipeline, a predição de alergenicidade pelo método de Hoop & Woods (1981) e testes sorológicos para proteínas cuja identidade com alergênicos fosse de seis ou sete aminoácidos. Naquele artigo, a metodologia pro- posta foi aplicada em 33 proteínas trans- gênicas e suas predições de alergenici- dade foram discutidas. O procedimento foi dividido em duas partes: primeira- mente, foi extraída da literatura interna- cional uma busca de epitopos lineares, em particular, de proteínas alergênicas; em seguida, a lista de proteínas alergênicas foi comparada com o con- junto de proteínas transgênicas. O segundo passo da análise foi a predição de alergenicidade através do algoritmo computacional descrito em Hoops & Woods (1981). Subseqüen- temente, foi verificado se a região predita como antigênica da proteína coincidia com a seqüência de proteí- na alergênica. Esse passo foi particu- larmente útil para os casos onde os dados da literatura eram escassos. Como resultado da metodologia aplicada, 22 proteínas apresentaram resultados positivos com segmentos de seis ou sete aminoácidos. Três dessas foram identificadas como potencialmen- te alergênicas [PRSV CP - proteína capsídica do Papaya ringspot vírus (PRSV) (gi593497), acetolactato sintase GH50 e glicofosfato oxidoredutase. Os demais casos foram claramente negati- vos, como a Cry1Ac. A análise da capa protéica (CP) do vírus causador da doença deno- minada “Mancha Anelar” ou “Mosai- co”, o PRSV, em especial o isolado do papaya havaiano HA 5-1, doador do gene de resistência nas variedades transgênicas Rainbow e SunUp, cul- tivadas no Havaí desde 1998, apre- sentou o segmento EKQKEK idênti- co a uma proteína alergênica de ne- matóide, sendo assim classificado como potencialmente alergênico pelo método de predição. Para a seqüência EKQKEK, não foram en- contrados dados na literatura que descrevam a potencial associação a IgEs. Portanto, os autores sugeriram que o potencial alergênico da prote- ína transgênica presente nos mamo- Figura 2. Estrutura secundária das proteínas capsídicas dos isolados brasileiro (BR) e eiros havaianos fosse confirmado por havaiano (HA5-1) de Papaya ringspot vírus (PRSV) utilizados como doadores de gene testes clínicos e/ou sorológicos. cp para a produção dos mamoeiros transgênicos do Brasil e dos EUA, respectivamente. 12 Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 2003
  • 13. Avaliando a presença do epitopo EKQKEK na capa protéica dos isolados brasileiros de PRSV, e nos mamoeiros transgênicos produzidos pela Embrapa Há pouco mais de dez anos, a Embrapa, por intermédio de suas uni- dades de Cruz das Almas (Embrapa Mandioca e Fruticultura) e Brasília (Embrapa Recursos Genéticos e Bio- tecnologia), realiza um trabalho de cooperação técnica com a New York State Agriculture Experiment Station, Cornell University, na cidade de Geneva, no estado de New York, nos EUA, com vistas a desenvolver mamo- eiros (C. papaya) transgênicos resis- tentes à Mancha Anelar, que é um dos principais fatores limitantes dessa cul- tura no Brasil. Em abril de 2001, foram incorpora- das pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, no programa de melho- ramento genético de mamoeiro, desen- volvido na Embrapa Mandioca e Fruti- cultura, treze populações de mamoei- ros transgênicos (Tabela 1). Os traba- Figura 3. Hidrofobicidade das proteínas capsídicas codificadas pelos genes cp de Papaya lhos de pesquisa da última fase de ringspot vírus presente nos mamoeiros transgênicos brasileiros e havaianos. O quadro desenvolvimento de mamoeiro trans- superior mostra a hidrofobicidade da proteína do isolado PRSV BR (Souza Jr., 1999), e o quadro inferior mostra a hidrofobicidade da proteína do isolado PRSV HA 5-1 (Acesso gênico resistente à PRSV feitos pela gi593497 no http://www.ncbi.nlm.nih.gov ). Embrapa compõem um dos projetos que fazem parte [“Avaliação de segu- rança alimentar e ambiental de mamo- eiro geneticamente modificado para re- sistência ao vírus da mancha anelar (PRSV)”] da rede de Biossegurança de Organismos Geneticamente Modifica- dos, aprovada em 2002, no Macropro- grama 1 da Embrapa. O gene cp utilizado nas constru- ções gênicas aplicadas na transforma- ção genética de mamoeiros das varie- dades ‘Sunrise’ e ‘Sunset’ Solo, que visam à resistência a isolados brasilei- ros de PRSV, foi obtido a partir de um isolado de PRSV coletado na região de Nova Viçosa, no Estado da Bahia. As populações transferidas para a Embrapa Mandioca e Fruticultura fo- ram originadas de plantas que conti- nham uma das três versões do gene cp, e são elas: UM (untranslatable medium), TS (translatable short) e TL (translatable large) (Souza Jr., 1999). “Untranslatable” significa não-tradu- Figura 4. Gráfico de antigenicidade gerado pelo método Hopp e Woods (1981) da seqüência zido, isto é, o gene é transcrito, mas o das proteínas capsídicas codificadas pelos genes cp de Papaya ringspot vírus presente nos mRNA produzido a partir dele não mamoeiros transgênicos brasileiros e havaianos. O quadro superior mostra a antigenicidade gera proteína devido à presença de da proteína do isolado PRSV BR (Souza Jr., 1999), e o quadro inferior mostra a antigenicidade da proteína do isolado PRSV HA 5-1 (Acesso gi593497 no http://www.ncbi.nlm.nih.gov). códon terminador inserido a alguns Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 2003 13
  • 14. Anexo II O que é alergia alimentar? Nosso corpo se protege de infecções através do sistema imunológico. Nós produzimos moléculas, chamadas anticorpos, que reconhecem o agente causador da infecção. Existem diferentes tipos de anticorpos: aqueles que estão envolvidos em reações alérgicas chamam-se IgE. Nós sabemos que as moléculas de IgE são normalmente produzidas em resposta a infecções causadas por parasitas, como o agente causador da malária, por exemplo. Ainda não conhecemos a causa, mas algumas pessoas produzem IgE para outros agentes não parasitas, como o polén e alguns alimentos. Nessas reações de reconhecimento são deflagrados os sintomas de alergia, como febre, tontura, dores de cabeça e outros. As moléculas de IgE agem como etiquetas que se aderem às moléculas advindas do alimento ou do pólen, chamadas alérgenos. Quando alguém tem uma alergia alimentar e ingere o alérgeno, as IgEs atacam as moléculas « invasoras » e disparam as reações em cascata as quais caracterizam o processo alérgico. Um dos efeitos comuns das IgEs associadas às células basófilas é a liberação de grânulos de histamina, que, por sua vez, causam as reações inflamatórias que são percebidas pelos sintomas alérgicos. Alergia ou Intolerância? A tolerância imunológica é definida como a incapa- cidade específica adquirida, total ou parcial, por um indivíduo que desenvolve uma resposta imune humoral normal ou a mediação celular a um antígeno ou a diversos epitopos de um certo antígeno contra o qual ele normal- mente não desenvolveria. Um indivíduo dito tolerante possui a capacidade de responder a outros antígenos administrados ao mesmo tempo que o primeiro, que pode ou não bloquear seu potencial de resposta imune. Em outras palavras, a tolerância imunologica é também específica a um antígeno. Uma outra coleção de sintomas são relatados em pessoas que são sensibilizadas por alimentos, como dores de cabeça, dores musculares e nas juntas e fadiga. Esse conjunto é comumente conhecido como intolerân- cia alimentar. Ainda assim, conhece-se muito pouco das reações que causam a intolerância e que podem se agravar para o diagnóstico de alergia. Existem exceções : conhece-se bem a doença Celíaca (http://www.concordia.psi.br/~celiaco/ doenca.htm) e a intolerância à lactose. Na doença Celíaca, as reações alérgicas são deflagradas pela ingestão de glúten (derivado de trigo, aveia e outros cereais). A intolerância à lactose não se caracteriza como alergia, mas causa alguns sintomas como a alergia ao leite com dores abdominais e diarréia. (http://www.celiac.org). códons após o códon iniciador. Sob a ótica do método de predição não está presente no isolado brasileiro “Translatable” significa que há a tra- descrito por Kleter et al. (2002), analisa- (Figura 1). No lugar dele, é encontrado dução completa desse gene. mos a presença do epitopo EKQKEK e o epitopo EKQKKK. O gráfico do A versão do gene cp do isolado do potencial alergênico deste na prote- alinhamento mostra que as regiões va- PRSV HA 5-1 utilizado para a produ- ína expressa pelo gene da capa protéica riáveis da proteína são pontuais e distri- ção do mamoeiro transgênico havaiano (cp) encontrado nos mamoeiros trans- buídas ao longo da seqüência. Algumas (Fitch et al., 1992) é uma versão curta gênicos desenvolvidos por Souza Jr. mutações observadas entre os residuos do gene cp (Ling et al., 1991) e não (1999) e liberados para o programa de 33, 38, 44 e 54 são mais significativas apresenta a seqüência de nucleotíde- melhoramento genético de C. papaya para a estrutura da proteína. os necessária para traduzir a sua extre- desenvolvido na Embrapa Mandioca e A predição da estrutura secundária midade N. Essa é a razão para a falta Fruticultura. Quanto à presença do das proteínas do isolado do Havaí indi- dos dezenove primeiros aminoácidos epitopo, observamos que o alinhamen- ca que os resíduos do epitopo exibem que estão presentes na proteína to das seqüências de aminoácidos das uma tendência a construírem uma es- capsídica do isolado Brasil. Bahia - ou proteínas do capsídeo dos isolados BR trutura em forma de alça (loop). En- PRSV BR (Figura 1). e HA 5-1 mostra que o epitopo EKQKEK quanto a análise da proteína do isolado 14 Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 2003
  • 15. Figura 5. Alinhamento de seqüências de aminoácidos – 60 primeiros aminoácidos do terminal N - das proteínas capsídicas de 13 isolados brasileiros de Papaya ringspot vírus (PRSV). O isolado Brasil é o doador do gene cp utilizado para produzir os mamoeiros transgênicos brasileiros. Denominação dos isolados: DF P (Brasília, biótipo P), DF W (Brasília, biótipo W), CE P (Guaiúba, Ceará, biótipo P), CE W (Aracoiaba, Ceará, biótipo W), BA-CA (Cruz das Almas, Bahia), BA-IT1 (Itabela, Bahia – isolado 1), BA-IT2 (Itabela, Bahia – isolado 2), ES (Linhares, Espírito Santo), PB (Alhandra, Paraíba), PE (Camaragibe, Pernambuco), SP (Piracicaba, São Paulo), PR (Paranavaí, Paraná). A tarja vermelha mostra a posição do primeiro epitopo, enquanto a tarja azul mostra a posição do segundo epitopo. resistance in genetically engineered papaya against papaya ringspot potyvirus, partial characterization of the PRSV.Brazil.Bahia isolate, and development of transgenic papaya for Brazil. (Ph.D. Dissertation). Ithaca. Cornell University. 1999. LIMA, R. C. A.; SOUZA JR., M. T., PIO-RIBEIRO, G. & LIMA, A. A. 2002. Sequences of the coat protein gene from Brazilian isolates of Papaya ringspot virus. Figura 6. Estrutura tridimensional prevista pelo método de modelagem molecular por Brazilian Phytopathology, homologia dos peptídeos das proteínas capsídicas codificadas pelos genes cp de Papaya 27(2): 174-180. ringspot vírus presente nos mamoeiros transgênicos brasileiros e havaianos. LING, K. S., NAMBA, S., GONSALVES, C., SLIGHTOM, J. L., & do Brasil, doador do gene cp presente epitopo (PE, ES e CE-P), e os que GONSALVES, D. 1991. Protection nas plantas transgênicas, mostra uma apresentam duas cópias deste (DF-P, against detrimental effects of tendência a formar uma estrutura em DF-W, CE-W, BA-IT1, BA-IT2, PB e SP) potyvirus infection in transgenic forma de hélice (Figura 2). (Figura 5). tobacco plants expressing the A predição de hidrofobicidade e A predição da estrutura tridimen- papaya ringspot virus coat protein antigenicidade para a proteína do sional do segmento em questão cor- gene. Bio/Technology 9:752-758. capsídeo do isolado brasileiro e do roborou a predição da estrutura se- HOOP T.P. and WOODS K.R. 1981. isolado havaiano (gi 593497) de PRSV cundária, onde ocorre uma alça na Prediction of protein antigenic foi realizada usando o algoritmo de seqüência EKQKEK e forma uma es- determinants from amino acid Hoop & Woods (1981) e o resultado trutura secundária estável em forma sequences. Proc.Natl.Acad.Sci do cálculo é apresentado nas figuras de alfa-hélice para a seqüência do USA, 78: 3824-3828. de 3 a 5. mamão brasileiro (Figura 6). HILEMAN R.E., SILVANOVICH A., Uma análise da presença desse GOODMAN R.E., RICE E.A., epitopo2 EKQKEK na proteína do Referências Bibliográficas HOLLESCHAK G., ASTWOOD J.D., capsídeo de 13 isolados brasileiros de HEFLE S.L.2002 Bioinformatic PRSV, cuja seqüência é conhecida e se FITCH, M. M., MANSHARDT, R. M., Methods for Allergenicity encontra disponível na literatura (Souza GONSALVES. D., SLIGHTOM, J. L & Assessment Using a Comprehensive Jr., 1999; Lima et al., 2002) ou na internet SANFORD, J. C. Virus resistant papaya Allergen Database. Int Arch Allergy (http://www.ncbi.nlm.nih.gov), revelou plants derived from tissues Immunol,128:280-291. que esses isolados podem ser agrupa- bombarded with the coat protein GENDEL , S. M. 2002. “Sequence dos em três classes: os que não apresen- gene of papaya ringspot virus. Bio / analysis for assessing potential tam o epitopo (Brasil.Bahia, BA-CA e Technology, v.10, p.1466-1472, 1992. allergenicity.” Ann N Y Acad Sci, PR), os que apresentam uma cópia do SOUZA JR., M. T. Analysis of the 964: 87-98. Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 2003 15
  • 16. Resistência de Inimigos Pesquisa Naturais a Pesticidas Exploração de Inimigos Naturais Resistentes a Pesticidas em Programas de Manejo Integrado de Pragas Marcelo Poletti Introdução Até o final da década de 80, o Doutorando em Entomologia, Departamento de número de casos de resistência docu- Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” A utilização de pesticidas como mentados era de 504 espécies de inse- (ESALQ - USP). estratégia de controle de pragas na tos e ácaros, sendo considerado muito mpoletti@esalq.usp.br agricultura moderna tem se contra- baixa a porcentagem de detecções posto à teoria preconizada pelo Ma- associadas aos inimigos naturais Celso Omoto Professor Doutor, Departamento de Entomologia, nejo Integrado de Pragas (MIP) (Kogan, (Georghiou & Lagunes-Tejeda, 1991) Fitopatologia e Zoologia Agrícola, Escola Superior 1998) devido à maneira e intensidade (Figura 1). Dados mais recentes mos- de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ - USP). sob as quais tem sido empregada. O traram que os casos de resistência têm celomoto@esalq.usp.br freqüente uso de produtos de largo aumentado para 540 (Whalon et al., Ilustrações cedidas pelos autores espectro de ação, além de afetar o 2003). As hipóteses da pré-adaptação desenvolvimento da dinâmica popu- diferencial e da limitação do alimento lacional de inimigos naturais em cam- têm sido apresentadas com o intuito de po, interferindo sobre o equilíbrio dos justificar essa baixa taxa de detecção mais variados organismos, no da resistência para os agentes do con- agroecossistema, também está associ- trole biológico (Croft & Morse, 1979). ado a outros problemas entre os quais A hipótese da pré-adaptação dife- a evolução da resistência de insetos e rencial baseia-se no fato de que as ácaros a pesticidas. pragas estão melhor pré-adaptadas a A resistência, por definição, é o sobreviver à aplicação de produtos desenvolvimento de uma habilidade químicos do que seus inimigos natu- em uma determinada linhagem de um rais, sendo que este fato está associado organismo em tolerar doses de tóxicos à capacidade intrínseca das mesmas que seriam letais para a maioria da em lidar com estresses bioquímicos população suscetível da mesma espé- associados a suas fontes de alimento. cie. Trata-se de uma característica he- Uma possível explicação é que essa reditária sendo um termo que se aplica habilidade tenha sido desenvolvida intraespecificamente. O processo durante o processo de co-evolução determinante no desenvolvimento da planta-hospedeira inseto-praga, poden- resistência é a pressão de seleção, do ocorrer diferenças nos processos de dada pelo uso freqüente de um mesmo destoxificações hidrolítica e oxidativa pesticida ou de pesticidas pertencen- entre o grupo das pragas e dos inimi- tes a um mesmo grupo químico. De gos naturais (Plapp & Bull, 1978). acordo com Roush & Mckenzie (1987), Quanto à hipótese da limitação do no início da evolução da resistência, alimento, sustenta-se no fato de que os estima-se que a freqüência dos alelos inimigos naturais que sobreviveram à que conferem essa característica a uma aplicação de um determinado produto população é bastante baixa (10-2 a 10- poderiam sofrer falta de alimento devi- 13 ). No entanto, devido ao uso contínuo do à baixa disponibilidade da presa. de um mesmo pesticida, a freqüência Dessa forma, os indivíduos sobrevi- de resistência poderá aumentar em ventes não se reproduziriam com efici- níveis em que a eficácia do produto é ência, ou, então, poderiam emigrar afetada devido a esse fato (freqüência para áreas não tratadas ocorrendo con- crítica de resistência). seqüentemente diluição da resistência 16 Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 2003
  • 17. nofosforados e piretróides, pelo fato de apresentarem elevada toxicidade para a maioria das espécies de ácaros predadores em campo. Durante a década de 70 foram realizadas várias detecções de resistên- cia aos inseticidas organofosforados: azinfosmetil, diazinon, fosmet, paration, TEPP e fosalone em diferentes popula- Figura 1. Porcentagem relativa dos casos detectados de resistência de artrópodes a ções de G. occidentalis coletadas nas pesticidas de acordo com a importância econômica (Georghiou & Lagunes-Tejeda, 1991). regiões produtoras de frutas nos Esta- devido à introgressão com populações 1985a). Análises genéticas realizadas dos Unidos (Croft, 1990). Em laborató- suscetíveis. Nesse caso, o princípio com Galendromus (=Metaseiulus) rio, após processo de pressão de sele- dessa hipótese é que a evolução da occidentalis, espécie que se reproduz ção com carbaril (carbamato), Roush & resistência nas espécies fitófagas deve por parahaploidia, demonstraram que Hoy (1980) obtiveram linhagens de G. preceder a evolução nos inimigos na- os machos herdaram de suas mães a occidentalis resistentes a esse produ- turais (Baker & Arbogast, 1995). resistência a inseticidas carbamatos to. Posteriormente, realizando estudos A resistência entre os artrópodes (Roush & Hoy, 1981a; Roush & Plapp, em condições de laboratório, casa de fitófagos e seus inimigos naturais apre- 1982). Um outro fator que se relaciona vegetação e campo esses autores veri- senta efeitos contrastantes, sendo que com o aumento na freqüência de ácaros ficaram que essa linhagem apresentou para os fitófagos a resistência intensifi- fitoseídeos resistentes a pesticidas é a um aumento na razão sexual (maior ca sua condição de praga reduzindo as ocorrência de espécies generalistas número de fêmeas) quando compara- possibilidades de manejo. Por outro quanto ao hábito alimentar. Neste caso, do com a linhagem suscetível de refe- lado, a evolução da resistência em essas espécies são capazes de sobrevi- rência No entanto, esse fato não afetou populações de inimigos naturais pode ver e reproduzir-se com eficiência, o desempenho da mesma no controle contribuir de maneira significativa com alimentando-se de pólen e exudatos biológico de ácaros fitófagos nas con- o MIP pela conservação desses orga- de plantas, além de fungos e pequenos dições avaliadas (Roush & Hoy, 1981b). nismos mesmo após aplicações de insetos (McMurtry, 1997). Esse fato O monitoramento da resistência produtos considerados nocivos a eles neutraliza a possibilidade da limitação de G. occidentalis a metomil e (Croft, 1990). Sendo assim, o presente do alimento após a aplicação de um dimetoato também foi efetuado pelos trabalho tem como objetivo relacionar pesticida, ocorrendo dessa forma a mesmos autores (Roush & Hoy, alguns casos de detecção da resistên- preservação da população resistente 1981b). Neste caso foram avaliadas as cia a pesticidas em artrópodes inimi- em campo. respostas de várias populações gos naturais, e sua utilização no MIP, O primeiro relato de sobrevivência coletadas em pomares de maçã, pêra, bem como enfatizar a possibilidade do em populações de ácaros fitoseídeos amora e uva, sendo que todas apre- emprego da biotecnologia para a ob- após pulverizações com inseticidas de sentaram baixa razão de resistência a tenção de linhagens resistentes. largo espectro de ação em campo foi esses dois produtos. De acordo com efetuado no início dos anos 50 para G. Roush & Plapp (1982) a linhagem de Resistência de Ácaros occidentalis (Huffaker & Kennett, 1953). G. occidentalis resistente a carbaril Fitoseídeos a Pesticidas No entanto, esse fato foi associado à também apresentou elevada resistên- resistência somente no final da década cia a propoxur. Hoy & Knop (1981) Os ácaros fitoseídeos (Acari: de 60, quando trabalhos realizados em também selecionaram para resistên- Phytoseiidae) têm constituído o grupo laboratório confirmaram a ocorrência cia a permetrina populações de G. de inimigos naturais mais explorado da variabilidade intraespecífica na sus- occidentalis coletadas em pomares de em estudos dirigidos à resistência. Es- cetibilidade de populações de G. maçã situados em Washington/EUA. ses predadores apresentam parâme- occidentalis e Neoseiulus (=Amblyseius) Resistência múltipla a organofos- tros intrínsecos que favorecem a evo- fallacis a inseticidas organofosforados forados, cabamatos, piretróides, enxo- lução dessa característica, destacando- (Motoyama et al., 1970; Croft & Jeppson, fre e ao acaricida abamectin foi detec- se o alto potencial reprodutivo e o 1970). Posteriormente, resistência a tada em diversas populações dessa rápido ciclo de vida, além do fato de paration foi detectada em populações espécie em campo. Esse fato tem sido algumas espécies reproduzirem-se por de Amblyseius hibisci coletadas em intensivamente explorado dentro do parahaploidia ou pseudo-arrenotoquia. pomares de citros na Califórnia/EUA manejo integrado em várias culturas Neste tipo de reprodução, machos e (Kennett, 1970). A partir disso, inúme- nos Estados Unidos (Croft, 1990). Em fêmeas são originados de ovos diplóides ros trabalhos de detecção e seleção outros países, tal como a Rússia, linha- (2n) fecundados. No entanto, durante para a resistência a pesticidas em po- gens resistentes de G. occidentalis a o processo embrionário, ocorre a per- pulações de ácaros fitoseídeos foram inseticidas como os organofosforados da de um conjunto de cromossomos de efetuados em todo mundo (Quadro 1). e piretróides também têm sido explo- origem paterna nos ovos que darão Quanto aos pesticidas, ênfase tem sido radas em estudos visando o manejo de origem aos machos haplóides (n) (Hoy, dada aos inseticidas carbamatos, orga- ácaros-praga (Petrushov, 1991). Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento - Edição nº 30 - janeiro/junho 2003 17