Festas tradicionais revelam dinâmica cultural em MS
1. FESTAS, FRESTAS PARA APRENDER A DINÂMICA CULTURAL EM MS
GT Arte e Cultura
Aline Sesti Cerutti (Habilitação em Artes Plásticas/UFMS/Mestrado em
História/UFGD. Profa
no Curso de Artes Visuais/CCHS/UFMS)
Palavras-chave: Tradição; Ressignificação Cultural; Sagrado e Profano.
O relato estético pedagógico refere-se à proposta que está sendo desenvolvida pelos
acadêmicos da disciplina Fundamentos da Cultura e Cultura BrasileiraII/Curso de Artes
Visuais/UFMS. Contempla a pesquisa de campo e bibliográfica sobre as festas: de São
Benedito, Arraial de Santo Antonio e a do Bon Odori, consideradas “tradicionais” em
Campo Grande/MS.
O objetivo da proposta na investigação das festas é possibilitar a aprendizagem dos
conceitos sobre a dinâmica cultural em MS: o popular na ressignificação das tradições, a
construção das identidades no processo intercultural e a relação entre o sagrado e o
profano. Tais conceitos estudados são referendados por autores como: Stuart Hall
(2003), Nestor Garcia Canclini (1989) e Mircea Eliade (1996).
Após a coleta dos dados em fontes imagéticas, bibliográficas e entrevistas nas
comunidades que realizam as festas, algumas análises já estão sendo produzidas pelos
acadêmicos, com resultados parciais. Uma síntese da proposta será observada a seguir.
A Festa do Bon Odori realizada em agosto, pela Colônia Japonesa, em homenagem aos
ancestrais. Observamos que a Festa ainda não aconteceu, estamos sem os resultados
conclusivos. No entanto, o interessante nesta Festa são os processos interculturais e a
hibridização das formas, onde a marca da tradição japonesa, nas comidas, danças e
músicas, reavivadas, dividem espaço e se mesclam a outras expressões sul-mato-
grossenses.
A Festa Junina de Santo Antonio, padroeiro de Campo Grande é realizada em junho.
Inicia na Paróquia Santo Antonio, com o “tradicional” bolo repleto de alianças, pedidos
ao Santo casamenteiro. A Festa, “modernizada”, ganha espaços para além das fronteiras
paroquiais, com shows do circuito nacional na Praça do Papa. O processo de
modernização e globalização da Festa propõe reinvenções das tradições populares.
Canclini (1989) sugere a reformulação do “popular”, constituído por processos híbridos,
com a modernização das práticas. O objeto “puro” e “autêntico” não garante a
reprodução e o benefício local. A “comunidade imaginada” fluidifica-se para além do
local que habita, modificada e revitalizada pela mídia e o turismo.
A Festa de São Benedito em maio completou 92 anos na Comunidade de São Benedito,
formada entre outros, pelos afro-descendentes da ex-escrava Tia Eva, sua fundadora e
devota do Santo. O ritual festivo apresenta aspectos sagrados, onde o Santo dos negros é
reavivado a cada festa, renova tradições, remarca o território na comunidade, através da
procissão, novenas, missa e a adoração no altar com flores e velas.
O espaço profano da Festa, com baile, apresentações artísticas e desportivas e as
músicas midiáticas que convivem com os cantos tradicionais ao Santo e a cultura afro.
Os mais velhos ditam o tom nos rituais sagrados, em detrimento dos mais jovens que
preferem os entretenimentos. Expressões populares ressignificadas, perpetuam a
memória da Tia Eva e do Santo padroeiro fortalecendo as relações identitárias na
comunidade.
Os acadêmicos apresentaram certa resistência ao observar o confronto entre tradição e
modernidade, e o embate do sagrado e profano. Vários olhares contribuem com
reflexões estéticas culturais sobre a Festa, compondo as discussões teóricas. Dialogar
com os autores fundamenta a análise.
2. Stuart Hall (2003) critica as abordagens que valorizam a tradição pela tradição, tratando
de uma maneira não histórica, analisam as formas da cultura popular como se fosse
inalterada. O mais importante é o embate e as inter-relações no campo de luta.
A aproximação entre a Universidade e as comunidades, oportuniza a interatividade
sócio-educativa cultural. Na Comunidade de São Benedito, os acadêmicos foram
convidados a ministrar oficinas sobre a arte, cultura africana e dos afro-descentes. As
festas traduzem a memória e a história cultural das comunidades, o olhar acadêmico e a
pesquisa sistematizada produzem o diálogo frutífero e as reflexões teóricas sobre a
dinâmica cultural em MS.
CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas Híbridas. São Paulo: EDUSP, 1998.
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. São Paulo: Martins
Fontes, 1996.
HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mestiçagens culturais. Belo Horizonte:
UFMG, 2003.