1. FLORA MARINHA BENTÔNICA DAS ILHAS OCEÂNICAS BRASILEIRAS
( 8 Ilustrações)
VILLAÇA,R.1, PEDRINI,A.G.2, PEREIRA,S.M.B.3 e FIGUEIREDO, M.A. de O.4
BENTHIC MARINE FLORA OF THE BRAZILIAN OCEANIC ISLANDS
TITULO RESUMIDO: FLORAMARINHA DAS ILHAS OCEÂNICAS
1
Depto de Biologia Marinha, Universidade Federal Fluminense, Caixa Postal 100644, Niterói,RJ 24001-970
rvillaca@vm.uff.br
2
Depto de Biologia Vegetal, Universidade do Estado do Rio de Janeiro,Rua São Francisco Xavier, 524,
Pavilhão Haroldo Lisboa da Cunha, sala 525/1, Rio de Janeiro,RJ, CEP 20550-013 pedrini@uerj.br
3
Depto de Biologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Av. D. Manoel de Medeiros s/n, Dois
Irmãos, CEP 52171-900, Recife,PE soniabp@terra.com.br
4
Programa Zona Costeira Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rua Pacheco Leão
915,Rio de Janeiro,RJ,CEP 22460-030 mfigueir@jbrj.gov.br
2. RESUMO
O conhecimento atual e perspectivas futuras das pesquisas sobre a flora marinha
bentônica de Ilhas Oceânicas (incluindo o Banco dos Abrolhos) são abordados no presente
capítulo. Este se divide em quatro partes correspondendo ao Atol das Rocas, Fernando de
Noronha, Arquipélago São Pedro São Paulo, Complexo Insular de Trindade e Martim Vaz
e Abrolhos. Cada parte do capitulo é constituída por uma introdução onde é relatado um
breve histórico dos trabalhos já realizados em cada local. Em seguida é feita uma síntese
atual dos conhecimentos obtidos até agora, do ponto de vista taxonômico e ecológico. Ao
final, a infra-estrutura existente é abordada sendo fornecidas com sugestões para o
direcionamento de novas pesquisas. Comparando-se as ilhas fica bastante claro que há um
nível desigual de conhecimento e que o Complexo Insular de Trindade e Martins Vaz é o
que menos recebeu atenção até o momento. Por sinal, é também o mais carente em termos
de infra-estrutura para pesquisa. Fernando de Noronha, ao contrário, tem recebido mais
atenção tendo em vista o maior número de trabalhos aí desenvolvidos além de razoável
infra-estrutura. As demais ilhas ainda que apresentando um desenvolvimento recente de
estudos de natureza taxonômica e ecológica, é reconhecido que ainda resta muito a se fazer
para se obter um panorama mais realista da composição e importância da flora marinha das
ilhas oceânicas brasileiras.
PALAVRAS-CHAVE
FLORA MARINHA; ESFORÇO AMOSTRAL; ATOL DAS ROCAS; FERNANDO DE
NORONHA; BANCO DOS ABROLHOS; ARQUIPELAGO SÃO PEDRO SÃO PAULO;
ILHAS DE TRINDADE E MARTIM VAZ;
2
3. ABSTRACT
In the present chapter the current knowledge and perspectives for future of research on the
benthic marine flora of Brazilian oceanic islands (including the Abrolhos Archipelago) is
analyzed. This study was separated in four sections corresponding to Atol das Rocas Reef,
Arquipélagos de Fernando de Noronha and São Pedro e São Paulo, the islands of Trindade
and Martim Vaz, and the Abrolhos Bank. Each is composed of an introduction which
briefly describes the studies already done at each place. An updated synthesis of the
taxonomic and ecological status follows. Finally, the available infrastructure is considered ,
and includes suggestions for further research. Comparing the islands, it is very clear that
our knowledge is unbalanced and that the islands of Trindade and Martins Vaz are the ones
that have received less attention until now. In fact, these islands are also the ones that most
lack infrastructure for research. Fernando de Noronha, on the other hand, has received more
attention, considering that a large number of studies have been developed because of
reasonable infrastructure available. Even though the other islands have been subjected to
recent taxonomic and ecological studies, it is recognized that there still remains a lot of
work to be done in order to achieve a more complete perspective of the composition and
importance of the marine flora of the Brazilian oceanic islands.
KEYWORDS
MARINE FLORA; SAMPLING EFFORT; ATOL DAS ROCAS; FERNANDO DE
NORONHA; ABROLHOS BANK; ARQUIPELAGO SÃO PEDRO SÃO PAULO; ILHAS
DE TRINDADE E MARTIM VAZ;
3
4. 1a PARTE – ALGAS MARINHAS BENTÔNICAS DO ATOL DAS ROCAS
(ROBERTO VILLAÇA)
INTRODUÇÃO
A Reserva Biológica do Atol das Rocas foi a primeira unidade de conservação
marinha criada no Brasil. O sistema recifal de Rocas, apesar de não ter dimensões
comparáveis às formações típicas de Atol do Oceano Pacífico, tem sido considerado como
o único Atol do Atlântico Sul (KIKUCHI & LEÃO 1996;. A trama recifal do Atol das
Rocas é majoritariamente constituída por algas coralinas incrustantes e em proporção muito
menor por foraminíferos e conchas de moluscos gastrópodes (.
A flora marinha bentônica do Atol das Rocas foi primeiramente estudada em
detalhe no início dos anos 70 por , apesar de algumas referências esporádicas a algumas
espécies, serem encontradas em literatura anterior. Depois dos estudos acima citados, um
trabalho referente a geologia do Atol das Rocas, descreveu 5 táxons de algas coralináceas
incrustantes e outros apresentaram a importância destes táxons para a estrutura do Atol .
Mas recentemente, trabalhos desenvolvidos sobre aspectos ecológicos e taxonômicos das
macroalgas apresentaram novas ocorrências para o Atol e para o Brasil (VILLAÇA et al.
2002; BARBOSA et al. 2003; FUJI & VILLAÇA 2003; VILLAÇA & JENSEN,
submetido; VILAS-BÔAS, FIGUEIREDO & VILLAÇA no prelo).
Os trabalhos que tem sido realizados no Atol das Rocas foram geralmente
localizados na zona entre-marés e, mais recentemente, também foram realizadas coletas em
mergulho autônomo como parte de um projeto do Departamento de Biologia Marinha da
UFF,. Com essa técnica e apoio de embarcação, é possível estudar o banco de algas em
torno deste atol que apresenta diversidade muito pouco conhecida. A presente seção tem
4
5. por objetivo agrupar as informações atuais e passadas e propor novos passos para o
desenvolvimento de pesquisas com macroalgas no Atol das Rocas.
SITUAÇÃO ATUAL DE CONHECIMENTO DA FLORA
Os estudos desenvolvidos por OLIVEIRA FILHO & UGADIM (1974;1976)
resultaram em uma listagem de 93 taxa sendo 53 rodofíceas, 18 feofíceas e 22 clorofíceas).
Destas espécies, foram relacionadas 20 novas ocorrências para o Brasil, sendo 9 rodofíceas,
3 feofíceas e 8 clorofíceas (OLIVEIRA FILHO & UGADIM 1976). Foram adicionados
posteriormente para o Atol, 11 clorofíceas, 10 feofíceas e 13 rodofíceas, totalizando 131
taxa até o momento referidos para este recife, incluindo também 4 táxons de coralináceas
incrustantes da ordem Corallinales (GUERARDI 1996; VILLAÇA et al. 2002; ; ;
VILLAÇA & JENSEN, submetido; VILAS-BÔAS, FIGUEIREDO & VILLAÇA no prelo).
A Tabela 3, ao final desta seção, mostra a listagem dos táxons de algas bentônicas referidos
para o Atol. As rodofíceas representam o grupo com mais táxons (Figura 1).
Chlorophyceae
25%
Rodophyceae
54%
Phaeophyceae
21%
Figura 1: Percentual de táxons de macroalgas por divisão nas Classes de algas
bentônicas do Atol
5
6. Dentre as clorofíceas, as ordens melhor representadas no Atol são as Cladophorales
(40% dos taxa), Bryopsidales (30%) e as Ulvales (18%). Destaca-se o fato de que entre as
Bryopsidales não está representada a Familia Udoteacea (Halimeda, Penicillus etc...) tão
comuns em área recifais no Brasil e Caribe. Entre as feofíceas, as Dictyotales são as mais
representativas em termos de taxa com 61 % do total relacionado para o Atol. Ectocarpales
com 21%, Fucales 11% e Sphacelariales com 7% completam a lista. Destaca-se a ampla
maioria de táxons ligados a ordem Dictyotales apesar da ausência do gênero Padina,
comum em vários recifes brasileiros. Em relação às rodofíceas, 60% dos táxons descritos
pertencem a ordem Ceramiales, sendo esta a de maior riqueza. Outras ordens aparecem
com importância secundária em relação ao percentual de táxons relacionados a ela:
Corallinales, 10%; Rhodymeniales 9%; Gigartinales 7% e Acrochetiales 6%. Duas ordens
presentes em muitas áreas coralineas no Brasil não tem representantes até o momento
identificados para o Atol: Halymeniales e Gracilariales. Em relação as coralináceas,
GUERARDI (1996) descreveu Porolithon cf. pachydermum, Porolithon sp., Lithophyllum
sp., Lithoporella sp. e Sporolithon sp. VILAS-BÔAS, FIGUEIREDO & VILLAÇA (no
prelo) confirmaram somente uma espécie de Porolithon (Porolithon pachydermum), com
duas formas distintas de crescimento, que podem ter sido interpretada por GUERARDI
(1996) como 2 espécies distintas.
A distribuição das espécies varia em alguns locais em termos espaciais, porém a
alga Digenea simplex se mostrou a mais importante em recobrimento de área do anel
recifal e platô. Poucas espécies em geral são dominantes no platô e a distribuição horizontal
é predominantemente em manchas. Temporalmente, as populações de macroalgas não
mostraram diferenças sazonais importantes apesar de inicialmente ter sido encontrado uma
6
7. variação que mais tarde mostrou ser mais reflexo de distribuição descontínua.
Contrariamente a outros organismos como tartarugas, tubarões e aves em que a reprodução
(e a própria presença) se mostra mais localizada numa parte do ano, dados obtidos não
evidenciaram semelhante situação para as macroalgas.
A Figura 2 mostra o dendrograma formado quando se compara sete diferentes
setores do Atol, com as respectivas listas de espécies presentes (sem os elementos
duvidosos).
Figura 2: Análise de similaridade com dados de presença e ausência de espécies de
macroalgas em diferentes setores do recife do Atoldas Rocas.
Existe uma clara distinção entre os compartimentos internos (crista interna e platô) e
os outros no lado externo ou próximo a ele. As piscinas internas são muito distintas dos
dois grupos parecendo se constituir de um sistema um pouco mais isolado. Alguns fatores
ambientais certamente diferem de uma seção para a outra, porém durante as marés altas
todos os compartimentos ficam submersos e portanto ligados pela água.
A Tabela 1 explica muito dessa diferença entre os setores do recife. A exceção da
crista interna, os setores internos do recife são bem pobres em macroalgas quando
7
8. comparados aos setores no lado externo. As condições ambientais são extremas para os
setores da região entre marés, porém surpreendentemente as piscinas internas são mais
pobres ainda, apesar de reterem água durante a maré baixa e ter profundidade média de 2 a
3 metros.
Tabela 1 : Número de taxa de macroalgas por cada setor do recife do Atol das Rocas
crista platô platô piscina piscina fendas frente
interna abrigado exposto interna externa da crista recifal
28 11 13 8 38 32 40
A relação das macroalgas com herbívoros mostrou que a alga D. simplex é um
recurso muito utilizado, sendo complementado por outras algas com distribuição espacial
bem mais restrita porém com características de crescimento rápido. A pastagem no anel
recifal é predominantemente feita por peixes sendo a população de ouriços com distribuição
muito restrita no recife. No lado externo do recife é clara a dominância de macroalgas que
não são apreciadas por peixes herbívoros, o que aponta o anel recifal como um possível
estoque de alimento mais apreciável onde a pastagem só é possível nos períodos de maré
alta, impedindo assim um esgotamento de recursos. Segundo MARQUES (2003), A alga
D. simplex é a alga mais palatável do Atol das Rocas, sendo a mais consumida em quase
todos os experimentos realizados pelo autor. Estudos de conteúdo estomacal de um dos
principais peixes herbívoros do Atol (Acanthurus coeruleus) confirmaram que D. simplex é
a alga mais consumida (ARAGÃO 2003), porém uma outra alga, Gelidium sp também
apareceu com freqüência (ARAGÃO 2003) apesar de ainda não ter sido relatada nenhuma
espécie de Gelidium para o Atol. As algas pardas encontradas no lado externo como
diversas espécies da ordem Dictyotales são menos palatáveis, pois em diversos
experimentos estas apresentaram baixo consumo (MARQUES 2003).
8
9. A flora marinha do Atol que Rocas tem características peculiares sendo por exemplo
pouco relacionada com o Arquipélago de Fernando Noronha onde só aproximadamente
40% dos táxons do Atol das Rocas foram encontrados. Quase 80% dos táxons deste recife
estão presentes na costa brasileira mas quando comparados separadamente com algumas
regiões há espécies menos comuns relativamente (Tabela 2).
Tabela 2: Táxons do Atol das Rocas encontrados em regiões próximas
Estados e/ou regiões %
Arq. São Pedro São Paulo 9
Fernando de Noronha 39,8
Ceará 49,6
Rio Grande do Norte 28,3
Paraíba 41,6
Pernambuco 38,1
Bahia 43,7
Espirito Santo 50,8
Deve ser levado em conta, que algumas regiões estão melhor estudadas que outras
mas os dados atuais sugerem uma combinação muito original de táxons de macroalgas que
reforçam a singularidade destes local. Além disso, há espécies mais representativas do
Caribe (63,7%) que a costa ocidental de África (51,3%) o que é consistente com a natureza
coralina do Atol das Rocas.
DEMANDAS CIENTÍFICAS
Apesar dos estudos já realizados é clara ainda a necessidade de estudos mais aprofundados
em taxonomia e ecologia das macroalgas. Em relação as algas calcárias incrustantes
(Corallinales) há muito ainda por fazer em relação à taxonomia sendo provável novas
ocorrências de várias espécies. Outro grupo onde nada ainda se conhece são as
9
10. cianobactérias. Observações pessoais deste autor indicam que são inúmeras as espécies de
cianobactérias presentes em pequenos pedaços da estrutura recifal ou mesmo no sedimento
calcário. Se no platô recifal e nas piscinas não se deve esperar um aumento significativo de
espécies descritas para o Atol, o fundo em torno do recife sugere que o número de espécies
deve ser ampliado. O fundo calcário em torno do Atol é um aspecto que pode ser destacado
por sua importância, já que dá suporte a um exuberante banco de macroalgas cuja troca de
material com o anel recifal principal é visível. Neste local foram encontradas muitas novas
ocorrências, praticamente todas com potencial para a pesquisa de produtos naturais. Esse
campo de estudo pode dar uma grande visibilidade também para a Reserva Biológica do
Atol das Rocas e deveria ser incentivado esse tipo de pesquisa já que haveria possibilidade
inclusive de receber subsídios oriundos de patenteamento de novas substâncias.
INFRA-ESTRUTURA
A Reserva Biológica do Atol das Rocas conta hoje com uma infra-estrutura básica
para o desenvolvimento de pesquisas no local. O transporte desde Natal é fornecido pelo
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA,
assim como a alimentação. A casa no recife dispõe de dois cômodos podendo abrigar até 5
pesquisadores. Há um bote inflável com motor, que pode ser utilizado pelos pesquisadores
durante os 22 a 25 dias da temporada. Não há disponibilidade de compressor para apoiar
mergulho autônomo, o que dificulta as coletas do lado externo do Atol. Há dificuldades
10
11. para se trazer material fresco ou congelado devido à distância da costa e a casa não dispõe
de energia elétrica suficiente para fazer funcionar qualquer tipo de equipamento. Os
recursos para chegar até Natal também dependem dos pesquisadores o que dificulta a ida
dos mesmos quando não são ligados às universidades de estados próximos como Rio
Grande do Norte,Ceará, Paraíba e Pernambuco.
11
12. Tabela 3: Lista das algas marinhas bentônicas do Atol das Rocas
Oliveira Atol
Filho (99/2002)
(1976)
Chlorophyta
Anadyomene saldanhae* A. B. Joly & E. C. Oliveira 1
Anadyomene stellata (Wulfen in Jacq.) C. Agardh 1
Blastophysa rhizopus Reinke 1
Bryopsis pennata J.V. Lamouroux f. pennata 1 1
Bryopsis pennata J.V. Lamouroux f. secunda 1 1
Bryopsis plumosa* (Hudson) C. Agardh 1
Caulerpa cupressoides var. cupressoides* (H.West in Vahl C. Agardh) 1
Caulerpa cupressoides var. lycopodium Weber Bosse 1 1
Caulerpa mexicana* Sond. ex Kütz 1
Caulerpa verticillata* J. Agardh 1
Cladophora brasiliana G. Martens 1
Cladophora dalmatica* Kützing 1
Cladophora vagabunda* (L.) C. Hoek 1
Cladophoropsis membranacea (C. Agardh) Børgesen 1 1
Codium intertextum Collins & Herv. 1 1
Codium repens* P. Crouan & H. Crouan ex Vickers 1
Dictyosphaeria ocellata (M. Howe) J.L. Olsen 1 1
Dictyosphaeria versluysii Weber Bosse 1 1
Enteromorpha lingulata J. Agardh 1
Enteromorpha multiramosa Bliding 1 1
Entocladia viridis Reinke 1 1
Neomeris annulata* Dickie 1
Petrosiphon adhaerens M. Howe 1
Phaeophila dendroides (P. Crouan & H. Crouan) Batters 1
Phyllodictyon anastomosans (Harv.) Kraft & M.J. Wynne 1 1
Pringsheimiella scutata (Reinke) Höhn. ex Marchew. 1
Rhizoclonium sp.* 1
Ulothrix sp. 1
Ulva fasciata Delile 1
Ulva lactuca Linnaeus 1 1
Urospora penicilliformis (Roth) Aresch 1
Valonia macrophysa* Kützing 1
Ventricaria ventricosa J.L. Olsen & J.A. West 1 1
Phaeophyta
Bachelotia antillarum (Grunov) Gerloff 1
Dictyopteris delicatula J.V. Lamouroux 1 1
Dictyopteris jamaicensis W.R. Taylor* 1
12
16. 2a PARTE - ALGAS MARINHAS BENTÔNICAS DO ARQUIPÉLAGO DE FERNANDO
DE NORONHA (PE) E ARQUIPÉLAGO SÃO PEDRO E SÃO PAULO
(SONIA MARIA BARRETO PEREIRA)
INTRODUÇÃO
O conhecimento sobre a flora ficológica brasileira está baseado, principalmente, nas
comunidades que ocorrem na zona entre-marés necessitando, portanto, se conhecer melhor
os componentes da flora de profundidade e destas ilhas oceânicas. Este último aspecto é
preocupante tendo em vista a fragilidade das comunidades algais em ecossistemas
insulares, devido à área restrita desses ambientes e a distância entre a ilha e o continente e
ilhas vizinhas, levando a um isolamento geográfico que pode dificultar a reposição por
parte de comunidades vizinhas de eventuais lacunas nas cadeias energéticas.
Este trabalho tem como objetivo apresentar uma síntese dos estudos desenvolvidos
com as algas bentônicas nos arquipélagos de Fernando de Noronha e São Pedro e São
Paulo, com recomendações sobre ações futuras visando um melhor conhecimento das
respectivas floras e sua preservação.
ARQUIPÉLAGO DE FERNANDO DE NORONHA
O Arquipélago de Fernando de Noronha é de origem vulcânica e está situado no
Atlântico Sul equatorial a 3º 51' S e 32º 25' W, distando 345 km do Cabo de São Roque
(RN) e 545 km da cidade de Recife (PE). É formado por uma ilha principal que lhe dá o
nome, com cerca de 16,4 km², representando 91% da área do arquipélago. Ao seu redor se
encontram 20 ilhotas das quais Rata, a maior, tem 81 ha. Elevam-se de uma plataforma de
erosão com cerca de 3 a 4 km de largura e até uns 100 m de profundidade. O clima é
16
17. tropical do tipo Awi do sistema de Koppen de classificação. A média anual de temperatura
fica em torno de 25ºC com a ocorrência de ventos alíseos e a de precipitação em torno de
1.400mm. Durante o ano ocorrem duas estações bem definidas, a chuvosa de fevereiro a
julho e a seca de agosto a janeiro.A umidade relativa do ar apresenta valores entre 85%
(período chuvoso) e 81% (período seco). Desde 1988 este arquipélago está ligado,
politicamente, ao Estado de Pernambuco, tendo sido criado, nessa época, o Parque Nacional
Marinho de Fernando de Noronha.
Se comparado com as outras ilhas oceânicas do Brasil no referido arquipélago foi
desenvolvido o maior número de trabalhos sobre a flora de algas bentônicas. Estes estudos
se iniciaram no século XIX por pesquisadores estrangeiros como DICKIE (1875),
HEMSLEY (1885) e MURRAY (1891) que listaram várias espécies. Atualmente, muitas
dessas citações são sinônimos ou foram colocadas por OLIVEIRA FILHO (1974; 1977)
como duvidosas. No século passado merece destaque o trabalho de WILLIAMS &
BLOMQUIST (1947) sobre as algas do Brasil onde listaram algumas para Fernando de
Noronha com os primeiros comentários ecológicos. A partir daí foram realizados trabalho
de inventário florístico de áreas mais abrangentes onde foram citadas algas de Fernando de
Noronha (TAYLOR 1931; SILVA 1960; FERREIRA-CORREIA & PINHEIRO-VIEIRA
1969 e PINHEIRO-VIEIRA & FERREIRA-CORREIA 1970), do arquipélago (SZÉCHY et
al 1987; 1989; PEDRINI et al 1992), revisões de material de herbário (OLIVEIRA FILHO,
1974) e se iniciaram as pesquisas ecológicas (ESTON et al 1986; PEREIRA et al 1996). Os
trabalhos referidos enfocaram, principalmente, a flora ficológica da região entre-marés com
algumas referências para as algas do infralitoral. ESTON et al (1986) trabalharam com a
distribuição vertical dos organismos bênticos desde o supralitoral até a profundidade de
17
18. 30m demonstrando que as algas apresentaram ocorrência mais freqüente nas maiores
profundidades.
SITUAÇÃO ATUAL DE CONHECIMENTO DA FLORA
Atualmente estão citados para Fernando de Noronha 171 taxons infragenéricos
entre clorofíceas (57), feofíceas (28) e rodofíceas (86) (tabelas 4), correspondendo a 54,63
% do total de taxons referenciados para o estado de Pernambuco (PEREIRA et al 2002,
TORRES et al 2004). Para a apresentação dos táxons foi seguido WYNNE (1998)
complementado pelos trabalhos de HOEK (1982) e GUIMARÃES et al (2004).
Com relação ao percentual de número de táxons as rodofíceas apresentaram a maior
ocorrência com 49% dos táxons encontrados enquanto que as clorofíceas e feofíceas estão
representadas, respectivamente, por 35% e 16 % (Figura 3).
A – Estado de Pernambuco B – Arquipélago de Fernando de Noronha
34% 35%
A - Chlorophyta
49%
52%
Chlorophyta
Phaeophyta
Chlorophyta Rhodophyta
14% 16%
Phaeophyta
Rhodophyta
Figura 3 – Percentual de táxons de macroalgas por divisões, (A) – no Estado de Pernambuco e
(B) no Arquipélago de Fernando de Noronha.
18
19. A - Chlorophyta B - Phaeophyta
Ulvales 6 Sphacelariales 3
Scytosiphonales 3
Dasycladales 1
ordens
Fucales 5
Ordens
Cladophorales 24
Ectocarpales 4
Bryopsidales 28 Dictyotales 14
0 5 10 15 20 25 30 0 10 20
Número de taxa Número de taxa
C - Rhodophyta
Rhodymeniales 8
Nemaliales 7
Hildenbrandiales 1
Halymeniales 1
Ordens
Gracilariales 3
Gigartinales 7
Gelidiales 5
Erythropeltidales 2
Corallinales 15
Ceramiales 34
Bonnemaisoniales 1
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Número de taxa
Figura 4 – Número de táxons infragenéricos por ordens nas divisões, (A) – Chlorophyta, (B) –
Phaeophyta e (C) – Rhodophyta no Arquipélago de Fernando de Noronha
Com relação às ordens mais representativas de macroalgas, destacam-se entre as
clorofíceas as Bryopsidales (28 taxons) e Cladophorales (24 taxons) (Figura 4). O gênero
Caulerpa apresentou a maior ocorrência com 15 táxons representantes. Caulerpa
verticilata é a clorofícea mais comum (SZECHY et al, 1989) Entre as feofíceas e
rodofíceas se destacam, respectivamente, as Dictyotales (23 táxons) e Ceramiales (34
taxons), indicando o caráter tropical da flora desse arquipélago e a sua afinidade com a
19
20. flora da região do Caribe. O gênero Dictyota está bem representado com a ocorrência de 6
espécies. Entre as Ceramiales o gênero Ceramium apresentou o maior número de espécies.
Ocorreram alguns táxons considerados raros para a flora brasileira como a feofícia
Turbinaria turbinata e a rodofícea Liagora dendroidea.
DEMANDAS CIENTÍFICAS
Apesar do número representativo de trabalhos com a flora ficológica do
Arquipélago ainda falta muito para o seu real conhecimento. Os levantamentos florísticos,
até então realizados estão concentrados, principalmente, na Ilha de Fernando de Noronha
pouco se conhecendo sobre as outras ilhas, inclusive a Ilha Rata. São necessários estudos
planejados sobre a flora entre-marés e de infralitoral com coletas periódicas em um maior
espaço de tempo.
Sensível ao problema referido a Secretaria de Ciências e Tecnologia de Pernambuco
publicou o Atlas da Biodiversidade do Estado, onde foi incluído o Arquipélago
demonstrando que sua flora ficológica, apesar da grande importância biológica, encontra-se
ainda insuficientemente conhecida (Fig.5). A equipe de Ficologia da Universidade Federal
Rural de Pernambuco, em colaboração com outras instituições (UFPB e USP) está
iniciando um projeto sobre a flora de clorofíceas do Arquipélago, financiado pelo Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ao lado da continuidade
dos levantamentos florísticos deve ser dando ênfase entre outras pesquisas aquelas sobre a
estrutura das comunidades, extração de produtos naturais em gêneros promissores como
Laurencia, Digenea, Dictyota e Codium. Os trabalhos de monitoramento devem ser feitos
periodicamente evitando-se, desta maneira, possíveis danos ao ecossistema.
20
21. Figura 5 – Mapa do Arquipélago de Fernando de Noronha com as áreas prioritárias de
conservação das macroalgas (modificado do Atlas de Biodiversidade de Pernambuco,
2004)
INFRA-ESTRUTURA
O Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha é considerado como a mais
bela Ilha do Brasil e por este motivo tem sido bastante visitada por turistas. Estes ao
chegarem na ilha pagam uma taxa de permanência que é administrada pelo governo de
Pernambuco para a preservação do Arquipélago. Devido à atuação do IBAMA, através dos
seus fiscais e o desenvolvimento de alguns projetos ambientais, a Ilha vem tendo a
preservação ecológica adequada. Alguns projetos auxiliam neste aspecto como o Projeto
Golfinhos Rotadores (pesquisas sobre cetáceos) e o Projeto Tamar (proteção a desova de
tartarugas).
21
22. O IBAMA oferece alojamento para os pesquisadores que têm projetos de pesquisa
na ilha, além do que é oferecido desconto no trecho aéreo. Para se ter direito a estas regalias
o pesquisador deve ter seu projeto aprovado pelo IBAMA (Brasília) e programar suas
atividades com antecedência com o responsável pelo alojamento. Portanto Fernando de
Noronha é exemplo de preservação nacional em convívio direto com a atividade turística.
22
23. Tabela 4 – Algas bentônicas do Arquipélago de Fernando de Noronha (a= Dickie 1874; b= Hemsley 1885; c=
Murray 1891; d= Williams & Blonquist 1947; e=Taylor 1931; f= Ferreira-Correia & Pinheiro–Vieira 1969;
g= Pinheiro-Vieira & Ferreira-Correia 1970; h= Oliveira Filho 1974, 1977, i= Eston et al.1986; j= Szechy et
al.(1987, 1989); k= Pedrini et al. 1992; l= Pereira et al. 1996; m= Bandeira-Pedrosa et al. 2004).
TAXONS a b c d e f g h i j k l m
CHLOROPHYTA
Acetabularia myriospora Joly & Cord.-Mar.] 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0
Boodleopsis pusilla (Collins) Taylor, Joly & 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0
Bernatowicz
Bryopsis pennata J.V. Lamour. 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 1 1 0
B. plumosa (Huds.) C. Agardh 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0
Caulerpa ambigua Okamura 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0
C. fastigiata Mont. 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0
C. cupressoides (H. West in Vahl) C. Agardh var. 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 0 0
cupressoides
C. cupressoides (H. West in Vahl) C. Agardh var. 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0
lycopodium Weber Bosse
C. kempfii A. B. Joly & S. Pereira 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0
C. mexicana Sonder ex Kütz. 1 1 0 0 0 1 0 1 1 0 1 1 0
C. prolifera (Förssk.) J. V. Lamour. 0 0 1 1 0 0 0 0 1 1 1 1 0
C. pusilla (Kütz.) J. Agardh 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0
C. racemosa (Försskal) C. Agardh 1 1 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 0
var. racemosa
C. racemosa(Försskall) J. Agardh 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0
var. occidentalis (J. Agardh) Börgensen
C. racemosa (Försskal) J. Agardh 0 0 0 1 0 1 0 0 0 0 1 0 0
var peltata (J. V. Lamour.)Eubank
C. sertularioides (S. G Gmelin) M Howe 0 0 0 1 0 0 0 0 1 1 1 1 0
C. taxifolia ( H. West inVahl) C. Agardh 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0
C. verticillata J. Agardh 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 0 0
Chaetomorpha antennina (Bory) Kütz. 0 0 1 0 0 0 0 0 1 1 1 0 0
C. brachygona Harv. 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0
* C. gracilis Kützing 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0
C. linum (O. F. Muller) Kütz 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 1 0 0
C. nodosa Kütz. 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0
C. ? spiralis 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0
Chamaedoris peniculum (Sol.) Endl. 0 0 1 0 0 0 0 0 1 1 1 0 0
Cladophora vagabunda ( L.) C. Hoek 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0
C. montagneana Kütz. 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0
C. flexuosa (O. F. Mull) Kützing 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0
* C. morrisiae ? Harvey 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Cladophoropsis macromeres W. R. Taylor 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0
C. membranacea (C. Agardh) Börgesen 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 1 0 0
Codium intertextum Collins & Herv. 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0
C. isthmocladum Vickers 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 1 0 0
C . repens P. Crouan & H. Crouan ex Vickers 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0
C. tomentosum Stackhouse 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0
Derbesia sp 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0
Dictyosphaeria cavernosa (Forssk.) Börgesen 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0
D. versluysii Weber Bosse 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0
Enteromorpha chaetomorphoides Börgesen 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0
E. flexuosa (Wulfen) J. Agardh 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0
23
27. ARQUIPÉLAGO DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO (ASPSP)
Arquipélago de São Pedro e São Paulo (ASPSP), está localizado entre as
coordenadas 0o55’10”N - 29o20’33”W, é formado por um pequeno grupo de ilhas isoladas
situadas ao norte do Equador sobre a cadeia Dorsal Meso Atlântica, distando
aproximadamente, 960 km da costa NE brasileira e 330 milhas náuticas do Arquipélago de
Fernando de Noronha.
Apresenta uma extensão de área emersa em torno de 17.000m2, sendo que
Belmonte, São Paulo, São Pedro e Barão de Teffé constituem suas maiores ilhotas. O
conjunto de ilhotas é considerado como o menor e mais isolado entre as ilhas oceânicas do
mundo. Outro fato interessante é que ASPSP é a única ilha oceânica de origem não
vulcânica (EDWARDS & LUBBOCK 1983). Ocorrem duas estações anuais, uma chuvosa
com temperatura em torno de 24oC e outra seca com temperatura em torno de 28oC. Suas
rochas são banhadas pelas águas da corrente Sul Equatorial.
Tanto a flora como a fauna do referido Arquipélago são de grande importância para
os especialistas tendo em vista o isolamento de suas ilhas, sua posição intermediária entre a
costa oeste da África e América do Sul e seu reduzido tamanho (EDWARDS &
LUBBOCK 1983). Ao contrário de Fernando de Noronha esse Arquipélago tem poucas
pesquisas sobre a flora de algas marinhas bentônicas. As primeiras referências foram feitas
por DICKIE (1875), com base no material coletado por MOSELEY, citando para o
Arquipélago 11 espécies entre clorofíceas (3), feofíceas (3), rodofíceas (4) e cianofíceas
(1). Este material foi novamente publicado por HEMSLEY (1885) num relatório de viagem
do Challenger. Posteriormente OLIVEIRA FILHO (1974) teve acesso ao material
27
28. identificado por Dickie fazendo uma avaliação da identificação, confirmou alguns táxons e
considerou outros como registros duvidosos. EDWARDS & LUBBOCK (1983) abordando
a ecologia do Arquipélago citaram 11 espécies entre as algas verdes (4), pardas (3) e
vermelhas (4). PEREIRA et al (2005) fizeram o registro de 10 clorofíceas, 8 feofíceas e 12
rodofíceas, totalizando 41 representantes (Tabela 5).
Nos estudos realizados no arquipélago, até o momento, as coletas foram feitas tanto
nas regiões eulitorânea como infralitorânea, através de apnéia em menores profundidades e
em mergulho autônomo e dragagem nas maiores profundidades.
SITUAÇÃO ATUAL DE CONHECIMENTO DA FLORA
Atualmente estão registradas para o Arquipélago 38 táxons de algas bentônicas,
entre clorofíceas (11), feofíceas (8) e rodofíceas (19). O maior percentual está representado
pelas rodofíceas (50%), seguido pelas clorofíceas (29%) e feofíceas (21%) (Fig. 6).
29%
Chlorophyta
50% Phaeophyta
Rhodophyta
21%
Figura 6 – Percentual de táxons de macroalgas por divisão no Arquipélago de São Pedro e
São Paulo.
28
29. Entre as rodofíceas as Ceramiales (10 táxons) e Corallinales (6 representantes)
foram as ordens mais representativas (Figura 7). Os gêneros Laurencia (4 táxons) e Jania
(4 táxons) foram os mais numerosos. Apesar da ordem Bryopsidales, entre as clorofíceas,
ter sido a mais representativa não houve registro da ocorrência dos gêneros característicos
de águas tropicais como Avrainvillea, Codium, Halimeda, Udotea entre outros. Observou-
se também o número reduzido de espécies de Caulerpa (3). No lado oeste das rochas, no
sublitoral ocorre uma zona bem definida formada por Caulerpa racemosa indo até 60m de
profundidade. Várias outras algas ocorrem nesta zona de Caulerpa como Bryopsis pennata,
Valonia macrophysa, Dictyota menstrualis e calcárias incrustantes. Entre as feofíceas a
ordem com maior número de representantes é Ectocarpales. As espécies Chnoospora
minima e Asteronema breviarticulatum ocorreram sempre sobre as rochas em lugares mais
altos. Várias espécies ocorreram como epífitas de Chnoospora minima. Entre os locais
possíveis de coleta de macroalgas, a enseada, local relativamente protegido, apresentou a
maior diversidade de espécies. Em outros locais como nas poças de marés as rochas
apresentam-se desnudas devido a aparente herbivoria representada, principalmente, pela
presença de aratu (Crustáceo). Outro exemplo de possível influencia da herbivoria no
Arquipélago é o encontrado no Cabeço da Tartaruga devido a uma grande ocorrência de
peixes.
29
30. A - Chlorophyta B - Phaeophyta
Ulvales 1 Scytosiphonales 1
Ordens
Dictyotales 2
Ordens
Cladophorales 2
Sphacelariales 1
Bryopsidales 8
Ectocarpales 4
0 2 4 6 8 10
0 1 2 3 4 5
Número de taxa
Número de taxa
C- Rhodophyta
Hild e n b r a n d ia le s 1
Rh o d y me n ia le s 2
O rd e n s
Ce r a mia le s 10
Co r a llina le s 6
0 2 4 6 8 10 12
N ú m e ro d e ta xa
Figura 7: Número de táxons infragenéricos por ordens nas divisões, (A) – Chlorophyta, (B) –
Phaeophyta e (C) – Rhodophyta no Arquipélago São Pedro e São Paulo..
30
31. DEMANDAS CIENTÍFICAS
Para que sejam desenvolvidos outros trabalhos é necessário concluir o
levantamento florístico não só na região entre-marés mas, principalmente, no infralitoral. É
necessário, também, que seja dimensionado o estoque das principais algas para fins de
utilização em estudos aplicados. Ao lado desses aspectos devem ser incentivadas pesquisas
sobre a estrutura das comunidades e suas alterações sazonais. A equipe de ficologia da
Universidade Federal Rural de Pernambuco desenvolve trabalhos no Arquipélago sobre
levantamento florístico das macroalgas desde 2002, recebendo auxílio financeiro do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Secretaria da
Comissão Interministerial para Recursos do Mar (SECIRM).
INFRA-ESTRUTURA
Em junho de 1996, pela Resolução no 001/96, a Comissão Interministerial para os
Recursos do Mar (CIRM) aprovou o Programa Arquipélago de São Pedro e São Paulo
(PROARQUIPÈLAGO) e criou o Grupo de Trabalho Permanente para sua ocupação e
pesquisa (GT Arquipélago). Para desenvolver pesquisas com as macroalgas é necessário
que se tenha um projeto aprovado pelo CNPq (PROGRAMA ARQUIPÉLAGO), que os
pesquisadores integrantes realizem o treinamento pré-Arquipélago e tenham feito cursos de
mergulho básico, avançado, primeiros socorros e resgate. A viagem de pesquisa
compreende 28 dias. Destes 15 dias são de permanência no Arquipélago e o restante para o
deslocamento de ida e volta. Os custos financeiros da viagem são de responsabilidade da
SECIRM e CNPq .
31
32. No Arquipélago a Marinha disponibiliza uma Estação Científica com 4
cômodos, podendo abrigar de 3 a 4 pesquisadores. Há disponibilidade de equipamentos
básicos para a pesquisa.. A cada 15 dias a equipe é substituída de modo que o local fique
permanentemente habitado.
32
33. Tabela 5 – Algas bentônicas do Arquipélago de São Pedro e São Paulo (a = Dickie
1874; b= Hemsley 1885; c= Oliveira-Filho 1974; d= Edwards & Lubbock 1983; e=
Pereira et al 2005).
TÁXONS a b c d e
CHLOROPHYTA
Bryopsis plumosa (Huds.) C. Agardh 0 0 0 0 1
Bryopsis pennata J. V. Lamour. 0 0 0 1 1
Caulerpa racemosa (Forsskal) J. Agardh var. racemosa 1 1 1 0 0
Caulerpa racemosa var. peltata (J.V. Lamour.) Eubank 0 0 0 0 1
Caulerpa webbiana Mont 1 1 1 0 0
C. verticillata J. Agardh 0 0 0 1 1
Caulerpella ambigua (Okamura) Prud’homme & Lokhorst 0 0 0 0 1
Chaetomorpha antennina (Bory) Kütz. 0 0 0 0 1
Derbesia marina (Lyngb.) Solier 0 0 0 0 1
Ulva lactuca L.. 0 0 0 1 1
Valonia macrophysa Kütz. 0 0 0 1 1
PHAEOPHYTA
Asteronema breviarticulatum (J. Agardh) Ouriques & Bouzon 1 1 1 1 0
Asteronema rhodochortonoides (Börgesen)D.G. Müller & Parodi 0 0 0 0 1
Bachelotia antillarum (Grunov) Gerloff 0 0 0 0 1
Chnoospora minima (K. Hering) Papenf. (like C. atlantica J. Agardh) 1 1 0 1 0
Dictyota menstrualis (Hoyt) Schnetter, Hörnig & Weber-Peukert 0 0 0 1 1
Lobophora variegata (J. V. Lamour.) Womersley ex E. C. Oliveira 0 0 0 0 1
Feldmania irregularis (Kütz.) Hamel 0 0 0 0 1
Sphacellaria rigidula Kutz 0 0 0 0 1
RHODOPHYTA
Antithamnion antillanum Börgesen 0 0 0 0 1
Ceramium sp 0 0 0 0 1
Champia parvula (C. Agardh) Harv. 0 0 0 0 1
Gelidiopsis planicaulis (W. R. Taylor) W. R. Taylor 0 0 0 1 0
Hildenbrandia rubra (Sommerf.) Menegh. (like H. expansa Dickie) 1 1 1 0 0
Hypoglossum hypoglossoides (Stackh.) Collins & Herv. 1 1 1 0 1
Jania adhaerens J.V. Lamour 0 0 0 0 1
J. capillacea Harv. 0 0 0 0 1
J. pumila J. V. Lamour. 0 0 0 1 0
J. rubens (L.) J.V. Lamour. 0 0 0 0 1
Laurencia caraibica P. C. Silva 0 0 0 1 0
L. filiformis (C. Agardh) Mont 0 0 0 0 1
L. microcladia Kütz. 0 0 0 1 0
Laurencia sp 0 0 0 0 1
Mesophyllum lichenoides (Ellis) Lemoine 1 1 1 0 0
Neosiphonia ferulacea (Suhr ex J. Agardh) S. M. Guim. & M.T. Fujii 0 0 0 0 1
Nitophyllum wilkinsoniae Collins & Herv. 0 0 0 0 1
Phymatolithon purpureum (P. Crouan & H. Crouan) Woek. & L. M. 1 1 1 0 0
Irvine
Polysiphonia subtilissima Mont. 0 0 0 0 1
33
34. 3A PARTE - ALGAS MARINHAS BENTÔNICAS DO COMPLEXO INSULAR DE
TRINDADE E MARTIM VAZ, ESPÍRITO SANTO, BRASIL. UMA SÍNTESE.
(ALEXANDRE DE GUSMÃO PEDRINI)
INTRODUÇÃO
Na região estudada o conhecimento da flora marinha bentônica é escasso,
possuindo apenas trabalhos taxonômicos, sendo dois de superfície e três de profundidade.O
estudo de maior quantitativo de espécies que se conhece na área é derivado de um trabalho
de inventário taxonômico oriundo de coletas em seis praias em um só dia na Ilha Trindade.
Essa pesquisa foi realizada por PEDRINI et al. (1989) que encontrou 61 táxons nem todos
determinados e que abrangeu apenas o supra e o médio-litorais. O infra-litoral não foi
devidamente explorado, face ao tempo restritíssimo disponível para coleta.
Posteriormente, NASSAR (1994) visitou Trindade também em uma só visita em
junho de 1989 e aumentou o total de táxons locais para 104. Considerou que a flora da ilha
de Trindade tinha 56% da flora constituída por espécies de ampla distribuição no litoral
brasileiro e 80% do total presentes no litoral do estado do Espírito Santo. Observou a
escassez de algas bentônicas nos costões de quatro praias visitadas e em uma estimativa
visual identificou o predomínio de apenas formas filamentosas. A explicação para essa
questão só será possível com um estudo taxonômico, abrangendo as quatro estações do ano
e com um esforço de coleta maior em outros costões da ilha. Além disso, estudos
ecológicos é uma demanda urgente para investigar esse aparente deserto de algas nos
costões nesse período do ano.
34
35. Em termos de estudos de inventário taxonômico de profundidade foram feitos três
trabalhos. Dois deles, realizados por JOLY (1950;1953) foram sobre algas de profundidade
obtidas por dragagens. Seus estudos revelaram a ocorrência de apenas 32 táxons. Mesmo
assim, o outro trabalho feito cerca de 50 anos depois por YONESHIGUE-VALENTIN et
al. (2005) encontraram 31 táxons derivados de três pontos de coleta, sendo um em Trindade
e dois em Martim Vaz. O baixo esforço de coleta por dragagens também evidencia uma
provável subestimação da flora de profundidade local que deveria receber atenção por
mergulhadores para se ter certeza de que existe essa flora pobre mostrada pelos três
trabalhos.
Assim, o presente trabalho tem como objetivo fazer uma síntese resumida do
conhecimento taxonômico disponível na literatura especializada, tentando mostrar o que
deve ser implementado para o complexo insular poder ser minimamente conhecido e
preservado, tanto no nível taxonômico como ecológico.
SITUAÇÃO ATUAL DE CONHECIMENTO DA FLORA
Os inventários taxonômicos mostraram que em termos de riqueza de espécies para a
ilha de Trindade ocorreram 84 táxons para os costões superficiais e 49 para o assoalho
profundo, totalizando 122 táxons. Para Martim Vaz foram encontrados 22 táxons em
profundidade, totalizando 132 táxons para o complexo insular, já que 12 táxons ocorreram
também na ilha de Trindade (Tabela 6).
Ocorrem no complexo insular de Trindade e Martim Vaz: a) 57 clorófitas,
predominando as ordens Bryopsidales com 65% e Cladophorales com 19% dos táxons
identificados; b) 20 feófitas, predominando as ordens Dictyotales com 55% e Ectocarpales
35
36. com 15% dos táxons e c) 54 rodófitas, predominando Ceramiales com 48% e Corallinales
e Rhodymeniales com 11% cada uma. As Bacillariophyta e Cyanophyta bentônicas não
foram estudadas, apesar de sua ocorrência. Foi adotada a atualização nomenclatural de
WYNNE (1998). Do material estudado, cerca de 18% dos táxons não foram determinados
talvez devido à falta de características reprodutivas nos espécimes ou por serem apenas
fragmentos de talo.
Foram notáveis, dentre outros táxons, as ausências de microalgas epífitas como
Myrionema e de algas de interesse humano como Porphyra, Pterocladiella e Gracilaria.
NASSAR (1994) mostrou que a flora de Trindade se assemelha em cerca de 80%
com a flora do estado do Espírito Santo (ES) o que sugere que a flora do complexo insular
possa ser uma extensão da flora da costa capixaba. Tal hipótese precisa ser testada, embora
a flora de todo o litoral do ES, tanto na parte superficial como de profundidade ainda não
seja totalmente conhecida, bem como, o litoral sul baiano.
A espécie Rhipiliopsis peltata (J. Agardh) A & E. Gepp foi encontrada, no Atlântico
Sul, apenas em Martim Vaz por YONESHIGUE-VALENTIN et al. (2005). Nesse caso
pode ser que ela seja rara no litoral brasileiro. Porém, mais estudos de profundidade
também na costa do estado do Espírito Santo e Trindade também deverão ser feitos para
testar essa hipótese.
DEMANDAS CIENTÍFICAS
Como já comentado, é necessário que um estudo taxonômico, abrangendo as quatro
estações do ano e os costões de outras regiões da ilha de Trindade e do arquipélago de
Martim Vaz. O estudo deve ser realizado com o auxílio de mergulho autônomo para que a
36
37. coleta seja minuciosa e cuidadosa, incluindo o infralitoral. Na parte de profundidade deverá
haver coletas, também abrangendo as quatro estações do ano e com pontos amostrais
definidos numa malha com diferentes isóbatas em todo o complexo insular.
Sem os estudos sugeridos é precoce e temerário se fazer mais considerações
taxonômicas, bem como, explicar determinadas presenças ou ausências de espécies.
Estudos ecológicos deverão ser feitos, inclusive, para se testar a hipótese de NASSAR
(1994) de que a flora bentônica é escassa face à intensa predação por animais herbívoros.
Obviamente, estudos mais completos sobre a ecologia da comunidade são cruciais para
entendermos a estrutura e a dinâmica da comunidade bentônica dos costões e suas
interações com outros ecossistemas..
INFRA-ESTRUTURA
O estudo da flora bentônica dos costões precisa de apoio local não só para as coletas
superficiais como para as de infra-litoral e as poucas pessoas que lá vivem não ajudam.
Assim, é necessário que se construa, pelo menos, um abrigo para que uma equipe de
mergulho possa pernoitar por uma semana para coletas mensais ou trimestrais na Ilha de
Trindade, já que em Martim Vaz não há possibilidade de acesso a parte terrestre da ilha
próxima ao mar. Considerando o estado ainda conservado do ambiente marinho dessa
região e sua importância estratégica para a soberania brasileira sugere-se que seja criado
um parque nacional marinho nessa região.
37
38. Tabela 6 : Lista dos táxons de algas marinhas bentônicas referidos para o complexo insular
de Trindade e Martim Vaz
Táxons Trindade Martim Vaz;
Costão Supeficial Profundidade profundidade
Pedrini et Nassar, Joly, Yoneshigu Yoneshigue-
al. 1989; 1994; 1950, e-Valentin Valentin et al.
1953; et al, 2005;
2005;
Enteromorpha sp X X
Ulva lactuca L. X
Pringsheimiella scutata (Reinke)Höhn. X
ex Marchew.
Ulvella lens P. Crouan & H. Crouan X
Anadyomene lacerata D. Littler & Littler X
A.saldanhae A.B.Joly & E. C. Oliveira X X X
A. stellata(Wulfen in Jacq.) C. Agardh X X X X
Chaetomorpha aerea (Dillwyn)Kütz. X X
C. antennina (Bory) Kütz. X X
C. nodosa Kütz. X X
Chaetomorpha sp
Cladophora sp1 X
Cladophora sp2 X
Cladophora sp3 X
Valonia utricularis (Roth) C. Agardh X
Bryopsis pennata J. V. Lamouroux X X
B. plumosa (Hudson) C. Agardh X
Codium decorticatum (Woodw) M. X
Howe
Phyllodictyon anastomosans (Harv.) X
Kraft & M. J. Wynne
Chamaedoris peniculum (Sol.) Endl. X X
Dictyosphaeria cavernosa (Forrsk.) X
Boergesen
Cladophoropsis membranacea (C. X X
Agardh) Boergesen
D. ocellata (M. Howe) J. L. Olsen X
D.verlusyii Weber Bosse X
Siphonocladus tropicus (P. Crouan & H. X
Crouan in Schramm & Mazé) J. Agardh
Ventricaria ventricosa (J. Agardh) J. L. X
Olsen & J.A. West
Caulerpa fastigiata Montagne X
C. kempfi A.B. Joly & S. Pereira X
C. mexicana Sond. ex Kütz. X
C. murrayi Weber Bosse X
C. prolifera(Forrsska.) J. Agardh X
C. pusilla (Kützing) J. Agardh X
C.pusilla var. mucronata A. B. Joly & X
Sazima
C. racemosa (Forrssk.) J. Agardh X
C. verticillata J. Agardh X X
C. verticillata f. charoides Weber Bosse X
C. webbiana Montagne X X
38
39. Caulerpa sp. X
Caulerpella ambígua (Okanura) X X
Pru’homme &Lokhorst
Avrainvillea nigricans Decne. X X
Boodleopsis pusilla (Collins) W. R. X
Taylor, A. B. Joly & Bernat.
Halimeda discoidea Decne. X X
H. incrassata (J. Ellis) J. V. Lamouroux X
H. tuna (J. Ellis & Sol.) J. V. Lamouroux X
Halimeda sp X X
Penicillus capitatus Lamouroux X X X
Rhipilia sp X
Rhipiliopsis peltata X
Udotea cyathiformis var. cyathiformis X X
Decne
Udotea cyathiformis var. cyathiformis f. X
Sublittoralis (W. R. Taylor) D. Littler &
Littler
Udotea flabellum (J. Ellis & Solander) J. X
V. Lamouroux
Udotea sp X
Dasycladus vermicularis (Scop.) Krasser X X X
Neomeris annulata Dickie X
Acetabularia sp1. X
Acetabularia sp2 X
Bachelotia antillarum (Grunow) Gerloff X X
Hincksia breviarticulata (J. Agardh) P. X X
C. Silva
H. mitchelliae(Harvey) P. C. Silva X X
Ralfsia expansa (J. Agardh) J. Agardh X
Chnoopora mínima (K. Hering) X
Papenfuss
Colpomenia sinuosa (Roth) Derbès & X
Solier
Sphacelaria rigidula Kutzing X
S. tribuloides Meneghini X
Dictyopteris delicatula J. V. Lamouroux X
D. plagiogramma (Montagne) Vickers X
Dictyota bartayresiana J. V. Lamouroux X X X
D.cervicornis Kützing X
D. mertensi(Martius) Kützing X
D. menstrualis(Hoyt) Schnetter & X X
Horning
Dictyota sp X X
Lobophora variegata ( J. V. X X X
Lamourux)Womersley ex E. C. Oliveira
Padina gymnospora (Kützing) Sonder X
P. sanctae-crucis Boegersen X
Stypopodium zonale (Lamouroux) X
Papenfuss
Sargassum vulgare v. nanum E. de Paula X
Sahlingea subintegra (Rosenv.) X
Kornman
Erythrotrichia carnea (Dillwyn) J. X
Agardh
39
40. Acrochaetium microscopicum (Näegeli X
ex Kützing) Nägeli
Acrochaetium sp X
Pneophyllum sp X
Arthrocardia flabellata(Kützing) Manza X
Haliptilon cubense (Mont. ex Kützing) X X X
Garbary & H. W. Johans
Jania adhaerens J. V. Lamouroux X X X
Jania rubens (L.) J. V. Lamour. X
Amphiroa fragilissima(L.) J. V. X
Lamouroux
Gelidium floridanum W. R. Taylor X
G. pusillum(Stackhouse)Le Jolis X X
Gelidiella trinitatensis W. R. Taylor X X
Liagora ceranoides J. V. Lamouroux X
Tricleocarpa fragilis(L.) Huisman & R. X
A. Towns.
Asparagopsis taxiformis (Delile) Trevis. X
Chondracanthus acicularis (Roth) X
Fredericq.
Condracanthus sp X
Hypnea spinella (C. Agardh) Kützing X
Peyssonelia sp X
Grateloupia filicina (J.V. Lamouroux) C. X X
Agardh
Hidropuntia cornea (J. Agardh) M. J. X
Wynne
Champia sp1 X
Champia sp2 X
Botryocladia pyriformis (Boergesen) X
Kylin
Chrsymenia sp X
Gelidiopsis variabilis (Greville ex J. X X
Agardh) F. Schmitz
Leptofauchea rhodymenioides W. R. X
Taylor
Aglaothamnion X
uruguaiense(W.R.Taylor) Aponte, D.L.
Ballantime & J. N. Norris
Aglaothamnion sp. X
Centroceras clavulatum (C. Agardh in X X
Kunth.)Mont. in Duieu de maisonneuve
Ceramium brasiliense A. B. Joly X X
C. comptum Boergesen X
C. dawsonii A. B. Joly X X
C. flaccidum (Kützing) Ardissone X
Ceramium sp. X
Grifffihsia sp. X
Gymnothamnion elegans (Schousb. ex X
C. Agardh) J. Agardh
Dasya sp. X
Heterosiphonia crispella (C. Agardh) M. X
J. Wynne
Taenioma nanum (Kützing) Papenfuss X
Bryocladia thyrsigera (J. Agardh) F. X
Scmitz in Falkenberg
40
41. Chondria polyrhisa Collins & Hervey X
Chondria sp. X
Digenea simplex (Wulfen) C. Agardh X
Herposiphonia secunda (C. Agardh) X X
Ambronm f.secunda
Herposiphonia secunda f. tenella (C. X X
Agardh) M. J. Wynne
Laurencia flagellifera J. Agardh X
Laurencia papillosa(C. Agardh) Greville X
Laurencia sp. X
Ophidocladus simpliciusculus (P. Crouan X
& H. Crouan) Falkenberg
Polysiphonia ferulacea Suhr ex J. X
Agardh
P. howei Hollenberg in W. R. Taylor X X
P. subtilissima Montagne X X
41
42. 4a PARTE – ALGAS E MACRÓFITAS MARINHAS BENTÔNICAS DO
ARQUIPÉLAGO DOS ABROLHOS E ARREDORES, BA
(MARCIA A. DE O. FIGUEIREDO)
INTRODUÇÃO
O Arquipélago dos Abrolhos, localizado no sul do Estado da Bahia, é formado por
cinco ilhas que fazem parte do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos. Estudos geológicos
atribuem um importante papel para as algas calcárias incrustantes, isto é, servem como
cimento firmando a estrutura dos recifes na região (LEÃO 1982; LEÃO & KIKUCHI 2001;
LEÃO et al., 2003). No arquipélago, o primeiro inventário da flora marinha bentônica
serviu à proposta para criação de uma unidade de conservação. Este listou um total de 113
táxons infra-genérico de algas clorofíceas, feoficeas e rodofíceas (JOLY et al. 1969).
Posteriormente, o inventário base para o plano de manejo do Parque Nacional Marinho dos
Abrolhos acrescentou três novas ocorrências de macroalgas, além de descrever a
distribuição das macrófitas mais abundantes no arquipélago (IBAMA-FUNATURA 1990).
Poucos foram os levantamentos quantitativos que demonstraram a contribuição das
macroalgas para a estrutura das comunidades vivas nos recifes do parque (VILLAÇA &
PITOMBO 1997; FIGUEIREDO 1997; 2000). Contudo um estudo mais amplo analisou a
fisionomia das comunidades em 43 pontos no Banco dos Abrolhos, através de um protocolo
de levantamento rápido da diversidade marinha, que listou 100 táxons de macrófitas, sendo
15 novas ocorrências para a região e três novas ocorrências para o Brasil (FIGUEIREDO
no prelo).
42
43. Estudos geológicos na região atribuíram um importante papel para as algas calcárias
incrustantes, que atuam como cimento na estrutura dos recifes (LEÃO 1982; LEÃO &
KIKUCHI 2001; LEÃO et al., 2003). Neste grupo de algas calcárias, um único inventário
listou 11 táxons entre Corallinaceae e Sporolithaceae, com 7 novas ocorrências para o
Brasil (FIGUEIREDO & STENECK 2002). As algas calcárias incrustantes foram ainda
estudadas quanto à colonização, crescimento e produtividade em relação aos níveis de
irradiância e pressão de herbivoria (FIGUEIREDO 1997; TÂMEGA 2002). Duas espécies
de fanerógamas marinhas existem na região Halodule wrightii Ascherson e Halophila
decipiens Ostenf. (CREED 2005). O estudo da estrutura da comunidade associada a um
banco de H. wrightii identificou mais quatro novas ocorrências de macroalgas para o
parque e descreveu a afinidade de macroalgas pelos substratos (PAULA et al., 2003).
Padrões de distribuição de algas calcárias incrustantes epífitas em relação à forma dos
hospedeiros foram estudados para a macroalga Sargassum spp. e a fanerógama H. wrightii
(MUNIZ 2002).
Em relação aos estudos voltados para a conservação das macrófitas do parque,
existe um trabalho experimental sobre a recuperação de um banco das fanerógamas
marinhas após o impacto de âncoras (CREED & AMADO FILHO 1999), que serviu de
alerta para a o dano causado pelo fundeio de embarcações na região. O recente
monitoramento de um banco de fanerógamas marinhas tem demonstrado que existe uma
dinâmica intra-anual na composição e abundância de macroalgas e de H. wrightii na região
(J. C. CREED, comunicação pessoal). Em outro estudo, baixos níveis de contaminação por
metais pesados foram detectados em macroalgas no sul do Banco dos Abrolhos (AMADO
FILHO et al. 1997). O monitoramento de um evento do El Nino no Arquipélago dos
Abrolhos detectou uma recuperação rápida após branqueamento das algas calcárias, quando
43
44. comparadas a corais pétreos (J. C. CREED, M. A. DE O. FIGUEIREDO; D. O. PIRES; &
C. B. CASTRO, dados não publicados).
A presente parte do capítulo tem por objetivo brevemente o atual conhecimento da
flora marinha, analisar os resultados sobre os estudos até então realizados e listar as
perspectivas para futuras pesquisas sobre as macrófitas no Arquipélago dos Abrolhos e
arredores.
SITUAÇÃO ATUAL DO CONHECIMENTO DA FLORA
Os inventários de macrófitas na região do Banco dos Abrolhos totalizam 163 taxons
de macroalgas e 2 taxons de fanerógamas marinhas (Tabela 8). Dentre as macroalgas
existem, até o momento, 54 clorofíceas, 35 feofíceas e 74 rodofíceas, que representam
cerca de 70 % dos taxons listados para o Estado da Bahia (HORTA 2002). Somente no
Parque Nacional Marinho dos Abrolhos existem 85% dos taxons encontrados no Banco dos
Abrolhos. Neste parque, o grupo de macroalgas mais rico em espécies é o das rodofíceas,
seguido pelo das clorofíceas, assim como o observado para o Banco dos Abrolhos e o
litoral da Bahia (Figura 8a-c). Entre as clorofíceas, a ordem mais representativa é a das
Bryopsidales (65%) seguido de Cladophorales (24%). As famílias da ordem Bryopsidales
mais ricas em espécies são Caulerpaceae e Udoteaceae. Em relação às feófitas, As
Dicyotales com 51% dos táxons, é a ordem mais bem representada, destacando-se a família
Dictyotaceae, seguida pelas Ordens Fucales (17%) e Scytosiphonales. As rodofíceas tem
sua maior variedade em táxons, pertencendo às ordens Ceramiales (39 %) e Corallinales
(27%), o sendo o restante distribuído entre outras ordens. De um modo geral, as espécies de
macroalgas que ocorrem no Banco dos Abrolhos também são encontradas na região do
Caribe (LITTLER & LITTLER 2000).
44
45. A - Arquipélago dos C - Estado da Bahia
B - Banco dos Abrolhos
Abrolhos
33% 28%
29%
46%
49%
55%
Chlorophyta
17%
Phaeophyta 21%
22%
Rhodophyta
Figura 8: Percentual de táxons de macroalgas por divisão no (A) Arquipélago dos
Abrolhos, (B) Banco dos Abrolhos e (C) litoral do Estado da Bahia
Os estudos que descrevem a estrutura de comunidades recifais na região dos
Abrolhos apontam as macroalgas frondosas como os grupos com maior área coberta nos
recifes costeiros, enquanto que as algas formadoras de turfos são mais comuns nos recifes
do arquipélago e distantes da costa (AMADO FILHO et al. 1997; VILLAÇA & PITOMBO
1997; FIGUEIREDO 1997; 2000; FIGUEIREDO no prelo). São comuns no primeiro grupo
espécies das algas pardas Dictyopteris, Dictyota, Lobophora, Padina, Stypopodium e
Sargassum. O segundo grupo é formado principalmente por espécies de Cladophora,
Caulerpa, Sphacelaria, Ceramium, Gelidiella, Gelidium, Gelidiopsis, Amphiroa e Jania.
Nos bancos formados por fanerógamas marinhas são comuns espécies de Avrainvillea,
Caulerpa, Penicillus, Rhipocephallus e Udotea. Nos bancos formados pelas algas
rodofíceas calcárias na forma de vida livre (rodolitos), no arquipélago e arredores, são
comuns espécies de algas pardas frondosas. Os rodolitos de menor tamanho (maerls),
formados por Mesophyllum erubescens (Foslie) Lemoine, que formam depósitos favoráveis à
infauna, principalmente para espécies de anfípodas (Crustacea) e poliquetas (Annelida).
45