SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 10
Baixar para ler offline
O carnaval da Bahia: uma retrospectiva histórica do entrudo
ao surgimento do trio elétrico Dodô & Osmar com o cavaco elétrico
protótipo da guitarra baiana
Alexandre Siles Vargas1
UFBA/PPGMUS-MESTRADO
SIMPOM:Educação Musical
alexandresilesvargas@hotmail.com
Resumo: Este artigo é uma revisão histórica do carnaval baiano delimitada entre o entrudo e
o aparecimento do grupo musical Trio Elétrico Dodô & Osmar com o cavaco elétrico,
protótipo da guitarra baiana. Nosso objetivo é proporcionar o entendimento do processo de
desenvolvimento do carnaval da Bahia. Utilizando a abordagem qualitativa, com fins
exploratório e explicativo, e por meio de entrevista, pesquisa bibliográfica e documental,
buscamos responder a seguinte questão: Quais acontecimentos influenciaram o surgimento do
Trio Elétrico Dodô & Osmar e da guitarra baiana no carnaval da Bahia? A pesquisa
demonstrou que o carnaval iniciou com o entrudo no século XVII, depois surgiram os clubes
carnavalescos no século XIX, os quais mantiveram o costume de desfile em carro alegórico
do entrudo. Em 1942, Dodô e Osmar desenvolveram o cavaco elétrico – futura guitarra
baiana. Em 1950, eles transferiram seus aparatos eletrônicos para um automóvel, passando a
integrar o corso com o nome de Dupla Elétrica. Posteriormente, com o ingresso do terceiro
componente (Termístocles Aragão), foram chamados de Trio Elétrico. A guitarra baiana,
aliada ao virtuosismo de Osmar Macedo, tornou-se um símbolo do carnaval de Salvador,
porém a popularização de novos gêneros musicais promoveu seu desuso. Atualmente, uma
pequena quantidade de guitarristas tem habilidade para tocar este instrumento, que é
marginalizado da Educação Musical Brasileira. A presente comunicação é apenas uma parte
da pesquisa metodológica mais extensa intitulada A arte de tocar guitarra baiana: uma
proposta metodológica, na qual propomos uma metodologia para o seu ensino e aprendizado.
O presente recorte se justifica pela necessidade de elucidar, valorizar e divulgar a cultura
brasileira e, sobretudo, a história do carnaval e da guitarra baiana.
Palavras-chave: Entrudo; Carnaval da Bahia; Guitarra Baiana; Trio Elétrico; Cavaco Elétrico.
The Carnival of Bahia: a Historical Retrospective From Shrovetide to the Appearence
of Trio Elétrico Dodô & Osmar With the Electric Cavaco – Prototype of Bahian Guitar
Abstract: This article is a historical review of the carnival from Bahia bounded between
shrovetide and the appearance of the "Trio Elétrico Dodô & Osmar" with the electric cavaco -
prototype of Bahian electric guitar. Our purpose is to provide an understanding of the
development process of the carnival. Using a qualitative approach with exploratory and
1
Orientador. Prof. Dr. Jorge Sacramento.
ANAIS DO III SIMPOM 2014 - SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PÓS-GRADUANDOS EM MÚSICA
184
explanatory purposes, through bibliographical and documentary research, we seek to answer
the following question: What events influenced the appearance of the Trio Elétrico Dodô &
Osmar and the Bahian electric guitar in the carnival of Bahia? The research showed that
carnival begans with the shrovetide in the seventeenth century, followed by the carnival clubs
in the nineteenth century, which maintained the custom of parade floats from shrovetide. In
1942, Dodô and Osmar invented the electric cavaco - prototype of Bahian electric guitar. In
1950, they transferred their electronic apparatus to an automobile, becoming a member of the
parade with the name Dupla Elétrica, and subsequently, with one more musician
(Termístócles Aragão), became Trio Elétrico. The Bahian electric guitar, combined with the
virtuosity of Osmar Macedo, became a symbol of the carnival, but the popularization of new
genres promoted its disuse. Currently, a small amount of guitarists have the ability to play this
instrument, which is marginalized by Brazilian Music Education. This communication is only
a part of a more extensive methodological research entitled “The art of playing Bahian
electric guitar: a methodological proposal”, in which we propose a methodology for teaching
and learning. This article is justified by the need to clarify, enhance and promote Brazilian
culture and, above all, the carnival and the Bahian electric guitar, trying to include it as an
instrument in the service of Music Education.
Keywords: Carnival of Bahia; Bahian Electric Guitar; Electric Cavaco.
Introdução
A Bahia é conhecida pela sua riqueza e diversidade cultural. Dentre as suas
tradições, está o costume de celebrar o carnaval. A indústria carnavalesca da “música de trio”,
representada pelo Axé Music, foi uma consequência do surgimento do grupo musical Trio
Elétrico Dodô & Osmar com o cavaco elétrico (protótipo da guitarra baiana). O instrumento
musical aliado ao virtuosismo de Osmar Macedo tornou-se o símbolo do carnaval, porém a
popularização de outros gêneros promoveu seu desuso. Esse instrumento histórico e
genuinamente brasileiro está à margem da Educação Musical Brasileira.
A prefeitura de Salvador, no ano de 2013, homenageou a guitarra baiana,
elegendo-a como tema do carnaval. Porém, apesar das honras, o estudo sobre a história do
carnaval e da guitarra baiana não é recorrente nas instituições formais de ensino, criando uma
lacuna cultural na formação dos estudantes. Ainda assim, a maioria das escolas de música de
Salvador não disponibiliza o ensino do instrumento, com exceção da “Oficina de Música
Instrumental Osmar Macedo” dirigida pelo guitarrista e filho de Osmar, Aroldo Macedo. O
resultado do descaso com a memoria cultural soteropolitana é que a maioria dos baianos
desconhece a história da festa momesca, e uma pequena quantidade de guitarristas tem
habilidade para tocar a guitarra baiana.
Este artigo é uma revisão histórica que objetiva o entendimento do processo de
desenvolvimento do carnaval soteropolitano. Desta forma, delimitamos a investigação do
ANAIS DO III SIMPOM 2014 - SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PÓS-GRADUANDOS EM MÚSICA
185
período entre o entrudo e o aparecimento da banda Trio Elétrico Dodô & Osmar com o
cavaco elétrico, protótipo da guitarra baiana.
Através da abordagem qualitativa com fins exploratório e explicativo, buscamos,
por meio de entrevista, pesquisa bibliográfica e documental, responder à seguinte questão:
Quais acontecimentos influenciaram o surgimento do Trio Elétrico Dodô & Osmar e da
guitarra baiana no carnaval da Bahia?
O presente recorte se justifica pela necessidade de elucidar, valorizar, divulgar a
cultura brasileira. Ele é apenas uma parte da pesquisa mais extensa intitulada A arte de tocar
guitarra baiana: uma proposta metodológica, a qual propõe uma metodologia para o ensino e
aprendizagem do instrumento. Os resultados alcançados nesta investigação têm embasado e
direcionado a escrita dissertativa por entendermos que conhecer os aspectos históricos e
socioculturais do carnaval é fundamental para a construção da nossa proposta metodológica.
A partir do momento que nós nos assumimos, podemos promover a assunção por parte dos
nossos alunos.
É interessante estender mais um pouco a reflexão sobre assunção. O verbo assumir é
um verbo transitivo e que pode ter como objeto o próprio sujeito que se assume (...).
Uma das tarefas mais importante da prática educativa-crítica é propiciar as
condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o
professor ou a professora ensaiam a experiência profunda em assumir-se. Assumir-
se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador,
criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque é capaz de amar. Assumir-se
como sujeito que é capaz de reconhecer-se como objeto. A assunção de nós mesmos
não significa a exclusão dos outros. É a “outredade” do “não eu”, ou do tu, que me
faz assumir a radicalidade de meu eu. (FREIRE, 1996, p.41).
1. A Origem do Carnaval
A origem do carnaval pode estar nas práticas antigas de pintura corporal com o
uso de máscaras e penas durante rituais nas primeiras civilizações da região do mediterrâneo.
Alguns pesquisadores veem a origem do carnaval nas festas religiosas e pararreligiosas do
Egito, Grécia e Roma Antiga; quando os celebrantes buscavam o prazer adornados pelo
vinho, e pela disrupção, transversão, inversão e subversão da ordem (FULCHIGNONI apud
CERQUEIRA, 2002, p. 19).
No século XVI, os portugueses introduziram instrumentos de sopro e percussão
(que usavam para seu divertimento), disponibilizando as ferramentas para o desenvolvimento
da música que no futuro iria compor as tradicionais festas. “Nesse dia enquanto ali andavam
[os índios], dançaram e bailaram sempre com os nossos, ao som de um tamboril nosso, como
ANAIS DO III SIMPOM 2014 - SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PÓS-GRADUANDOS EM MÚSICA
186
se fosse mais amigos nossos do que nós seus.” O autor afirma que as atividades dos padres
jesuítas chegados à Bahia em 1549 ligadas à catequese dos indígenas se utiliza das danças e
cantos coletivos populares para o folgar, além dos hinos e cantos eruditos da Igreja Católica
(com cantochão e órgão) para os atos solenes rituais ou para estimular a devoção
(TINHORÃO, 2010, p. 37-38).
Segundo Tinhorão (2013, p. 129-130), entrudo foi o nome dado ao carnaval
durante os primeiros séculos da colonização portuguesa. Nesta ocasião, se permitia aos
escravos o uso de máscaras e de fantasias, além de comer e beber desbragadamente. No
Brasil, o entrudo limitou-se, até meados do século XIX, a uma festa em que os escravos da
Colônia e do Império saíam correndo pelas ruas, sujando-se uns aos outros com farinha de
trigo e polvilho. As famílias brancas, refugiadas em suas casas, divertiam-se derramando,
pelas janelas, tinas de água suja sobre as pessoas que passavam, enquanto comiam e bebiam
em um clima de quebra consentida da extrema rigidez patriarcal. Estas comemorações
incluíam desfiles com fantasiados, carros alegóricos e música de fanfarra.
(...) Talvez a mais antiga descrição do carnaval baiano, seja feita por Ferdinando
Denis2
(...). Nele o autor afirma que, na época do carnaval, em 1816, na Bahia, fora
levado por um amigo a fazer uma visita e que desde as primeiras saudações foram
acolhidos por uma chuva de ovos de cera, cheios d’água, amarelos e verdes, que
todas as jovens e belas moças da família lhe jogaram impiedosamente no rosto. (...).
(OLIVEIRA, 2002, p. 177).
2. Clubes Carnavalescos
O entrudo permitia que os foliões de raças e classes sociais diferentes se
expressassem e interagissem livremente, porém foi proibido em 1853. “A partir dessa época,
dois tipos de manifestação carnavalesca se desenvolveram – o dos salões e o das ruas; o
primeiro frequentado pelos brancos e mulatos da boa sociedade, e o segundo pelas camadas
populares das cidades, composta em maioria por negros e mulatos escuros” (VERGER apud
OLIVEIRA, 2002, p. 182).
Os clubes carnavalescos apareceram como opção de divertimento privado para as
famílias mais ricas. Dentre os principais clubes figuravam: Fantoches da Euterpe (1883), Cruz
Vermelha (1884) e Inocentes em Progresso (1889). Esses clubes desfilavam em corso pelas
ruas, cada qual com seus carros alegóricos movidos por tração animal, compondo o préstito.
Brasil (1969, p. 82) relata que, em 1878, o Barão Homem de Melo, dirigente do Estado da
2
DENIS, Ferdinand; TAUNAY, Hippolyte. Le Brésil ou histoire, moeurs, usages et coutumes des habitants de
ce royaume. Paris: 1822.
ANAIS DO III SIMPOM 2014 - SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PÓS-GRADUANDOS EM MÚSICA
187
Bahia estabeleceu o carnaval, determinando ao chefe de polícia que emprestasse adereços e
fantasias para serem usados nos festejos.
3. Préstito e Batucada
O préstito ou corso era o desfile de carros alegóricos, concebido por Paraiso
(2002, p. 81) como a “manifestação do poder econômico e social das classes mais ricas da
cidade. O luxo das roupas e fantasias, o brilho, os efeitos cromáticos, a forma das alegorias e
dos carros, (...) formava um universo de formas e cores”.
Godi (2002) afirma que o carnaval europeizado começa a ter a participação afro-
brasileira em 1895 com o desfile do Clube Embaixada Africana e com a participação do
Clube Pândegos da África em 1896. Estes clubes traziam as temáticas africanas,
disseminando seus valores, processando sua autoestima, aceitação social e legitimidade,
apesar das discriminações e perseguições do dia-a-dia. “O fato é que a proliferação da
presença afro-carnavalesca provocou um pânico desmedido na elite carnavalesca, a ponto de
ocasionar uma medida jurídica que colocaria essa presença no lugar da ilegalidade e da
criminalidade” (GODI, 2002, p. 98).
A ordem de ilegalidade publicada em 1905 reprimiu qualquer alusão às origens
africanas, dando origem ao aparecimento das batucada. A batucada era a manifestação da
população afrodescendente, que tocava pela rua disfarçada em fantasias, cujas temáticas
remetiam o observador a qualquer outra cultura que não fosse africana.
4. Baixa dos Sapateiros
A Baixa dos Sapateiros, região que fica no entorno da Rua J. J. Seabra, foi um
local de intenso agito cultural. Neste sítio, em 1910, havia o cinema Jandaia, que apresentava
seções de cinema mudo com acompanhamento de orquestra e apresentações de artistas
consagrados como Carmem Miranda.
Teixeira (2002, p. 46) afirma que o intenso comércio local contava com a
animação de “bandas militares tocando nos coretos, alguns caminhões ornamentados e o
concurso promovido pelos lojistas”. Durante o carnaval, as ruas eram preenchidas pelos
cordões, os caretas, blocos, afoxés e as mudanças, apesar da recessão econômica que a
Primeira Guerra Mundial ocasionou. Já em 1921, a Baixa dos sapateiros abrigava a vertente
mais popular da festa, concentrando os afoxés, os caretas e os blocos mais pobres.
ANAIS DO III SIMPOM 2014 - SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PÓS-GRADUANDOS EM MÚSICA
188
5. Rua Chile
Por volta de 1926, a Rua Chile começou a despontar com a iniciativa dos
comerciantes em instalar suas lojas, tornando-se o centro comercial e cultural da cidade.
A Rua Chile servia como palco de inúmeras e variadas manifestações da vida urbana
de Salvador. Namorar no ponto da Sloper, bater papo no Café das Meninas ou
visitar a escada rolante da loja Duas Américas, inaugurada em 1958 e única da
cidade, faziam parte dos programas de lazer da época. (RUBIM; COUTINHO;
ALCÂNTARA, 1990, p. 31).
6. Música de Rua
Brasil (1969) relata que a música da Bahia recebeu grande influência dos europeus
e dos africanos. As manifestações populares e gêneros musicais como: a modinha, que veio de
Portugal no século XVIII; o lundu (dança rural cantada de origem africana); a tirana (dançam
sapateada e cantada de origem espanhola); as cantigas de mendigo; a capoeira (jogo dançado,
cantado com o acompanhamento de berimbau, chocalho e pandeiro); festas e cantos religiosos
(Festa do Nosso Senhor do Bonfim e Festa do Divino Espirito Santo); danças regionais
(minueto, quadrilha sifilítica, batuque de boi, candomblé, samba de partido alto, samba de
roda, chula, corta jaca, cheganças, festa dos mouros e bailes pastoris); terno e rancho de reis;
congo; os caboclos de Itaparica; os pregões (música cantada pelos vendedores de rua); a
presença das percussões africanas nas festas populares; as apresentações das bandas de
barbeiro (originadas pelas charangas na primeira metade do século XIX); as bandas militares; e
as Filarmônicas, todas essas contribuíram para a formação da identidade musical baiana.
A autora acrescenta que, ao final do século XIX, foi construído o Conservatório
de Música em Salvador. A música “popular” coexistia com a música “erudita” cultivada pela
academia, que excluía o ensino de instrumentos populares como violão, cavaco, bandolim e
percussão. Os músicos que tocavam samba de roda já se utilizavam de violões, cavaquinhos,
flautas, pandeiros, pratos de mesa e faca. Os bailes pastoris eram realizados ao som do violão,
bandolim, cavaquinho e pandeiro. Os ranchos eram apresentados com o violão, viola,
cavaquinho, ganzá, prato e flauta.
Nos anos quarenta, os afoxés persistem. Filhos d’Oxum, Lordes Africanos, Filhas
d’Oxum, Filhos de Obá. Mas é em 1949 que vamos assistir ao nascimento de dois
marcos fundamentais do carnaval baiano - polos que irão dar o tom e a fisionomia
da festa, tal como o conhecemos ainda hoje, apesar do caráter de transição do
momento presente. De uma parte, brota o Afoxé Filhos de Gandhi. De outra, Dodô e
Osmar criam o trio elétrico, desfilando pela cidade em cima de uma “fobica”. A mão
do preto no couro e a estridência do trio: carnaval negroelétrico da Bahia.
(RISÉRIO, 2004, p. 564).
ANAIS DO III SIMPOM 2014 - SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PÓS-GRADUANDOS EM MÚSICA
189
7. Dodô & Osmar
Em meio às manifestações musicais de Salvador, atuou o violonista e técnico em
eletrônica: Adolpho Antônio do Nascimento, o Dodô. Na rádio, ele conheceu Dorival
Caymmi, integrante do grupo Três e Meio e que, posteriormente foi morar no Rio de Janeiro,
saindo do grupo. Dodô arregimentou novos músicos para recompor a banda, dentre eles
estava Osmar Macedo.
Farias (2012) afirma que Osmar Alvares Macedo era dono de uma empresa
metalúrgica e engenheiro prático. Osmar aprendeu os primeiros acordes no piano com a sua
mãe. Aos 13 anos, iniciou a tocar bandolim e, mais tarde, cavaquinho, viola, violão tenor, e
guitarra havaiana. Ele estudou bandolim com Solon Melo, que o ensinava a tocar passo doble,
dobrados, boleros, chorinhos, valsas e clássicos eruditos como o Bolero de Ravel e Czardas.
Posteriormente, conheceu Anibal Augusto Sardinha (Garoto) com quem desenvolveu a
técnica no bandolim.
Dodô & Osmar eram músicos amadores que tocavam em festas de família
informalmente. A apresentação do Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas do Recife, em
Salvador estimulou a Dupla Elétrica a criar o “frevo baiano”. O depoimento de Osmar
descreveu o fato ocorrido:
Passou aqui num navio, numa quarta-feira, no navio Pedro II, um navio do Loyd
Brasileiro. (...) O governador Otávio Mangabeira fez um pedido (...) para o
Vassourinhas fazer uma exibição pública na Av. Sete. E isso foi feito, anunciado. A
Bahia quase inteira foi pra Av. Sete ver o desfile dos Vassourinhas. Eu estava lá
com Dodô (...). Foi aí que eu dei a ideia pra Dodô: “Dodô, vamos sair tocando essa
música!”. Que eu já sabia algumas das músicas. Música de Nelson Ferreira, de
Capiba... Fervo rasgado, aquele frevo (...). Aí nós preparamos a fobica – a fobica é
um Ford 29. (OSMAR apud AYÊSKA, 2005, p. 3).
8. A Criação do Cavaco Elétrico
Os desfiles em carros abertos eram acompanhados de música ao vivo.
Os instrumentos musicais, a depender de sua estrutura acústica, emitiam mais ou menos
volume sonoro. Instrumentos como violão, cavaco e bandolim ficavam praticamente
inaudíveis perto de um grupo de sopro e percussão. O uso da captação elétrica possibilitou
a amplificação dos instrumentos de corda, possibilitando que o cavaco elétrico se tornasse
um instrumento solista.
A elaboração do novo instrumento foi precedida por algumas tentativas: Stela
Caymmi (2001, p. 90) afirma que Dodô chegou a sugerir que Dorival Caymmi fizesse um
ANAIS DO III SIMPOM 2014 - SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PÓS-GRADUANDOS EM MÚSICA
190
furo em seu violão e pusesse um alto-falante dentro da caixa acústica. A ideia de amplificar os
instrumentos ganhou força quando Dodô e Osmar conheceram o captador elétrico no ano de
1941. Dodô passou a construir seus próprios captadores e adaptá-los ao instrumento ainda
com a caixa acústica, os quais geravam os mesmos problemas ocorridos com Benedito, que
era a microfonia durante os shows. De acordo com Macedo:
Ele ia trazer pra Bahia o famoso violão elétrico que ninguém conhecia – eu mesmo
pensava que tocasse sozinho, por ser elétrico. (...) O Benedito Chaves então trouxe o
violão elétrico e nós fomos todos assistir ao show dele no Teatro Guarani, foi uma
apoteose, foi uma beleza! Mas dava aquele fenômeno de microfonia, apitava (pii,
piii...). Incomodava. Ele parava, mudava a posição do amplificador, diminuía o
volume pra corrigir esse defeito. Quando acabou a apresentação, nós fomos ao
camarim, eu e Dodô. (apud AYÊSKA, 2005, p. 2).
O surgimento do cavaco elétrico aconteceu por volta de 1942, quando Dodô e
Osmar foram à loja de instrumentos musicais: “A Primavera”. Pediram um violão e um
cavaquinho, e arrancaram o braço dos instrumentos. Em casa, Dodô montou o braço do violão
em um pedaço de madeira maciça, colocou as cordas e o amplificou a todo volume. Em
seguida fez o mesmo procedimento com o braço do cavaquinho, construindo dois
instrumentos de corpo sólido.
Os inusitados instrumentos iam sendo aprimorados, quando Zezito (irmão de
Osmar) trouxe dos Estados Unidos uma guitarra havaiana. Este instrumento tinha um
captador eletromagnético mais potente do que os usados em 1942. Dodô estudou o captador e
aprendeu a fabricá-lo, passando a usá-los nos instrumentos com os quais se apresentaram pela
primeira vez na Rua Chile em 1950. (MACEDO, 2014).
9. Apresentação musical em automóvel
Dodô e Osmar transferiram seus equipamentos para um automóvel, decoraram
o carro com de temas do carnaval e seguiram em direção ao centro da cidade, tocando choros,
passo doble, marchinhas e frevos. A participação da Dupla Elétrica foi o motivo que levou
os foliões das classes mais baixas para a Rua Chile, Praça Castro Alves e Avenida Sete
de Setembro.
No carnaval de 1950, dois músicos chamados de Dodô e Osmar apareceram nas ruas
de Salvador (...). Eles tocavam com um violão eletrificado, cavaquinho eletrificado e
amplificadores portáteis. O estilo deles era frevo, uma marcha rápida e sincopada
(...). (MCGOWAN e PESSANHA, 2009, p. 132, tradução nossa).
ANAIS DO III SIMPOM 2014 - SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PÓS-GRADUANDOS EM MÚSICA
191
De acordo com Ayêska (2005, p. 3), a bordo do Ford 1929 pintado com motivos
carnavalescos; equipado com um gerador de 2 KVA; um alto-falante na frente e outro atrás;
acompanhada por seis percussionistas e interpretando frevos, a dupla arrastou alguns curiosos
pelo centro de Salvador. No carnaval do ano seguinte, em uma pick-up Chrysler modelo
Fargo, adicionaram oito alto-falantes e colocaram um motor gerador de energia para a
iluminação. Convidaram outro instrumentista – Temístocles Aragão –, passando a serem
chamados de “Trio Elétrico”. O conjunto era formado por Dodô (violão elétrico), Osmar
(cavaco elétrico) e Temi (triolim ou violão tenor elétrico). Em 1952, passam a se apresentar
em um caminhão e, em 1954, Temi sai do grupo, que permanece como o mesmo nome.
10. Guitarra Baiana
O cavaco elétrico de quatro cordas (Sol2
, Ré3
, Lá3
, Mi4
) foi sendo modificado,
perdendo suas características primordiais. Na década de 1980, o luthier Vitório Quintino
materializou a ideia do guitarrista e filho de Osmar – Armando Macedo: um cavaco elétrico
em forma de raio e de cinco cordas (Dó2
, Sol2
, Ré3
, Lá3
, Mi4
), o qual recebeu o nome de
guitarra baiana (MACEDO, 2011). Em 2005, o luthier Mlaghus, a pedido do guitarrista
Alexandre Vargas, fabricou a guitarra baiana de seis cordas (Sol1
, Dó2
, Sol2
, Ré3
, Lá3
, Mi4
).
Conclusão
Concluímos que os acontecimentos que influenciaram o aparecimento do grupo
musical “Trio Elétrico Dodô & Osmar” foram: a) a chegada de instrumentos musicais de sopro
e percussão trazidos pelos colonos portugueses; b) as atividades musicais dos jesuítas, que
deram início às festas religiosas; c) o costume da celebração do entrudo com fantasiados,
carros alegóricos e música de fanfarra; d) a diversidade cultural musical baiana; e) a prática de
tocar música ao vivo com os músicos posicionados em cima do carro alegórico; f) a
necessidade de amplificação dos instrumentos de cordas (como bandolim, cavaco e violão) e
da eliminação do efeito de microfonia; g) a utilização de amplificadores e autofalante em
automóveis; e f) a fusão do frevo com elementos rítmicos e melódicos do dobrado das
filarmônicas e das bandas militares, do choro, baião, passo doble e da música erudita europeia.
As informações aqui reunidas podem ser relevantes para pesquisadores,
educandos e educadores interessados na história brasileira, podendo servir como material de
apoio no processo de ensino e aprendizagem da história da música. Outros temas sobre a
guitarra baiana são abordados em nossa dissertação de título A arte de tocar guitarra baiana:
uma proposta metodológica.
ANAIS DO III SIMPOM 2014 - SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PÓS-GRADUANDOS EM MÚSICA
192
Referências
ALVARENGA, Oneyda. Música Popular Brasileira. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1960.
AYÊSKA, Paula Freitas. Trio elétrico: Mídia sonora genuinamente brasileira. INTERCOM –
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação - XXVIII CONGRESSO
BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO. Rio de Janeiro, p. 1-15, 2005.
Disponível em:
<http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2005/resumos/R0433-1.pdf.>. Acesso em:
19/07/2014.
BRASIL, Hebe M. Evolução Histórica da Cidade de Salvador: A Música na Cidade do
Salvador, 1549-1900. Vol. 4. Salvador: Editora Beneditina, 1969.
CAYMMI, Stella. Dorival Caymmi: o mar e o tempo. São Paulo: Editora 34, 2001.
CERQUEIRA, Nelson (org.). Carnaval da Bahia: um registro estético. Salvador: Omar G., 2002.
FARIAS, Simone C. A Voz de Armandinho Macedo. Salvador: Vento Leste, 2012.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. Coleção
Leitura. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
GODI, Antônio. Presença Afro-Carnavalesca Soteropolitana. In: CERQUEIRA, Nelson
(org.). Carnaval da Bahia: um registro estético. Salvador: Omar G., 2002. p. 94-111.
MACEDO, Aroldo. Entrevista de Alexandre Vargas em 8/02/2014. Salvador. Bar Red River.
MACEDO, Armando. In: Nem choro nem samba: guitarra baiana. Produção de Carolina
Migoya, Eduardo César e Fernanda Barbosa. Salvador: Faculdade Social, 2011. Disponível
em: <https://m.youtube.com/watch?v=R3M32b6qRhI>. Acesso em: 17/7/2014.
MCGOWAN, C.; PESSANHA, R. The Brazilian sound: samba, bossa nova, and the popular
music of Brazil. Edição revisada e expandida. Pennsylvania. Temple University Press, 2009.
OLIVEIRA, Waldir F. O Carnaval da Bahia Visto de Longe e de Perto da sua Realidade. In:
CERQUEIRA, Nelson (org.). Carnaval da Bahia: um registro estético. Salvador: Omar G.,
2002. p. 176-188.
PARAISO, Juarez. O Carnaval de Salvador e as Artes Visuais. In: CERQUEIRA, Nelson
(org.). Carnaval da Bahia: um registro estético. Salvador: Omar G., 2002. p. 68-93.
RUBIM. A., COUTINHO S., ALCÂNTARA P. H. Salvador no anos 50 e 60: encontros e
desencontros com a cultura. Revista de Urbanismo e Arquitetura, Salvador, Vol. 3, n. 1, p.
30-38. 1990.
RISÉRIO, Antônio. Uma história da cidade da Bahia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Versal, 2004.
TEIXEIRA, Cid. Carnaval Entre Duas Guerras. In: CERQUEIRA, Nelson (org.). Carnaval da
Bahia: um registro estético. Salvador: Omar G., 2002. p. 42-59.
TINHORÃO, José, R. História Social da Música Popular Brasileira. 2ª ed. São Paulo: Ed.
34, 2010. 384 p.
TINHORÃO, José, R. Pequena história da música popular: segundo seus gêneros. 7ª ed. São
Paulo: Ed. 34, 2013.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Dissertacao portais baucavalo
Dissertacao portais baucavaloDissertacao portais baucavalo
Dissertacao portais baucavaloBlog Estudo
 
Negros Brasileiros Juvenal Pereira
Negros Brasileiros Juvenal PereiraNegros Brasileiros Juvenal Pereira
Negros Brasileiros Juvenal Pereiraztirritz
 
Jb news informativo nr. 2344
Jb news   informativo nr. 2344Jb news   informativo nr. 2344
Jb news informativo nr. 2344JB News
 
Carnaval suas origens e causa na sociedade brasileira
Carnaval  suas origens e causa na sociedade brasileiraCarnaval  suas origens e causa na sociedade brasileira
Carnaval suas origens e causa na sociedade brasileiraJefferson Sales
 
Projeto mais um bamba ademir e convidados
Projeto mais um bamba ademir e convidadosProjeto mais um bamba ademir e convidados
Projeto mais um bamba ademir e convidadosAdemir da Silva
 
A HistóRia Do Carnaval
A HistóRia Do CarnavalA HistóRia Do Carnaval
A HistóRia Do CarnavalADIBB
 
Folclore de Mato Grosso do Sul
Folclore de Mato Grosso do SulFolclore de Mato Grosso do Sul
Folclore de Mato Grosso do SulMaísa Fernandes
 

Mais procurados (18)

Fi
FiFi
Fi
 
Dissertacao portais baucavalo
Dissertacao portais baucavaloDissertacao portais baucavalo
Dissertacao portais baucavalo
 
Lucianaoliveira
LucianaoliveiraLucianaoliveira
Lucianaoliveira
 
Negros Brasileiros Juvenal Pereira
Negros Brasileiros Juvenal PereiraNegros Brasileiros Juvenal Pereira
Negros Brasileiros Juvenal Pereira
 
Jb news informativo nr. 2344
Jb news   informativo nr. 2344Jb news   informativo nr. 2344
Jb news informativo nr. 2344
 
Carnaval suas origens e causa na sociedade brasileira
Carnaval  suas origens e causa na sociedade brasileiraCarnaval  suas origens e causa na sociedade brasileira
Carnaval suas origens e causa na sociedade brasileira
 
Base conceitual site_postaisvirtuais
Base conceitual site_postaisvirtuaisBase conceitual site_postaisvirtuais
Base conceitual site_postaisvirtuais
 
Apostila Danças Brasileiras
Apostila Danças BrasileirasApostila Danças Brasileiras
Apostila Danças Brasileiras
 
Projeto mais um bamba ademir e convidados
Projeto mais um bamba ademir e convidadosProjeto mais um bamba ademir e convidados
Projeto mais um bamba ademir e convidados
 
Cv Joao Campos
Cv Joao CamposCv Joao Campos
Cv Joao Campos
 
Diamantino piloto
Diamantino pilotoDiamantino piloto
Diamantino piloto
 
Quebradas (aula 09 de abril 2013)
Quebradas   (aula 09 de abril 2013)Quebradas   (aula 09 de abril 2013)
Quebradas (aula 09 de abril 2013)
 
A HistóRia Do Carnaval
A HistóRia Do CarnavalA HistóRia Do Carnaval
A HistóRia Do Carnaval
 
Folclore de Mato Grosso do Sul
Folclore de Mato Grosso do SulFolclore de Mato Grosso do Sul
Folclore de Mato Grosso do Sul
 
03 estacio
03 estacio03 estacio
03 estacio
 
Um estudo sobre o ensino da kalimba
Um estudo sobre o ensino da kalimbaUm estudo sobre o ensino da kalimba
Um estudo sobre o ensino da kalimba
 
Folclore 9º ano
Folclore 9º anoFolclore 9º ano
Folclore 9º ano
 
Carvanal
CarvanalCarvanal
Carvanal
 

Destaque

Turtle Bay Brunch Menu
Turtle Bay Brunch MenuTurtle Bay Brunch Menu
Turtle Bay Brunch MenuTurtle Bay NYC
 
Unofficial Transcript
Unofficial TranscriptUnofficial Transcript
Unofficial TranscriptJohn Gray
 
Faida e dua bar qaboor e mauta trans of al dua lil mayyat min al quran wal ha...
Faida e dua bar qaboor e mauta trans of al dua lil mayyat min al quran wal ha...Faida e dua bar qaboor e mauta trans of al dua lil mayyat min al quran wal ha...
Faida e dua bar qaboor e mauta trans of al dua lil mayyat min al quran wal ha...Muhammad Tariq
 
Kalma e haq by allama abdul hakeem akhtar shajahanpuri
Kalma e haq by allama abdul  hakeem akhtar shajahanpuriKalma e haq by allama abdul  hakeem akhtar shajahanpuri
Kalma e haq by allama abdul hakeem akhtar shajahanpuriMuhammad Tariq
 
Mystery Shopping Best Practices - Define Objectives
Mystery Shopping Best Practices - Define ObjectivesMystery Shopping Best Practices - Define Objectives
Mystery Shopping Best Practices - Define ObjectivesKinesis CEM, LLC
 
Defining global exception strategies
Defining global exception strategiesDefining global exception strategies
Defining global exception strategiessivachandra mandalapu
 
anexo-i-memorial-descritivo-tabelado
 anexo-i-memorial-descritivo-tabelado anexo-i-memorial-descritivo-tabelado
anexo-i-memorial-descritivo-tabeladoPaulo H Bueno
 
313788546 autopower-2016-spda-nbr-5419-2015-documentacao
313788546 autopower-2016-spda-nbr-5419-2015-documentacao313788546 autopower-2016-spda-nbr-5419-2015-documentacao
313788546 autopower-2016-spda-nbr-5419-2015-documentacaoPaulo H Bueno
 
Alphacursus Hst 5 Bijbel Lezen Waarom En Hoe 2009
Alphacursus Hst 5 Bijbel Lezen Waarom En Hoe 2009Alphacursus Hst 5 Bijbel Lezen Waarom En Hoe 2009
Alphacursus Hst 5 Bijbel Lezen Waarom En Hoe 2009keeskalkman
 
Carnaval slides
Carnaval slidesCarnaval slides
Carnaval slidescoljoao23
 
Nbr5419 1 proteção contra descargas atmosféricas - parte 1- princípios gerais
Nbr5419 1  proteção contra descargas atmosféricas - parte 1- princípios geraisNbr5419 1  proteção contra descargas atmosféricas - parte 1- princípios gerais
Nbr5419 1 proteção contra descargas atmosféricas - parte 1- princípios geraisElkjaer Braz
 

Destaque (18)

Turtle Bay Brunch Menu
Turtle Bay Brunch MenuTurtle Bay Brunch Menu
Turtle Bay Brunch Menu
 
Test
TestTest
Test
 
Unofficial Transcript
Unofficial TranscriptUnofficial Transcript
Unofficial Transcript
 
Faida e dua bar qaboor e mauta trans of al dua lil mayyat min al quran wal ha...
Faida e dua bar qaboor e mauta trans of al dua lil mayyat min al quran wal ha...Faida e dua bar qaboor e mauta trans of al dua lil mayyat min al quran wal ha...
Faida e dua bar qaboor e mauta trans of al dua lil mayyat min al quran wal ha...
 
Proyecto ingenieria de metodos
Proyecto ingenieria de metodos Proyecto ingenieria de metodos
Proyecto ingenieria de metodos
 
Lastfm
LastfmLastfm
Lastfm
 
Kalma e haq by allama abdul hakeem akhtar shajahanpuri
Kalma e haq by allama abdul  hakeem akhtar shajahanpuriKalma e haq by allama abdul  hakeem akhtar shajahanpuri
Kalma e haq by allama abdul hakeem akhtar shajahanpuri
 
Salvador, Bahia
Salvador, BahiaSalvador, Bahia
Salvador, Bahia
 
Metodo completando cuadrado
Metodo completando cuadradoMetodo completando cuadrado
Metodo completando cuadrado
 
A história do carnaval
A história do carnavalA história do carnaval
A história do carnaval
 
Mystery Shopping Best Practices - Define Objectives
Mystery Shopping Best Practices - Define ObjectivesMystery Shopping Best Practices - Define Objectives
Mystery Shopping Best Practices - Define Objectives
 
Defining global exception strategies
Defining global exception strategiesDefining global exception strategies
Defining global exception strategies
 
anexo-i-memorial-descritivo-tabelado
 anexo-i-memorial-descritivo-tabelado anexo-i-memorial-descritivo-tabelado
anexo-i-memorial-descritivo-tabelado
 
313788546 autopower-2016-spda-nbr-5419-2015-documentacao
313788546 autopower-2016-spda-nbr-5419-2015-documentacao313788546 autopower-2016-spda-nbr-5419-2015-documentacao
313788546 autopower-2016-spda-nbr-5419-2015-documentacao
 
Alphacursus Hst 5 Bijbel Lezen Waarom En Hoe 2009
Alphacursus Hst 5 Bijbel Lezen Waarom En Hoe 2009Alphacursus Hst 5 Bijbel Lezen Waarom En Hoe 2009
Alphacursus Hst 5 Bijbel Lezen Waarom En Hoe 2009
 
Wildcard Filter
Wildcard FilterWildcard Filter
Wildcard Filter
 
Carnaval slides
Carnaval slidesCarnaval slides
Carnaval slides
 
Nbr5419 1 proteção contra descargas atmosféricas - parte 1- princípios gerais
Nbr5419 1  proteção contra descargas atmosféricas - parte 1- princípios geraisNbr5419 1  proteção contra descargas atmosféricas - parte 1- princípios gerais
Nbr5419 1 proteção contra descargas atmosféricas - parte 1- princípios gerais
 

Semelhante a O carnaval da Bahia: da origem ao trio elétrico

O samba e suas origens ademir
O samba e suas origens    ademirO samba e suas origens    ademir
O samba e suas origens ademirAdemir da Silva
 
Que bloco e esse articulo Karen Gomez 2017.pdf
Que bloco e esse articulo Karen Gomez 2017.pdfQue bloco e esse articulo Karen Gomez 2017.pdf
Que bloco e esse articulo Karen Gomez 2017.pdfClaudioCardenas16
 
O nosso jornal 2º p 2013
O nosso jornal 2º p 2013O nosso jornal 2º p 2013
O nosso jornal 2º p 2013Ana Pereira
 
Memória familiar e educação não formal - claudete de sousa nogueira
Memória familiar e educação não formal - claudete de sousa nogueiraMemória familiar e educação não formal - claudete de sousa nogueira
Memória familiar e educação não formal - claudete de sousa nogueiraMonitoria Contabil S/C
 
A MUSICALIDADE DA CAPOEIRA COMO AQUISIÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA BRASILEIRA NO ...
A MUSICALIDADE DA CAPOEIRA COMO AQUISIÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA BRASILEIRA NO ...A MUSICALIDADE DA CAPOEIRA COMO AQUISIÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA BRASILEIRA NO ...
A MUSICALIDADE DA CAPOEIRA COMO AQUISIÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA BRASILEIRA NO ...VernicaHolandaSantos
 
MúSicas Populares E FolclóRicas Brasileiras
MúSicas Populares E FolclóRicas BrasileirasMúSicas Populares E FolclóRicas Brasileiras
MúSicas Populares E FolclóRicas BrasileirasHOME
 

Semelhante a O carnaval da Bahia: da origem ao trio elétrico (20)

O samba e suas origens ademir
O samba e suas origens    ademirO samba e suas origens    ademir
O samba e suas origens ademir
 
Aboio e toada magno
Aboio e toada magnoAboio e toada magno
Aboio e toada magno
 
Que bloco e esse articulo Karen Gomez 2017.pdf
Que bloco e esse articulo Karen Gomez 2017.pdfQue bloco e esse articulo Karen Gomez 2017.pdf
Que bloco e esse articulo Karen Gomez 2017.pdf
 
Dança
DançaDança
Dança
 
Dança
DançaDança
Dança
 
Carnaval 3
Carnaval 3Carnaval 3
Carnaval 3
 
O nosso jornal 2º p 2013
O nosso jornal 2º p 2013O nosso jornal 2º p 2013
O nosso jornal 2º p 2013
 
Origem do carnaval
Origem do carnavalOrigem do carnaval
Origem do carnaval
 
Origem do carnaval
Origem do carnavalOrigem do carnaval
Origem do carnaval
 
Origem do carnaval
Origem do carnavalOrigem do carnaval
Origem do carnaval
 
ARTES DE RUA - CARNAVAL
ARTES DE RUA - CARNAVALARTES DE RUA - CARNAVAL
ARTES DE RUA - CARNAVAL
 
Camargo emerson zíngaro - tradição e assimilação na música sertaneja
Camargo emerson zíngaro  - tradição e assimilação na música sertanejaCamargo emerson zíngaro  - tradição e assimilação na música sertaneja
Camargo emerson zíngaro - tradição e assimilação na música sertaneja
 
7309 a arte_de_dancar
7309 a arte_de_dancar7309 a arte_de_dancar
7309 a arte_de_dancar
 
Tccpavulagemfinal
TccpavulagemfinalTccpavulagemfinal
Tccpavulagemfinal
 
Memória familiar e educação não formal - claudete de sousa nogueira
Memória familiar e educação não formal - claudete de sousa nogueiraMemória familiar e educação não formal - claudete de sousa nogueira
Memória familiar e educação não formal - claudete de sousa nogueira
 
A MUSICALIDADE DA CAPOEIRA COMO AQUISIÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA BRASILEIRA NO ...
A MUSICALIDADE DA CAPOEIRA COMO AQUISIÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA BRASILEIRA NO ...A MUSICALIDADE DA CAPOEIRA COMO AQUISIÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA BRASILEIRA NO ...
A MUSICALIDADE DA CAPOEIRA COMO AQUISIÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA BRASILEIRA NO ...
 
Artigo ciems. alessandro
Artigo ciems. alessandroArtigo ciems. alessandro
Artigo ciems. alessandro
 
Artigo ciems. alessandro
Artigo ciems. alessandroArtigo ciems. alessandro
Artigo ciems. alessandro
 
MúSicas Populares E FolclóRicas Brasileiras
MúSicas Populares E FolclóRicas BrasileirasMúSicas Populares E FolclóRicas Brasileiras
MúSicas Populares E FolclóRicas Brasileiras
 
Carnaval Grupo 1
Carnaval Grupo 1Carnaval Grupo 1
Carnaval Grupo 1
 

Último

HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024Sandra Pratas
 
Cartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino Fundamental
Cartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino FundamentalCartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino Fundamental
Cartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino Fundamentalgeone480617
 
Empreendedorismo: O que é ser empreendedor?
Empreendedorismo: O que é ser empreendedor?Empreendedorismo: O que é ser empreendedor?
Empreendedorismo: O que é ser empreendedor?MrciaRocha48
 
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdf
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdfO guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdf
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdfErasmo Portavoz
 
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024Sandra Pratas
 
Noções de Orçamento Público AFO - CNU - Aula 1 - Alunos.pdf
Noções de Orçamento Público AFO - CNU - Aula 1 - Alunos.pdfNoções de Orçamento Público AFO - CNU - Aula 1 - Alunos.pdf
Noções de Orçamento Público AFO - CNU - Aula 1 - Alunos.pdfdottoor
 
QUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNAS
QUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNASQUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNAS
QUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNASEdinardo Aguiar
 
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptxApostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptxIsabelaRafael2
 
Recurso Casa das Ciências: Sistemas de Partículas
Recurso Casa das Ciências: Sistemas de PartículasRecurso Casa das Ciências: Sistemas de Partículas
Recurso Casa das Ciências: Sistemas de PartículasCasa Ciências
 
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptx
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptxSlide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptx
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptxconcelhovdragons
 
VALORES HUMANOS NA DISCIPLINA DE ENSINO RELIGIOSO
VALORES HUMANOS NA DISCIPLINA DE ENSINO RELIGIOSOVALORES HUMANOS NA DISCIPLINA DE ENSINO RELIGIOSO
VALORES HUMANOS NA DISCIPLINA DE ENSINO RELIGIOSOBiatrizGomes1
 
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISPrática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISVitor Vieira Vasconcelos
 
Educação São Paulo centro de mídias da SP
Educação São Paulo centro de mídias da SPEducação São Paulo centro de mídias da SP
Educação São Paulo centro de mídias da SPanandatss1
 
Sociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autores
Sociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autoresSociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autores
Sociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autoresaulasgege
 
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANOInvestimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANOMarcosViniciusLemesL
 
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdfGuia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdfEyshilaKelly1
 
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxQUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxIsabellaGomes58
 
Slides Lição 3, Betel, Ordenança para congregar e prestar culto racional, 2Tr...
Slides Lição 3, Betel, Ordenança para congregar e prestar culto racional, 2Tr...Slides Lição 3, Betel, Ordenança para congregar e prestar culto racional, 2Tr...
Slides Lição 3, Betel, Ordenança para congregar e prestar culto racional, 2Tr...LuizHenriquedeAlmeid6
 
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdfDIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdfIedaGoethe
 

Último (20)

HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
 
Cartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino Fundamental
Cartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino FundamentalCartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino Fundamental
Cartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino Fundamental
 
Empreendedorismo: O que é ser empreendedor?
Empreendedorismo: O que é ser empreendedor?Empreendedorismo: O que é ser empreendedor?
Empreendedorismo: O que é ser empreendedor?
 
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdf
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdfO guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdf
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdf
 
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
 
treinamento brigada incendio 2024 no.ppt
treinamento brigada incendio 2024 no.ppttreinamento brigada incendio 2024 no.ppt
treinamento brigada incendio 2024 no.ppt
 
Noções de Orçamento Público AFO - CNU - Aula 1 - Alunos.pdf
Noções de Orçamento Público AFO - CNU - Aula 1 - Alunos.pdfNoções de Orçamento Público AFO - CNU - Aula 1 - Alunos.pdf
Noções de Orçamento Público AFO - CNU - Aula 1 - Alunos.pdf
 
QUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNAS
QUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNASQUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNAS
QUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNAS
 
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptxApostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
 
Recurso Casa das Ciências: Sistemas de Partículas
Recurso Casa das Ciências: Sistemas de PartículasRecurso Casa das Ciências: Sistemas de Partículas
Recurso Casa das Ciências: Sistemas de Partículas
 
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptx
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptxSlide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptx
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptx
 
VALORES HUMANOS NA DISCIPLINA DE ENSINO RELIGIOSO
VALORES HUMANOS NA DISCIPLINA DE ENSINO RELIGIOSOVALORES HUMANOS NA DISCIPLINA DE ENSINO RELIGIOSO
VALORES HUMANOS NA DISCIPLINA DE ENSINO RELIGIOSO
 
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISPrática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
 
Educação São Paulo centro de mídias da SP
Educação São Paulo centro de mídias da SPEducação São Paulo centro de mídias da SP
Educação São Paulo centro de mídias da SP
 
Sociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autores
Sociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autoresSociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autores
Sociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autores
 
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANOInvestimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
 
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdfGuia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
 
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxQUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
 
Slides Lição 3, Betel, Ordenança para congregar e prestar culto racional, 2Tr...
Slides Lição 3, Betel, Ordenança para congregar e prestar culto racional, 2Tr...Slides Lição 3, Betel, Ordenança para congregar e prestar culto racional, 2Tr...
Slides Lição 3, Betel, Ordenança para congregar e prestar culto racional, 2Tr...
 
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdfDIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
 

O carnaval da Bahia: da origem ao trio elétrico

  • 1. O carnaval da Bahia: uma retrospectiva histórica do entrudo ao surgimento do trio elétrico Dodô & Osmar com o cavaco elétrico protótipo da guitarra baiana Alexandre Siles Vargas1 UFBA/PPGMUS-MESTRADO SIMPOM:Educação Musical alexandresilesvargas@hotmail.com Resumo: Este artigo é uma revisão histórica do carnaval baiano delimitada entre o entrudo e o aparecimento do grupo musical Trio Elétrico Dodô & Osmar com o cavaco elétrico, protótipo da guitarra baiana. Nosso objetivo é proporcionar o entendimento do processo de desenvolvimento do carnaval da Bahia. Utilizando a abordagem qualitativa, com fins exploratório e explicativo, e por meio de entrevista, pesquisa bibliográfica e documental, buscamos responder a seguinte questão: Quais acontecimentos influenciaram o surgimento do Trio Elétrico Dodô & Osmar e da guitarra baiana no carnaval da Bahia? A pesquisa demonstrou que o carnaval iniciou com o entrudo no século XVII, depois surgiram os clubes carnavalescos no século XIX, os quais mantiveram o costume de desfile em carro alegórico do entrudo. Em 1942, Dodô e Osmar desenvolveram o cavaco elétrico – futura guitarra baiana. Em 1950, eles transferiram seus aparatos eletrônicos para um automóvel, passando a integrar o corso com o nome de Dupla Elétrica. Posteriormente, com o ingresso do terceiro componente (Termístocles Aragão), foram chamados de Trio Elétrico. A guitarra baiana, aliada ao virtuosismo de Osmar Macedo, tornou-se um símbolo do carnaval de Salvador, porém a popularização de novos gêneros musicais promoveu seu desuso. Atualmente, uma pequena quantidade de guitarristas tem habilidade para tocar este instrumento, que é marginalizado da Educação Musical Brasileira. A presente comunicação é apenas uma parte da pesquisa metodológica mais extensa intitulada A arte de tocar guitarra baiana: uma proposta metodológica, na qual propomos uma metodologia para o seu ensino e aprendizado. O presente recorte se justifica pela necessidade de elucidar, valorizar e divulgar a cultura brasileira e, sobretudo, a história do carnaval e da guitarra baiana. Palavras-chave: Entrudo; Carnaval da Bahia; Guitarra Baiana; Trio Elétrico; Cavaco Elétrico. The Carnival of Bahia: a Historical Retrospective From Shrovetide to the Appearence of Trio Elétrico Dodô & Osmar With the Electric Cavaco – Prototype of Bahian Guitar Abstract: This article is a historical review of the carnival from Bahia bounded between shrovetide and the appearance of the "Trio Elétrico Dodô & Osmar" with the electric cavaco - prototype of Bahian electric guitar. Our purpose is to provide an understanding of the development process of the carnival. Using a qualitative approach with exploratory and 1 Orientador. Prof. Dr. Jorge Sacramento.
  • 2. ANAIS DO III SIMPOM 2014 - SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PÓS-GRADUANDOS EM MÚSICA 184 explanatory purposes, through bibliographical and documentary research, we seek to answer the following question: What events influenced the appearance of the Trio Elétrico Dodô & Osmar and the Bahian electric guitar in the carnival of Bahia? The research showed that carnival begans with the shrovetide in the seventeenth century, followed by the carnival clubs in the nineteenth century, which maintained the custom of parade floats from shrovetide. In 1942, Dodô and Osmar invented the electric cavaco - prototype of Bahian electric guitar. In 1950, they transferred their electronic apparatus to an automobile, becoming a member of the parade with the name Dupla Elétrica, and subsequently, with one more musician (Termístócles Aragão), became Trio Elétrico. The Bahian electric guitar, combined with the virtuosity of Osmar Macedo, became a symbol of the carnival, but the popularization of new genres promoted its disuse. Currently, a small amount of guitarists have the ability to play this instrument, which is marginalized by Brazilian Music Education. This communication is only a part of a more extensive methodological research entitled “The art of playing Bahian electric guitar: a methodological proposal”, in which we propose a methodology for teaching and learning. This article is justified by the need to clarify, enhance and promote Brazilian culture and, above all, the carnival and the Bahian electric guitar, trying to include it as an instrument in the service of Music Education. Keywords: Carnival of Bahia; Bahian Electric Guitar; Electric Cavaco. Introdução A Bahia é conhecida pela sua riqueza e diversidade cultural. Dentre as suas tradições, está o costume de celebrar o carnaval. A indústria carnavalesca da “música de trio”, representada pelo Axé Music, foi uma consequência do surgimento do grupo musical Trio Elétrico Dodô & Osmar com o cavaco elétrico (protótipo da guitarra baiana). O instrumento musical aliado ao virtuosismo de Osmar Macedo tornou-se o símbolo do carnaval, porém a popularização de outros gêneros promoveu seu desuso. Esse instrumento histórico e genuinamente brasileiro está à margem da Educação Musical Brasileira. A prefeitura de Salvador, no ano de 2013, homenageou a guitarra baiana, elegendo-a como tema do carnaval. Porém, apesar das honras, o estudo sobre a história do carnaval e da guitarra baiana não é recorrente nas instituições formais de ensino, criando uma lacuna cultural na formação dos estudantes. Ainda assim, a maioria das escolas de música de Salvador não disponibiliza o ensino do instrumento, com exceção da “Oficina de Música Instrumental Osmar Macedo” dirigida pelo guitarrista e filho de Osmar, Aroldo Macedo. O resultado do descaso com a memoria cultural soteropolitana é que a maioria dos baianos desconhece a história da festa momesca, e uma pequena quantidade de guitarristas tem habilidade para tocar a guitarra baiana. Este artigo é uma revisão histórica que objetiva o entendimento do processo de desenvolvimento do carnaval soteropolitano. Desta forma, delimitamos a investigação do
  • 3. ANAIS DO III SIMPOM 2014 - SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PÓS-GRADUANDOS EM MÚSICA 185 período entre o entrudo e o aparecimento da banda Trio Elétrico Dodô & Osmar com o cavaco elétrico, protótipo da guitarra baiana. Através da abordagem qualitativa com fins exploratório e explicativo, buscamos, por meio de entrevista, pesquisa bibliográfica e documental, responder à seguinte questão: Quais acontecimentos influenciaram o surgimento do Trio Elétrico Dodô & Osmar e da guitarra baiana no carnaval da Bahia? O presente recorte se justifica pela necessidade de elucidar, valorizar, divulgar a cultura brasileira. Ele é apenas uma parte da pesquisa mais extensa intitulada A arte de tocar guitarra baiana: uma proposta metodológica, a qual propõe uma metodologia para o ensino e aprendizagem do instrumento. Os resultados alcançados nesta investigação têm embasado e direcionado a escrita dissertativa por entendermos que conhecer os aspectos históricos e socioculturais do carnaval é fundamental para a construção da nossa proposta metodológica. A partir do momento que nós nos assumimos, podemos promover a assunção por parte dos nossos alunos. É interessante estender mais um pouco a reflexão sobre assunção. O verbo assumir é um verbo transitivo e que pode ter como objeto o próprio sujeito que se assume (...). Uma das tarefas mais importante da prática educativa-crítica é propiciar as condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor ou a professora ensaiam a experiência profunda em assumir-se. Assumir- se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque é capaz de amar. Assumir-se como sujeito que é capaz de reconhecer-se como objeto. A assunção de nós mesmos não significa a exclusão dos outros. É a “outredade” do “não eu”, ou do tu, que me faz assumir a radicalidade de meu eu. (FREIRE, 1996, p.41). 1. A Origem do Carnaval A origem do carnaval pode estar nas práticas antigas de pintura corporal com o uso de máscaras e penas durante rituais nas primeiras civilizações da região do mediterrâneo. Alguns pesquisadores veem a origem do carnaval nas festas religiosas e pararreligiosas do Egito, Grécia e Roma Antiga; quando os celebrantes buscavam o prazer adornados pelo vinho, e pela disrupção, transversão, inversão e subversão da ordem (FULCHIGNONI apud CERQUEIRA, 2002, p. 19). No século XVI, os portugueses introduziram instrumentos de sopro e percussão (que usavam para seu divertimento), disponibilizando as ferramentas para o desenvolvimento da música que no futuro iria compor as tradicionais festas. “Nesse dia enquanto ali andavam [os índios], dançaram e bailaram sempre com os nossos, ao som de um tamboril nosso, como
  • 4. ANAIS DO III SIMPOM 2014 - SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PÓS-GRADUANDOS EM MÚSICA 186 se fosse mais amigos nossos do que nós seus.” O autor afirma que as atividades dos padres jesuítas chegados à Bahia em 1549 ligadas à catequese dos indígenas se utiliza das danças e cantos coletivos populares para o folgar, além dos hinos e cantos eruditos da Igreja Católica (com cantochão e órgão) para os atos solenes rituais ou para estimular a devoção (TINHORÃO, 2010, p. 37-38). Segundo Tinhorão (2013, p. 129-130), entrudo foi o nome dado ao carnaval durante os primeiros séculos da colonização portuguesa. Nesta ocasião, se permitia aos escravos o uso de máscaras e de fantasias, além de comer e beber desbragadamente. No Brasil, o entrudo limitou-se, até meados do século XIX, a uma festa em que os escravos da Colônia e do Império saíam correndo pelas ruas, sujando-se uns aos outros com farinha de trigo e polvilho. As famílias brancas, refugiadas em suas casas, divertiam-se derramando, pelas janelas, tinas de água suja sobre as pessoas que passavam, enquanto comiam e bebiam em um clima de quebra consentida da extrema rigidez patriarcal. Estas comemorações incluíam desfiles com fantasiados, carros alegóricos e música de fanfarra. (...) Talvez a mais antiga descrição do carnaval baiano, seja feita por Ferdinando Denis2 (...). Nele o autor afirma que, na época do carnaval, em 1816, na Bahia, fora levado por um amigo a fazer uma visita e que desde as primeiras saudações foram acolhidos por uma chuva de ovos de cera, cheios d’água, amarelos e verdes, que todas as jovens e belas moças da família lhe jogaram impiedosamente no rosto. (...). (OLIVEIRA, 2002, p. 177). 2. Clubes Carnavalescos O entrudo permitia que os foliões de raças e classes sociais diferentes se expressassem e interagissem livremente, porém foi proibido em 1853. “A partir dessa época, dois tipos de manifestação carnavalesca se desenvolveram – o dos salões e o das ruas; o primeiro frequentado pelos brancos e mulatos da boa sociedade, e o segundo pelas camadas populares das cidades, composta em maioria por negros e mulatos escuros” (VERGER apud OLIVEIRA, 2002, p. 182). Os clubes carnavalescos apareceram como opção de divertimento privado para as famílias mais ricas. Dentre os principais clubes figuravam: Fantoches da Euterpe (1883), Cruz Vermelha (1884) e Inocentes em Progresso (1889). Esses clubes desfilavam em corso pelas ruas, cada qual com seus carros alegóricos movidos por tração animal, compondo o préstito. Brasil (1969, p. 82) relata que, em 1878, o Barão Homem de Melo, dirigente do Estado da 2 DENIS, Ferdinand; TAUNAY, Hippolyte. Le Brésil ou histoire, moeurs, usages et coutumes des habitants de ce royaume. Paris: 1822.
  • 5. ANAIS DO III SIMPOM 2014 - SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PÓS-GRADUANDOS EM MÚSICA 187 Bahia estabeleceu o carnaval, determinando ao chefe de polícia que emprestasse adereços e fantasias para serem usados nos festejos. 3. Préstito e Batucada O préstito ou corso era o desfile de carros alegóricos, concebido por Paraiso (2002, p. 81) como a “manifestação do poder econômico e social das classes mais ricas da cidade. O luxo das roupas e fantasias, o brilho, os efeitos cromáticos, a forma das alegorias e dos carros, (...) formava um universo de formas e cores”. Godi (2002) afirma que o carnaval europeizado começa a ter a participação afro- brasileira em 1895 com o desfile do Clube Embaixada Africana e com a participação do Clube Pândegos da África em 1896. Estes clubes traziam as temáticas africanas, disseminando seus valores, processando sua autoestima, aceitação social e legitimidade, apesar das discriminações e perseguições do dia-a-dia. “O fato é que a proliferação da presença afro-carnavalesca provocou um pânico desmedido na elite carnavalesca, a ponto de ocasionar uma medida jurídica que colocaria essa presença no lugar da ilegalidade e da criminalidade” (GODI, 2002, p. 98). A ordem de ilegalidade publicada em 1905 reprimiu qualquer alusão às origens africanas, dando origem ao aparecimento das batucada. A batucada era a manifestação da população afrodescendente, que tocava pela rua disfarçada em fantasias, cujas temáticas remetiam o observador a qualquer outra cultura que não fosse africana. 4. Baixa dos Sapateiros A Baixa dos Sapateiros, região que fica no entorno da Rua J. J. Seabra, foi um local de intenso agito cultural. Neste sítio, em 1910, havia o cinema Jandaia, que apresentava seções de cinema mudo com acompanhamento de orquestra e apresentações de artistas consagrados como Carmem Miranda. Teixeira (2002, p. 46) afirma que o intenso comércio local contava com a animação de “bandas militares tocando nos coretos, alguns caminhões ornamentados e o concurso promovido pelos lojistas”. Durante o carnaval, as ruas eram preenchidas pelos cordões, os caretas, blocos, afoxés e as mudanças, apesar da recessão econômica que a Primeira Guerra Mundial ocasionou. Já em 1921, a Baixa dos sapateiros abrigava a vertente mais popular da festa, concentrando os afoxés, os caretas e os blocos mais pobres.
  • 6. ANAIS DO III SIMPOM 2014 - SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PÓS-GRADUANDOS EM MÚSICA 188 5. Rua Chile Por volta de 1926, a Rua Chile começou a despontar com a iniciativa dos comerciantes em instalar suas lojas, tornando-se o centro comercial e cultural da cidade. A Rua Chile servia como palco de inúmeras e variadas manifestações da vida urbana de Salvador. Namorar no ponto da Sloper, bater papo no Café das Meninas ou visitar a escada rolante da loja Duas Américas, inaugurada em 1958 e única da cidade, faziam parte dos programas de lazer da época. (RUBIM; COUTINHO; ALCÂNTARA, 1990, p. 31). 6. Música de Rua Brasil (1969) relata que a música da Bahia recebeu grande influência dos europeus e dos africanos. As manifestações populares e gêneros musicais como: a modinha, que veio de Portugal no século XVIII; o lundu (dança rural cantada de origem africana); a tirana (dançam sapateada e cantada de origem espanhola); as cantigas de mendigo; a capoeira (jogo dançado, cantado com o acompanhamento de berimbau, chocalho e pandeiro); festas e cantos religiosos (Festa do Nosso Senhor do Bonfim e Festa do Divino Espirito Santo); danças regionais (minueto, quadrilha sifilítica, batuque de boi, candomblé, samba de partido alto, samba de roda, chula, corta jaca, cheganças, festa dos mouros e bailes pastoris); terno e rancho de reis; congo; os caboclos de Itaparica; os pregões (música cantada pelos vendedores de rua); a presença das percussões africanas nas festas populares; as apresentações das bandas de barbeiro (originadas pelas charangas na primeira metade do século XIX); as bandas militares; e as Filarmônicas, todas essas contribuíram para a formação da identidade musical baiana. A autora acrescenta que, ao final do século XIX, foi construído o Conservatório de Música em Salvador. A música “popular” coexistia com a música “erudita” cultivada pela academia, que excluía o ensino de instrumentos populares como violão, cavaco, bandolim e percussão. Os músicos que tocavam samba de roda já se utilizavam de violões, cavaquinhos, flautas, pandeiros, pratos de mesa e faca. Os bailes pastoris eram realizados ao som do violão, bandolim, cavaquinho e pandeiro. Os ranchos eram apresentados com o violão, viola, cavaquinho, ganzá, prato e flauta. Nos anos quarenta, os afoxés persistem. Filhos d’Oxum, Lordes Africanos, Filhas d’Oxum, Filhos de Obá. Mas é em 1949 que vamos assistir ao nascimento de dois marcos fundamentais do carnaval baiano - polos que irão dar o tom e a fisionomia da festa, tal como o conhecemos ainda hoje, apesar do caráter de transição do momento presente. De uma parte, brota o Afoxé Filhos de Gandhi. De outra, Dodô e Osmar criam o trio elétrico, desfilando pela cidade em cima de uma “fobica”. A mão do preto no couro e a estridência do trio: carnaval negroelétrico da Bahia. (RISÉRIO, 2004, p. 564).
  • 7. ANAIS DO III SIMPOM 2014 - SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PÓS-GRADUANDOS EM MÚSICA 189 7. Dodô & Osmar Em meio às manifestações musicais de Salvador, atuou o violonista e técnico em eletrônica: Adolpho Antônio do Nascimento, o Dodô. Na rádio, ele conheceu Dorival Caymmi, integrante do grupo Três e Meio e que, posteriormente foi morar no Rio de Janeiro, saindo do grupo. Dodô arregimentou novos músicos para recompor a banda, dentre eles estava Osmar Macedo. Farias (2012) afirma que Osmar Alvares Macedo era dono de uma empresa metalúrgica e engenheiro prático. Osmar aprendeu os primeiros acordes no piano com a sua mãe. Aos 13 anos, iniciou a tocar bandolim e, mais tarde, cavaquinho, viola, violão tenor, e guitarra havaiana. Ele estudou bandolim com Solon Melo, que o ensinava a tocar passo doble, dobrados, boleros, chorinhos, valsas e clássicos eruditos como o Bolero de Ravel e Czardas. Posteriormente, conheceu Anibal Augusto Sardinha (Garoto) com quem desenvolveu a técnica no bandolim. Dodô & Osmar eram músicos amadores que tocavam em festas de família informalmente. A apresentação do Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas do Recife, em Salvador estimulou a Dupla Elétrica a criar o “frevo baiano”. O depoimento de Osmar descreveu o fato ocorrido: Passou aqui num navio, numa quarta-feira, no navio Pedro II, um navio do Loyd Brasileiro. (...) O governador Otávio Mangabeira fez um pedido (...) para o Vassourinhas fazer uma exibição pública na Av. Sete. E isso foi feito, anunciado. A Bahia quase inteira foi pra Av. Sete ver o desfile dos Vassourinhas. Eu estava lá com Dodô (...). Foi aí que eu dei a ideia pra Dodô: “Dodô, vamos sair tocando essa música!”. Que eu já sabia algumas das músicas. Música de Nelson Ferreira, de Capiba... Fervo rasgado, aquele frevo (...). Aí nós preparamos a fobica – a fobica é um Ford 29. (OSMAR apud AYÊSKA, 2005, p. 3). 8. A Criação do Cavaco Elétrico Os desfiles em carros abertos eram acompanhados de música ao vivo. Os instrumentos musicais, a depender de sua estrutura acústica, emitiam mais ou menos volume sonoro. Instrumentos como violão, cavaco e bandolim ficavam praticamente inaudíveis perto de um grupo de sopro e percussão. O uso da captação elétrica possibilitou a amplificação dos instrumentos de corda, possibilitando que o cavaco elétrico se tornasse um instrumento solista. A elaboração do novo instrumento foi precedida por algumas tentativas: Stela Caymmi (2001, p. 90) afirma que Dodô chegou a sugerir que Dorival Caymmi fizesse um
  • 8. ANAIS DO III SIMPOM 2014 - SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PÓS-GRADUANDOS EM MÚSICA 190 furo em seu violão e pusesse um alto-falante dentro da caixa acústica. A ideia de amplificar os instrumentos ganhou força quando Dodô e Osmar conheceram o captador elétrico no ano de 1941. Dodô passou a construir seus próprios captadores e adaptá-los ao instrumento ainda com a caixa acústica, os quais geravam os mesmos problemas ocorridos com Benedito, que era a microfonia durante os shows. De acordo com Macedo: Ele ia trazer pra Bahia o famoso violão elétrico que ninguém conhecia – eu mesmo pensava que tocasse sozinho, por ser elétrico. (...) O Benedito Chaves então trouxe o violão elétrico e nós fomos todos assistir ao show dele no Teatro Guarani, foi uma apoteose, foi uma beleza! Mas dava aquele fenômeno de microfonia, apitava (pii, piii...). Incomodava. Ele parava, mudava a posição do amplificador, diminuía o volume pra corrigir esse defeito. Quando acabou a apresentação, nós fomos ao camarim, eu e Dodô. (apud AYÊSKA, 2005, p. 2). O surgimento do cavaco elétrico aconteceu por volta de 1942, quando Dodô e Osmar foram à loja de instrumentos musicais: “A Primavera”. Pediram um violão e um cavaquinho, e arrancaram o braço dos instrumentos. Em casa, Dodô montou o braço do violão em um pedaço de madeira maciça, colocou as cordas e o amplificou a todo volume. Em seguida fez o mesmo procedimento com o braço do cavaquinho, construindo dois instrumentos de corpo sólido. Os inusitados instrumentos iam sendo aprimorados, quando Zezito (irmão de Osmar) trouxe dos Estados Unidos uma guitarra havaiana. Este instrumento tinha um captador eletromagnético mais potente do que os usados em 1942. Dodô estudou o captador e aprendeu a fabricá-lo, passando a usá-los nos instrumentos com os quais se apresentaram pela primeira vez na Rua Chile em 1950. (MACEDO, 2014). 9. Apresentação musical em automóvel Dodô e Osmar transferiram seus equipamentos para um automóvel, decoraram o carro com de temas do carnaval e seguiram em direção ao centro da cidade, tocando choros, passo doble, marchinhas e frevos. A participação da Dupla Elétrica foi o motivo que levou os foliões das classes mais baixas para a Rua Chile, Praça Castro Alves e Avenida Sete de Setembro. No carnaval de 1950, dois músicos chamados de Dodô e Osmar apareceram nas ruas de Salvador (...). Eles tocavam com um violão eletrificado, cavaquinho eletrificado e amplificadores portáteis. O estilo deles era frevo, uma marcha rápida e sincopada (...). (MCGOWAN e PESSANHA, 2009, p. 132, tradução nossa).
  • 9. ANAIS DO III SIMPOM 2014 - SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PÓS-GRADUANDOS EM MÚSICA 191 De acordo com Ayêska (2005, p. 3), a bordo do Ford 1929 pintado com motivos carnavalescos; equipado com um gerador de 2 KVA; um alto-falante na frente e outro atrás; acompanhada por seis percussionistas e interpretando frevos, a dupla arrastou alguns curiosos pelo centro de Salvador. No carnaval do ano seguinte, em uma pick-up Chrysler modelo Fargo, adicionaram oito alto-falantes e colocaram um motor gerador de energia para a iluminação. Convidaram outro instrumentista – Temístocles Aragão –, passando a serem chamados de “Trio Elétrico”. O conjunto era formado por Dodô (violão elétrico), Osmar (cavaco elétrico) e Temi (triolim ou violão tenor elétrico). Em 1952, passam a se apresentar em um caminhão e, em 1954, Temi sai do grupo, que permanece como o mesmo nome. 10. Guitarra Baiana O cavaco elétrico de quatro cordas (Sol2 , Ré3 , Lá3 , Mi4 ) foi sendo modificado, perdendo suas características primordiais. Na década de 1980, o luthier Vitório Quintino materializou a ideia do guitarrista e filho de Osmar – Armando Macedo: um cavaco elétrico em forma de raio e de cinco cordas (Dó2 , Sol2 , Ré3 , Lá3 , Mi4 ), o qual recebeu o nome de guitarra baiana (MACEDO, 2011). Em 2005, o luthier Mlaghus, a pedido do guitarrista Alexandre Vargas, fabricou a guitarra baiana de seis cordas (Sol1 , Dó2 , Sol2 , Ré3 , Lá3 , Mi4 ). Conclusão Concluímos que os acontecimentos que influenciaram o aparecimento do grupo musical “Trio Elétrico Dodô & Osmar” foram: a) a chegada de instrumentos musicais de sopro e percussão trazidos pelos colonos portugueses; b) as atividades musicais dos jesuítas, que deram início às festas religiosas; c) o costume da celebração do entrudo com fantasiados, carros alegóricos e música de fanfarra; d) a diversidade cultural musical baiana; e) a prática de tocar música ao vivo com os músicos posicionados em cima do carro alegórico; f) a necessidade de amplificação dos instrumentos de cordas (como bandolim, cavaco e violão) e da eliminação do efeito de microfonia; g) a utilização de amplificadores e autofalante em automóveis; e f) a fusão do frevo com elementos rítmicos e melódicos do dobrado das filarmônicas e das bandas militares, do choro, baião, passo doble e da música erudita europeia. As informações aqui reunidas podem ser relevantes para pesquisadores, educandos e educadores interessados na história brasileira, podendo servir como material de apoio no processo de ensino e aprendizagem da história da música. Outros temas sobre a guitarra baiana são abordados em nossa dissertação de título A arte de tocar guitarra baiana: uma proposta metodológica.
  • 10. ANAIS DO III SIMPOM 2014 - SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PÓS-GRADUANDOS EM MÚSICA 192 Referências ALVARENGA, Oneyda. Música Popular Brasileira. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1960. AYÊSKA, Paula Freitas. Trio elétrico: Mídia sonora genuinamente brasileira. INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação - XXVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO. Rio de Janeiro, p. 1-15, 2005. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2005/resumos/R0433-1.pdf.>. Acesso em: 19/07/2014. BRASIL, Hebe M. Evolução Histórica da Cidade de Salvador: A Música na Cidade do Salvador, 1549-1900. Vol. 4. Salvador: Editora Beneditina, 1969. CAYMMI, Stella. Dorival Caymmi: o mar e o tempo. São Paulo: Editora 34, 2001. CERQUEIRA, Nelson (org.). Carnaval da Bahia: um registro estético. Salvador: Omar G., 2002. FARIAS, Simone C. A Voz de Armandinho Macedo. Salvador: Vento Leste, 2012. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. Coleção Leitura. São Paulo: Paz e Terra, 1996. GODI, Antônio. Presença Afro-Carnavalesca Soteropolitana. In: CERQUEIRA, Nelson (org.). Carnaval da Bahia: um registro estético. Salvador: Omar G., 2002. p. 94-111. MACEDO, Aroldo. Entrevista de Alexandre Vargas em 8/02/2014. Salvador. Bar Red River. MACEDO, Armando. In: Nem choro nem samba: guitarra baiana. Produção de Carolina Migoya, Eduardo César e Fernanda Barbosa. Salvador: Faculdade Social, 2011. Disponível em: <https://m.youtube.com/watch?v=R3M32b6qRhI>. Acesso em: 17/7/2014. MCGOWAN, C.; PESSANHA, R. The Brazilian sound: samba, bossa nova, and the popular music of Brazil. Edição revisada e expandida. Pennsylvania. Temple University Press, 2009. OLIVEIRA, Waldir F. O Carnaval da Bahia Visto de Longe e de Perto da sua Realidade. In: CERQUEIRA, Nelson (org.). Carnaval da Bahia: um registro estético. Salvador: Omar G., 2002. p. 176-188. PARAISO, Juarez. O Carnaval de Salvador e as Artes Visuais. In: CERQUEIRA, Nelson (org.). Carnaval da Bahia: um registro estético. Salvador: Omar G., 2002. p. 68-93. RUBIM. A., COUTINHO S., ALCÂNTARA P. H. Salvador no anos 50 e 60: encontros e desencontros com a cultura. Revista de Urbanismo e Arquitetura, Salvador, Vol. 3, n. 1, p. 30-38. 1990. RISÉRIO, Antônio. Uma história da cidade da Bahia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Versal, 2004. TEIXEIRA, Cid. Carnaval Entre Duas Guerras. In: CERQUEIRA, Nelson (org.). Carnaval da Bahia: um registro estético. Salvador: Omar G., 2002. p. 42-59. TINHORÃO, José, R. História Social da Música Popular Brasileira. 2ª ed. São Paulo: Ed. 34, 2010. 384 p. TINHORÃO, José, R. Pequena história da música popular: segundo seus gêneros. 7ª ed. São Paulo: Ed. 34, 2013.