O documento discute os encantos e ilusões dos namoros virtuais, como as redes sociais são pontos de encontro populares para iniciar contatos e como aplicativos de localização facilitam encontrar alvos potenciais. No entanto, encontros às cegas online levantam questões sobre fidelidade, intenções e como avaliar riscos como violência ou vazamentos de informações privadas.
1. Encantos e ilusões do namoro virtual
JAIRO BOUER
Esqueça o olho no olho ou as paixões à primeira vista. O futuro do sexo e do
amor pode estar na frente da tela de um computador ou de um celular. Hoje, boa parcela
dos jovens (não apenas eles) busca seu par pelos meios virtuais. E não são apenas os
tímidos. Os mais exibidos também usam a internet, muitas vezes de forma arriscada,
para iniciar contatos. As redes sociais são o ponto de encontro preferencial.
Vasculhando o perfil de amigos e conhecidos, é possível localizar alguém que
desperte o interesse e, melhor, com algum tipo de referência (mesmo que mínima).
Galanteios virtuais e mensagens cifradas podem iniciar a paquera. Com aplicativos de
celulares, que usam ferramentas de localização e mapeiam quem está por perto, é
possível enxergar os alvos em potencial e iniciar a corte.
O encontro pode ser às cegas. As salas de bate-papo dos principais provedores
de acesso e sites especializados estão lotadas. Ali o risco é maior, pela falta de
referências. É claro que, do total desconhecimento ao encontro real, pode haver algumas
etapas. Uma espiada numa rede social, a troca de fotos, o contato por câmera e uma
conversa por voz podem dar algumas pistas. Mas o efeito surpresa persiste.
Um fator que alimenta as relações virtuais é a economia de tempo (cada vez
mais escasso na vida urbana). Tem gente que passa muito mais tempo na rede do que no
mundo real, um sintoma revelador de certa dificuldade de se relacionar com o outro. À
2. distância, pela internet, as pessoas parecem mais desinibidas para expressar emoções e
desejos que demorariam mais para aparecer em outras circunstâncias. Num mundo em
que a evasão da privacidade virou quase uma regra, exibir sentimentos e imagens pode
parecer uma conduta apropriada.
Mas os namoros virtuais levantam várias questões. A primeira envolve a
fidelidade. Da mesma forma que as duas almas se encontraram no vasto espaço virtual,
será que amanhã não vão facilmente teclar em busca de outros contatos? Os
relacionamentos têm acabado quando um dos envolvidos encontra provas cabais de
atividades “extraoficiais” em e-mails, mensagens instantâneas ou recados em redes
sociais. Além disso, como avaliar as intenções da pessoa? São frequentes os relatos de
problemas (inclusive violência) nos encontros nascidos de contatos virtuais. E onde vão
parar fotos e vídeos que, no calor do momento, revelam muito mais do que seria
adequado? Como apagar da internet as memórias que podem atrapalhar e comprometer
o futuro afetivo e até profissional? Se a internet facilita tanto os encontros, também é
importante repensar esse grande espaço por onde hoje podemos levar nosso coração
para passear.