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OFIMDAFLORESTA?
A Devastação das Unidades de Conservação
  e Terras Indígenas no Estado de Rondônia

       Grupo de Trabalho Amazônico - GTA
                       Regional Rondônia

                            Junho de 2008
OFIMDAFLORESTA?

    A Devastação das Unidades de Conservação
    e Terras Indígenas no Estado de Rondônia

    Realização
    Grupo de Trabalho Amazônico - GTA Rondônia

    Autores e Colaboradores
    Ana Euler
    Brent Millikan
    Edjales Benício de Brito
    Ivaneide Bandeira Cardozo
    Jean Pierre Leroy
    Ludmila Caminha
    Maria Inês Hargreaves
    Rogério Vargas Motta
    Sergio Cunha
    Silvânio Matias
    Vânia Alves
    Verena Glass

    Mapas e gráficos
    Rodney Salomão

    Projeto Gráfico e Diagramação
    Gustavo Monteiro

    Apoio
    Amigos da Terra - Suécia
    Federação dos Órgãos para Assistência Social e Educacional - FASE
    Fundação Heinrich Böell
    Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia - Imazon
    Projeto Governança Verde, Universidade da Califórnia, Berkeley
    União Mundial pela Natureza - IUCN

    Agradecimentos
    Carlos Souza Jr.
    Jean Pierre Leroy
    Marcelo Argueles
    Mary Allegretti
    Rodney Salomão

    E instituições que acreditaram e apoiaram a realização desta publicação



    O conteúdo desta publicação é da inteira responsabilidade de seus realizadores
    e não reflete necessariamente opiniões das instituições de apoio.
ÍNDICE

Prefácio                                          7
Apresentação                                      9
1. Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia:
   Tendências Recentes e Contexto Histórico       10
                                                  	
2. Reservas Extrativistas                         2
3. Florestas Nacionais e Estaduais                33
4. Unidades de Conservação de Proteção Integral   38
5. Áreas de Uso Especial (zona 2)                 3
6. Terras Indígenas                               6
7. Conclusões e Propostas de Ação                 

Referências Bibliográficas                        61
6
    SIGLAS

    APA - Área de Proteção Ambiental
    APP - Área de Preservação Permanente
    ARPA - Programa Áreas Protegidas da Amazônia
    CONsEPA - Conselho Estadual de Política Ambiental
    DETER - Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real
    EE - Estação Ecológica
    EIA - Estudo de Impacto Ambiental
    FAO - Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura
    FERs - Florestas Estaduais de Rendimento Sustentado
    FlONA - Floresta Nacional
    FUNAI - Fundação Nacional do Índio
    GTA - Grupo de Trabalho Amazônico
    IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
    IMAzON - Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia
    INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
    ITERON - Instituto de Terras de Rondônia
    MPF - Ministério Público Federal
    OsR - Organização dos Seringueiros de Rondônia
    PA - Projeto de Assentamento
    PAC - Programa de Aceleração do Crescimento
    PAD - Projeto de Assentamento Dirigido
    PAE - Projeto de Assentamento Agroextrativista
    PARNA - Parque Nacional
    PE - Parque Estaduai
    PIN - Programa de Integração Nacional
    PlANAFlORO - Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia
    PMFs - Plano de Manejo Florestal Sustentável
    REBIO - Reserva Biológica
    REsEx - Reserva Extrativista
    RIMA - Relatório de Impacto Ambiental
    sAD - Sistema de Alerta de Desmatamento
    sEDAM - Secretaria Estadual de Desenvolvimento Ambiental
    sIPAM - Sistema de Proteção da Amazônia
    sNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação
    sPI - Serviço de Proteção ao Índio
    TI - Terra Indígena
    UC - Unidade de Conservação
    zEE - Zoneamento Econômico-Ecológico
    zsEE - Zoneamento Socioeconômico-Ecológico
7
Prefácio

	       O	desmatamento	e	as	queimadas	na	Ama-          conservação	 da	 biodiversidade	 -	 enquanto	 criam	
zônia	têm	ocupado	novamente	as	manchetes	da	           oportunidades	 para	 atividades	 econômicas	 base-
imprensa	 brasileira	 e	 internacional.	 	 Esse	 fenô- adas	na	preservação	e	uso	sustentável	dos	recur-
meno reflete, entre outros fatores, o surto de         sos naturais. Além disso, as Terras Indígenas e
preocupações	no	Brasil	e	no	mundo	sobre	os	im-         Unidades	de	Conservação	de	Uso	Sustentável		são	
pactos	do	aquecimento	do	clima	global.	Os	des-         essenciais	 para	 assegurar	 os	 direitos	 dos	 povos	
matamentos e queimadas na Amazônia fizeram             indígenas e outras populações tradicionais, que
com	 que	 o	 Brasil	 passasse	 a	 integrar	 o	 quarto	 dependem da conservação das florestas e dos rios
lugar	na	lista	dos	principais	países	responsáveis	     da	Amazônia	para	o	seu	sustento.	
pela	emissão	de	gases	de	efeito	estufa.		Além	das	     	
contribuições para mudanças climáticas globais,        	        A	simples	criação	de	Áreas	Protegidas	no	
a floresta Amazônica tem um papel fundamental          papel, no entanto, não é garantia da conservação
na	manutenção	do	regime	de	chuvas	na	parte	sul	        da floresta, nem dos direitos das populações que
do Continente, aumentando a importância de sua         dependem	dela	para	sobreviver.	Esta	publicação	
preservação1.                                          demonstra	que	um	dos	lugares	da	Amazônia	bra-
                                                       sileira	 onde	 essa	 realidade	 é	 mais	 evidente	 é	 o	
	        As	 preocupações	 com	 desmatamento	 na	 Estado de Rondônia, onde as Áreas Protegidas
Amazônia	brasileira	aumentaram	ainda	mais	com	 têm	 se	 tornado	 alvos	 cada	 vez	 mais	 ameaçados	
a recente notícia de que, depois de três anos de pelo desmatamento ilegal e outros ilícitos, espe-
sucessivas quedas, houve uma retomada nas taxas cialmente a exploração clandestina de madeira.
de desmatamento na região, a partir do segundo
semestre	 de	 2007.	 Nas	 palavras	 do	 Governador	 	           Enfrentar	 o	 problema	 do	 desmatamento	
de Mato Grosso, Blairo Maggi, o “leão adormeci- ilegal	na	Amazônia	brasileira	começa	com	a	com-
do” do desmatamento amazônico acordou, impul- preensão de suas causas. E nesse sentido, este
sionado	por	fatores	como	o	aumento	de	preços	de	 relatório traz uma importante contribuição. Os
commodities	agrícolas	e	da	pecuária.			                autores, profundos conhecedores de Rondônia,
	        	                                             com longos anos de experiência em pesquisas de
	        A	 maior	 parte	 das	 novas	 derrubadas	 na	 campo e militância nos movimentos socioambien-
Amazônia	brasileira	tem	se	concentrado	nos	es- tais, analisam as tendências do desmatamento
tados de Mato Grosso e Pará, mas chama a aten- nas	 áreas	 protegidas	 de	 Rondônia	 e	 os	 fatores	
ção a elevada perda de florestas no Estado de que impulsionam o desmatamento e exploração
Rondônia. Em julho de 2007, o desmatamento ilegal de madeira (e, em alguns casos, recursos
acumulado	 em	 Rondônia	 chegou	 a	 quase	 9	 mi- minerais).
lhões	de	hectares	(38%	da	superfície	total	do	Es-
tado	 e	 44	 %	 da	 área	 originalmente	 coberta	 por	 	        A	publicação	demonstra	que	a	devastação	
florestas) índices entre os mais elevados de todos de áreas protegidas em Rondônia é o reflexo de
os	 estados	 da	 Amazônia	 Legal.	 Segundo	 dados	 uma crise de governança, marcada por interesses
do IMAZON, foram desmatados 345 km2	em	Ron- privados	de	grupos	políticos	e	econômicos	que	se	
dônia entre agosto de 2007 e abril de 2008, um infiltram nas mais diversas esferas da máquina
aumento	de	23%	em	relação	ao	período	anterior	 governamental, comprometendo o funcionamento
(julho de 2006 a abril de 2007).                       de instituições públicas, os interesses coletivos da
                                                       sociedade e ao próprio Estado de Direito.
         Historicamente, a criação e implementa-
ção	de	Áreas	Protegidas	(Unidades	de	Conserva-                  Determinadas alianças “esdrúxulas” do
ção e Terras Indígenas) na Amazônia têm se reve- Governo Lula (lembrando as palavras do ex-mi-
lado	uma	estratégia	fundamental	para	conservar	 nistro das cidades Olívo Dutra) com setores nada
grandes áreas contíguas de floresta - contribuin- progressistas do extenso elenco de partidos polí-
do assim para a manutenção de ecossistemas, ticos, adotadas em nome da “sustentação políti-
o equilíbro climático, regimes hidrológicos e a ca” e “governabilidade” no Congresso Nacional,


1 Desmatamento na Amazônia: O leão Acordou, Uma Análise do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na
Amazônia legal (PPCDAM), Greenpeace, fevereiro de 2008.
8   têm	contribuído	para	o	agravamento	da	crise	de	                     Não faltam experiências positivas na
    governança	socioambiental	no	Estado	de	Rondô-              Amazônia, desenvolvidas pelos mais diversos se-
    nia. Assim, limitam-se as possibilidades de im-            tores da sociedade regional - movimentos sociais,
    plementação	 de	 políticas	 públicas	 mais	 coeren-        ONGs, instituições governamentais e empresas
    tes	para	o	meio	ambiente	e	para	a	qualidade	de	            privadas.	 Comprometidas	 com	 a	 sustentabilida-
    vida de populações locais, sobretudo as que mais           de da região, essas iniciativas demonstram que
    dependem das florestas para sobreviver.                    é	perfeitamente	viável	o	crescimento	econômico	
                                                               com eqüidade social, respeito à diversidade cul-
             Por um lado, o governo federal quer re-           tural e conservação da floresta.
    duzir	o	desmatamento	na	Amazônia	por	meio	de	              	
    iniciativas como a Operação Arco do Fogo, inclusi-                  A superação definitiva do desmatamen-
    ve	para	mostrar	ao	mundo	e	aos	compradores	de	             to	 ilegal	 e	 a	 construção	 de	 alternativas	 viáveis	
    exportações agrícolas brasileiras que está agin-           de	 desenvolvimento	 sustentável	 na	 Amazônia	
    do. Por outro, fortalece as alianças conservado-           passam	necessariamente	pelo	fortalecimento	da	
    ras	e	um	projeto	hegemônico	de	desenvolvimento	            governança	em	lugares	como	Rondônia.	O	desa-
    a	 qualquer	 custo	 na	 Amazônia	 brasileira	 -	 o	 que	   fio de fortalecer as instituições públicas e a par-
    ajuda	 a	 entender	 a	 recente	 saída	 do	 governo	 da	    ticipação cidadã, com transparência e controle
    Ministra	Marina	Silva.		Para	onde	vai	se	inclinar	a	       social, é responsabilidade de toda sociedade bra-
    balança?		O	pessimismo	predominaria	se	não	fos-            sileira. No caso de Rondônia, o primeiro passo é
    se	a	esperança	trazida	por	pessoas	e	instituições	         ouvir	as	vozes	de	pessoas	e	instituições	como	as	
    como	 aquelas	 vinculadas	 ao	 Grupo	 de	 Trabalho	        que nos presenteiam com esta publicação, que
    Amazônico (GTA) em Rondônia que, mesmo igno-               lutam	por	uma	Amazônia	com	justiça	ambiental	
    radas	por	elites	locais	e	até	ameaçadas	em	deter-          e social. Para a floresta, pode ser a derradeira
    minados momentos, não calam suas vozes.                    chance.


                                                                                                       Jean Pierre leroy
                                                                              Assessor da Federação de Órgãos para Assistência
                                                                                                    Social e Educacional (FASE)
9
Apresentação

	        A	 devastação	 das	 áreas	 protegidas	 em	         •	 Os quatro seguintes, analisam a realidade
Rondônia	implica	em	uma	série	de	prejuízos:	con-            atual	 das	 principais	 categorias	 de	 áreas	 prote-
flitos sociais, desrespeito aos direitos humanos,           gidas em Rondônia: Terras Indígenas, Reservas
empobrecimento da biodiversidade, degradação                Extrativistas, Florestas Nacionais e Estaduais e
de solos, comprometimento de bacias hidrográ-               Unidades	de	Conservação	de	Proteção	Integral.	
ficas, contribuições para a emissão de gases de             Os capítulos incluem exemplos concretos que
efeitos	estufa	e	perda	de	oportunidades	econômi-            ilustram	as	realidades	locais	em	Rondônia.
cas	 associadas	 ao	 uso	 sustentável	 dos	 recursos	
naturais. Em outras palavras, prejuízos para a              •	 No capítulo 6, são apresentadas considera-
população rondoniense, a sociedade brasileira e             ções	 sobre	 a	 situação	 atual	 de	 outra	 categoria	
para	o	nosso	planeta.	                                      de área protegida no Estado: as “áreas de uso
                                                            especial” da zona 2, no âmbito do zoneamento
         Esta publicação tem como finalidade con-           sócio-econômico-ecologico de Rondônia.
tribuir para a compreensão da importância es-
tratégica	 das	 unidades	 de	 conservação	 e	 terras	 •	Por fim, a publicação encerra com conclusões
indígenas em nosso Estado e, ao mesmo tempo,           sobre	as	tendências	de	desmatamento	e	outras	
chamar	a	atenção	para	a	atual	realidade	de	de-         formas	de	degradação	ambiental	nas	áreas	pro-
vastação	ambiental	em	que	a	maioria	das	áreas	 tegidas, suas causas e propostas de ação para
protegidas hoje se encontra. Assim, as entidades       assegurar a integridade das florestas que ainda
que	 compõem	 o	 Grupo	 de	 Trabalho	 Amazônico	 resistem	dentro	das	áreas	protegidas.
(GTA) em Rondônia esperam contribuir para o
debate	e	o	diálogo	entre	governo	e	sociedade	so-             Complementando essa publicação, estão
bre	a	situação	alarmante	das	áreas	protegidas	no	 sendo	 disponibilizados	 na	 Internet	 (www.gta.
Estado	e	as	medidas	necessárias	e	urgentes	para	 org.br	 e	 www.tmm.org.br) informações com-
reverter	o	atual	quadro.                              plementares	sobre	a	situação	das	áreas	protegi-
                                                      das em Rondônia, inclusive cópias de denúncias
	        Todas	 as	 informações	 contidas	neste	do- enviadas	 a	 autoridades	 estaduais	 e	 federais	 ao	
cumento	foram	baseadas	em	um	conjunto	de	in- longo	dos	últimos	anos.
formações	que	vão	de	imagens	de	satélites	a	pes-
quisas	de	campo	com	depoimentos	de	lideranças	 	             A	maior	parte	das	informações	apresenta-
comunitárias.	 	 A	 publicação	 foi	 organizada	 da	 das aqui já foi levada ao conhecimento de órgãos
seguinte	forma:	                                      estaduais e federais competentes, principalmen-
                                                      te em documentos de denúncia. Entretanto, os
  •	O	primeiro	capítulo	 apresenta	 considerações	 esforços	 de	 chamar	 a	 atenção	 do	 Poder	 Público	
  iniciais sobre o contexto histórico das áreas pro- para	a	devastação	das	áreas	protegidas	em	Ron-
  tegidas	em	Rondônia	até	os	dias	de	hoje.		          dônia	tem	sido	em	vão.	O	que	se	espera	com	esta	
                                                      publicação	é	um	salto	urgente	do	campo	das	boas	
                                                      intenções	para	o	das	ações	concretas.

                                                        	                         Porto Velho, junho de 2008.
                                                        	
                                                        	                Grupo de Trabalho Amazônico - GTA
                                                                                         Regional Rondônia
10
                                                                       Capítulo 1
                                                                        Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia:
                                                                        Tendências Recentes e Contexto Histórico

                                                                       	       O	 desmatamento	 acumulado	 em	 Ron-                                                  num	 patamar	 mais	 elevado	 que	 outros	 estados	
                                                                       dônia, segundo dados do Instituto Nacional de                                                 da Amazônia Legal, como Pará e Mato Grosso,
                                                                       Pesquisas Espaciais (Inpe), chegou a quase 9 mi-                                              tradicionalmente considerados “campeões do
                                                                       lhões de hectares (89.994 km²) em julho de 2007,                                              desmatamento” (conforme figura 1). Da superfí-
                                                                       o que representa mais de um terço (37,72%) da                                                 cie do estado originalmente coberta por florestas
                                                                       área total do Estado (238.523 km²). O percentu-                                               (202.776 km², ou 85%) estima-se que 44,33% fo-
                                                                       al	de	desmatamento	acumulado	coloca	Rondônia	                                                 ram	desmatados	até	julho	de	20072.	
                                                                                                                                                                     	
                                                                                       Figura 1: Desmatamento acumulado entre estados da Amazônia Legal (até 2007)
                                                                                                                  40%                                                             38%
                                                                                                                  35%
                                                                                        Área Desmatada (%)




                                                                                                                  30%
                                                                                                                  25%
                                                                                                                                                                22%
                                                                                                                  20%                                                     19%

                                                                                                                  15%
                                                                                                                                          12%                                                         11%
                                                                                                                  10%
                                                                                                                           5%                                                              4%
                                                                                                                                                 2%        2%
                                                                                                                           0%
                                                                                                                                          AC     AM        AP   MT         PA     RO       RR          TO
                                                                                                                                                                  Estado
                                                                                                                                                                                             Fonte: Inpe/Prodes
            Capítulo 1 | Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia




                                                                              O desmatamento anual em Rondônia,                                                      mente 3,8 mil km². Seguindo uma tendência ge-
                                                                       conforme demonstrado na figura 2, atingiu os                                                  ral na Amazônia brasileira, houve uma fase de
                                                                       maiores picos nos períodos de 1994/1995, quan-                                                queda nas taxas de desmatamento no estado nos
                                                                       do mais de 4,4 mil km² foram desflorestados e                                                 anos seguintes, chegando a 1.885 km² entre ju-
                                                                       2003/2004, com a devastação de aproximada-                                                    lho	de	2006	e	julho	de	2007.			


                                                                                                                                   Figura 2: Evolução do Desmatamento Anual no Estado de Rondônia
                                                                                                      Taxa do Desmatamento (km²)




                                                                                                                                   5000
                                                                                                                                   4500         Rondônia
                                                                                                                                   4000
                                                                                                                                   3500
                                                                                                                                   3000
                                                                                                                                   2500
                                                                                                                                   2000
                                                                                                                                   1500
OFIMDAFLORESTA?




                                                                                                                                   1000
                                                                                                                                    500
                                                                                                                                      0
                                                                                                                                          77 88 89 90 91 92 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06
                                                                                                                                          88 89 90 91 92 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07
                                                                                                                                                                 Ano
                                                                                                                                                                                          Fonte: Inpe/Prodes



                                                                       2 As informações citadas são do Programa de Avaliação do Desflorestamento na Amazônia Legal – Prodes, que utiliza informações de
                                                                       sensoriamento remoto das satélites Landsat-tm e Cbers. Os dados sobre desmatamento anual referem-se ao período entre 01 de agosto
                                                                       do ano anterior e 30 de julho do ano citado.
A partir do segundo semestre de 2007,                                   e Nova Mamoré se classificaram entre os vinte          11
observa-se	 uma	 tendência	 de	 novo	 aumento	 no	                              municípios	mais	desmatados	na	Amazônia	Legal.	    	
ritmo	 do	 desmatamento	 em	 Rondônia.	 Segundo	                                No último mês de abril, Cujubim entrou nesta
dados do Sistema de Alerta de Desmatamento                                      lista	 de	 campeões	 do	 desmatamento.	 Segundo	
(SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente                                     os cálculos do Sistema de Detecção do Desmata-
da Amazônia (Imazon), foram desmatados 345                                      mento em Tempo Real (Deter) do Inpe, o desma-
km² em Rondônia entre agosto de 2007 e abril de                                 tamento	 em	 Rondônia	 no	 período	 de	 agosto	 de	
2008 (figura 3), aumento de 23% em relação ao                                   2007 a abril de 2008 foi ainda maior, 557 km².
período anterior, julho de 2006 a abril de 2007,                                Somente no mês de abril, foram desmatados 34,6
quando foram derrubados 279 km². No período                                     km² no Estado3.		
entre agosto de 2007 e abril de 2008, Porto Velho                               	

                                  Figura 3: Desmatamento mensal em Rondônia – agosto de 2006 a abril de 2008

                                                    Agosto 2006 - Julho 2007           Agosto 2007- Abril 2008
                                  200
                                  180
             Desmatamento (km²)




                                  160
                                  140
                                  120
                                  100
                                   80
                                   60
                                   40
                                   20
                                    0
                                        AGO   SET     OUT    NOV     DEZ       JAN   FEV   MAR    ABR     MAI       JUN     JUL
                                                                                                                 Fonte: SAD/Imazon



	       A	 criação	 e	 implementação	 de	 Áreas	                                 • duas Áreas de Proteção Ambiental (APAs) cria-
Protegidas	 (Unidades	 de	 Conservação	 e	 Terras	                               das em nível estadual, com uma área total de
Indígenas) na Amazônia Legal têm sido uma es-                                    110.741 hectares (0,1% do Estado);
tratégia eficaz para conservar grandes áreas con-
tíguas de floresta e, assim, contribuir para a ma-                               •	 14	 unidades	 de	 conservação	 de	 proteção	 in-
nutenção de ecossistemas e serviços ambientais,                                  tegral, incluindo quatro Reservas Biológicas




                                                                                                                                                   Capítulo 1 | Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia
como	equilibro	de	sistemas	climáticos	e	regimes	                                 (Rebio), duas federais e duas estaduais; quatro
hidrológicos, conservação da biodiversidade, ati-                                Estações Ecológicas (EE), sendo uma federal e
vidades	econômicas	baseadas	no	uso	sustentável	                                  três estaduais, e seis parques, sendo três Par-
dos	 recursos	 naturais	 renováveis	 e	 a	 qualidade	                            ques	Nacionais	-	Parna	e	três	Parques	Estaduais	
de	vida	de	populações	locais.                                                    (PE), que ocupam um total de 2,4 milhões de
                                                                                 hectares (10% do território estadual); e
        No Estado de Rondônia, o conjunto das
Unidades	de	Conservação	e	Terras	Indígenas	to-                                   • 24 Terras Indígenas (TIs) que ocupam um total
taliza 89.916 km² ou 38% do Estado, incluindo as                                 de 49.660,48 km² (20,82% da área do Estado).
seguintes áreas (Mapa 1):
                                                            No âmbito da legislação estadual sobre o
 • quatro Reservas Extrativistas (Resex) cria-       zoneamento sócio-econômico-ecológico em Ron-
 das pelo Governo Federal, com área total de         dônia (Lei Estadual no. 233/00), foi definida uma
 738.173 hectares, e 21 Resex estaduais que so-      outra categoria de área protegida, as “Áreas de
 mam 967.084 hectares, totalizando 1.705.257         Uso Especial” (zona 2), destinadas à “conserva-
 hectares (7,15% do Estado);                         ção dos recursos naturais, passíveis de uso sob
                                                                                                                                       OFIMDAFLORESTA?




                                                     manejo sustentável (Artigo 8º)”, inclusive para
 • quatro Florestas Nacionais (Flona) com fins de criação de novas unidades de conserva-
 704.038	 hectares	 e	 11	 Florestas	 Estaduais	 de	 ção, que ocupam uma área total de 34.834 km²
 Rendimento Sustentado (Fers), com 267.250 (14,6% do Estado).
 hectares, totalizando 4,07% do Estado;


3 Para a descrição das metodologias do SAD e Deter, veja Imazon (2008) e Inpe (2008).
12                                                                             No território ocupado por Unidades de                   O desmatamento em Rondônia, nas úl-
                                                                       Conservação e Terras Indígenas existentes em           timas décadas, tem se concentrado ao longo
                                                                       Rondônia, o desmatamento atingiu 2.485 km²             da	 BR-	 364	 e	 outras	 rodovias	 como	 a	 BR-429	 e	
                                                                       (3% do total) até julho de 2007. O percentual          BR-421, que têm servido como eixos da expan-
                                                                       contrasta	 com	 os	 percentuais	 de	 desmatamen-       são	 de	 atividades	 agropecuárias	 e	 madeireiras.	 	
                                                                       to	 acumulado	 no	 Estado	 de	 Rondônia	 como	 um	     No território ocupado por assentamentos rurais
                                                                       todo: 37,72%. Os dados atestam que num estado          criados pelo Incra até 2005, por exemplo, o des-
                                                                       como Rondônia, onde mais de um terço da cober-         matamento alcançou 74,5% em julho de 2007.
                                                                       tura vegetal original já se encontra desmatado,        Hoje, nas áreas de fronteira mais antiga, muni-
                                                                       as	Áreas	Protegidas	desempenham	papel	essen-           cípios	 como	 Rolim	 de	 Moura	 tem	 mais	 de	 90%	
                                                                       cial	na	conservação	de	grandes	áreas	contíguas	        de sua superfície desmatada. Nesse cenário, as
                                                                       de floresta.                                           áreas protegidas têm servido, de modo geral,
                                                                       	                                                      como uma espécie de barreira à devastação de
                                                                                                                              grandes áreas de floresta no Estado (Mapa 1).

                                                                                       Mapa 1: Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia (situação em 2007)
            Capítulo 1 | Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia




                                                                       	       As	 Terras	 Indígenas	 e	 Unidades	 de	 Con-   ra, que geralmente não aparecem nos dados ofi-
OFIMDAFLORESTA?




                                                                       servação em Rondônia têm se tornado, cada              ciais	 sobre	 o	 desmatamento	 da	 Amazônia.	 Nos	
                                                                       vez mais, alvos ameaçados pelo desmatamento            anos recentes, uma tendência marcante tem sido
                                                                       ilegal. Além disso, essas áreas protegidas têm         o	 deslocamento	 de	 frentes	 de	 desmatamento	 e	
                                                                       sofrido intensas pressões de outros ilícitos, es-      exploração madeireira de áreas antigas de ocu-
                                                                       pecialmente a exploração clandestina de madei-         pação ao longo da BR-364, onde foi devastada a
grande maioria das florestas, em direção às uni-   mil hectares na Flona Bom Futuro (32%) e 37,5   13
dades de conservação, terras indígenas e outras    mil hectares na Resex Jaci-Paraná (20%). Se-
áreas	protegidas	pelo	zoneamento	estadual.         gundo dados do Imazon (2008), entre agosto de
                                                   2007 e abril de 2008, foram desmatados 3.807
       Dois casos extremamente alarmantes do hectares	na	Flona	Bom	Futuro	e	3.026	hectares	
desmatamento	recente	entre	as	áreas	protegidas	 na Resex Jaci-Paraná, o que as torna campeãs de
em	 Rondônia	 são	 a	 Floresta	 Nacional	 de	 Bom	 desmatamento	entre	as	UCs	da	Amazônia	Legal	
Futuro e a Reserva Extrativista Estadual de Jaci- no período (Mapa 2).
Paraná, que ocupam 249 mil e 191.324 hectares,
respectivamente, na região do Rio Candeias,               Na Figura 4, são apresentados os dez
afluente do Rio Madeira. Segundo o Ministério casos	 mais	 graves	 de	 desmatamento	 dentro	 de	
Público de Rondônia, foram desmatados mais de UCs e TIs em Rondônia até julho de 2007, em
60	mil	hectares	nas	duas	unidades	somente	en- que	destacam-se	os	casos	da	Flona	Bom	Futuro	e	
tre 2003 e 2006. Até julho de 2007, calcula-se Resex Jaci-Paraná,
que o desmatamento cumulativo chegou a 78,8



          Mapa 2: Evolução do Desmatamento na Flona Bom Futuro e Resex Estadual Jaci-Paraná




                                                                                                               Capítulo 1 | Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia
                                                                                                   OFIMDAFLORESTA?
1
                                                                                                Figura 4: Áreas Protegidas mais desmatadas de Rondônia (julho de 2007)
                                                                                                                                      Desmatamento
                                                                                                                                                           % Área      Taxa média anual
                                                                                          Categoria                   Área (km²)     até julho de 2007
                                                                                                                                                          Desmatada      (2002-2007)
                                                                                                                                            (km²)
                                                                            Flona Bom Futuro                            2.490               788               32              4.34
                                                                            Resex Jaci Parana                           1.913               375               20              3.74
                                                                            Resex Ouro Preto                            2.045               164               8               0.49
                                                                            TI Uru-eu-wau-wau                           8.363               160               2               0.10
                                                                            Rebio Jaru                                  2.681               106               4               0.50
                                                                            Flona Jamari                                2.258               78                3               0.07
                                                                            TI Igarapé Lage                             1.086               58                5               0.13
                                                                            TI Igarapé Lourdes                          1.870               41                2               0.05
                                                                            Resex Cautário (estadual)                   1.443               40                3               0.17
                                                                            TI Rio Mequens                              1.066               38                4               0.04
                                                                                                                                                                                Fonte: Imazon


                                                                       	        No	 conjunto	 das	 Unidades	 de	 Conserva-                 lação às “Áreas de Uso Especial” (zona 2) do zo-
                                                                       ção	 e	 Terras	 Indígenas	 em	 Rondônia	 (conforme	                 neamento estadual, o desmatamento acumulado
                                                                       figuras 5 e 6), o desmatamento mais intensivo                       chegou ao índice alarmante de 3.468 km² (13.7%
                                                                       tem ocorrido nas UCs de uso sustentável (Resex,                     de área total) em junho de 2007, acompanhado
                                                                       Florestas de Manejo, APAs) tanto nas áreas fe-                      por elevadas taxas médias anuais entre 2002 e
                                                                       derais (11,2%) como estaduais (4,2%). Com re-                       2007 (2,17%).



                                                                                           Figura 5: Desmatamento acumulado em Rondônia, por categoria (até julho de 2007)
                                                                                                                                 Área                                 Percentagem média anual
                                                                                                                                         Área Desmatada   % Área
                                                                                           Categoria                           Ocupada                                 de desmatamento entre
                                                                                                                                          até 2007 (km2) Desmatada
                                                                                                                                (km2)                                        2002 e 2007
                                                                       Assentamentos de Reforma Agrária                          41784            31122        74.5             1.71
                                                                       Unidades de Conservação de Uso Sustentável                25454            1725         6.8              0.89
                                                                       Unidades de Conservação de Proteção Integral              27104            182          0.7              0.07
                                                                       Terras Indígenas                                          41257            578          1.4              0.06
            Capítulo 1 | Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia




                                                                       Áreas de Uso Especial (zona 2)                            25362            3468         13.7             1.55
                                                                       Outras áreas do Estado                                    77562            45231        58.3             2.17
                                                                       TOTAL                                                    238523           82287        34.4              1.28
                                                                                                                                                                                       Fonte: Imazon




                                                                                            Figura 6: Desmatamento acumulado em Unidades de Conservação, por categoria
                                                                                                                                                                      Percentagem média anual
                                                                                                               Área Ocupada Área Desmatada até  % Área
                                                                                    Categoria                                                                          de desmatamento entre
                                                                                                                   (km2)        2007 (km2)     Desmatada
                                                                                                                                                                           2002 e 2007 (%)
                                                                       UCs Federais - Proteção Integral                9876                 6                0.1               0.001
                                                                       UCs Estaduais - Proteção Integral               17228               176               1.0                0.11
                                                                       UCs Federais - Uso Sustentável                  9245                1038             11.2                1.30
                                                                       UCs Estaduais - Uso Sustentável                 16209               688               4.2                0.65
                                                                       TOTAL                                          52558               1908              3.6                0.46
OFIMDAFLORESTA?




                                                                                                                                                                                       Fonte: Imazon
Contexto Histórico                                                   deslancharam um processo explosivo de migração                        1
das Áreas Protegidas em Rondônia                                     e expansão de frentes agropecuárias e madeireiras
                                                                     em Rondônia, com profundos impactos sobre as
                                                                     florestas, povos indígenas e outras populações tra-
	        Para	 compreender	 melhor	 as	 tendências	                  dicionais da região, tipicamente enxergadas como
recentes	 do	 desmatamento	 e	 outros	 problemas	                    “obstáculos” ao progresso5.
socioambientais	 nas	 áreas	 protegidas	 em	 Ron-                    	
dônia, vale analisar o seu contexto histórico, re-                           Quando o povo indígena Paiter (Surui) foi
montando, sobretudo, às décadas de 1960 e 1970,                      contatado	 inicialmente	 pela	 Fundação	 Nacional	
quando o então Território Federal surgiu como                        do Índio (Funai) em 1969, sua população era es-
uma importante “fronteira pioneira” na Amazônia                      timada	em	800	pessoas.	Como	resultado	de	inva-
brasileira4.	Um	aspecto	fundamental	dessa	trans-                     sões e contatos com posseiros e fazendeiros, na
formação	foi	a	abertura	da	rodovia	Cuiabá-Porto	                     região de Cacoal e Espigão d’Oeste, mais da me-
Velho - BR-364, inicialmente chamada de BR-29 no                     tade	da	população	indígena	morreu	entre	1971	e	
inicio dos anos 60, durante a administração do Pre-                  1974, principalmente por problemas de gripe e
sidente Juscelino Kubitschek. A construção de ro-                    sarampo (Mindlin 1985, Cardozo 2000). Quando
dovias	no	interior	do	País	fazia	parte	de	objetivos	                 a terra indígena Sete de Setembro foi finalmen-
estratégicos do Governo Federal, voltados para a                     te demarcada em 1976, parte do território Suruí
descentralização da população para o interior, a                     foi excluída para beneficiar colonos assentados
expansão de mercados para indústrias de bens de                      erroneamente	pelo	Incra	e	fazendeiros	que	inva-
consumo	do	Centro-Sul	e	o	acesso	a	matérias-pri-                     diram seu território.
mas	para	a	industrialização	nacional	baseada	na	
substituição	de	importações.	                                Em 1979, foi criado o primeiro Parque Na-
                                                     cional no então Território Federal de Rondônia:
        O Governo Federal criou, em 1961, as pri- o Parque Nacional Pacaas Novos, com 764.801
meiras	 unidades	 de	 conservação	 em	 Rondônia:	 a	 hectares. Posteriormente, foi constatado que o
Reserva Florestal Jaru e a Reserva Florestal Pe- parque foi sobreposto ao território ocupado tra-
dras Negras. A categoria de “reserva florestal” dicionalmente	 pelo	 povo	 indígena	 Uru-eu-wau-
nunca	 foi	 claramente	 regulamentada	 na	 legisla- wau, na época um grupo isolado.
ção	brasileira	e	essas	áreas	foram	posteriormente	
transformadas nas Reservas Biológicas Federais
Jaru e Guaporé em 1979 e 1982, respectivamente. Polonoroeste e áreas
                                                                     protegidas em Rondônia
         No inicio dos anos 1970, em pleno regime




                                                                                                                                                       Capítulo 1 | Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia
militar, o Governo Federal lançou uma série de me-
didas ambiciosas, inspiradas numa geopolítica que                           A pavimentação da BR-364, entre Cuia-
visava à ocupação de um suposto “vazio demográfi-                    bá e Porto Velho, no inicio dos anos 1980, foi
co” na Amazônia, sob o lema nacionalista “integrar                   o objetivo principal do Polonoroeste, programa
para	não	entregar”.		A	principal	medida	foi	a	cria-                  de desenvolvimento regional financiado com
ção	pelo	Incra	(Instituto	Nacional	de	Colonização	e	                 empréstimos	 do	 Banco	 Mundial.	 Outros	 compo-
Reforma Agrária) de projetos de colonização, vol-                    nentes do Polonoroeste visavam à consolidação
tados para agricultores migrantes do Centro-Sul,                     de projetos existentes de colonização, a criação
nos eixos da recém-construída rodovia Transama-                      de novos projetos de assentamento, regulariza-
zônica (BR-230) no Pará e da BR-364, em Rondô-                       ção	fundiária	e	melhorias	nos	serviços	de	saúde.	 	
nia. Logo em seguida, o Incra lançou uma série de                    Como	 resultado	 das	 negociações	 entre	 o	 Banco	
medidas	voltadas	para	atrair	grandes	pecuaristas	                    Mundial e Governo Federal, foram incluídos no
e outros empreendedores para a Amazônia, envol-                      programa:	um	componente	de	proteção	do	meio	
vendo a concessão de terras a preços simbólicos                      ambiente, visando à implantação de unidades
e generosos incentivos fiscais. Estas intervenções                   federais de conservação, fiscalização, e apoio a
                                                                                                                                           OFIMDAFLORESTA?




4 No caso dos povos indígenas, as perdas de territórios, os impactos devastadores de doenças e a escravidão começaram nos séculos 17
e 18, com os bandeirantes que desceram os rios Guaporé, Mamoré e Madeira e as expedições portuguesas que subiram o Rio Madeira a
partir de Belém. Nas primeiras décadas do século XX, o Serviço de Proteção ao Índio (SPI) fez os primeiros contatos com grupos indígenas
isolados ao longo da linha telegráfica aberta pela Comissão Rondon.
5 Segundo estimativas oficiais, a população humana em Rondônia aumentou de 113 mil para cerca de 500 mil entre 1970 e 1980, numa
taxa média anual de 15,8%. No restante do País, o aumento ficou na casa dos 2,48%. Além de pequenos agricultores, a expansão da
fronteira em Rondônia atraiu uma variedade de outros grupos sociais e econômicos: comerciantes, profissionais liberais, pecuaristas,
madeireiros, garimpeiros, mineradoras etc.
6 No âmbito do Polonoroeste, foram criadas a Reserva Biológica Guaporé em 1982 e a Floresta Nacional de Bom Futuro em 1988. Além
disso, foram elaborados planos de manejo e construídas instalações físicas em beneficio do PARNA Pacaas Novos, REBIO Jaru e REBIO O
Guaporé. Também foram investidos recursos em infra-estrutura física na Estação Ecológica Cuniã, embora essa última não fosse decretada
oficialmente na época (Rondônia 1999).
16                                                                     pesquisa ecológica6	e	um	componente	de	apoio	a	                       Planafloro, zoneamento e áreas
                                                                       comunidades indígenas, objetivando a regulari-                        protegidas em Rondônia
                                                                       zação e demarcação de terras, assim como ativi-
                                                                       dades de apoio à saúde e educação entre comu-
                                                                       nidades	indígenas7.                                                            Na segunda metade dos anos 80, o Go-
                                                                                                                                             verno de Rondônia, com apoio do Banco Mun-
                                                                       	       O	asfaltamento	da	rodovia	BR-364	entre	                       dial, iniciou a elaboração do Plano Agropecuário
                                                                       Cuiabá	 e	 Porto	 Velho	 foi	 inaugurado	 antes	 do	                  e Florestal de Rondônia (Planafloro). Para o go-
                                                                       previsto, em setembro de 1984. A execução do                          verno estadual, o principal interesse no projeto
                                                                       Polonoroeste foi marcada por problemas graves,                        era a manutenção do fluxo de recursos externos
                                                                       como a intensificação de fluxos migratórios, ta-                      do Banco após o encerramento do Polonoroeste.
                                                                       xas alarmantes de desmatamento, desistência de                        Para o Banco Mundial, um novo projeto em Ron-
                                                                       famílias assentadas em projetos de colonização,                       dônia	 representava	 a	 oportunidade	 de	 reverter	
                                                                       associados à concentração fundiária e expansão                        os problemas sócio-ambientais causados pela ex-
                                                                       da pecuária como uso predominante das terras,                         pansão	 ‘desordenada’	 da	 fronteira	 que	 acompa-
                                                                       invasões	 de	 áreas	 indígenas	 e	 unidades	 de	 con-                 nharam a execução do Polonoroeste, e ao mesmo
                                                                       servação	e	o	crescimento	desordenado	de	garim-                        tempo, reparar os danos à sua imagem pública9.	
                                                                       pos	e	áreas	urbanas.		Um	dos	principais	desvios	                      	
                                                                       do	Polonoroeste	foi	o	desequilíbrio	entre	a	rápida	                            Nesse contexto, o desenho do Planafloro
                                                                       implantação	de	obras	de	infra-estrutura	de	trans-                     foi pautado num plano estadual de “zoneamen-
                                                                       portes e a baixa implementação dos componen-                          to sócio-econômico-ecológico” que teria como
                                                                       tes de proteção ambiental e apoio às comunida-                        objetivos:	consolidação	de	áreas	já	ocupadas	na	
                                                                       des	indígenas.	                                                       fronteira agropecuária em bases sustentáveis,
                                                                                                                                             principalmente nos assentamentos existentes no
                                                                                Em meados dos anos 1980, o Polonoro-                         eixo da BR-364, priorizando o apoio a pequenos
                                                                       este	 se	 tornou	 alvo	 de	 fortes	 críticas	 de	 ONGs	               agricultores	 (inclusive	 como	 forma	 de	 reduzir	
                                                                       brasileiras	e	internacionais	sobre	desvios	na	sua	                    pressões	sobre	unidades	de	conservação	e	outras	
                                                                       implementação	e	em	relação	ao	papel	do	Banco	                         áreas legalmente protegidas) e a adoção de es-
                                                                       Mundial. Em março de 1985, o Banco suspendeu                          tratégias	diferenciadas	de	conservação	e	manejo	
                                                                       os desembolsos para o programa, que só foram                          dos	recursos	naturais	em	outras	áreas	do	Estado	
                                                                       retomados	 com	 o	 início	 da	 demarcação	 da	 Ter-                   (florestas de produção florestal sustentada, Re-
                                                                       ra Indígena Uru-eu-wau-wau, uma das principais                        servas Extrativistas, unidades de conservação de
                                                                       áreas sujeitas a invasões por madeireiros, gri-                       proteção integral , proteção de áreas indígenas
                                                                       leiros	 e	 posseiros	 em	 Rondônia8. Mesmo assim,                     etc). Cabe ressaltar que uma questão estratégi-
            Capítulo 1 | Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia




                                                                       os	principais	problemas	socioambientais	do		Po-                       ca, relacionada aos dois objetivos do zoneamento
                                                                       lonoroeste	 persistiram	 até	 o	 seu	 encerramento.	  	               estadual, é o fortalecimento de cadeias produti-
                                                                       Em 1987, durante o lançamento de um progra-                           vas, associadas às atividades econômicas com
                                                                       ma de reformas ambientais no Banco Mundial, o                         sustentabilidade ambiental, inclusão social e res-
                                                                       então	presidente	Barber	Conable	admitiu	que	o	                        peito à diversidade cultural.
                                                                       Polonoroeste representava “um esforço ambien-
                                                                       talmente	 correto	 que	 deu	 errado.	 O	 Banco	 não	                           Em 1987-1988, uma equipe técnica do
                                                                       enxergou as realidades humanas, institucionais                        Governo de Rondônia, com apoio de consultores
                                                                       e	físicas	da	selva	e	da	fronteira.	Medidas	de	pro-                    da	FAO	(Organização	das	Nações	Unidas	para	a	
                                                                       teção	 de	 terras	 frágeis	 e	 populações	 indígenas	                 Alimentação e a Agricultura) e do Banco Mun-
                                                                       foram incluídas, mas não foram implementadas                          dial, finalizou a elaboração do mapa da “primei-
                                                                       em	tempo	ou	monitoradas	adequadamente.”                               ra aproximação” do zoneamento sócioeconômi-
                                                                                                                                             co-ecológico (ZSEE) de Rondônia, na escala de
                                                                                                                                             1:1.000.000.	 O	 mapa	 dividiu	 o	 estado	 em	 seis	
                                                                                                                                             “zonas”, cada uma com diretrizes específicas so-
                                                                                                                                             bre	a	ocupação	e	uso	dos	recursos	naturais10.
OFIMDAFLORESTA?




                                                                       7 O orçamento do Polonoroeste foi estimado inicialmente em US$ 1,55 bilhões, dos quais mais de 50% dos recursos financeiros foram
                                                                       destinados ao setor de transportes. Em contraste, os componentes ambiental e indígena receberam 2,5% e 1,4%, respectivamente, dos
                                                                       recursos financeiros do programa. O componente indígena foi excluído dos empréstimos do Banco, por insistência do governo federal.
                                                                       Até 1984 o Banco havia aprovado seis empréstimos no valor total de US$ 443,4 milhões para o Polonoroeste, cerca de 34% do orçamento
                                                                       total do programa.
                                                                       8 Os conflitos entre indígenas e colonos assentados erroneamente pelo Incra na Gleba Burareiro não foram resolvidos e persistem até hoje.
                                                                       9 O empréstimo do Banco Mundial para o Planafloro, no valor de US$ 167 milhões, foi aprovado pelos diretores executivos em março de
                                                                       1992. A assinatura dos acordos contratuais ocorreu em setembro de 1992. O Banco declarou a efetividade do empréstimo, com um prazo
                                                                       inicial de quatro anos, em janeiro de 1993 e os primeiros desembolsos se iniciaram em junho daquele ano.
                                                                       10 A primeira aproximação do zoneamento foi baseada, principalmente, em levantamentos existentes sobre o meio físico e biótico (p.ex.
                                                                       Radambrasil, Embrapa/Sncls), imagens de sensoriamento remoto (Landsat-TM) e mapas da situação fundiária de Rondônia.
O mapa da primeira aproximação do                                • Florestas Estaduais Extrativistas Rio Preto-Ja-                17
zoneamento sócio-econômico-ecológico foi ins-                            cundá, Pacaas Novos e Laranjeiras;
tituindo	 formalmente	 14	 de	 junho	 de	 1988	 por	
meio do Decreto 3.782. Em seguida, uma revisão                           •	Florestas	Estaduais	de	Rendimento	Sustenta-
da	 Constituição	 Estadual	 de	 1989	 determinou	                        do (Fers) Abunã, Rio Machado, Rio Madeira A e
a institucionalização do ZSEE, por meio da Lei                           C, Rio Mequens, Rio São Domingos, Rio Roose-
Complementar nº 52 de 20/12/9111.                                        velt, Rio Vermelho (A, B, C e D); e

        No contexto de negociações sobre a “ins-                         • as Áreas de Proteção Ambiental (APAs) Rio
titucionalização”	do	zoneamento	e	o	empréstimo	                          Madeira	e	Cuniã.
do Planafloro, várias unidades estaduais de con-                     	
servação	 foram	 decretadas	 pelo	 Governador	 de	                           A criação de UCs estaduais, foi conside-
Rondônia, especialmente entre 1989 e 1991. As                        rada	 pelo	 Banco	 Mundial	 uma	 condição	 básica	
unidades	 de	 conservação	 estaduais	 criadas	 em	                   para	o	início	do	desembolso	de	recursos	do	em-
Rondônia neste período (mapa 3), com base na                         préstimo para o Planafloro12.	 No	 componente	
primeira aproximação do zoneamento, incluíam:                        “Conservação, Manejo e Proteção Ambiental” do
                                                                     Planafloro, foram alocados recursos para apoiar
 • Parques Estaduais Guajará-Mirim, Corumbia-                        a	implantação	das	unidades	estaduais	de	conser-
 ra, Serra dos Parecis, e Candeias;                                  vação, contemplando atividades como a elabora-
 • Reservas Biológicas de Ouro Preto e Traçadal;                     ção de planos de manejo, sinalização e demarca-
 • Estações Ecológicas de Samuel e Serra dos                         ção, infra-estrutura física e vigilância.
 Três Irmaõs,                                                        	


              Mapa 3: Unidades de Conservação estaduais criadas no marco da primeira aproximação
                             do zoneamento sócio-econômico-ecológico de Rondônia




                                                                                                                                                      Capítulo 1 | Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia
                                                                                                                                          OFIMDAFLORESTA?




11 Nos acordos contratuais do PLANAFLORO, previu-se ainda a implementação de um programa de “reformas institucionais”, visando a
compatibilização de políticas públicas setoriais e programas de investimentos públicos com as diretrizes do zoneamento sócio-econômico-
ecológico.
12 Na revisão da Constituição Estadual de 1989, o Poder Executivo ficou autorizado a criar uma série de unidades estaduais de
conservação de uso direto e indireto, citadas nominalmente nos artigos 18, 20 e 21 das Disposições Transitórias.
18                                                                               Durante a primeira metade dos anos                        como	 unidades	 de	 conservação.	 Como	 haviam	
                                                                       1990, a implementação das unidades estaduais                        diversas pendências nesse sentido, tal ato aca-
                                                                       de	 conservação	 em	 Rondônia	 demonstrou	 uma	                     bou	legitimando	a	descaracterização	de	diversas	
                                                                       série de entraves e desvios, destacando-se:                         unidades estaduais de conservação, tais como
                                                                       	                                                                   as	 Florestas	 Estaduais	 de	 Rendimento	 Susten-
                                                                         •	 falta	 de	 arcabouço	 legal	 consistente	 com	 a	              tado (Fers) Candeias Mequéns, São Domingos,
                                                                         clara definição de procedimentos operacionais                     Rio Vermelho B e C, e Roosevelt, assim como os
                                                                         e	responsabilidades	institucionais	para	orientar	                 Parques Estaduais Serra dos Parecis, Candeias e
                                                                         a implementação de UCs estaduais, como regu-                      Roosevelt.		A	iniciativa	foi	respaldada	pelo	Ban-
                                                                         larização fundiária, planos de manejo, monito-                    co Mundial, que desconsiderou as exigências dos
                                                                         ramento, vigilância etc13.                                        acordos contratuais do Planafloro sobre a manu-
                                                                                                                                           tenção	destas	áreas.
                                                                        •	incompatibilidade	da	política	fundiária	do	In-
                                                                        cra, que desconsiderava as unidades de conser-                            No ano de 2000, foi aprovada a Lei Com-
                                                                        vação	estaduais	e	o	Zoneamento	Socioeconômi-                       plementar no. 233 de 06/06/00, que instituiu o
                                                                        co-Ecológico em procedimentos de titulação de                      mapa da “segunda aproximação do zoneamento”
                                                                        áreas ocupadas por posseiros e fazendeiros, que                    (Figura 5), baseado em estudos técnicos contra-
                                                                        consideravam	 o	 desmatamento	 e	 implantação	                     tados com recursos do empréstimo do Planaflo-
                                                                        de pastagens artificiais como “benfeitorias”, e                    ro, que chegaram a custar US$ 19,5 milhões. A
                                                                        até na criação de assentamentos rurais;                            segunda aproximação do zoneamento dividiu o
                                                                                                                                           Estado	em	três	zonas.		
                                                                        • aprovação do Ibama de planos de manejo flo-
                                                                        restal (produtos madeireiros), sem considerar as                   •	Zona 1: “áreas de uso agropecuário e florestal”,
                                                                        orientações do zoneamento e UCs estaduais; e                       com 120.310,48 km², equivalentes a 50,45% da
                                                                        	                                                                  área total do Estado, divididas em quatro sub-zo-
                                                                        •	demarcações	contratadas	pelo	Instituto	de	Ter-                   nas, conforme as potencialidades de solos e ou-
                                                                        ras de Rondônia (Iteron), com recursos do em-                      tros recursos naturais, situação de ocupação,
                                                                        préstimo do Planafloro que não respeitavam os
                                                                        limites	 das	 unidades	 estaduais	 de	 conservação.	
                                                                                                                           	               •	 Zona 2: “áreas de uso especial”: abrangendo
                                                                        Em vários casos, foram excluídas posses com títu-                  34.834,42 km², equivalentes a 14,60 % da área
                                                                        los precários, documentos concedidos irregular-                    total do Estado, destinada à conservação dos re-
                                                                        mente pelo Incra, e áreas de simples grilagem de                   cursos naturais, passíveis de uso sob manejo sus-
                                                                        terras e objeto de exploração madeireira ilegal.                   tentável; e
            Capítulo 1 | Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia




                                                                               Na primeira metade dos anos 1990, di-                       •	 Zona 3: “áreas institucionais”, totalizando
                                                                       versas	 unidades	 de	 conservação	 estaduais	 tive-                 83.368 km² (34,95% do Estado) compostas de
                                                                       ram	 seus	 limites	 reduzidos	 por	 decretos	 do	 Go-               UCs de Uso Sustentável (sub-zona 3.1), UCs de
                                                                       vernador	 ou	 por	 leis	 estaduais	 aprovadas	 pela	                Proteção Integral (sub-zona 3.2) e Terras Indíge-
                                                                       Assembléia Legislativa, inclusive para respaldar                    nas (sub-zona 3.3);
                                                                       demarcações	 	 equivocadas	 realizadas	 pelo	 Ite-
                                                                       ron. Em nenhum caso, a redução dos limites de          A lei da segunda aproximação do zonea-
                                                                       UCs	estaduais	se	embasou	em	estudos	e	debates	  mento adotou uma estratégia semelhante à Lei
                                                                                                                       Complementar no. 152/96, ou seja: foram trans-
                                                                       transparentes	 sobre	 interesses	 a	 serem	 atendi-
                                                                       dos	e	medidas	necessárias	para	promover	o	ma-   formadas	 em	 zonas	 agropecuárias	 as	 UCs	 esta-
                                                                       nejo de recursos naturais nas áreas excluídas, eduais não-demarcadas, que tinham sido efetiva-
                                                                       tampouco	melhorias	na	gestão	da	área	remanes-   mente	 abandonadas	 pelo	 Governo	 de	 Rondônia	
                                                                       cente	da	respectiva	UC.                         (mapa 4)14. Assim, adotou-se uma política de le-
                                                                                                                       gitimação de ocupações irregulares e ilegais, im-
                                                                               Em meados de 1996, a Assembléia Legis- pulsionadas por políticas contraditórias e a omis-
                                                                       lativa	de	Rondônia	aprovou	a	Lei	Complementar	 são generalizada de órgãos ambientais. Nos dois
OFIMDAFLORESTA?




                                                                       no. 152 de 24/06/96, respaldando a titulação de casos (LC 152/96 e LC 233/00) o embasamento
                                                                       posses agropecuárias, autorização de desmata- legal	para	reduzir	e	mesmo	suprimir	unidades	de	
                                                                       mentos e exploração madeireira nas zonas 4 e 5, conservação	 estaduais	 por	 meio	 de	 lei	 estadual	
                                                                       de uso restrito na primeira aproximação do zo- de	zoneamento	nunca	foi	questionado.
                                                                       neamento, nas áreas não criadas e demarcadas


                                                                       13 Essa lacuna começou a ser preenchida somente em 2002, com a aprovação da Lei Estadual no. 1.144 de 12/12/2002 (Sistema Estadual
                                                                       de Unidades de Conservação da Natureza de Rondônia – SEUC/RO), baseado na Lei Federal no. 9.985/00 (Sistema Nacional de Unidades de
                                                                       Conservação - SNUC).
                                                                       14 Essa característica da lei da segunda aproximação do zoneamento contradiz frontalmente o seu artigo 27, que afirma que “ficam
                                                                       ratificados todos os atos estaduais pertinentes à criação e à institucionalização das Unidades de Conservação de uso direto e indireto
                                                                       existentes no Estado”.
Mapa 4: segunda aproximação do zoneamento de Rondônia e áreas protegidas,
                                                                                                             19
                  com identificação de UCs estaduais que sofreram redução ou supressão




                                                                                                                         Capítulo 1 | Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia

         Dentre os impactos das diversas inicia-        Rio Mequens, Rio São Domingos, Rio Roosevelt,
tivas	 de	 redução	 e	 supressão	 de	 UCs	 estaduais	   Rio Vermelho “A”, “B’ e “D”), com um total de
entre 1995 a 2000, destacam-se: a redução de            1.141.819 hectares, representando 77% da área
1.055.000 para 95,3 mil hectares (89%) na área          total originalmente criada. Além disso, a Fers
da Resex Rio Preto-Jacundá; redução de 298 mil          Rio Vermelho “C”, localizada na área de influên-
                                                                                                             OFIMDAFLORESTA?




hectares (31,9%) na área total dos parques esta-        cia prevista para a hidrelétrica de Santo Antônio,
duais, com a supressão total de três deles (Serra       foi	drasticamente	reduzida	pela	Lei	Complemen-
dos Parecis, Roosevelt, Candeias); e supressão          tar no.233/00, de 20.215 para 4.050 hectares.
total	de	oito	Florestas	Estaduais	de	Rendimento	
Sustentado –Fers (Rio Abunã, Rio Madeira “C”,
20                                                                     	        Na	 análise	 das	 tendências	 do	 desmata-    ou suprimidas de UCs estaduais, o desmatamen-
                                                                       mento em áreas protegidas em Rondônia, fica            to cumulativo chegou, em julho de 2007, a 6.201
                                                                       evidente	 o	 impacto	 da	 redução	 e	 supressão	 de	   km², ou 29% da área total! A figura 7 ilustra os
                                                                       unidades estaduais de conservação, por meio de         casos de maior desmatamento em territórios ex-
                                                                       iniciativas do Executivo e Legislativo, que entre      cluídos de unidades estaduais de conservação,
                                                                       1995 e 2003, somaram mais de dois milhões de           que	incluem	casos	ainda	muito	mais	elevados.		
                                                                       hectares (21.119 km²).	 	 Nas	 áreas	 reduzidas	


                                                                                   Mapa 5: Evolução do Desmatamento, Áreas Protegidas em Rondônia, com identificação
                                                                                                    de UCs estaduais que sofreram redução ou supressão
            Capítulo 1 | Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia
OFIMDAFLORESTA?
Figura 7: Áreas excluídas de unidades estaduais de conservação com maiores contribuições para o desmatamento em Rondônia
                                                                                                                                                    21
                               Área                                       Desmatamento na      % desmatada na           Taxa média de
                                          Área Excluída
 Unidade de Conservação       Original                     % Excluída     área excluída até    área excluída (até   desmatamento em área
                                              (km²)
                               (km²)                                       julho/2007 (km²)       julho/2007)        excluída (2003-2007)
Fers do Rio S. Domingos         2674           2674            100               1974                  68                     5.7
Fers do Rio Mequéns             4258           3630            100               1680                  46                     2.1
Resex Rio Preto - Jacundá       10550           953             89               709                   10                     1.9
Fers do Rio Vermelho D        1378           1378            100               405                   31                     5.0
Fers do Rio Roosevelt           279             279            100               152                   53                     2.1
PE Corumbiara                   5860           2993             51               312                   10                     0.3
Fers do Rio Abunã               622             622            100               304                   60                     3.5
Fers do Rio Vermelho B        1530           1204             79               152                   15                     1.5
PE Serra dos Parecis            390             390            100                95                   52                     5.1
Fers do Rio Vermelho C        202             162             80                61                   36                     2.2
PE Guajará-Mirim                2589            422             16                56                   11                     1.2
                                                                                                                                    Fonte: Imazon




     Áreas Protegidas em Rondônia                                          sive para argumentar contra a intensificação de
     no início do século xxI                                               medidas	do	Governo	Federal	de	prevenção	e	con-
                                                                           trole	do	desmatamento	ilegal15.

     	       Cabe	 destacar	 as	 seguintes	 característi- d)	Apesar	das	determinações	da	legislação	fede-
     cas	gerais	da	realidade	das	áreas	protegidas	em	 ral	e	estadual , as unidades de conservação em
                                                                        16


     Rondônia	neste	inicio	de	século:                     Rondônia permanecem, via de regra, em situa-
                                                          ções	precaríssimas	de	implementação.	Há	sérias	
     a) Após a aprovação da lei da segunda aproxima-      deficiências em termos de planejamento estraté-
     ção	do	zoneamento	em	junho	de	2000	(Lei	Com- gico, elaboração e implementação de planos de
     plementar no. 233/00), tem ocorrido novos casos manejo, criação e efetivação de conselhos das
     de	redução	de	unidades	de	conservação	estadu- unidades	e	garantias	de	um	mínimo	de	orçamen-
     ais, novamente sem estudos prévios ou critérios to, recursos humanos capacitados e infra-estru-
     transparentes, a exemplo da segunda redução do tura física. A situação aplica-se especialmente às
     Parque	 Estadual	 de	 Corumbiara	 (veja	 capitulo	 unidades	estaduais	de	conservação.
     4). Conforme demonstrado, tais atos têm impli-
     cações diretas para as taxas de desmatamento                          e) No caso das Reservas Extrativistas e Terras
     em	Rondônia.	                                                         Indígenas, as comunidades tradicionais não têm
     		                                                                    contado	 com	 o	 mínimo	 apoio	 para	 assegurar	 a	




                                                                                                                                                                Capítulo 1 | Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia
     b)	 Em	 várias	 áreas	 inseridas	 na	 Zona	 2	 da	 se-                integridade de seus territórios e a viabilização
     gunda aproximação do zoneamento, destinadas                           de	 atividades	 econômicas	 ambientalmente	 sus-
     ao “uso especial” (inclusive para a criação de                        tentáveis	e	culturalmente	apropriadas.		Enquan-
     novas unidades de conservação) tem ocorrido                           to isso, as populações locais têm sido cada vez
     processos intensos de grilagem e exploração ma-                       mais pressionadas, por parte de políticos, madei-
     deireira ilegal, respaldado por agentes políticos                     reiros e outros agentes econômicos, a “liberar” o
     locais, a exemplo do entorno do Parque Estadual                       acesso	livre	aos	recursos	naturais	e	reduzir	seus	
     Guajará-Mirim	 e	 região	 de	 Abunã.	 No	 caso	 das	                  territórios. Tem ocorrido casos de expulsão de
     glebas de União Bandeirantes e Jacinópolis, in-                       populações	tradicionais	e	até	assassinatos	de	li-
     seridas na zona 2.1, a Assembléia Legislativa do                      deranças	comunitárias.
     Estado	aprovou	a	Lei	Complementar	no.	308	de	
     09/11/2004, transformando áreas ocupadas irre-         f) Em junho de 2004, o Ministério do Meio Am-
     gularmente	sob	o	comando	de	madeireiros	e	gri-         biente	 e	 Governo	 de	 Rondônia	 assinaram	 um	
     leiros em zona agropecuária (subzona 1.3), tam-        acordo	sobre	a	utilização	da	lei	da	segunda	apro-
     bém	sem	estudos	ou	critérios	transparentes.            ximação do zoneamento (Lei Complementar no.
                                                            233/00) para reduzir, para fins de recomposição,
                                                                                                                                                    OFIMDAFLORESTA?




     c)	Apesar	das	reduções	e	supressões	de	UCs	es- a área de reserva legal, para 50% das proprie-
     taduais	 e	 de	 áreas	 da	 zona	 2	 pela	 Lei	 Comple- dades rurais, conforme previsto no artigo 16 do
     mentar no. 233/00, o zoneamento de Rondônia Código Florestal (Lei no. 4771/65, modificada
     continua	 sendo	 utilizado	 pelo	 governo	 estadual	 pela Medida Provisória no. 2.166-67/2001). Um
     e classe política como “marketing verde”, inclu- dos	 compromissos	 assumidos	 pelo	 Governo	 de	


     15 Vale observar que a Lei Complementar no. 233/00 também foi utilizada para flexibilizar o percentual de Reserva Legal em propriedades
     rurais, inicialmente de forma conflitante com o Código Florestal (Lei 4.771/65, alterado pela Medida Provisório 2.166/01).
     16 Lei 9.985/2000 (Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC) e a Lei Estadual no. 1.144 de 12/12/2002 (Sistema Estadual de
     Unidades de Conservação da Natureza de Rondônia – SEUC/RO)
22                                                                     Rondônia neste acordo foi “estruturar o órgão                         i) Existe uma situação generalizada de impuni-
                                                                       ambiental do Estado, fortalecer o Conselho Esta-                      dade dos atos ilegais de desmatamento e explo-
                                                                       dual de Política Ambiental (Consepa) e proceder                       ração	 madeireira	 nas	 unidades	 de	 conservação	
                                                                       a	desintrusão	das	unidades	de	conservação	esta-                       e terras indígenas, facilitada por brechas jurídi-
                                                                       duais, quando da ocorrência de invasões”, o que                       cas	 e	 práticas	 de	 corrupção	 passiva	 e	 ativa	 de	
                                                                       não	ocorreu.                                                          agentes públicos. Estima-se que menos de 5%
                                                                                                                                             do desmatamento e exploração madeireira ilegal
                                                                       g) Em agosto de 2004, uma Ação Civil movida                           em Rondônia têm sido objeto de fiscalização, e
                                                                       pelo Ministério Público (federal e estadual) re-                      um percentual irrisório deste total têm resultado
                                                                       sultou numa liminar da Justiça Federal que de-                        em multas, que tipicamente não são pagas. Além
                                                                       terminou a desintrusão da Flona Bom Futuro,                           disso, é comum juízes liberarem bens apreendi-
                                                                       Parque Estadual de Guajará-Mirim, Resex Jaci-                         dos para os infratores. Recentemente, os confli-
                                                                       Paraná e TI Karipuna, bem com a proibição de                          tos	entre	o	Ibama	e	o	Governo	de	Rondônia	na	re-
                                                                       novos assentamentos, autorizações de desmata-                         alização de atividades de fiscalização ambiental
                                                                       mento e exploração madeireira na região de Vila                       têm se agravado, a exemplo da Operação “Arco
                                                                       Bandeirante e Jacinópolis. Entretanto, a liminar                      do	Fogo”	no	inicio	de	200817.
                                                                       simplesmente não foi cumprida, enquanto a Lei
                                                                       Complementar	no.	308/2004	(conforme	descrito	                         j)	Os	problemas	descritos	nos	dois	itens	anteriores	
                                                                       acima) transformou em zona 01 (subzona 1.3) as                        são	agravados	pela	falta	de	cumprimento	da	legis-
                                                                       áreas de União Bandeirantes e Jacinópolis (ante-                      lação	sobre	a	obrigatoriedade	de	transparência	e	
                                                                       riormente inseridas na sub-zona 2.1).                                 acesso público às informações referentes ao licen-
                                                                                                                                             ciamento de atividades florestais e fiscalização
                                                                       h) Em agosto de 2006, Ibama e Sedam assinaram                         ambiental, especialmente por parte da Sedam18.	
                                                                       um “Termo de Cooperação Técnica para a Gestão
                                                                       Florestal Compartilhada”, onde o Governo Fede-                        k) As expectativas relacionadas à construção das
                                                                       ral	repassou	ao	Governo	de	Rondônia	as	respon-                        hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau no rio Ma-
                                                                       sabilidades	 para	 a	 autorização	 de	 desmatamen-                    deira - cuja Licença Prévia (LP) foi expedida ir-
                                                                       tos e a aprovação de planos de manejo florestal                       regularmente	pelo	IBAMA	em	julho	de	2007	sob	
                                                                       sem	considerar	a	capacidade	institucional	da	Se-                      forte	pressão	política	-	e	o	anúncio	da	reconstru-
                                                                       dam	e	compromisso	político	em	assumir	tais	fun-                       ção	e	pavimentação	da	BR-319	(Porto	Velho-Ma-
                                                                       ções	e	sem	garantir	mecanismos	de	supervisão	e	                       naus) têm contribuido para a intensificação da
                                                                       transparência. Como resultado, práticas irregu-                       grilagem de terras públicas, especulação imobi-
                                                                       lares de aprovação de planos de manejo florestal                      liária, exploração ilegal de madeira e desmata-
                                                                       pela Sedam têm facilitado o “esquentamento” de                        mento, inclusive nas unidades de conservação,
            Capítulo 1 | Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia




                                                                       madeira ilegal, retirada sobretudo de unidades                        áreas	protegidas	da	Zona	2	no	zoneamento	esta-
                                                                       de	conservação	e	terras	indígenas.		                                  dual	e	terras	indígenas19.




                                                                       17 Vale observar que a Lei Complementar no. 233/00 também foi utilizada para flexibilizar o percentual de Reserva Legal em propriedades
                                                                       rurais, inicialmente de forma conflitante com o Código Florestal (Lei 4.771/65, alterado pela Medida Provisório 2.166/01).
OFIMDAFLORESTA?




                                                                       18 Veja: Lei no. 10.650 de 16/04/2003 (informações ambientais); Decreto no. 5.523 de 25/08/05 (fiscalização); Resolução no. 379 CONAMA
                                                                       de 19/10/06 (licenciamento florestal)
                                                                       19 Para mais informações, visite os sites: Instituto Madeira Vivo (www.riomadeiravivo.org), Amigos da Terra - Programa Amazônia
                                                                       (http://amazonia.org.br), ECOA- Ecologia e Ação (www.ecoa.org.br), Movimento dos Atingidos por Barragens (www.mabnacional.org.
                                                                       br), e International Rivers (http://internationalrivers.org).
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Lavras alianza . 28.10.2011
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V encuentro sema luiza chomenko
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O Fim Da Floresta

  • 1.
  • 2. OFIMDAFLORESTA? A Devastação das Unidades de Conservação e Terras Indígenas no Estado de Rondônia Grupo de Trabalho Amazônico - GTA Regional Rondônia Junho de 2008
  • 3. OFIMDAFLORESTA? A Devastação das Unidades de Conservação e Terras Indígenas no Estado de Rondônia Realização Grupo de Trabalho Amazônico - GTA Rondônia Autores e Colaboradores Ana Euler Brent Millikan Edjales Benício de Brito Ivaneide Bandeira Cardozo Jean Pierre Leroy Ludmila Caminha Maria Inês Hargreaves Rogério Vargas Motta Sergio Cunha Silvânio Matias Vânia Alves Verena Glass Mapas e gráficos Rodney Salomão Projeto Gráfico e Diagramação Gustavo Monteiro Apoio Amigos da Terra - Suécia Federação dos Órgãos para Assistência Social e Educacional - FASE Fundação Heinrich Böell Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia - Imazon Projeto Governança Verde, Universidade da Califórnia, Berkeley União Mundial pela Natureza - IUCN Agradecimentos Carlos Souza Jr. Jean Pierre Leroy Marcelo Argueles Mary Allegretti Rodney Salomão E instituições que acreditaram e apoiaram a realização desta publicação O conteúdo desta publicação é da inteira responsabilidade de seus realizadores e não reflete necessariamente opiniões das instituições de apoio.
  • 4. ÍNDICE Prefácio 7 Apresentação 9 1. Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia: Tendências Recentes e Contexto Histórico 10 2. Reservas Extrativistas 2 3. Florestas Nacionais e Estaduais 33 4. Unidades de Conservação de Proteção Integral 38 5. Áreas de Uso Especial (zona 2) 3 6. Terras Indígenas 6 7. Conclusões e Propostas de Ação Referências Bibliográficas 61
  • 5. 6 SIGLAS APA - Área de Proteção Ambiental APP - Área de Preservação Permanente ARPA - Programa Áreas Protegidas da Amazônia CONsEPA - Conselho Estadual de Política Ambiental DETER - Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real EE - Estação Ecológica EIA - Estudo de Impacto Ambiental FAO - Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura FERs - Florestas Estaduais de Rendimento Sustentado FlONA - Floresta Nacional FUNAI - Fundação Nacional do Índio GTA - Grupo de Trabalho Amazônico IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IMAzON - Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária ITERON - Instituto de Terras de Rondônia MPF - Ministério Público Federal OsR - Organização dos Seringueiros de Rondônia PA - Projeto de Assentamento PAC - Programa de Aceleração do Crescimento PAD - Projeto de Assentamento Dirigido PAE - Projeto de Assentamento Agroextrativista PARNA - Parque Nacional PE - Parque Estaduai PIN - Programa de Integração Nacional PlANAFlORO - Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia PMFs - Plano de Manejo Florestal Sustentável REBIO - Reserva Biológica REsEx - Reserva Extrativista RIMA - Relatório de Impacto Ambiental sAD - Sistema de Alerta de Desmatamento sEDAM - Secretaria Estadual de Desenvolvimento Ambiental sIPAM - Sistema de Proteção da Amazônia sNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação sPI - Serviço de Proteção ao Índio TI - Terra Indígena UC - Unidade de Conservação zEE - Zoneamento Econômico-Ecológico zsEE - Zoneamento Socioeconômico-Ecológico
  • 6. 7 Prefácio O desmatamento e as queimadas na Ama- conservação da biodiversidade - enquanto criam zônia têm ocupado novamente as manchetes da oportunidades para atividades econômicas base- imprensa brasileira e internacional. Esse fenô- adas na preservação e uso sustentável dos recur- meno reflete, entre outros fatores, o surto de sos naturais. Além disso, as Terras Indígenas e preocupações no Brasil e no mundo sobre os im- Unidades de Conservação de Uso Sustentável são pactos do aquecimento do clima global. Os des- essenciais para assegurar os direitos dos povos matamentos e queimadas na Amazônia fizeram indígenas e outras populações tradicionais, que com que o Brasil passasse a integrar o quarto dependem da conservação das florestas e dos rios lugar na lista dos principais países responsáveis da Amazônia para o seu sustento. pela emissão de gases de efeito estufa. Além das contribuições para mudanças climáticas globais, A simples criação de Áreas Protegidas no a floresta Amazônica tem um papel fundamental papel, no entanto, não é garantia da conservação na manutenção do regime de chuvas na parte sul da floresta, nem dos direitos das populações que do Continente, aumentando a importância de sua dependem dela para sobreviver. Esta publicação preservação1. demonstra que um dos lugares da Amazônia bra- sileira onde essa realidade é mais evidente é o As preocupações com desmatamento na Estado de Rondônia, onde as Áreas Protegidas Amazônia brasileira aumentaram ainda mais com têm se tornado alvos cada vez mais ameaçados a recente notícia de que, depois de três anos de pelo desmatamento ilegal e outros ilícitos, espe- sucessivas quedas, houve uma retomada nas taxas cialmente a exploração clandestina de madeira. de desmatamento na região, a partir do segundo semestre de 2007. Nas palavras do Governador Enfrentar o problema do desmatamento de Mato Grosso, Blairo Maggi, o “leão adormeci- ilegal na Amazônia brasileira começa com a com- do” do desmatamento amazônico acordou, impul- preensão de suas causas. E nesse sentido, este sionado por fatores como o aumento de preços de relatório traz uma importante contribuição. Os commodities agrícolas e da pecuária. autores, profundos conhecedores de Rondônia, com longos anos de experiência em pesquisas de A maior parte das novas derrubadas na campo e militância nos movimentos socioambien- Amazônia brasileira tem se concentrado nos es- tais, analisam as tendências do desmatamento tados de Mato Grosso e Pará, mas chama a aten- nas áreas protegidas de Rondônia e os fatores ção a elevada perda de florestas no Estado de que impulsionam o desmatamento e exploração Rondônia. Em julho de 2007, o desmatamento ilegal de madeira (e, em alguns casos, recursos acumulado em Rondônia chegou a quase 9 mi- minerais). lhões de hectares (38% da superfície total do Es- tado e 44 % da área originalmente coberta por A publicação demonstra que a devastação florestas) índices entre os mais elevados de todos de áreas protegidas em Rondônia é o reflexo de os estados da Amazônia Legal. Segundo dados uma crise de governança, marcada por interesses do IMAZON, foram desmatados 345 km2 em Ron- privados de grupos políticos e econômicos que se dônia entre agosto de 2007 e abril de 2008, um infiltram nas mais diversas esferas da máquina aumento de 23% em relação ao período anterior governamental, comprometendo o funcionamento (julho de 2006 a abril de 2007). de instituições públicas, os interesses coletivos da sociedade e ao próprio Estado de Direito. Historicamente, a criação e implementa- ção de Áreas Protegidas (Unidades de Conserva- Determinadas alianças “esdrúxulas” do ção e Terras Indígenas) na Amazônia têm se reve- Governo Lula (lembrando as palavras do ex-mi- lado uma estratégia fundamental para conservar nistro das cidades Olívo Dutra) com setores nada grandes áreas contíguas de floresta - contribuin- progressistas do extenso elenco de partidos polí- do assim para a manutenção de ecossistemas, ticos, adotadas em nome da “sustentação políti- o equilíbro climático, regimes hidrológicos e a ca” e “governabilidade” no Congresso Nacional, 1 Desmatamento na Amazônia: O leão Acordou, Uma Análise do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia legal (PPCDAM), Greenpeace, fevereiro de 2008.
  • 7. 8 têm contribuído para o agravamento da crise de Não faltam experiências positivas na governança socioambiental no Estado de Rondô- Amazônia, desenvolvidas pelos mais diversos se- nia. Assim, limitam-se as possibilidades de im- tores da sociedade regional - movimentos sociais, plementação de políticas públicas mais coeren- ONGs, instituições governamentais e empresas tes para o meio ambiente e para a qualidade de privadas. Comprometidas com a sustentabilida- vida de populações locais, sobretudo as que mais de da região, essas iniciativas demonstram que dependem das florestas para sobreviver. é perfeitamente viável o crescimento econômico com eqüidade social, respeito à diversidade cul- Por um lado, o governo federal quer re- tural e conservação da floresta. duzir o desmatamento na Amazônia por meio de iniciativas como a Operação Arco do Fogo, inclusi- A superação definitiva do desmatamen- ve para mostrar ao mundo e aos compradores de to ilegal e a construção de alternativas viáveis exportações agrícolas brasileiras que está agin- de desenvolvimento sustentável na Amazônia do. Por outro, fortalece as alianças conservado- passam necessariamente pelo fortalecimento da ras e um projeto hegemônico de desenvolvimento governança em lugares como Rondônia. O desa- a qualquer custo na Amazônia brasileira - o que fio de fortalecer as instituições públicas e a par- ajuda a entender a recente saída do governo da ticipação cidadã, com transparência e controle Ministra Marina Silva. Para onde vai se inclinar a social, é responsabilidade de toda sociedade bra- balança? O pessimismo predominaria se não fos- sileira. No caso de Rondônia, o primeiro passo é se a esperança trazida por pessoas e instituições ouvir as vozes de pessoas e instituições como as como aquelas vinculadas ao Grupo de Trabalho que nos presenteiam com esta publicação, que Amazônico (GTA) em Rondônia que, mesmo igno- lutam por uma Amazônia com justiça ambiental radas por elites locais e até ameaçadas em deter- e social. Para a floresta, pode ser a derradeira minados momentos, não calam suas vozes. chance. Jean Pierre leroy Assessor da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE)
  • 8. 9 Apresentação A devastação das áreas protegidas em • Os quatro seguintes, analisam a realidade Rondônia implica em uma série de prejuízos: con- atual das principais categorias de áreas prote- flitos sociais, desrespeito aos direitos humanos, gidas em Rondônia: Terras Indígenas, Reservas empobrecimento da biodiversidade, degradação Extrativistas, Florestas Nacionais e Estaduais e de solos, comprometimento de bacias hidrográ- Unidades de Conservação de Proteção Integral. ficas, contribuições para a emissão de gases de Os capítulos incluem exemplos concretos que efeitos estufa e perda de oportunidades econômi- ilustram as realidades locais em Rondônia. cas associadas ao uso sustentável dos recursos naturais. Em outras palavras, prejuízos para a • No capítulo 6, são apresentadas considera- população rondoniense, a sociedade brasileira e ções sobre a situação atual de outra categoria para o nosso planeta. de área protegida no Estado: as “áreas de uso especial” da zona 2, no âmbito do zoneamento Esta publicação tem como finalidade con- sócio-econômico-ecologico de Rondônia. tribuir para a compreensão da importância es- tratégica das unidades de conservação e terras • Por fim, a publicação encerra com conclusões indígenas em nosso Estado e, ao mesmo tempo, sobre as tendências de desmatamento e outras chamar a atenção para a atual realidade de de- formas de degradação ambiental nas áreas pro- vastação ambiental em que a maioria das áreas tegidas, suas causas e propostas de ação para protegidas hoje se encontra. Assim, as entidades assegurar a integridade das florestas que ainda que compõem o Grupo de Trabalho Amazônico resistem dentro das áreas protegidas. (GTA) em Rondônia esperam contribuir para o debate e o diálogo entre governo e sociedade so- Complementando essa publicação, estão bre a situação alarmante das áreas protegidas no sendo disponibilizados na Internet (www.gta. Estado e as medidas necessárias e urgentes para org.br e www.tmm.org.br) informações com- reverter o atual quadro. plementares sobre a situação das áreas protegi- das em Rondônia, inclusive cópias de denúncias Todas as informações contidas neste do- enviadas a autoridades estaduais e federais ao cumento foram baseadas em um conjunto de in- longo dos últimos anos. formações que vão de imagens de satélites a pes- quisas de campo com depoimentos de lideranças A maior parte das informações apresenta- comunitárias. A publicação foi organizada da das aqui já foi levada ao conhecimento de órgãos seguinte forma: estaduais e federais competentes, principalmen- te em documentos de denúncia. Entretanto, os • O primeiro capítulo apresenta considerações esforços de chamar a atenção do Poder Público iniciais sobre o contexto histórico das áreas pro- para a devastação das áreas protegidas em Ron- tegidas em Rondônia até os dias de hoje. dônia tem sido em vão. O que se espera com esta publicação é um salto urgente do campo das boas intenções para o das ações concretas. Porto Velho, junho de 2008. Grupo de Trabalho Amazônico - GTA Regional Rondônia
  • 9. 10 Capítulo 1 Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia: Tendências Recentes e Contexto Histórico O desmatamento acumulado em Ron- num patamar mais elevado que outros estados dônia, segundo dados do Instituto Nacional de da Amazônia Legal, como Pará e Mato Grosso, Pesquisas Espaciais (Inpe), chegou a quase 9 mi- tradicionalmente considerados “campeões do lhões de hectares (89.994 km²) em julho de 2007, desmatamento” (conforme figura 1). Da superfí- o que representa mais de um terço (37,72%) da cie do estado originalmente coberta por florestas área total do Estado (238.523 km²). O percentu- (202.776 km², ou 85%) estima-se que 44,33% fo- al de desmatamento acumulado coloca Rondônia ram desmatados até julho de 20072. Figura 1: Desmatamento acumulado entre estados da Amazônia Legal (até 2007) 40% 38% 35% Área Desmatada (%) 30% 25% 22% 20% 19% 15% 12% 11% 10% 5% 4% 2% 2% 0% AC AM AP MT PA RO RR TO Estado Fonte: Inpe/Prodes Capítulo 1 | Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia O desmatamento anual em Rondônia, mente 3,8 mil km². Seguindo uma tendência ge- conforme demonstrado na figura 2, atingiu os ral na Amazônia brasileira, houve uma fase de maiores picos nos períodos de 1994/1995, quan- queda nas taxas de desmatamento no estado nos do mais de 4,4 mil km² foram desflorestados e anos seguintes, chegando a 1.885 km² entre ju- 2003/2004, com a devastação de aproximada- lho de 2006 e julho de 2007. Figura 2: Evolução do Desmatamento Anual no Estado de Rondônia Taxa do Desmatamento (km²) 5000 4500 Rondônia 4000 3500 3000 2500 2000 1500 OFIMDAFLORESTA? 1000 500 0 77 88 89 90 91 92 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 88 89 90 91 92 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 Ano Fonte: Inpe/Prodes 2 As informações citadas são do Programa de Avaliação do Desflorestamento na Amazônia Legal – Prodes, que utiliza informações de sensoriamento remoto das satélites Landsat-tm e Cbers. Os dados sobre desmatamento anual referem-se ao período entre 01 de agosto do ano anterior e 30 de julho do ano citado.
  • 10. A partir do segundo semestre de 2007, e Nova Mamoré se classificaram entre os vinte 11 observa-se uma tendência de novo aumento no municípios mais desmatados na Amazônia Legal. ritmo do desmatamento em Rondônia. Segundo No último mês de abril, Cujubim entrou nesta dados do Sistema de Alerta de Desmatamento lista de campeões do desmatamento. Segundo (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente os cálculos do Sistema de Detecção do Desmata- da Amazônia (Imazon), foram desmatados 345 mento em Tempo Real (Deter) do Inpe, o desma- km² em Rondônia entre agosto de 2007 e abril de tamento em Rondônia no período de agosto de 2008 (figura 3), aumento de 23% em relação ao 2007 a abril de 2008 foi ainda maior, 557 km². período anterior, julho de 2006 a abril de 2007, Somente no mês de abril, foram desmatados 34,6 quando foram derrubados 279 km². No período km² no Estado3. entre agosto de 2007 e abril de 2008, Porto Velho Figura 3: Desmatamento mensal em Rondônia – agosto de 2006 a abril de 2008 Agosto 2006 - Julho 2007 Agosto 2007- Abril 2008 200 180 Desmatamento (km²) 160 140 120 100 80 60 40 20 0 AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL Fonte: SAD/Imazon A criação e implementação de Áreas • duas Áreas de Proteção Ambiental (APAs) cria- Protegidas (Unidades de Conservação e Terras das em nível estadual, com uma área total de Indígenas) na Amazônia Legal têm sido uma es- 110.741 hectares (0,1% do Estado); tratégia eficaz para conservar grandes áreas con- tíguas de floresta e, assim, contribuir para a ma- • 14 unidades de conservação de proteção in- nutenção de ecossistemas e serviços ambientais, tegral, incluindo quatro Reservas Biológicas Capítulo 1 | Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia como equilibro de sistemas climáticos e regimes (Rebio), duas federais e duas estaduais; quatro hidrológicos, conservação da biodiversidade, ati- Estações Ecológicas (EE), sendo uma federal e vidades econômicas baseadas no uso sustentável três estaduais, e seis parques, sendo três Par- dos recursos naturais renováveis e a qualidade ques Nacionais - Parna e três Parques Estaduais de vida de populações locais. (PE), que ocupam um total de 2,4 milhões de hectares (10% do território estadual); e No Estado de Rondônia, o conjunto das Unidades de Conservação e Terras Indígenas to- • 24 Terras Indígenas (TIs) que ocupam um total taliza 89.916 km² ou 38% do Estado, incluindo as de 49.660,48 km² (20,82% da área do Estado). seguintes áreas (Mapa 1): No âmbito da legislação estadual sobre o • quatro Reservas Extrativistas (Resex) cria- zoneamento sócio-econômico-ecológico em Ron- das pelo Governo Federal, com área total de dônia (Lei Estadual no. 233/00), foi definida uma 738.173 hectares, e 21 Resex estaduais que so- outra categoria de área protegida, as “Áreas de mam 967.084 hectares, totalizando 1.705.257 Uso Especial” (zona 2), destinadas à “conserva- hectares (7,15% do Estado); ção dos recursos naturais, passíveis de uso sob OFIMDAFLORESTA? manejo sustentável (Artigo 8º)”, inclusive para • quatro Florestas Nacionais (Flona) com fins de criação de novas unidades de conserva- 704.038 hectares e 11 Florestas Estaduais de ção, que ocupam uma área total de 34.834 km² Rendimento Sustentado (Fers), com 267.250 (14,6% do Estado). hectares, totalizando 4,07% do Estado; 3 Para a descrição das metodologias do SAD e Deter, veja Imazon (2008) e Inpe (2008).
  • 11. 12 No território ocupado por Unidades de O desmatamento em Rondônia, nas úl- Conservação e Terras Indígenas existentes em timas décadas, tem se concentrado ao longo Rondônia, o desmatamento atingiu 2.485 km² da BR- 364 e outras rodovias como a BR-429 e (3% do total) até julho de 2007. O percentual BR-421, que têm servido como eixos da expan- contrasta com os percentuais de desmatamen- são de atividades agropecuárias e madeireiras. to acumulado no Estado de Rondônia como um No território ocupado por assentamentos rurais todo: 37,72%. Os dados atestam que num estado criados pelo Incra até 2005, por exemplo, o des- como Rondônia, onde mais de um terço da cober- matamento alcançou 74,5% em julho de 2007. tura vegetal original já se encontra desmatado, Hoje, nas áreas de fronteira mais antiga, muni- as Áreas Protegidas desempenham papel essen- cípios como Rolim de Moura tem mais de 90% cial na conservação de grandes áreas contíguas de sua superfície desmatada. Nesse cenário, as de floresta. áreas protegidas têm servido, de modo geral, como uma espécie de barreira à devastação de grandes áreas de floresta no Estado (Mapa 1). Mapa 1: Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia (situação em 2007) Capítulo 1 | Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia As Terras Indígenas e Unidades de Con- ra, que geralmente não aparecem nos dados ofi- OFIMDAFLORESTA? servação em Rondônia têm se tornado, cada ciais sobre o desmatamento da Amazônia. Nos vez mais, alvos ameaçados pelo desmatamento anos recentes, uma tendência marcante tem sido ilegal. Além disso, essas áreas protegidas têm o deslocamento de frentes de desmatamento e sofrido intensas pressões de outros ilícitos, es- exploração madeireira de áreas antigas de ocu- pecialmente a exploração clandestina de madei- pação ao longo da BR-364, onde foi devastada a
  • 12. grande maioria das florestas, em direção às uni- mil hectares na Flona Bom Futuro (32%) e 37,5 13 dades de conservação, terras indígenas e outras mil hectares na Resex Jaci-Paraná (20%). Se- áreas protegidas pelo zoneamento estadual. gundo dados do Imazon (2008), entre agosto de 2007 e abril de 2008, foram desmatados 3.807 Dois casos extremamente alarmantes do hectares na Flona Bom Futuro e 3.026 hectares desmatamento recente entre as áreas protegidas na Resex Jaci-Paraná, o que as torna campeãs de em Rondônia são a Floresta Nacional de Bom desmatamento entre as UCs da Amazônia Legal Futuro e a Reserva Extrativista Estadual de Jaci- no período (Mapa 2). Paraná, que ocupam 249 mil e 191.324 hectares, respectivamente, na região do Rio Candeias, Na Figura 4, são apresentados os dez afluente do Rio Madeira. Segundo o Ministério casos mais graves de desmatamento dentro de Público de Rondônia, foram desmatados mais de UCs e TIs em Rondônia até julho de 2007, em 60 mil hectares nas duas unidades somente en- que destacam-se os casos da Flona Bom Futuro e tre 2003 e 2006. Até julho de 2007, calcula-se Resex Jaci-Paraná, que o desmatamento cumulativo chegou a 78,8 Mapa 2: Evolução do Desmatamento na Flona Bom Futuro e Resex Estadual Jaci-Paraná Capítulo 1 | Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia OFIMDAFLORESTA?
  • 13. 1 Figura 4: Áreas Protegidas mais desmatadas de Rondônia (julho de 2007) Desmatamento % Área Taxa média anual Categoria Área (km²) até julho de 2007 Desmatada (2002-2007) (km²) Flona Bom Futuro 2.490 788 32 4.34 Resex Jaci Parana 1.913 375 20 3.74 Resex Ouro Preto 2.045 164 8 0.49 TI Uru-eu-wau-wau 8.363 160 2 0.10 Rebio Jaru 2.681 106 4 0.50 Flona Jamari 2.258 78 3 0.07 TI Igarapé Lage 1.086 58 5 0.13 TI Igarapé Lourdes 1.870 41 2 0.05 Resex Cautário (estadual) 1.443 40 3 0.17 TI Rio Mequens 1.066 38 4 0.04 Fonte: Imazon No conjunto das Unidades de Conserva- lação às “Áreas de Uso Especial” (zona 2) do zo- ção e Terras Indígenas em Rondônia (conforme neamento estadual, o desmatamento acumulado figuras 5 e 6), o desmatamento mais intensivo chegou ao índice alarmante de 3.468 km² (13.7% tem ocorrido nas UCs de uso sustentável (Resex, de área total) em junho de 2007, acompanhado Florestas de Manejo, APAs) tanto nas áreas fe- por elevadas taxas médias anuais entre 2002 e derais (11,2%) como estaduais (4,2%). Com re- 2007 (2,17%). Figura 5: Desmatamento acumulado em Rondônia, por categoria (até julho de 2007) Área Percentagem média anual Área Desmatada % Área Categoria Ocupada de desmatamento entre até 2007 (km2) Desmatada (km2) 2002 e 2007 Assentamentos de Reforma Agrária 41784 31122 74.5 1.71 Unidades de Conservação de Uso Sustentável 25454 1725 6.8 0.89 Unidades de Conservação de Proteção Integral 27104 182 0.7 0.07 Terras Indígenas 41257 578 1.4 0.06 Capítulo 1 | Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia Áreas de Uso Especial (zona 2) 25362 3468 13.7 1.55 Outras áreas do Estado 77562 45231 58.3 2.17 TOTAL 238523 82287 34.4 1.28 Fonte: Imazon Figura 6: Desmatamento acumulado em Unidades de Conservação, por categoria Percentagem média anual Área Ocupada Área Desmatada até % Área Categoria de desmatamento entre (km2) 2007 (km2) Desmatada 2002 e 2007 (%) UCs Federais - Proteção Integral 9876 6 0.1 0.001 UCs Estaduais - Proteção Integral 17228 176 1.0 0.11 UCs Federais - Uso Sustentável 9245 1038 11.2 1.30 UCs Estaduais - Uso Sustentável 16209 688 4.2 0.65 TOTAL 52558 1908 3.6 0.46 OFIMDAFLORESTA? Fonte: Imazon
  • 14. Contexto Histórico deslancharam um processo explosivo de migração 1 das Áreas Protegidas em Rondônia e expansão de frentes agropecuárias e madeireiras em Rondônia, com profundos impactos sobre as florestas, povos indígenas e outras populações tra- Para compreender melhor as tendências dicionais da região, tipicamente enxergadas como recentes do desmatamento e outros problemas “obstáculos” ao progresso5. socioambientais nas áreas protegidas em Ron- dônia, vale analisar o seu contexto histórico, re- Quando o povo indígena Paiter (Surui) foi montando, sobretudo, às décadas de 1960 e 1970, contatado inicialmente pela Fundação Nacional quando o então Território Federal surgiu como do Índio (Funai) em 1969, sua população era es- uma importante “fronteira pioneira” na Amazônia timada em 800 pessoas. Como resultado de inva- brasileira4. Um aspecto fundamental dessa trans- sões e contatos com posseiros e fazendeiros, na formação foi a abertura da rodovia Cuiabá-Porto região de Cacoal e Espigão d’Oeste, mais da me- Velho - BR-364, inicialmente chamada de BR-29 no tade da população indígena morreu entre 1971 e inicio dos anos 60, durante a administração do Pre- 1974, principalmente por problemas de gripe e sidente Juscelino Kubitschek. A construção de ro- sarampo (Mindlin 1985, Cardozo 2000). Quando dovias no interior do País fazia parte de objetivos a terra indígena Sete de Setembro foi finalmen- estratégicos do Governo Federal, voltados para a te demarcada em 1976, parte do território Suruí descentralização da população para o interior, a foi excluída para beneficiar colonos assentados expansão de mercados para indústrias de bens de erroneamente pelo Incra e fazendeiros que inva- consumo do Centro-Sul e o acesso a matérias-pri- diram seu território. mas para a industrialização nacional baseada na substituição de importações. Em 1979, foi criado o primeiro Parque Na- cional no então Território Federal de Rondônia: O Governo Federal criou, em 1961, as pri- o Parque Nacional Pacaas Novos, com 764.801 meiras unidades de conservação em Rondônia: a hectares. Posteriormente, foi constatado que o Reserva Florestal Jaru e a Reserva Florestal Pe- parque foi sobreposto ao território ocupado tra- dras Negras. A categoria de “reserva florestal” dicionalmente pelo povo indígena Uru-eu-wau- nunca foi claramente regulamentada na legisla- wau, na época um grupo isolado. ção brasileira e essas áreas foram posteriormente transformadas nas Reservas Biológicas Federais Jaru e Guaporé em 1979 e 1982, respectivamente. Polonoroeste e áreas protegidas em Rondônia No inicio dos anos 1970, em pleno regime Capítulo 1 | Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia militar, o Governo Federal lançou uma série de me- didas ambiciosas, inspiradas numa geopolítica que A pavimentação da BR-364, entre Cuia- visava à ocupação de um suposto “vazio demográfi- bá e Porto Velho, no inicio dos anos 1980, foi co” na Amazônia, sob o lema nacionalista “integrar o objetivo principal do Polonoroeste, programa para não entregar”. A principal medida foi a cria- de desenvolvimento regional financiado com ção pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e empréstimos do Banco Mundial. Outros compo- Reforma Agrária) de projetos de colonização, vol- nentes do Polonoroeste visavam à consolidação tados para agricultores migrantes do Centro-Sul, de projetos existentes de colonização, a criação nos eixos da recém-construída rodovia Transama- de novos projetos de assentamento, regulariza- zônica (BR-230) no Pará e da BR-364, em Rondô- ção fundiária e melhorias nos serviços de saúde. nia. Logo em seguida, o Incra lançou uma série de Como resultado das negociações entre o Banco medidas voltadas para atrair grandes pecuaristas Mundial e Governo Federal, foram incluídos no e outros empreendedores para a Amazônia, envol- programa: um componente de proteção do meio vendo a concessão de terras a preços simbólicos ambiente, visando à implantação de unidades e generosos incentivos fiscais. Estas intervenções federais de conservação, fiscalização, e apoio a OFIMDAFLORESTA? 4 No caso dos povos indígenas, as perdas de territórios, os impactos devastadores de doenças e a escravidão começaram nos séculos 17 e 18, com os bandeirantes que desceram os rios Guaporé, Mamoré e Madeira e as expedições portuguesas que subiram o Rio Madeira a partir de Belém. Nas primeiras décadas do século XX, o Serviço de Proteção ao Índio (SPI) fez os primeiros contatos com grupos indígenas isolados ao longo da linha telegráfica aberta pela Comissão Rondon. 5 Segundo estimativas oficiais, a população humana em Rondônia aumentou de 113 mil para cerca de 500 mil entre 1970 e 1980, numa taxa média anual de 15,8%. No restante do País, o aumento ficou na casa dos 2,48%. Além de pequenos agricultores, a expansão da fronteira em Rondônia atraiu uma variedade de outros grupos sociais e econômicos: comerciantes, profissionais liberais, pecuaristas, madeireiros, garimpeiros, mineradoras etc. 6 No âmbito do Polonoroeste, foram criadas a Reserva Biológica Guaporé em 1982 e a Floresta Nacional de Bom Futuro em 1988. Além disso, foram elaborados planos de manejo e construídas instalações físicas em beneficio do PARNA Pacaas Novos, REBIO Jaru e REBIO O Guaporé. Também foram investidos recursos em infra-estrutura física na Estação Ecológica Cuniã, embora essa última não fosse decretada oficialmente na época (Rondônia 1999).
  • 15. 16 pesquisa ecológica6 e um componente de apoio a Planafloro, zoneamento e áreas comunidades indígenas, objetivando a regulari- protegidas em Rondônia zação e demarcação de terras, assim como ativi- dades de apoio à saúde e educação entre comu- nidades indígenas7. Na segunda metade dos anos 80, o Go- verno de Rondônia, com apoio do Banco Mun- O asfaltamento da rodovia BR-364 entre dial, iniciou a elaboração do Plano Agropecuário Cuiabá e Porto Velho foi inaugurado antes do e Florestal de Rondônia (Planafloro). Para o go- previsto, em setembro de 1984. A execução do verno estadual, o principal interesse no projeto Polonoroeste foi marcada por problemas graves, era a manutenção do fluxo de recursos externos como a intensificação de fluxos migratórios, ta- do Banco após o encerramento do Polonoroeste. xas alarmantes de desmatamento, desistência de Para o Banco Mundial, um novo projeto em Ron- famílias assentadas em projetos de colonização, dônia representava a oportunidade de reverter associados à concentração fundiária e expansão os problemas sócio-ambientais causados pela ex- da pecuária como uso predominante das terras, pansão ‘desordenada’ da fronteira que acompa- invasões de áreas indígenas e unidades de con- nharam a execução do Polonoroeste, e ao mesmo servação e o crescimento desordenado de garim- tempo, reparar os danos à sua imagem pública9. pos e áreas urbanas. Um dos principais desvios do Polonoroeste foi o desequilíbrio entre a rápida Nesse contexto, o desenho do Planafloro implantação de obras de infra-estrutura de trans- foi pautado num plano estadual de “zoneamen- portes e a baixa implementação dos componen- to sócio-econômico-ecológico” que teria como tes de proteção ambiental e apoio às comunida- objetivos: consolidação de áreas já ocupadas na des indígenas. fronteira agropecuária em bases sustentáveis, principalmente nos assentamentos existentes no Em meados dos anos 1980, o Polonoro- eixo da BR-364, priorizando o apoio a pequenos este se tornou alvo de fortes críticas de ONGs agricultores (inclusive como forma de reduzir brasileiras e internacionais sobre desvios na sua pressões sobre unidades de conservação e outras implementação e em relação ao papel do Banco áreas legalmente protegidas) e a adoção de es- Mundial. Em março de 1985, o Banco suspendeu tratégias diferenciadas de conservação e manejo os desembolsos para o programa, que só foram dos recursos naturais em outras áreas do Estado retomados com o início da demarcação da Ter- (florestas de produção florestal sustentada, Re- ra Indígena Uru-eu-wau-wau, uma das principais servas Extrativistas, unidades de conservação de áreas sujeitas a invasões por madeireiros, gri- proteção integral , proteção de áreas indígenas leiros e posseiros em Rondônia8. Mesmo assim, etc). Cabe ressaltar que uma questão estratégi- Capítulo 1 | Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia os principais problemas socioambientais do Po- ca, relacionada aos dois objetivos do zoneamento lonoroeste persistiram até o seu encerramento. estadual, é o fortalecimento de cadeias produti- Em 1987, durante o lançamento de um progra- vas, associadas às atividades econômicas com ma de reformas ambientais no Banco Mundial, o sustentabilidade ambiental, inclusão social e res- então presidente Barber Conable admitiu que o peito à diversidade cultural. Polonoroeste representava “um esforço ambien- talmente correto que deu errado. O Banco não Em 1987-1988, uma equipe técnica do enxergou as realidades humanas, institucionais Governo de Rondônia, com apoio de consultores e físicas da selva e da fronteira. Medidas de pro- da FAO (Organização das Nações Unidas para a teção de terras frágeis e populações indígenas Alimentação e a Agricultura) e do Banco Mun- foram incluídas, mas não foram implementadas dial, finalizou a elaboração do mapa da “primei- em tempo ou monitoradas adequadamente.” ra aproximação” do zoneamento sócioeconômi- co-ecológico (ZSEE) de Rondônia, na escala de 1:1.000.000. O mapa dividiu o estado em seis “zonas”, cada uma com diretrizes específicas so- bre a ocupação e uso dos recursos naturais10. OFIMDAFLORESTA? 7 O orçamento do Polonoroeste foi estimado inicialmente em US$ 1,55 bilhões, dos quais mais de 50% dos recursos financeiros foram destinados ao setor de transportes. Em contraste, os componentes ambiental e indígena receberam 2,5% e 1,4%, respectivamente, dos recursos financeiros do programa. O componente indígena foi excluído dos empréstimos do Banco, por insistência do governo federal. Até 1984 o Banco havia aprovado seis empréstimos no valor total de US$ 443,4 milhões para o Polonoroeste, cerca de 34% do orçamento total do programa. 8 Os conflitos entre indígenas e colonos assentados erroneamente pelo Incra na Gleba Burareiro não foram resolvidos e persistem até hoje. 9 O empréstimo do Banco Mundial para o Planafloro, no valor de US$ 167 milhões, foi aprovado pelos diretores executivos em março de 1992. A assinatura dos acordos contratuais ocorreu em setembro de 1992. O Banco declarou a efetividade do empréstimo, com um prazo inicial de quatro anos, em janeiro de 1993 e os primeiros desembolsos se iniciaram em junho daquele ano. 10 A primeira aproximação do zoneamento foi baseada, principalmente, em levantamentos existentes sobre o meio físico e biótico (p.ex. Radambrasil, Embrapa/Sncls), imagens de sensoriamento remoto (Landsat-TM) e mapas da situação fundiária de Rondônia.
  • 16. O mapa da primeira aproximação do • Florestas Estaduais Extrativistas Rio Preto-Ja- 17 zoneamento sócio-econômico-ecológico foi ins- cundá, Pacaas Novos e Laranjeiras; tituindo formalmente 14 de junho de 1988 por meio do Decreto 3.782. Em seguida, uma revisão • Florestas Estaduais de Rendimento Sustenta- da Constituição Estadual de 1989 determinou do (Fers) Abunã, Rio Machado, Rio Madeira A e a institucionalização do ZSEE, por meio da Lei C, Rio Mequens, Rio São Domingos, Rio Roose- Complementar nº 52 de 20/12/9111. velt, Rio Vermelho (A, B, C e D); e No contexto de negociações sobre a “ins- • as Áreas de Proteção Ambiental (APAs) Rio titucionalização” do zoneamento e o empréstimo Madeira e Cuniã. do Planafloro, várias unidades estaduais de con- servação foram decretadas pelo Governador de A criação de UCs estaduais, foi conside- Rondônia, especialmente entre 1989 e 1991. As rada pelo Banco Mundial uma condição básica unidades de conservação estaduais criadas em para o início do desembolso de recursos do em- Rondônia neste período (mapa 3), com base na préstimo para o Planafloro12. No componente primeira aproximação do zoneamento, incluíam: “Conservação, Manejo e Proteção Ambiental” do Planafloro, foram alocados recursos para apoiar • Parques Estaduais Guajará-Mirim, Corumbia- a implantação das unidades estaduais de conser- ra, Serra dos Parecis, e Candeias; vação, contemplando atividades como a elabora- • Reservas Biológicas de Ouro Preto e Traçadal; ção de planos de manejo, sinalização e demarca- • Estações Ecológicas de Samuel e Serra dos ção, infra-estrutura física e vigilância. Três Irmaõs, Mapa 3: Unidades de Conservação estaduais criadas no marco da primeira aproximação do zoneamento sócio-econômico-ecológico de Rondônia Capítulo 1 | Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia OFIMDAFLORESTA? 11 Nos acordos contratuais do PLANAFLORO, previu-se ainda a implementação de um programa de “reformas institucionais”, visando a compatibilização de políticas públicas setoriais e programas de investimentos públicos com as diretrizes do zoneamento sócio-econômico- ecológico. 12 Na revisão da Constituição Estadual de 1989, o Poder Executivo ficou autorizado a criar uma série de unidades estaduais de conservação de uso direto e indireto, citadas nominalmente nos artigos 18, 20 e 21 das Disposições Transitórias.
  • 17. 18 Durante a primeira metade dos anos como unidades de conservação. Como haviam 1990, a implementação das unidades estaduais diversas pendências nesse sentido, tal ato aca- de conservação em Rondônia demonstrou uma bou legitimando a descaracterização de diversas série de entraves e desvios, destacando-se: unidades estaduais de conservação, tais como as Florestas Estaduais de Rendimento Susten- • falta de arcabouço legal consistente com a tado (Fers) Candeias Mequéns, São Domingos, clara definição de procedimentos operacionais Rio Vermelho B e C, e Roosevelt, assim como os e responsabilidades institucionais para orientar Parques Estaduais Serra dos Parecis, Candeias e a implementação de UCs estaduais, como regu- Roosevelt. A iniciativa foi respaldada pelo Ban- larização fundiária, planos de manejo, monito- co Mundial, que desconsiderou as exigências dos ramento, vigilância etc13. acordos contratuais do Planafloro sobre a manu- tenção destas áreas. • incompatibilidade da política fundiária do In- cra, que desconsiderava as unidades de conser- No ano de 2000, foi aprovada a Lei Com- vação estaduais e o Zoneamento Socioeconômi- plementar no. 233 de 06/06/00, que instituiu o co-Ecológico em procedimentos de titulação de mapa da “segunda aproximação do zoneamento” áreas ocupadas por posseiros e fazendeiros, que (Figura 5), baseado em estudos técnicos contra- consideravam o desmatamento e implantação tados com recursos do empréstimo do Planaflo- de pastagens artificiais como “benfeitorias”, e ro, que chegaram a custar US$ 19,5 milhões. A até na criação de assentamentos rurais; segunda aproximação do zoneamento dividiu o Estado em três zonas. • aprovação do Ibama de planos de manejo flo- restal (produtos madeireiros), sem considerar as • Zona 1: “áreas de uso agropecuário e florestal”, orientações do zoneamento e UCs estaduais; e com 120.310,48 km², equivalentes a 50,45% da área total do Estado, divididas em quatro sub-zo- • demarcações contratadas pelo Instituto de Ter- nas, conforme as potencialidades de solos e ou- ras de Rondônia (Iteron), com recursos do em- tros recursos naturais, situação de ocupação, préstimo do Planafloro que não respeitavam os limites das unidades estaduais de conservação. • Zona 2: “áreas de uso especial”: abrangendo Em vários casos, foram excluídas posses com títu- 34.834,42 km², equivalentes a 14,60 % da área los precários, documentos concedidos irregular- total do Estado, destinada à conservação dos re- mente pelo Incra, e áreas de simples grilagem de cursos naturais, passíveis de uso sob manejo sus- terras e objeto de exploração madeireira ilegal. tentável; e Capítulo 1 | Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia Na primeira metade dos anos 1990, di- • Zona 3: “áreas institucionais”, totalizando versas unidades de conservação estaduais tive- 83.368 km² (34,95% do Estado) compostas de ram seus limites reduzidos por decretos do Go- UCs de Uso Sustentável (sub-zona 3.1), UCs de vernador ou por leis estaduais aprovadas pela Proteção Integral (sub-zona 3.2) e Terras Indíge- Assembléia Legislativa, inclusive para respaldar nas (sub-zona 3.3); demarcações equivocadas realizadas pelo Ite- ron. Em nenhum caso, a redução dos limites de A lei da segunda aproximação do zonea- UCs estaduais se embasou em estudos e debates mento adotou uma estratégia semelhante à Lei Complementar no. 152/96, ou seja: foram trans- transparentes sobre interesses a serem atendi- dos e medidas necessárias para promover o ma- formadas em zonas agropecuárias as UCs esta- nejo de recursos naturais nas áreas excluídas, eduais não-demarcadas, que tinham sido efetiva- tampouco melhorias na gestão da área remanes- mente abandonadas pelo Governo de Rondônia cente da respectiva UC. (mapa 4)14. Assim, adotou-se uma política de le- gitimação de ocupações irregulares e ilegais, im- Em meados de 1996, a Assembléia Legis- pulsionadas por políticas contraditórias e a omis- lativa de Rondônia aprovou a Lei Complementar são generalizada de órgãos ambientais. Nos dois OFIMDAFLORESTA? no. 152 de 24/06/96, respaldando a titulação de casos (LC 152/96 e LC 233/00) o embasamento posses agropecuárias, autorização de desmata- legal para reduzir e mesmo suprimir unidades de mentos e exploração madeireira nas zonas 4 e 5, conservação estaduais por meio de lei estadual de uso restrito na primeira aproximação do zo- de zoneamento nunca foi questionado. neamento, nas áreas não criadas e demarcadas 13 Essa lacuna começou a ser preenchida somente em 2002, com a aprovação da Lei Estadual no. 1.144 de 12/12/2002 (Sistema Estadual de Unidades de Conservação da Natureza de Rondônia – SEUC/RO), baseado na Lei Federal no. 9.985/00 (Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC). 14 Essa característica da lei da segunda aproximação do zoneamento contradiz frontalmente o seu artigo 27, que afirma que “ficam ratificados todos os atos estaduais pertinentes à criação e à institucionalização das Unidades de Conservação de uso direto e indireto existentes no Estado”.
  • 18. Mapa 4: segunda aproximação do zoneamento de Rondônia e áreas protegidas, 19 com identificação de UCs estaduais que sofreram redução ou supressão Capítulo 1 | Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia Dentre os impactos das diversas inicia- Rio Mequens, Rio São Domingos, Rio Roosevelt, tivas de redução e supressão de UCs estaduais Rio Vermelho “A”, “B’ e “D”), com um total de entre 1995 a 2000, destacam-se: a redução de 1.141.819 hectares, representando 77% da área 1.055.000 para 95,3 mil hectares (89%) na área total originalmente criada. Além disso, a Fers da Resex Rio Preto-Jacundá; redução de 298 mil Rio Vermelho “C”, localizada na área de influên- OFIMDAFLORESTA? hectares (31,9%) na área total dos parques esta- cia prevista para a hidrelétrica de Santo Antônio, duais, com a supressão total de três deles (Serra foi drasticamente reduzida pela Lei Complemen- dos Parecis, Roosevelt, Candeias); e supressão tar no.233/00, de 20.215 para 4.050 hectares. total de oito Florestas Estaduais de Rendimento Sustentado –Fers (Rio Abunã, Rio Madeira “C”,
  • 19. 20 Na análise das tendências do desmata- ou suprimidas de UCs estaduais, o desmatamen- mento em áreas protegidas em Rondônia, fica to cumulativo chegou, em julho de 2007, a 6.201 evidente o impacto da redução e supressão de km², ou 29% da área total! A figura 7 ilustra os unidades estaduais de conservação, por meio de casos de maior desmatamento em territórios ex- iniciativas do Executivo e Legislativo, que entre cluídos de unidades estaduais de conservação, 1995 e 2003, somaram mais de dois milhões de que incluem casos ainda muito mais elevados. hectares (21.119 km²). Nas áreas reduzidas Mapa 5: Evolução do Desmatamento, Áreas Protegidas em Rondônia, com identificação de UCs estaduais que sofreram redução ou supressão Capítulo 1 | Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia OFIMDAFLORESTA?
  • 20. Figura 7: Áreas excluídas de unidades estaduais de conservação com maiores contribuições para o desmatamento em Rondônia 21 Área Desmatamento na % desmatada na Taxa média de Área Excluída Unidade de Conservação Original % Excluída área excluída até área excluída (até desmatamento em área (km²) (km²) julho/2007 (km²) julho/2007) excluída (2003-2007) Fers do Rio S. Domingos 2674 2674 100 1974 68 5.7 Fers do Rio Mequéns 4258 3630 100 1680 46 2.1 Resex Rio Preto - Jacundá 10550 953 89 709 10 1.9 Fers do Rio Vermelho D 1378 1378 100 405 31 5.0 Fers do Rio Roosevelt 279 279 100 152 53 2.1 PE Corumbiara 5860 2993 51 312 10 0.3 Fers do Rio Abunã 622 622 100 304 60 3.5 Fers do Rio Vermelho B 1530 1204 79 152 15 1.5 PE Serra dos Parecis 390 390 100 95 52 5.1 Fers do Rio Vermelho C 202 162 80 61 36 2.2 PE Guajará-Mirim 2589 422 16 56 11 1.2 Fonte: Imazon Áreas Protegidas em Rondônia sive para argumentar contra a intensificação de no início do século xxI medidas do Governo Federal de prevenção e con- trole do desmatamento ilegal15. Cabe destacar as seguintes característi- d) Apesar das determinações da legislação fede- cas gerais da realidade das áreas protegidas em ral e estadual , as unidades de conservação em 16 Rondônia neste inicio de século: Rondônia permanecem, via de regra, em situa- ções precaríssimas de implementação. Há sérias a) Após a aprovação da lei da segunda aproxima- deficiências em termos de planejamento estraté- ção do zoneamento em junho de 2000 (Lei Com- gico, elaboração e implementação de planos de plementar no. 233/00), tem ocorrido novos casos manejo, criação e efetivação de conselhos das de redução de unidades de conservação estadu- unidades e garantias de um mínimo de orçamen- ais, novamente sem estudos prévios ou critérios to, recursos humanos capacitados e infra-estru- transparentes, a exemplo da segunda redução do tura física. A situação aplica-se especialmente às Parque Estadual de Corumbiara (veja capitulo unidades estaduais de conservação. 4). Conforme demonstrado, tais atos têm impli- cações diretas para as taxas de desmatamento e) No caso das Reservas Extrativistas e Terras em Rondônia. Indígenas, as comunidades tradicionais não têm contado com o mínimo apoio para assegurar a Capítulo 1 | Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia b) Em várias áreas inseridas na Zona 2 da se- integridade de seus territórios e a viabilização gunda aproximação do zoneamento, destinadas de atividades econômicas ambientalmente sus- ao “uso especial” (inclusive para a criação de tentáveis e culturalmente apropriadas. Enquan- novas unidades de conservação) tem ocorrido to isso, as populações locais têm sido cada vez processos intensos de grilagem e exploração ma- mais pressionadas, por parte de políticos, madei- deireira ilegal, respaldado por agentes políticos reiros e outros agentes econômicos, a “liberar” o locais, a exemplo do entorno do Parque Estadual acesso livre aos recursos naturais e reduzir seus Guajará-Mirim e região de Abunã. No caso das territórios. Tem ocorrido casos de expulsão de glebas de União Bandeirantes e Jacinópolis, in- populações tradicionais e até assassinatos de li- seridas na zona 2.1, a Assembléia Legislativa do deranças comunitárias. Estado aprovou a Lei Complementar no. 308 de 09/11/2004, transformando áreas ocupadas irre- f) Em junho de 2004, o Ministério do Meio Am- gularmente sob o comando de madeireiros e gri- biente e Governo de Rondônia assinaram um leiros em zona agropecuária (subzona 1.3), tam- acordo sobre a utilização da lei da segunda apro- bém sem estudos ou critérios transparentes. ximação do zoneamento (Lei Complementar no. 233/00) para reduzir, para fins de recomposição, OFIMDAFLORESTA? c) Apesar das reduções e supressões de UCs es- a área de reserva legal, para 50% das proprie- taduais e de áreas da zona 2 pela Lei Comple- dades rurais, conforme previsto no artigo 16 do mentar no. 233/00, o zoneamento de Rondônia Código Florestal (Lei no. 4771/65, modificada continua sendo utilizado pelo governo estadual pela Medida Provisória no. 2.166-67/2001). Um e classe política como “marketing verde”, inclu- dos compromissos assumidos pelo Governo de 15 Vale observar que a Lei Complementar no. 233/00 também foi utilizada para flexibilizar o percentual de Reserva Legal em propriedades rurais, inicialmente de forma conflitante com o Código Florestal (Lei 4.771/65, alterado pela Medida Provisório 2.166/01). 16 Lei 9.985/2000 (Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC) e a Lei Estadual no. 1.144 de 12/12/2002 (Sistema Estadual de Unidades de Conservação da Natureza de Rondônia – SEUC/RO)
  • 21. 22 Rondônia neste acordo foi “estruturar o órgão i) Existe uma situação generalizada de impuni- ambiental do Estado, fortalecer o Conselho Esta- dade dos atos ilegais de desmatamento e explo- dual de Política Ambiental (Consepa) e proceder ração madeireira nas unidades de conservação a desintrusão das unidades de conservação esta- e terras indígenas, facilitada por brechas jurídi- duais, quando da ocorrência de invasões”, o que cas e práticas de corrupção passiva e ativa de não ocorreu. agentes públicos. Estima-se que menos de 5% do desmatamento e exploração madeireira ilegal g) Em agosto de 2004, uma Ação Civil movida em Rondônia têm sido objeto de fiscalização, e pelo Ministério Público (federal e estadual) re- um percentual irrisório deste total têm resultado sultou numa liminar da Justiça Federal que de- em multas, que tipicamente não são pagas. Além terminou a desintrusão da Flona Bom Futuro, disso, é comum juízes liberarem bens apreendi- Parque Estadual de Guajará-Mirim, Resex Jaci- dos para os infratores. Recentemente, os confli- Paraná e TI Karipuna, bem com a proibição de tos entre o Ibama e o Governo de Rondônia na re- novos assentamentos, autorizações de desmata- alização de atividades de fiscalização ambiental mento e exploração madeireira na região de Vila têm se agravado, a exemplo da Operação “Arco Bandeirante e Jacinópolis. Entretanto, a liminar do Fogo” no inicio de 200817. simplesmente não foi cumprida, enquanto a Lei Complementar no. 308/2004 (conforme descrito j) Os problemas descritos nos dois itens anteriores acima) transformou em zona 01 (subzona 1.3) as são agravados pela falta de cumprimento da legis- áreas de União Bandeirantes e Jacinópolis (ante- lação sobre a obrigatoriedade de transparência e riormente inseridas na sub-zona 2.1). acesso público às informações referentes ao licen- ciamento de atividades florestais e fiscalização h) Em agosto de 2006, Ibama e Sedam assinaram ambiental, especialmente por parte da Sedam18. um “Termo de Cooperação Técnica para a Gestão Florestal Compartilhada”, onde o Governo Fede- k) As expectativas relacionadas à construção das ral repassou ao Governo de Rondônia as respon- hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau no rio Ma- sabilidades para a autorização de desmatamen- deira - cuja Licença Prévia (LP) foi expedida ir- tos e a aprovação de planos de manejo florestal regularmente pelo IBAMA em julho de 2007 sob sem considerar a capacidade institucional da Se- forte pressão política - e o anúncio da reconstru- dam e compromisso político em assumir tais fun- ção e pavimentação da BR-319 (Porto Velho-Ma- ções e sem garantir mecanismos de supervisão e naus) têm contribuido para a intensificação da transparência. Como resultado, práticas irregu- grilagem de terras públicas, especulação imobi- lares de aprovação de planos de manejo florestal liária, exploração ilegal de madeira e desmata- pela Sedam têm facilitado o “esquentamento” de mento, inclusive nas unidades de conservação, Capítulo 1 | Desmatamento e Áreas Protegidas em Rondônia madeira ilegal, retirada sobretudo de unidades áreas protegidas da Zona 2 no zoneamento esta- de conservação e terras indígenas. dual e terras indígenas19. 17 Vale observar que a Lei Complementar no. 233/00 também foi utilizada para flexibilizar o percentual de Reserva Legal em propriedades rurais, inicialmente de forma conflitante com o Código Florestal (Lei 4.771/65, alterado pela Medida Provisório 2.166/01). OFIMDAFLORESTA? 18 Veja: Lei no. 10.650 de 16/04/2003 (informações ambientais); Decreto no. 5.523 de 25/08/05 (fiscalização); Resolução no. 379 CONAMA de 19/10/06 (licenciamento florestal) 19 Para mais informações, visite os sites: Instituto Madeira Vivo (www.riomadeiravivo.org), Amigos da Terra - Programa Amazônia (http://amazonia.org.br), ECOA- Ecologia e Ação (www.ecoa.org.br), Movimento dos Atingidos por Barragens (www.mabnacional.org. br), e International Rivers (http://internationalrivers.org).