SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 1
Civilização e culpa
Bom  mau, certo e errado, eis a discussão que prevalece sem levar em conta as consequências
biológicas  psíquicas daí resultantes, em que parece existir uma razão que não sabemos de
onde vem, mas que insistimos nela, mesmo que não possa faltar ao respeito e consideração ao
seu semelhante.
É por isso, que as pessoas que se dedicam a lutar pelo Bem contra o Mal são os responsáveis
pelas guerras e desgraça humana, convencidos, embora de forma inconsciente, que estão a
lutar por uma boa causa, porque seus instintos assim mandam.
Os que desejam a destruição são os outros, nós apenas destruímos para não ser destruídos,
pelo que, em boa fé, devemos considerar que estamos a alimentar o poder de destruição, dos
outros, e de nós mesmos.
O mundo revela-se através das consequências e não em função da razão.
Podemos afirmar com toda a propriedade, que o processo civilizacional foi conseguida com
base na incorporação da culpa, do pecado, do divino e demoníaco, tendo em vista um poder
superior que seria suposto comandar os homens, mas tal não significa, que só desse modo o
homem possa ser civilizado.
Seria admitir que para conseguir um objetivo só existe um caminho único, e qualquer outra via
estaria vedada ao trânsito de uma forma diferenciada de formação da criança, o que de todo,
cada vez mais não parece ser verdadeiro.
Por outro lado, o que nos revela a maioria dos transtornos psíquicos é que eles estão assentes
sob uma base de culpa, tentando nos mostrar que o modo de organização da civilização, ou
seja, suas regras, desde há muito carecem de revisão.
Ou seja, a civilização, tal como está organizada, produz doentes em vez de homens sadios.
Se para ser civilizado devemos sentir a culpa, e isso nos causa mal estar, o desejo irá no
sentido de a abolir, o que nos coloca perante o dilema de encontrar uma solução para não cair
num mundo onde tudo seja permitido sem culpa.
Como não enxergamos a solução, nos é dado a perceber que entre essas duas formas de estar
na vida, com culpa ou sem ela, será preferível a primeira, em virtude de reprimir os instintos
de destruição do ser humano.
Ou seja, nos posicionamos na ambivalência produzida na idade média, como uma criança que
nasceu e se fez sociedade, ficando vinculada para sempre a esse modo de formação civilizada,
assente na base do pecado, da culpa e do medo pela punição.
Pelo que, continuamos a insistir numa falsa liberdade, no medo e castração da vida, como
referiu Nietzsche, que por medo da punição não conseguimos ultrapassar a barreira da
impossibilidade.
Quando alguém nos interroga indignado, qual a outra forma de criar um homem civilizado,
percebemos logo, que o questionador se tornou nessa impossibilidade, sendo ela própria, que
não admite outra solução, em que o abismo será a finalidade a atingir desta geração.
João António Fernandes
Psicanalista Freudiano

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Mais procurados (20)

Como se libertar do sentimento de culpa
Como se libertar do sentimento de culpaComo se libertar do sentimento de culpa
Como se libertar do sentimento de culpa
 
Desigualdades sociais
Desigualdades sociaisDesigualdades sociais
Desigualdades sociais
 
Liberdade vs. Igualdade
Liberdade vs. IgualdadeLiberdade vs. Igualdade
Liberdade vs. Igualdade
 
Segundo Módulo - Aula 10 - Lei de igualdade
Segundo Módulo - Aula 10 - Lei de igualdadeSegundo Módulo - Aula 10 - Lei de igualdade
Segundo Módulo - Aula 10 - Lei de igualdade
 
Liberdade, Igualdade e Fraternidade
Liberdade, Igualdade e FraternidadeLiberdade, Igualdade e Fraternidade
Liberdade, Igualdade e Fraternidade
 
Necessidade da vida social
Necessidade da vida socialNecessidade da vida social
Necessidade da vida social
 
Segundo Módulo - Aula 07 - Lei de sociedade
Segundo Módulo - Aula 07 - Lei de sociedadeSegundo Módulo - Aula 07 - Lei de sociedade
Segundo Módulo - Aula 07 - Lei de sociedade
 
O nosso direito de escolher
O nosso direito de escolherO nosso direito de escolher
O nosso direito de escolher
 
Sentimento de culpa
Sentimento de culpaSentimento de culpa
Sentimento de culpa
 
Carncia
CarnciaCarncia
Carncia
 
LE Q.913 ESE cap13_item15
LE Q.913 ESE cap13_item15LE Q.913 ESE cap13_item15
LE Q.913 ESE cap13_item15
 
Virtudes e valores
Virtudes e valoresVirtudes e valores
Virtudes e valores
 
Auto perdão = felicidade sem culpa
Auto perdão = felicidade sem culpaAuto perdão = felicidade sem culpa
Auto perdão = felicidade sem culpa
 
Por Que Se Vive
Por Que Se VivePor Que Se Vive
Por Que Se Vive
 
Por Que Se Vive
Por Que Se VivePor Que Se Vive
Por Que Se Vive
 
Emitir julgamento
Emitir julgamentoEmitir julgamento
Emitir julgamento
 
Felicidade
FelicidadeFelicidade
Felicidade
 
Aula Liberdade e Limites
Aula Liberdade e Limites Aula Liberdade e Limites
Aula Liberdade e Limites
 
O Dever e a virtude
O Dever e a virtudeO Dever e a virtude
O Dever e a virtude
 
Emitir julgamento
Emitir julgamentoEmitir julgamento
Emitir julgamento
 

Destaque

Hoja r2 precios al suelo!!! (23 y 24 de diciembre) (2)
Hoja r2 precios al suelo!!! (23 y 24 de diciembre) (2)Hoja r2 precios al suelo!!! (23 y 24 de diciembre) (2)
Hoja r2 precios al suelo!!! (23 y 24 de diciembre) (2)IRAYGOZ
 
Certificado de conclusão do curso
Certificado de conclusão do cursoCertificado de conclusão do curso
Certificado de conclusão do cursoPatrícia Doidinho
 
3ºdesafio p7 cn_atas_reunião semanal
3ºdesafio p7 cn_atas_reunião semanal3ºdesafio p7 cn_atas_reunião semanal
3ºdesafio p7 cn_atas_reunião semanalsofiapimentaesag
 
CAMRY 2015 MỚI ĐẲNG CẤP ĐẦY QUYỀN UY
CAMRY 2015 MỚI ĐẲNG CẤP ĐẦY QUYỀN UYCAMRY 2015 MỚI ĐẲNG CẤP ĐẦY QUYỀN UY
CAMRY 2015 MỚI ĐẲNG CẤP ĐẦY QUYỀN UYChung Nguyễn
 
As revoluções inglesas do século XVII
As revoluções inglesas do século XVIIAs revoluções inglesas do século XVII
As revoluções inglesas do século XVIIBriefCase
 
Año nuevo 2012 b504
Año nuevo 2012 b504Año nuevo 2012 b504
Año nuevo 2012 b504xeronimo
 
Микросервисы: откуда столько шума?
Микросервисы: откуда столько шума?Микросервисы: откуда столько шума?
Микросервисы: откуда столько шума?Ivan Evtukhovich
 
Пресс-конференция «Лето-2016: о туристических предпочтениях россиян в условия...
Пресс-конференция «Лето-2016: о туристических предпочтениях россиян в условия...Пресс-конференция «Лето-2016: о туристических предпочтениях россиян в условия...
Пресс-конференция «Лето-2016: о туристических предпочтениях россиян в условия...ВЦИОМ
 
SDN & NFV: от абонента до Internet eXchange
SDN & NFV: от абонента до Internet eXchangeSDN & NFV: от абонента до Internet eXchange
SDN & NFV: от абонента до Internet eXchangeARCCN
 
SDN: возможности и реалии
SDN: возможности и реалииSDN: возможности и реалии
SDN: возможности и реалииARCCN
 
SDN и защищенные квантовые коммуникации
SDN и защищенные квантовые коммуникацииSDN и защищенные квантовые коммуникации
SDN и защищенные квантовые коммуникацииARCCN
 

Destaque (19)

Felicitacion 2011 2012
Felicitacion 2011 2012Felicitacion 2011 2012
Felicitacion 2011 2012
 
Hoja r2 precios al suelo!!! (23 y 24 de diciembre) (2)
Hoja r2 precios al suelo!!! (23 y 24 de diciembre) (2)Hoja r2 precios al suelo!!! (23 y 24 de diciembre) (2)
Hoja r2 precios al suelo!!! (23 y 24 de diciembre) (2)
 
Poema7
Poema7Poema7
Poema7
 
Certificado de conclusão do curso
Certificado de conclusão do cursoCertificado de conclusão do curso
Certificado de conclusão do curso
 
01
0101
01
 
3ºdesafio p7 cn_atas_reunião semanal
3ºdesafio p7 cn_atas_reunião semanal3ºdesafio p7 cn_atas_reunião semanal
3ºdesafio p7 cn_atas_reunião semanal
 
Capa de Jornal com video
Capa de Jornal com video Capa de Jornal com video
Capa de Jornal com video
 
CAMRY 2015 MỚI ĐẲNG CẤP ĐẦY QUYỀN UY
CAMRY 2015 MỚI ĐẲNG CẤP ĐẦY QUYỀN UYCAMRY 2015 MỚI ĐẲNG CẤP ĐẦY QUYỀN UY
CAMRY 2015 MỚI ĐẲNG CẤP ĐẦY QUYỀN UY
 
As revoluções inglesas do século XVII
As revoluções inglesas do século XVIIAs revoluções inglesas do século XVII
As revoluções inglesas do século XVII
 
Año nuevo 2012 b504
Año nuevo 2012 b504Año nuevo 2012 b504
Año nuevo 2012 b504
 
Ofício 04
Ofício 04Ofício 04
Ofício 04
 
Resacultabr2013
Resacultabr2013Resacultabr2013
Resacultabr2013
 
Микросервисы: откуда столько шума?
Микросервисы: откуда столько шума?Микросервисы: откуда столько шума?
Микросервисы: откуда столько шума?
 
Пресс-конференция «Лето-2016: о туристических предпочтениях россиян в условия...
Пресс-конференция «Лето-2016: о туристических предпочтениях россиян в условия...Пресс-конференция «Лето-2016: о туристических предпочтениях россиян в условия...
Пресс-конференция «Лето-2016: о туристических предпочтениях россиян в условия...
 
Kaikaku
KaikakuKaikaku
Kaikaku
 
SDN & NFV: от абонента до Internet eXchange
SDN & NFV: от абонента до Internet eXchangeSDN & NFV: от абонента до Internet eXchange
SDN & NFV: от абонента до Internet eXchange
 
Mis vacaciones
Mis vacacionesMis vacaciones
Mis vacaciones
 
SDN: возможности и реалии
SDN: возможности и реалииSDN: возможности и реалии
SDN: возможности и реалии
 
SDN и защищенные квантовые коммуникации
SDN и защищенные квантовые коммуникацииSDN и защищенные квантовые коммуникации
SDN и защищенные квантовые коммуникации
 

Semelhante a Civilização culpa discussão

Seminario Futuro de uma ilusão JS.pptx
Seminario Futuro de uma ilusão JS.pptxSeminario Futuro de uma ilusão JS.pptx
Seminario Futuro de uma ilusão JS.pptxJansenSantana1
 
Texto_mal_nigel warburton
Texto_mal_nigel warburtonTexto_mal_nigel warburton
Texto_mal_nigel warburtonIsabel Moura
 
CapíTulo 2 Original Livro
CapíTulo 2 Original LivroCapíTulo 2 Original Livro
CapíTulo 2 Original Livrojmeirelles
 
CapíTulo 2 Original Livro
CapíTulo 2 Original LivroCapíTulo 2 Original Livro
CapíTulo 2 Original Livrojmeirelles
 
CapíTulo 2 Original Livro
CapíTulo 2 Original LivroCapíTulo 2 Original Livro
CapíTulo 2 Original Livrojmeirelles
 
CapíTulo 2 Original Livro
CapíTulo 2 Original LivroCapíTulo 2 Original Livro
CapíTulo 2 Original Livrojmeirelles
 
Segundo Módulo - Aula 06 - Lei da destruição
Segundo Módulo - Aula 06 - Lei da destruiçãoSegundo Módulo - Aula 06 - Lei da destruição
Segundo Módulo - Aula 06 - Lei da destruiçãoCeiClarencio
 
A maldade do ser humano
A maldade do ser humanoA maldade do ser humano
A maldade do ser humanoHelio Cruz
 
Resenha de estudos espiritas 09
Resenha de estudos espiritas 09Resenha de estudos espiritas 09
Resenha de estudos espiritas 09MRS
 
ADORNO_Educação após Auschwitz.pdf
ADORNO_Educação após Auschwitz.pdfADORNO_Educação após Auschwitz.pdf
ADORNO_Educação após Auschwitz.pdfAlberes Cavalcanti
 
Boletim Deus Cristo e Caridade - Agosto/2014
Boletim Deus Cristo e Caridade - Agosto/2014Boletim Deus Cristo e Caridade - Agosto/2014
Boletim Deus Cristo e Caridade - Agosto/2014Gildineide Marinho
 
O bem e o mal.pptx
O bem e o mal.pptxO bem e o mal.pptx
O bem e o mal.pptxM.R.L
 
Causas anteriores das aflições - palestra espírita - Danilo Galvão SAJ
Causas anteriores das aflições - palestra espírita - Danilo Galvão SAJ Causas anteriores das aflições - palestra espírita - Danilo Galvão SAJ
Causas anteriores das aflições - palestra espírita - Danilo Galvão SAJ Danilo Galvão
 
Segundo Módulo - Aula 11 - Lei de liberdade
Segundo Módulo - Aula 11 - Lei de liberdadeSegundo Módulo - Aula 11 - Lei de liberdade
Segundo Módulo - Aula 11 - Lei de liberdadeCeiClarencio
 

Semelhante a Civilização culpa discussão (20)

Seminario Futuro de uma ilusão JS.pptx
Seminario Futuro de uma ilusão JS.pptxSeminario Futuro de uma ilusão JS.pptx
Seminario Futuro de uma ilusão JS.pptx
 
Texto_mal_nigel warburton
Texto_mal_nigel warburtonTexto_mal_nigel warburton
Texto_mal_nigel warburton
 
A crueldade
A crueldadeA crueldade
A crueldade
 
A crueldade
A crueldadeA crueldade
A crueldade
 
CapíTulo 2 Original Livro
CapíTulo 2 Original LivroCapíTulo 2 Original Livro
CapíTulo 2 Original Livro
 
CapíTulo 2 Original Livro
CapíTulo 2 Original LivroCapíTulo 2 Original Livro
CapíTulo 2 Original Livro
 
CapíTulo 2 Original Livro
CapíTulo 2 Original LivroCapíTulo 2 Original Livro
CapíTulo 2 Original Livro
 
CapíTulo 2 Original Livro
CapíTulo 2 Original LivroCapíTulo 2 Original Livro
CapíTulo 2 Original Livro
 
Segundo Módulo - Aula 06 - Lei da destruição
Segundo Módulo - Aula 06 - Lei da destruiçãoSegundo Módulo - Aula 06 - Lei da destruição
Segundo Módulo - Aula 06 - Lei da destruição
 
A maldade do ser humano
A maldade do ser humanoA maldade do ser humano
A maldade do ser humano
 
Resenha de estudos espiritas 09
Resenha de estudos espiritas 09Resenha de estudos espiritas 09
Resenha de estudos espiritas 09
 
Desova Wvb
Desova WvbDesova Wvb
Desova Wvb
 
ADORNO_Educação após Auschwitz.pdf
ADORNO_Educação após Auschwitz.pdfADORNO_Educação após Auschwitz.pdf
ADORNO_Educação após Auschwitz.pdf
 
Boletim Deus Cristo e Caridade - Agosto/2014
Boletim Deus Cristo e Caridade - Agosto/2014Boletim Deus Cristo e Caridade - Agosto/2014
Boletim Deus Cristo e Caridade - Agosto/2014
 
O Tumor Maligno da Sociedade.pdf
O Tumor Maligno da Sociedade.pdfO Tumor Maligno da Sociedade.pdf
O Tumor Maligno da Sociedade.pdf
 
O bem e o mal.pptx
O bem e o mal.pptxO bem e o mal.pptx
O bem e o mal.pptx
 
Causas anteriores das aflições - palestra espírita - Danilo Galvão SAJ
Causas anteriores das aflições - palestra espírita - Danilo Galvão SAJ Causas anteriores das aflições - palestra espírita - Danilo Galvão SAJ
Causas anteriores das aflições - palestra espírita - Danilo Galvão SAJ
 
Segundo Módulo - Aula 11 - Lei de liberdade
Segundo Módulo - Aula 11 - Lei de liberdadeSegundo Módulo - Aula 11 - Lei de liberdade
Segundo Módulo - Aula 11 - Lei de liberdade
 
Culpa
CulpaCulpa
Culpa
 
Preconceito
Preconceito Preconceito
Preconceito
 

Mais de Joao António Fernandes (17)

I tópica Aula da Analizzare em Pará de minas
I tópica   Aula da Analizzare em Pará de minasI tópica   Aula da Analizzare em Pará de minas
I tópica Aula da Analizzare em Pará de minas
 
Tesão e afeto
Tesão e afetoTesão e afeto
Tesão e afeto
 
Esta sociedade está fora da realidade, mas é real.
Esta sociedade está fora da realidade, mas é real.Esta sociedade está fora da realidade, mas é real.
Esta sociedade está fora da realidade, mas é real.
 
Vontade e inconsciente
Vontade e inconscienteVontade e inconsciente
Vontade e inconsciente
 
Estímulos e processo neural - II Parte
Estímulos e processo neural - II ParteEstímulos e processo neural - II Parte
Estímulos e processo neural - II Parte
 
Estímulos e processo neural
Estímulos e processo neuralEstímulos e processo neural
Estímulos e processo neural
 
Aula - O que é o inconsciente
Aula - O que é o inconscienteAula - O que é o inconsciente
Aula - O que é o inconsciente
 
Hipersensibilidade do corpo
Hipersensibilidade do corpoHipersensibilidade do corpo
Hipersensibilidade do corpo
 
Auto mutilação - Borderlines
Auto mutilação - BorderlinesAuto mutilação - Borderlines
Auto mutilação - Borderlines
 
Formação da consciência
Formação da consciência Formação da consciência
Formação da consciência
 
Milagres não acontecem
Milagres não acontecemMilagres não acontecem
Milagres não acontecem
 
As divergências na análse
As divergências na análseAs divergências na análse
As divergências na análse
 
Características borderlines
Características borderlinesCaracterísticas borderlines
Características borderlines
 
Energia e corpo
Energia e corpoEnergia e corpo
Energia e corpo
 
Tabu e proibições
Tabu e proibiçõesTabu e proibições
Tabu e proibições
 
Mini curso de formação
Mini curso de formaçãoMini curso de formação
Mini curso de formação
 
Construção do desejo
Construção do desejo Construção do desejo
Construção do desejo
 

Civilização culpa discussão

  • 1. Civilização e culpa Bom mau, certo e errado, eis a discussão que prevalece sem levar em conta as consequências biológicas psíquicas daí resultantes, em que parece existir uma razão que não sabemos de onde vem, mas que insistimos nela, mesmo que não possa faltar ao respeito e consideração ao seu semelhante. É por isso, que as pessoas que se dedicam a lutar pelo Bem contra o Mal são os responsáveis pelas guerras e desgraça humana, convencidos, embora de forma inconsciente, que estão a lutar por uma boa causa, porque seus instintos assim mandam. Os que desejam a destruição são os outros, nós apenas destruímos para não ser destruídos, pelo que, em boa fé, devemos considerar que estamos a alimentar o poder de destruição, dos outros, e de nós mesmos. O mundo revela-se através das consequências e não em função da razão. Podemos afirmar com toda a propriedade, que o processo civilizacional foi conseguida com base na incorporação da culpa, do pecado, do divino e demoníaco, tendo em vista um poder superior que seria suposto comandar os homens, mas tal não significa, que só desse modo o homem possa ser civilizado. Seria admitir que para conseguir um objetivo só existe um caminho único, e qualquer outra via estaria vedada ao trânsito de uma forma diferenciada de formação da criança, o que de todo, cada vez mais não parece ser verdadeiro. Por outro lado, o que nos revela a maioria dos transtornos psíquicos é que eles estão assentes sob uma base de culpa, tentando nos mostrar que o modo de organização da civilização, ou seja, suas regras, desde há muito carecem de revisão. Ou seja, a civilização, tal como está organizada, produz doentes em vez de homens sadios. Se para ser civilizado devemos sentir a culpa, e isso nos causa mal estar, o desejo irá no sentido de a abolir, o que nos coloca perante o dilema de encontrar uma solução para não cair num mundo onde tudo seja permitido sem culpa. Como não enxergamos a solução, nos é dado a perceber que entre essas duas formas de estar na vida, com culpa ou sem ela, será preferível a primeira, em virtude de reprimir os instintos de destruição do ser humano. Ou seja, nos posicionamos na ambivalência produzida na idade média, como uma criança que nasceu e se fez sociedade, ficando vinculada para sempre a esse modo de formação civilizada, assente na base do pecado, da culpa e do medo pela punição. Pelo que, continuamos a insistir numa falsa liberdade, no medo e castração da vida, como referiu Nietzsche, que por medo da punição não conseguimos ultrapassar a barreira da impossibilidade. Quando alguém nos interroga indignado, qual a outra forma de criar um homem civilizado, percebemos logo, que o questionador se tornou nessa impossibilidade, sendo ela própria, que não admite outra solução, em que o abismo será a finalidade a atingir desta geração. João António Fernandes Psicanalista Freudiano