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O TEMA DA VIOLÊNCIA ENTRE IRMÃOS
COMO LEITMOTIV DO LIVRO DE GÊNESIS
Carlos Augusto Vailatti1
INTRODUÇÃO
O tema da violência é recorrente no livro de Gênesis, funcionando como um
fio condutor que atravessa as suas páginas.2
E, dentro do tema sobre a violência em
geral, a violência entre irmãos sobressai como o tipo de violência mais predominante
em todo o livro, funcionando como um eixo central para a sua compreensão. Trata-se
de um Leitmotiv que percorre todo o seu corpus textual. Aliás, como bem observou
Fokkelman, “o tema da fraternidade, uma metonímia para o laço que une a
1
Membro da ABIB. Doutorando em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaica pela Universidade de São
Paulo (USP). Mestre em Teologia, com especialização em Teologia Bíblica, pelo Seminário Teológico Servo de
Cristo (STSC). Atualmente, é docente na área bíblico-teológica no Seminário Teológico Evangélico do Betel
Brasileiro (STEBB) e também no Instituto Betel de Ensino Superior (IBES). Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/8784759515071968. Email: augustovailatti@ig.com.br.
2
O tema está presente na vida dos seguintes personagens genesianos: Caim e Abel (Gn 4.1-26), Lameque (Gn
4.23), a geração do dilúvio (Gn 6.11-13), Cão e Noé (Gn 9.22), os pastores de Abrão e os pastores de Ló (Gn
13.7-12), vários reis (Gn 14.1-12), Abrão e os seus 318 homens (Gn 14.13-16), Sara e Hagar (Gn 16.1-6; 21.9-
14), os habitantes de Sodoma (Gn 19.1-11), Ló e as suas duas filhas virgens (Gn 19.8), Esaú e Jacó (25.21-26;
27.41-45), Raquel e Léia (Gn 29.31-30.24), Diná, Simeão e Levi (Gn 34) e José e os seus irmãos (Gn 37-50).
Página323
humanidade, é tratado com crescente complexidade desde o início do Gênesis até o
fim”.3
E Girard completa esse pensamento ao afirmar que “no Antigo Testamento e
nos mitos gregos os irmãos são quase sempre irmãos inimigos”.4
E esta inimizade
entre irmãos é verificada, sobretudo, no primeiro livro da Bíblia.
Apesar de reconhecer toda a complexidade, bem como, a insuficiência da
definição que propomos ao assunto, optamos por definir “violência” neste artigo como
todo o tipo de ato ou comportamento, físico ou moral, que de uma forma ou de outra
atenta injustamente contra a dignidade, vontade ou liberdade de uma pessoa ou de uma
sociedade.
Depois dessa breve introdução, vejamos então o que a leitura de alguns
textos selecionados de Gênesis nos reserva.
1. A VIOLÊNCIA ENTRE CAIM E ABEL
“[...] e sucedeu que, estando eles no campo, se
levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o
matou”. (Gn 4.8).
A narrativa sobre o fratricídio cometido por Caim contra o seu irmão Abel é
uma das mais conhecidas de toda a Bíblia. Certo dia, Caim, o irmão primogênito que
era lavrador da terra, resolve deliberadamente matar o seu irmão caçula, Abel, que era
pastor de ovelhas. Ao que tudo indica, o sentimento de inveja foi a força motriz que
3
FOKKELMAN, J. P. Gênesis. In: ALTER, Robert & KERMODE, Frank. (orgs.). Guia Literário da Bíblia. São
Paulo, Fundação Editora da UNESP, 1997, p.68.
4
GIRARD, René. A Violência e o Sagrado. São Paulo, Editora Paz e Terra S.A., 2008, p.15.
Página324
impulsionou Caim em seu ato, uma vez que Deus rejeitara o “fruto da terra” que ele
lhe havia oferecido e, ao mesmo tempo, aceitara o “sacrifício animal” ofertado por seu
irmão, Abel (Gn 4.3-5).
Deve-se ressaltar nesta história o caráter totalmente gratuito da violência
praticada por Caim. Caim assassina o seu irmão sem qualquer motivo que o justifique
em seu ato.
Neste momento, alguém pode estar se perguntando: “Mas por que Deus não
fez nada para impedir que Caim assassinasse a Abel?”.5
A resposta a esta importante
questão é bastante simples: todos os homens nascem livres. Aliás, como bem declarou
Moshe Grylak, “é o livre-arbítrio que nos outorga o título supremo de seres humanos.
Perante o livre-arbítrio desvanecem-se as desculpas, justificativas e pretextos, que têm
o intuito de liberar-nos das responsabilidades”.6
Uma vez que somos seres moralmente
livres, isto é, dotados de capacidade para praticarmos tanto o bem quanto o mal, logo,
somos responsáveis pelos nossos próprios atos e não um segundo agente. Isto é
exemplificado na fala divina dirigida a Caim: “na porta jaz o pecado, e fazer-te pecar é
o seu desejo, mas tu podes dominá-lo”. (Gn 4.7).7
Se Caim “podia dominar” os seus
impulsos para o mal, isto quer dizer que ele foi o único e verdadeiro responsável pelas
ações que cometeu. Dessa forma, colocar Deus no banco dos réus como o “mentor
intelectual” e, portanto, como o culpado pela violência que nós mesmos praticamos
5
Esta questão é trabalhada de várias formas por Saramago que, em seu livro, retrata Deus como o verdadeiro
culpado pela morte de Abel. (Cf. SARAMAGO, José. Caim. São Paulo, Companhia das Letras, 2009).
6
GRYLAK, Moshe. Reflexões Sobre a Torá. São Paulo, Editora e Livraria Sêfer Ltda, 1998, p.9.
7
GORODOVITS, David & FRIDLIN, Jairo. (trads.). Bíblia Hebraica. São Paulo, Editora e Livraria Sêfer Ltda,
2006.
Página325
livremente, é tão absurdo quanto culpar postumamente Henry Ford por algum acidente
automobilístico no qual nós éramos os motoristas do veículo.
Além disso, a frase dita a Caim depois de assassinar o irmão: “A voz do
sangue do teu irmão clama a mim desde a terra” (Gn 4.10) também merece ser
considerada. O texto hebraico diz: qol de
mê ’ahîka tso‘aqîm ’elay min-ha’adamâ, isto
é, “a voz dos sangues do teu irmão grita a mim desde a terra”. Aqui, a palavra hebraica
para “sangue” ocorre no plural, “sangues”, e pode se referir a uma de duas
possibilidades: a) ao sangue de Abel e de sua descendência interrompida ou b) aos
vários ferimentos produzidos no corpo de Abel.8
Seja como for, é digno de nota que
enquanto Abel permanece em um silêncio ensurdecedor, não pronunciando uma só
palavra em toda a narrativa, a sua morte não ocorre sem testemunhas. O seu sangue
(“sangues”) em silêncio testemunha(m) em seu favor, “gritando” contra o injusto ato
de Caim desde o tribunal campestre onde o próprio assassinato se consumara.
Em suma, aprendemos com a história de Caim e Abel que a violência pode
ser evitada. Quando isto não ocorre, é porque não fizemos bom uso de nossa liberdade
para impedi-la.
8
ZAJAC, Motel (trad.). Bereshit com Rashi Traduzido. São Paulo, Trejger Editores, 1993, p.18.
Página326
2. A VIOLÊNCIA ENTRE ESAÚ E JACÓ
“[...] e Esaú disse no seu coração: Chegar-se-ão
os dias de luto de meu pai; e matarei a Jacó meu
irmão”. (Gn 27.41).
Além da trágica história entre Caim e Abel, outra história, porém, menos
trágica, também se descortina em Gênesis entre outros dois irmãos, Esaú e Jacó.
Contudo, o pano de fundo deste novo conflito entre irmãos, desta vez não
envolve ofertas trazidas perante Deus, mas sim o fato de Jacó, o irmão caçula, ter
“roubado” de Esaú, seu irmão mais velho, a primogenitura e a conseqüente bênção que
era destinada ao filho primogênito (Gn 27.36).9
Entretanto, esse conflito entre irmãos que tinha tudo para terminar com um
final bastante trágico – pois começou com mentiras, enganos, trapaças e muito ódio –
acabou tendo um desfecho feliz. No desenrolar da narrativa bíblica, um emocionante
reencontro ocorre. Jacó sai ao encontro de Esaú e se inclina sete vezes em terra diante
dele.10
Esaú responde a esse comportamento correndo em direção ao seu irmão,
abraçando-o, lançando-se sobre o seu pescoço e beijando-o. No final, ambos, Esaú e
Jacó, choram (Gn 33.1-3).
9
A prática da venda da primogenitura também pode ser encontrada entre outros povos do Antigo Oriente Médio.
Para um exemplo dessa prática em outras culturas, veja: KIDNER, Derek. Gênesis, Introdução e Comentário.
São Paulo, Vida Nova / Mundo Cristão, 1991, p.141.
10
Segundo Chouraqui, o ato de se inclinar em terra sete vezes também aparece nas cartas de Amarna e
representa rendição total. (Cf. CHOURAQUI, André. No Princípio. Rio de Janeiro, Imago, 1995, p.348).
Página327
Esse final feliz só foi possível graças à colaboração solidária dos dois
irmãos. Quanto a Esaú, parece que o tempo encarregou-se de ensiná-lo sobre a difícil
tarefa de perdoar, que é o ato de “reconhecer que alguém tem uma dívida com você e
liberar esse indivíduo do pagamento. É resgatar a nota promissória de seus ofensores e
abrir mão de todas as cobranças, por mais legítimas que sejam”.11
Perceba que a prática da não-violência nesta relação conflituosa entre
Esaú e Jacó só foi possível porque Esaú quis perdoar o seu irmão. Assim, percebemos
novamente que o livre-arbítrio se encontra bem no meio do dilema entre as práticas da
violência e da não-violência. Isto implica dizer, e nunca é demais repetir, que nós
mesmos somos os principais responsáveis pela prática da não-violência, pois cada ser
humano livre é o condutor das rédeas de seus próprios atos.
3. A VIOLÊNCIA ENTRE RAQUEL E LÉIA
“Vendo, pois, Raquel que não dava filhos a
Jacó, teve Raquel inveja de sua irmã, e disse a
Jacó: Dá-me filhos, ou senão eu morro. [...]
Então disse Raquel: Com lutas de Deus tenho
lutado com minha irmã [...]”. (Gn 30.1,8).
De todos os relacionamentos conflituosos entre irmãos relatados em
Gênesis, a relação entre Raquel e Léia é a menos tensa. Porém, isto não significa que
11
AGUIAR, Marcelo. Em Busca da Bênção Perdida: princípios bíblicos para a restauração da vida espiritual.
São Paulo, Editora Vida, 2003, p.168.
Página328
essa relação esteja isenta de traços de violência, como veremos a seguir. Em resumo, a
história das duas irmãs é a seguinte: Raquel era estéril e Léia, sua irmã, não. Ambas
eram casadas com Jacó, dentro do conhecido regime marital oriental do concubinato.
Como Raquel não podia ter filhos e Léia já havia tido vários, isso provocou a inveja de
Raquel (Gn 30.1) e desencadeou uma desenfreada competição entre as duas irmãs que
chegaram, inclusive, a utilizar as suas escravas como esposas em seu lugar para ver
qual delas daria mais filhos a Jacó (Gn 30.1-24).12
Além disso, o forte amor de Jacó
por Raquel em comparação com Léia (Gn 29.18,30), fez com que esta também
invejasse Raquel, a ponto de lhe dizer: “não é bastante que me tenhas tomado o
marido?” (Gn 30.15).13
Nesse ponto, chama a nossa atenção a linguagem empregada por Raquel
durante a sua competição com a irmã: “com lutas de Deus tenho lutado com minha
irmã” (Gn 30.8). Aqui, na expressão naftulê ’elohîm niftaltî, “com lutas de Deus tenho
lutado”, aparecem duas palavras derivadas do verbo hebraico patal, “torcer, enrodilhar
12
Chouraqui lembra que a esterilidade feminina, caso fosse prolongada, poderia provocar o repúdio da esposa
por parte do marido. Isso explica porque Raquel e Léia empregam suas escravas para substituí-las como esposas
a fim de proporcionar a edificação da família. (Cf. CHOURAQUI, André. No Princípio, p.307).
13
Para saber mais sobre o relacionamento conturbado entre Raquel e Léia a partir da relação “esterilidade versus
fecundidade”, veja: CHWARTS, Suzana. Uma Visão da Esterilidade na Bíblia Hebraica. São Paulo, Associação
Editorial Humanitas, 2004, pp.123-142.
Página329
(enroscar)” que é um termo que faz alusão metaforicamente a “uma luta onde os
corpos se enrodilham (enroscam) e se afrontam”.14
Apesar de a linguagem ser utilizada
apenas de forma figurada, contudo, ela evoca a imagem de duas pessoas que estão
agarradas em uma briga. Em outras palavras, a figura de linguagem utilizada por
Raquel faz referência ao embate violento travado entre ela e Léia no âmbito da
competição para ver quem conseguiria gerar mais filhos para Jacó.
Embora essa rivalidade entre as irmãs não tenha atingido proporções mais
graves, todavia, o desejo que uma irmã tinha de sobrepujar a outra e vice-versa, vendo
a sua rival, portanto, em situação abjeta, mostra, ainda que sutilmente, o “espírito
violento” que regia o relacionamento entre ambas. Este ambiente de mútua opressão,
praticada e sofrida por ambas, certamente denuncia e desmascara os nossos instintos
violentos mais íntimos.
4. A VIOLÊNCIA ENTRE JOSÉ E OS SEUS IRMÃOS
“Vinde, pois, agora, e matemo-lo, e lancemo-lo
numa destas covas, e diremos: Uma besta fera o
comeu; e veremos que será dos seus sonhos”.
(Gn 37.20).
Finalmente, chegamos ao último relato de Gênesis a descrever uma relação
de violência entre irmãos, isto é, a dramática narrativa sobre José e os seus irmãos.
14
Idem, Ibidem, p.309. O acréscimo entre parênteses é meu. Para outras observações sobre o verbo patal, veja
também: BROWN, Francis et al. A Hebrew and English Lexicon of the Old Testament. Oxford, Clarendon Press,
1951, p.836.
Página330
Nesta narrativa, a violência que será praticada contra José pelos seus irmãos
possui pelo menos três causas principais: a) a difamação dos irmãos feita por José (Gn
37.2); b) a predileção de Jacó, o pai, por José (Gn 37.3,4); e c) os sonhos de José (Gn
37.5-8). A conseqüência desses atos foi a seguinte: os irmãos de José “conspiraram
contra ele, para o matarem” (Gn 37.18).
A narrativa bíblica prossegue em sua descrição, relatando a violência
repleta de “requintes de crueldade” com a qual os irmãos de José o trataram. Eles
tiraram de José a sua túnica colorida que ele ganhara do pai, lançaram-no numa cova
sem água, se assentaram para comer pão como se nada de errado tivesse acontecido e,
por fim, o venderam por vinte moedas de prata, como se ele fosse um escravo, a um
grupo de viajantes ismaelitas que, por sua vez, o levaram até o Egito (Gn 37.23-28).
Não há nada pior que possa acontecer a um homem do que ter a sua
dignidade humana atingida, o seu direito de ir e vir cerceado e a sua liberdade tolhida,
pois, como bem escreveu Jolivet, “esta liberdade é um direito fundamental do homem,
que, sendo racional e dotado de livre-arbítrio, deve poder agir com toda a
independência, na medida em que sejam respeitados os direitos do próximo, quer
sejam corporais ou espirituais”.15
Neste caso, notamos que a violência feita contra José poderia ter sido
evitada, se os seus irmãos quisessem. Apesar disso, Deus reverteu toda a violência
sofrida em bem (Gn 45.5-8).
15
JOLIVET, Régis. Curso de Filosofia, p.403.
Página331
CONCLUSÃO
Ao término da nossa breve reflexão podemos chegar a, pelo menos, quatro
conclusões:
Primeira, a violência é um mal que esteve sempre presente nas sociedades,
desde os primórdios da humanidade. Nós pudemos constatar isso já no início de
Gênesis, no triste episódio entre Caim e Abel. Porém, a presença constante da
violência em nosso mundo não significa que devemos aceitá-la como um elemento
inevitável da condição humana, pois tão antigos quanto a violência são também os
sistemas religiosos, filosóficos, legais e públicos que têm ajudado a combatê-la e a
freá-la.16
Segunda, o tema da violência entre irmãos é o tipo de violência mais
recorrente no livro de Gênesis, funcionando como um fio condutor que percorre as
suas páginas. Esta verdade tão enfatizada já neste primeiro livro da Bíblia serve para
nos alertar quanto à proximidade da violência. “A violência” – nos adverte o Gênesis –
“não está apenas lá fora, nas ruas, nas estradas, nos bares e nas brigas entre gangues
rivais. Ela também pode estar presente bem debaixo do nosso nariz, em nossa casa, em
nossa família ou até mesmo entre os nossos irmãos de sangue”. Portanto, não devemos
subestimar a capacidade que a violência tem de nascer e de criar raízes inclusive no
recôndito dos nossos lares.
16
KRUG, Etienne G. (ed.). World Report on Violence and Health. Geneva, World Health Organization, 2002,
p.3.
Página332
Terceira, a violência entre irmãos, tal como retratada no Gênesis, começa
com toda a sua vitalidade na narrativa sobre Caim e Abel (Gn 4), mas vai aos poucos
perdendo terreno quando entra em cena a história de José e seus irmãos (Gn 37-50).
Isto significa que é possível reduzir os índices de violência em nossa sociedade. Para
isso, não podemos transferir as nossas responsabilidades para Deus ou para qualquer
pessoa ou instituição. Não podemos terceirizar nossas ações e responsabilidades. Elas
são apenas nossas e de mais ninguém.
E a quarta e última conclusão é a seguinte: todo ser humano merece ser
tratado com dignidade, respeito e solidariedade. Quando agimos assim, o amor triunfa
sobre a violência! Aliás, creio que não há melhor maneira de encerrar o nosso texto do
que citando o artigo primeiro da Declaração Universal dos Direitos Humanos,
promulgada em 1948: “Todos os seres humanos nascem livres e são iguais em
dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com
os outros em espírito de fraternidade”.17
Que este espírito fraternal esteja presente em
nossa vida hoje, amanhã e sempre!
BIBLIOGRAFIA
AGUIAR, Marcelo. Em Busca da Bênção Perdida: princípios bíblicos para a
restauração da vida espiritual. São Paulo, Editora Vida, 2003.
ALMEIDA, João Ferreira de. (trad.). Bíblia Sagrada. [Edição Revista e Corrigida].
Rio de Janeiro, Imprensa Bíblica Brasileira, 1991.
17
MORSINK, Johannes. The Universal Declaration of Human Rights: Origins, Drafting, and Intent.
Pennsylvania, University of Pennsylvania Press, 1999, p.38.
Página333
ALTER, Robert & KERMODE, Frank. (orgs.). Guia Literário da Bíblia. São Paulo,
Fundação Editora da UNESP, 1997.
BROWN, Francis et al. A Hebrew and English Lexicon of the Old Testament. Oxford,
Clarendon Press, 1951.
CHOURAQUI, André. No Princípio. Rio de Janeiro, Imago, 1995.
CHWARTS, Suzana. Uma Visão da Esterilidade na Bíblia Hebraica. São Paulo,
Associação Editorial Humanitas, 2004.
GIRARD, René. A Violência e o Sagrado. São Paulo, Editora Paz e Terra S.A., 2008.
GORODOVITS, David & FRIDLIN, Jairo. (trads.). Bíblia Hebraica. São Paulo,
Editora e Livraria Sêfer Ltda, 2006.
GRYLAK, Moshe. Reflexões Sobre a Torá. São Paulo, Editora e Livraria Sêfer Ltda,
1998.
JOLIVET, Régis. Curso de Filosofia. Rio de Janeiro, Agir, 1995.
KIDNER, Derek. Gênesis, Introdução e Comentário. São Paulo, Vida Nova / Mundo
Cristão, 1991.
KRUG, Etienne G. (ed.). World Report on Violence and Health. Geneva, World
Health Organization, 2002.
MORSINK, Johannes. The Universal Declaration of Human Rights: Origins,
Drafting, and Intent. Pennsylvania, University of Pennsylvania Press, 1999.
SARAMAGO, José. Caim. São Paulo, Companhia das Letras, 2009.
ZAJAC, Motel (trad.). Bereshit com Rashi Traduzido. São Paulo, Trejger Editores,
1993.
Como citar esse documento:
VAILATTI, Carlos Augusto. O Tema da Violência entre Irmãos como Leitmotiv do
Livro de Gênesis. In: MARIANNO, Lília Dias. (Org.). Bíblia, Violência e Direitos
Humanos: Contribuições ao V Congresso Brasileiro de Pesquisa Bíblica. ABIB,
Goiânia; Rio de Janeiro, EAGLE Books; Kent, FDigital, 2013, pp.322-333. [ISBN:
978-1-909144-44-6].

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  • 1. Página322 O TEMA DA VIOLÊNCIA ENTRE IRMÃOS COMO LEITMOTIV DO LIVRO DE GÊNESIS Carlos Augusto Vailatti1 INTRODUÇÃO O tema da violência é recorrente no livro de Gênesis, funcionando como um fio condutor que atravessa as suas páginas.2 E, dentro do tema sobre a violência em geral, a violência entre irmãos sobressai como o tipo de violência mais predominante em todo o livro, funcionando como um eixo central para a sua compreensão. Trata-se de um Leitmotiv que percorre todo o seu corpus textual. Aliás, como bem observou Fokkelman, “o tema da fraternidade, uma metonímia para o laço que une a 1 Membro da ABIB. Doutorando em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaica pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Teologia, com especialização em Teologia Bíblica, pelo Seminário Teológico Servo de Cristo (STSC). Atualmente, é docente na área bíblico-teológica no Seminário Teológico Evangélico do Betel Brasileiro (STEBB) e também no Instituto Betel de Ensino Superior (IBES). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8784759515071968. Email: augustovailatti@ig.com.br. 2 O tema está presente na vida dos seguintes personagens genesianos: Caim e Abel (Gn 4.1-26), Lameque (Gn 4.23), a geração do dilúvio (Gn 6.11-13), Cão e Noé (Gn 9.22), os pastores de Abrão e os pastores de Ló (Gn 13.7-12), vários reis (Gn 14.1-12), Abrão e os seus 318 homens (Gn 14.13-16), Sara e Hagar (Gn 16.1-6; 21.9- 14), os habitantes de Sodoma (Gn 19.1-11), Ló e as suas duas filhas virgens (Gn 19.8), Esaú e Jacó (25.21-26; 27.41-45), Raquel e Léia (Gn 29.31-30.24), Diná, Simeão e Levi (Gn 34) e José e os seus irmãos (Gn 37-50).
  • 2. Página323 humanidade, é tratado com crescente complexidade desde o início do Gênesis até o fim”.3 E Girard completa esse pensamento ao afirmar que “no Antigo Testamento e nos mitos gregos os irmãos são quase sempre irmãos inimigos”.4 E esta inimizade entre irmãos é verificada, sobretudo, no primeiro livro da Bíblia. Apesar de reconhecer toda a complexidade, bem como, a insuficiência da definição que propomos ao assunto, optamos por definir “violência” neste artigo como todo o tipo de ato ou comportamento, físico ou moral, que de uma forma ou de outra atenta injustamente contra a dignidade, vontade ou liberdade de uma pessoa ou de uma sociedade. Depois dessa breve introdução, vejamos então o que a leitura de alguns textos selecionados de Gênesis nos reserva. 1. A VIOLÊNCIA ENTRE CAIM E ABEL “[...] e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou”. (Gn 4.8). A narrativa sobre o fratricídio cometido por Caim contra o seu irmão Abel é uma das mais conhecidas de toda a Bíblia. Certo dia, Caim, o irmão primogênito que era lavrador da terra, resolve deliberadamente matar o seu irmão caçula, Abel, que era pastor de ovelhas. Ao que tudo indica, o sentimento de inveja foi a força motriz que 3 FOKKELMAN, J. P. Gênesis. In: ALTER, Robert & KERMODE, Frank. (orgs.). Guia Literário da Bíblia. São Paulo, Fundação Editora da UNESP, 1997, p.68. 4 GIRARD, René. A Violência e o Sagrado. São Paulo, Editora Paz e Terra S.A., 2008, p.15.
  • 3. Página324 impulsionou Caim em seu ato, uma vez que Deus rejeitara o “fruto da terra” que ele lhe havia oferecido e, ao mesmo tempo, aceitara o “sacrifício animal” ofertado por seu irmão, Abel (Gn 4.3-5). Deve-se ressaltar nesta história o caráter totalmente gratuito da violência praticada por Caim. Caim assassina o seu irmão sem qualquer motivo que o justifique em seu ato. Neste momento, alguém pode estar se perguntando: “Mas por que Deus não fez nada para impedir que Caim assassinasse a Abel?”.5 A resposta a esta importante questão é bastante simples: todos os homens nascem livres. Aliás, como bem declarou Moshe Grylak, “é o livre-arbítrio que nos outorga o título supremo de seres humanos. Perante o livre-arbítrio desvanecem-se as desculpas, justificativas e pretextos, que têm o intuito de liberar-nos das responsabilidades”.6 Uma vez que somos seres moralmente livres, isto é, dotados de capacidade para praticarmos tanto o bem quanto o mal, logo, somos responsáveis pelos nossos próprios atos e não um segundo agente. Isto é exemplificado na fala divina dirigida a Caim: “na porta jaz o pecado, e fazer-te pecar é o seu desejo, mas tu podes dominá-lo”. (Gn 4.7).7 Se Caim “podia dominar” os seus impulsos para o mal, isto quer dizer que ele foi o único e verdadeiro responsável pelas ações que cometeu. Dessa forma, colocar Deus no banco dos réus como o “mentor intelectual” e, portanto, como o culpado pela violência que nós mesmos praticamos 5 Esta questão é trabalhada de várias formas por Saramago que, em seu livro, retrata Deus como o verdadeiro culpado pela morte de Abel. (Cf. SARAMAGO, José. Caim. São Paulo, Companhia das Letras, 2009). 6 GRYLAK, Moshe. Reflexões Sobre a Torá. São Paulo, Editora e Livraria Sêfer Ltda, 1998, p.9. 7 GORODOVITS, David & FRIDLIN, Jairo. (trads.). Bíblia Hebraica. São Paulo, Editora e Livraria Sêfer Ltda, 2006.
  • 4. Página325 livremente, é tão absurdo quanto culpar postumamente Henry Ford por algum acidente automobilístico no qual nós éramos os motoristas do veículo. Além disso, a frase dita a Caim depois de assassinar o irmão: “A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra” (Gn 4.10) também merece ser considerada. O texto hebraico diz: qol de mê ’ahîka tso‘aqîm ’elay min-ha’adamâ, isto é, “a voz dos sangues do teu irmão grita a mim desde a terra”. Aqui, a palavra hebraica para “sangue” ocorre no plural, “sangues”, e pode se referir a uma de duas possibilidades: a) ao sangue de Abel e de sua descendência interrompida ou b) aos vários ferimentos produzidos no corpo de Abel.8 Seja como for, é digno de nota que enquanto Abel permanece em um silêncio ensurdecedor, não pronunciando uma só palavra em toda a narrativa, a sua morte não ocorre sem testemunhas. O seu sangue (“sangues”) em silêncio testemunha(m) em seu favor, “gritando” contra o injusto ato de Caim desde o tribunal campestre onde o próprio assassinato se consumara. Em suma, aprendemos com a história de Caim e Abel que a violência pode ser evitada. Quando isto não ocorre, é porque não fizemos bom uso de nossa liberdade para impedi-la. 8 ZAJAC, Motel (trad.). Bereshit com Rashi Traduzido. São Paulo, Trejger Editores, 1993, p.18.
  • 5. Página326 2. A VIOLÊNCIA ENTRE ESAÚ E JACÓ “[...] e Esaú disse no seu coração: Chegar-se-ão os dias de luto de meu pai; e matarei a Jacó meu irmão”. (Gn 27.41). Além da trágica história entre Caim e Abel, outra história, porém, menos trágica, também se descortina em Gênesis entre outros dois irmãos, Esaú e Jacó. Contudo, o pano de fundo deste novo conflito entre irmãos, desta vez não envolve ofertas trazidas perante Deus, mas sim o fato de Jacó, o irmão caçula, ter “roubado” de Esaú, seu irmão mais velho, a primogenitura e a conseqüente bênção que era destinada ao filho primogênito (Gn 27.36).9 Entretanto, esse conflito entre irmãos que tinha tudo para terminar com um final bastante trágico – pois começou com mentiras, enganos, trapaças e muito ódio – acabou tendo um desfecho feliz. No desenrolar da narrativa bíblica, um emocionante reencontro ocorre. Jacó sai ao encontro de Esaú e se inclina sete vezes em terra diante dele.10 Esaú responde a esse comportamento correndo em direção ao seu irmão, abraçando-o, lançando-se sobre o seu pescoço e beijando-o. No final, ambos, Esaú e Jacó, choram (Gn 33.1-3). 9 A prática da venda da primogenitura também pode ser encontrada entre outros povos do Antigo Oriente Médio. Para um exemplo dessa prática em outras culturas, veja: KIDNER, Derek. Gênesis, Introdução e Comentário. São Paulo, Vida Nova / Mundo Cristão, 1991, p.141. 10 Segundo Chouraqui, o ato de se inclinar em terra sete vezes também aparece nas cartas de Amarna e representa rendição total. (Cf. CHOURAQUI, André. No Princípio. Rio de Janeiro, Imago, 1995, p.348).
  • 6. Página327 Esse final feliz só foi possível graças à colaboração solidária dos dois irmãos. Quanto a Esaú, parece que o tempo encarregou-se de ensiná-lo sobre a difícil tarefa de perdoar, que é o ato de “reconhecer que alguém tem uma dívida com você e liberar esse indivíduo do pagamento. É resgatar a nota promissória de seus ofensores e abrir mão de todas as cobranças, por mais legítimas que sejam”.11 Perceba que a prática da não-violência nesta relação conflituosa entre Esaú e Jacó só foi possível porque Esaú quis perdoar o seu irmão. Assim, percebemos novamente que o livre-arbítrio se encontra bem no meio do dilema entre as práticas da violência e da não-violência. Isto implica dizer, e nunca é demais repetir, que nós mesmos somos os principais responsáveis pela prática da não-violência, pois cada ser humano livre é o condutor das rédeas de seus próprios atos. 3. A VIOLÊNCIA ENTRE RAQUEL E LÉIA “Vendo, pois, Raquel que não dava filhos a Jacó, teve Raquel inveja de sua irmã, e disse a Jacó: Dá-me filhos, ou senão eu morro. [...] Então disse Raquel: Com lutas de Deus tenho lutado com minha irmã [...]”. (Gn 30.1,8). De todos os relacionamentos conflituosos entre irmãos relatados em Gênesis, a relação entre Raquel e Léia é a menos tensa. Porém, isto não significa que 11 AGUIAR, Marcelo. Em Busca da Bênção Perdida: princípios bíblicos para a restauração da vida espiritual. São Paulo, Editora Vida, 2003, p.168.
  • 7. Página328 essa relação esteja isenta de traços de violência, como veremos a seguir. Em resumo, a história das duas irmãs é a seguinte: Raquel era estéril e Léia, sua irmã, não. Ambas eram casadas com Jacó, dentro do conhecido regime marital oriental do concubinato. Como Raquel não podia ter filhos e Léia já havia tido vários, isso provocou a inveja de Raquel (Gn 30.1) e desencadeou uma desenfreada competição entre as duas irmãs que chegaram, inclusive, a utilizar as suas escravas como esposas em seu lugar para ver qual delas daria mais filhos a Jacó (Gn 30.1-24).12 Além disso, o forte amor de Jacó por Raquel em comparação com Léia (Gn 29.18,30), fez com que esta também invejasse Raquel, a ponto de lhe dizer: “não é bastante que me tenhas tomado o marido?” (Gn 30.15).13 Nesse ponto, chama a nossa atenção a linguagem empregada por Raquel durante a sua competição com a irmã: “com lutas de Deus tenho lutado com minha irmã” (Gn 30.8). Aqui, na expressão naftulê ’elohîm niftaltî, “com lutas de Deus tenho lutado”, aparecem duas palavras derivadas do verbo hebraico patal, “torcer, enrodilhar 12 Chouraqui lembra que a esterilidade feminina, caso fosse prolongada, poderia provocar o repúdio da esposa por parte do marido. Isso explica porque Raquel e Léia empregam suas escravas para substituí-las como esposas a fim de proporcionar a edificação da família. (Cf. CHOURAQUI, André. No Princípio, p.307). 13 Para saber mais sobre o relacionamento conturbado entre Raquel e Léia a partir da relação “esterilidade versus fecundidade”, veja: CHWARTS, Suzana. Uma Visão da Esterilidade na Bíblia Hebraica. São Paulo, Associação Editorial Humanitas, 2004, pp.123-142.
  • 8. Página329 (enroscar)” que é um termo que faz alusão metaforicamente a “uma luta onde os corpos se enrodilham (enroscam) e se afrontam”.14 Apesar de a linguagem ser utilizada apenas de forma figurada, contudo, ela evoca a imagem de duas pessoas que estão agarradas em uma briga. Em outras palavras, a figura de linguagem utilizada por Raquel faz referência ao embate violento travado entre ela e Léia no âmbito da competição para ver quem conseguiria gerar mais filhos para Jacó. Embora essa rivalidade entre as irmãs não tenha atingido proporções mais graves, todavia, o desejo que uma irmã tinha de sobrepujar a outra e vice-versa, vendo a sua rival, portanto, em situação abjeta, mostra, ainda que sutilmente, o “espírito violento” que regia o relacionamento entre ambas. Este ambiente de mútua opressão, praticada e sofrida por ambas, certamente denuncia e desmascara os nossos instintos violentos mais íntimos. 4. A VIOLÊNCIA ENTRE JOSÉ E OS SEUS IRMÃOS “Vinde, pois, agora, e matemo-lo, e lancemo-lo numa destas covas, e diremos: Uma besta fera o comeu; e veremos que será dos seus sonhos”. (Gn 37.20). Finalmente, chegamos ao último relato de Gênesis a descrever uma relação de violência entre irmãos, isto é, a dramática narrativa sobre José e os seus irmãos. 14 Idem, Ibidem, p.309. O acréscimo entre parênteses é meu. Para outras observações sobre o verbo patal, veja também: BROWN, Francis et al. A Hebrew and English Lexicon of the Old Testament. Oxford, Clarendon Press, 1951, p.836.
  • 9. Página330 Nesta narrativa, a violência que será praticada contra José pelos seus irmãos possui pelo menos três causas principais: a) a difamação dos irmãos feita por José (Gn 37.2); b) a predileção de Jacó, o pai, por José (Gn 37.3,4); e c) os sonhos de José (Gn 37.5-8). A conseqüência desses atos foi a seguinte: os irmãos de José “conspiraram contra ele, para o matarem” (Gn 37.18). A narrativa bíblica prossegue em sua descrição, relatando a violência repleta de “requintes de crueldade” com a qual os irmãos de José o trataram. Eles tiraram de José a sua túnica colorida que ele ganhara do pai, lançaram-no numa cova sem água, se assentaram para comer pão como se nada de errado tivesse acontecido e, por fim, o venderam por vinte moedas de prata, como se ele fosse um escravo, a um grupo de viajantes ismaelitas que, por sua vez, o levaram até o Egito (Gn 37.23-28). Não há nada pior que possa acontecer a um homem do que ter a sua dignidade humana atingida, o seu direito de ir e vir cerceado e a sua liberdade tolhida, pois, como bem escreveu Jolivet, “esta liberdade é um direito fundamental do homem, que, sendo racional e dotado de livre-arbítrio, deve poder agir com toda a independência, na medida em que sejam respeitados os direitos do próximo, quer sejam corporais ou espirituais”.15 Neste caso, notamos que a violência feita contra José poderia ter sido evitada, se os seus irmãos quisessem. Apesar disso, Deus reverteu toda a violência sofrida em bem (Gn 45.5-8). 15 JOLIVET, Régis. Curso de Filosofia, p.403.
  • 10. Página331 CONCLUSÃO Ao término da nossa breve reflexão podemos chegar a, pelo menos, quatro conclusões: Primeira, a violência é um mal que esteve sempre presente nas sociedades, desde os primórdios da humanidade. Nós pudemos constatar isso já no início de Gênesis, no triste episódio entre Caim e Abel. Porém, a presença constante da violência em nosso mundo não significa que devemos aceitá-la como um elemento inevitável da condição humana, pois tão antigos quanto a violência são também os sistemas religiosos, filosóficos, legais e públicos que têm ajudado a combatê-la e a freá-la.16 Segunda, o tema da violência entre irmãos é o tipo de violência mais recorrente no livro de Gênesis, funcionando como um fio condutor que percorre as suas páginas. Esta verdade tão enfatizada já neste primeiro livro da Bíblia serve para nos alertar quanto à proximidade da violência. “A violência” – nos adverte o Gênesis – “não está apenas lá fora, nas ruas, nas estradas, nos bares e nas brigas entre gangues rivais. Ela também pode estar presente bem debaixo do nosso nariz, em nossa casa, em nossa família ou até mesmo entre os nossos irmãos de sangue”. Portanto, não devemos subestimar a capacidade que a violência tem de nascer e de criar raízes inclusive no recôndito dos nossos lares. 16 KRUG, Etienne G. (ed.). World Report on Violence and Health. Geneva, World Health Organization, 2002, p.3.
  • 11. Página332 Terceira, a violência entre irmãos, tal como retratada no Gênesis, começa com toda a sua vitalidade na narrativa sobre Caim e Abel (Gn 4), mas vai aos poucos perdendo terreno quando entra em cena a história de José e seus irmãos (Gn 37-50). Isto significa que é possível reduzir os índices de violência em nossa sociedade. Para isso, não podemos transferir as nossas responsabilidades para Deus ou para qualquer pessoa ou instituição. Não podemos terceirizar nossas ações e responsabilidades. Elas são apenas nossas e de mais ninguém. E a quarta e última conclusão é a seguinte: todo ser humano merece ser tratado com dignidade, respeito e solidariedade. Quando agimos assim, o amor triunfa sobre a violência! Aliás, creio que não há melhor maneira de encerrar o nosso texto do que citando o artigo primeiro da Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada em 1948: “Todos os seres humanos nascem livres e são iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”.17 Que este espírito fraternal esteja presente em nossa vida hoje, amanhã e sempre! BIBLIOGRAFIA AGUIAR, Marcelo. Em Busca da Bênção Perdida: princípios bíblicos para a restauração da vida espiritual. São Paulo, Editora Vida, 2003. ALMEIDA, João Ferreira de. (trad.). Bíblia Sagrada. [Edição Revista e Corrigida]. Rio de Janeiro, Imprensa Bíblica Brasileira, 1991. 17 MORSINK, Johannes. The Universal Declaration of Human Rights: Origins, Drafting, and Intent. Pennsylvania, University of Pennsylvania Press, 1999, p.38.
  • 12. Página333 ALTER, Robert & KERMODE, Frank. (orgs.). Guia Literário da Bíblia. São Paulo, Fundação Editora da UNESP, 1997. BROWN, Francis et al. A Hebrew and English Lexicon of the Old Testament. Oxford, Clarendon Press, 1951. CHOURAQUI, André. No Princípio. Rio de Janeiro, Imago, 1995. CHWARTS, Suzana. Uma Visão da Esterilidade na Bíblia Hebraica. São Paulo, Associação Editorial Humanitas, 2004. GIRARD, René. A Violência e o Sagrado. São Paulo, Editora Paz e Terra S.A., 2008. GORODOVITS, David & FRIDLIN, Jairo. (trads.). Bíblia Hebraica. São Paulo, Editora e Livraria Sêfer Ltda, 2006. GRYLAK, Moshe. Reflexões Sobre a Torá. São Paulo, Editora e Livraria Sêfer Ltda, 1998. JOLIVET, Régis. Curso de Filosofia. Rio de Janeiro, Agir, 1995. KIDNER, Derek. Gênesis, Introdução e Comentário. São Paulo, Vida Nova / Mundo Cristão, 1991. KRUG, Etienne G. (ed.). World Report on Violence and Health. Geneva, World Health Organization, 2002. MORSINK, Johannes. The Universal Declaration of Human Rights: Origins, Drafting, and Intent. Pennsylvania, University of Pennsylvania Press, 1999. SARAMAGO, José. Caim. São Paulo, Companhia das Letras, 2009. ZAJAC, Motel (trad.). Bereshit com Rashi Traduzido. São Paulo, Trejger Editores, 1993. Como citar esse documento: VAILATTI, Carlos Augusto. O Tema da Violência entre Irmãos como Leitmotiv do Livro de Gênesis. In: MARIANNO, Lília Dias. (Org.). Bíblia, Violência e Direitos Humanos: Contribuições ao V Congresso Brasileiro de Pesquisa Bíblica. ABIB, Goiânia; Rio de Janeiro, EAGLE Books; Kent, FDigital, 2013, pp.322-333. [ISBN: 978-1-909144-44-6].